UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS JORNALISMO JOÃO AUGUSTO RODRIGUEZ QUINTINO PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 NO BRASIL São Paulo 2019 JOÃO AUGUSTO RODRIGUEZ QUINTINO PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 NO BRASIL Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) apresentada ao Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie para avaliação parcial do Curso de Jornalismo. Orientação: Profª. Drª. Márcia Detoni. São Paulo 2019 Este Trabalho de Conclusão de Curso não reflete a opinião da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Seu conteúdo e abordagem são de total responsabilidade de seu autor. AGRADECIMENTOS Agradeço a toda a minha família, que por ser tão diversa e paradoxal, me ensinou que há várias formas de contar uma história, mas como diz minha abuela, nunca se deve mentir ao fazê-la. Agradeço ao meu cachorrinho Cobi, que me acompanhou crescer com isso e esteve ao meu lado nos piores momentos de minha vida até onde pôde. Agradeço aos meus pais, Willians e Marta, minha irmã Carolina; e meus primos Gabriela, Fernanda e Pedro que foram tão importantes na construção desse trabalho e como lidar com ele. Agradeço aos meus amigos que me aguentam falando de fake news incessantemente por tanto tempo, em especial Lucas Yoshio, Fernanda Suguimoto, Leonardo Konishi, Júlia Smidt, Letícia Sayuri, Viviane An Chen Chu, Letícia Namie, Asnate Ferreira, Marcelo Guo e Alexandre Ghefter. Agradeço aos meus amigos colegas de faculdade, em especial Leonardo Mantovani, Pedro Sanches, Lucas Berti, Gabriel Beleze, Letícia Oliveira, Eduardo Ramos, Vitor Correia, Artur Ribeiro, Tárik El Zein e Pedro Romanos que vão ser grandes jornalistas. Agradeço a todos os excelentes professores do CCL na Universidade Presbiteriana Mackenzie que me ajudaram com materiais e conceitos para formar e desenvolver meu pensamento crítico, em especial Anderson Gurgel, André Santoro, Carlos Sandano, Denise Paiero, Fernando Morais, Fernando Pereira, Hugo Harris, Lenize Villaça, Mirtes de Moraes, Rafael Fonseca e a minha orientadora que não aguenta mais ouvir falar de fake news, Márcia Detoni. Agradeço a todos os jornalistas, cientistas, professores e especialistas que foram citados nesse trabalho, não só por me ajudarem a entender este mundo, mas por continuarem lutando por uma sociedade progressista, madura e bem informada. A educação e os fatos resistem, e sempre resistirão. "Entre o fogo e o chicote, ficam nossas memórias, num país especialista em como deletar histórias. Museu em chamas, o luto é sempre dobrado, na pele de quem já nasceu com o passado apagado." Cesar Mc RESUMO O presente trabalho pretende explorar as nuances multidisciplinares da pós-verdade e como elas abriram espaço para a proliferação em massa de desinformação e teorias da conspiração no Brasil durante as eleições para a Presidência da República em 2018. Esta monografia se dispõe, por meio de uma pesquisa bibliográfica expositiva, entender as características principais da pós-verdade do Brexit e do trumpismo e aplicá-los à realidade brasileira e ao pleito presidencial de 2018. Também tem como objetivo compreender os porquês psicossociais, históricos, políticos e tecnológicos por trás do compartilhamento de fake news e apontar estratégias para a melhor atuação da mídia e um melhor entendimento das origens e manifestações de ideologias em períodos de crise. A prioridade passa ser a construção de um debate limpo e um afastamento das conspirações em todos os espectros, que somente pregam dogma aos convertidos e indiferença (ou violência) aos opositores, além de não apontar soluções ou políticas públicas eficientes. Palavras-chave: Pós-verdade. Fake News. Jornalismo Conspirações. Eleições. Brasil. 2018. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 1. A PÓS-VERDADE 7 1.1 VERDADES E MENTIRAS 10 1.2 MÍDIA, ESTADO E NARRATIVAS PELA VERDADE 13 1.3 INTERNET 19 1.4 PÓS-VERDADE ON DEMAND 23 1.5 FAKE NEWS 27 1.6 CONSPIRAÇÕES 28 2. A PSICOLOGIA DA MENTIRA 36 2.1 AS BOLHAS SOCIAIS 40 2.2 NARCISISMO IDEOLÓGICO E INVEJA 42 3. A PÓS-VERDADE NO BRASIL 46 3.1 AS JORNADAS DE JUNHO 50 3.2 GRITO, ORGULHO E PRECONCEITO 52 4. JORNALISMO EM ERA DE PÓS-VERDADE 63 4.1 FACT-CHECKING E NOVAS PRÁTICAS 65 5. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 68 5.1 A DEEP WEB DE BOLSO: WHATSAPP 76 5.2 A SABOTAGEM DOS BOTS 82 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 86 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 98 1 INTRODUÇÃO O ano de 2016 foi o marco do resgate do termo pós-verdade. Após a divulgação do resultado do Brexit, referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia, a revista The Economist publicou em setembro do mesmo ano a capa, "a arte da mentira: política da pós-verdade na era das redes sociais", onde expunha um novo fenômeno notado na campanha de partidários do Brexit. Nele, os eleitores deixaram de se chocar com as mentiras de campanha e se apoiavam em conspirações ou notícias fabricadas para sustentar sua opinião política. A mesma tendência era observada entre eleitores do então candidato à presidência dos Estados Unidos, o republicano Donald Trump, que entre suas declarações públicas chegou a dizer que seu antecessor, o democrata Barack Obama, era fundador do Estado Islâmico e havia nascido fora dos EUA. Trump é o principal expoente da política da “pós-verdade” - uma confiança em afirmações que “parecem verdadeiras”, mas não têm base em fatos. Sua ousadia não é punida, mas tomada como prova de sua disposição para enfrentar o poder da elite. E ele não está sozinho. Membros do governo da Polônia afirmam que um presidente anterior, que morreu em um acidente de avião, foi assassinado pela Rússia. Políticos turcos alegam que os autores do recente golpe mal-sucedido estavam agindo sob ordens emitidas pela CIA. A bem-sucedida campanha para que a Grã-Bretanha deixasse a União Européia alertou sobre as hordas de imigrantes que resultariam da iminente adesão da Turquia ao sindicato (THE ECONOMIST, 2016, s/p.)1. O termo resgatado pela revista, pós-verdade, foi cunhado em 1992 pelo dramaturgo Steve Tesich, em um artigo para a revista The Nation sobre os escândalos de mentiras na política dos EUA, envolvendo os casos Watergate, Irã-Contras e a Guerra do Golfo. “Nós, as pessoas livres, decidimos livremente que queremos viver em um mundo de pós-verdade” (TESICH, 1992, p.12). 1 Trump is the leading exponent of “post-truth” politics—a reliance on assertions that “feel true” but have no basis in fact. His brazenness is not punished, but taken as evidence of his willingness to stand up to elite power. And he is not alone. Members of Poland’s government assert that a previous president, who died in a plane crash, was assassinated by Russia. Turkish politicians claim the perpetrators of the recent bungled coup were acting on orders issued by the CIA. The successful campaign for Britain to leave the European Union warned of the hordes of immigrants that would result from Turkey’s imminent accession to the union. (tradução livre) 2 Tesich chamava a atenção para a seletividade presente na análise dos fatos por parte da opinião pública nos Estados Unidos em contraste à imposição da verdade em governos autoritários, como em seu país de origem, a Sérvia. A atitude que se desenhava era todos mentem, especialmente nossos líderes, qual é o problema?, "ao que parecia, o peso e o valor da desonestidade passou a ser sentida menos como exceção e mais como a norma” (KEYES, 2018, p. 20). Na pós-verdade elucidada em 2016, o mundo conheceu a forma de naturalizar a mentira e simular uma narrativa com base em fatos alternativos. [Quando] apresentamos razões para manipular a verdade de modo que possamos dissimular sem culpa. Eu chamo isso de pós-verdade. Ela existe em uma zona ética crepuscular. Permite-nos dissimularmos sem nos considerarmos desonestos. Quando o nosso comportamento entra em conflito com nossos valores, o que somos mais propensos a fazer é reconceber os nosso valores. Poucos de nós queremos pensar em nós como antiéticos, muito menos admitir isso para os outros, de modo que desenvolvemos abordagens alternativas da moralidade. (KEYES, 2018, p.20) Em meio a maior explosão informacional da história com a internet, o mundo conheceu a epidemia das fake news, ou a desinformação online. Em uma definição mais precisa, são "todas as formas de informações falsas, imprecisas ou enganadoras criadas, apresentadas e promovidas para causar prejuízo de maneira proposital ou para fins lucrativos" (MERELES, 2017, s/p). Na internet "as notícias fraudulentas são 70 vezes mais compartilhadas do que notícias verdadeiras" (GALILEU, 2018, s/p.). As notícias falsas distinguem-se dos erros acidentais justamente por sua natureza de origem fraudulenta. Apesar de terem conquistado um espaço relevante especialmente depois da campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, as fake news, que fazem parte do cenário da “pós-verdade”, não são um fenômeno recente, embora tenham se beneficiado enormemente da velocidade cada vez maior de propagação de informações na internet de forma geral, mais especificamente nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens (RAIS, 2018, p. 57) No mesmo 2016, a pós-verdade também se consolidou no Brasil, prova disso foi o compartilhamento de desinformação sobre a Operação Lava Jato, palco de fake news em todos espectros políticos. Segundo o Buzzfeed, em um ano, as 10 principais notícias falsas envolvendo a 3 operação tiveram 3,9 milhões de engajamentos, enquanto as 10 principais notícias verdadeiras somaram 2,7 milhões (ARAGÃO, 2016, s/p.). Na semana do impeachment, 3 das 5 notícias mais compartilhadas no Facebook eram falsas e atingiram mais de 200 mil pessoas (SENRA, 2016, s/p.). A pós-verdade no Brasil criou um ambiente propício para a disseminação de fake news e a consequente mobilização em torno de conspirações no país, aumentando a polarização que moveria a máquina de mentiras nas eleições presidenciais de 2018. Depois do fim do primeiro turno no pleito, a agência de checagem de fatos, Lupa, estimou que as dez fake news mais compartilhadas no Facebook tiveram quase 1 milhão de compartilhamentos (TARDÁGUILA, 2018, s/p.). Segundo outra agência de checagem, a Aos Fatos, de julho a outubro de 2018, 113 boatos foram desmentidos pela agência sobre eleições, cujo número de compartilhamentos somados acumularam ao menos 3,84 milhões de posts no Facebook e no Twitter (LIBÓRIO; CUNHA, 2018, s/p.). Durante a conferência "Brazil UK Forum" em maio de 2019, realizada na London School of Economics e na Universidadede de Oxford, uma pesquisa do Ideia Big Data com 1660 entrevistados apontou que 2 em cada 3 brasileiros receberam notícias falsas durante a eleição. "67% concordam com a frase “eu certamente recebi fake news no WhatsApp durante a campanha eleitoral em 2018”, enquanto 17% discordam e 16% nem discordam, nem concordam". (MELLO, 2019, s/p.). Um estudo de 100.000 imagens políticas compartilhadas no WhatsApp no Brasil no período que antecedeu a eleição de 2018 "descobriu que mais da metade continha informações enganosas ou falsas; Não está claro quem estava por trás deles" (BANJOO, 2019, s/p.). Outros países como Sri Lanka, Malásia, Índia, México e África do Sul registraram uma verdadeira disputa digital pelos fatos e que só vem se expandindo: "um relatório de 2018 da Universidade de Oxford encontrou evidências de campanhas organizadas de manipulação da mídia social em 48 países, contra 28 em 2017" (BANJOO, 2019, s,p.). Durante o período de eleições para o Parlamento Europeu em 2019, os sites que publicaram fake 4 news conseguiram "engajamento de 1,2 a 4 vezes maior do que os veículos tradicionais" (PEDERNEIRAS, 2019, s/p.). Mas afinal, como a pós-verdade ganhou tamanha projeção desde o início do século? Quais aspectos históricos, cognitivos, sociais, econômicos e políticos tornaram as fake news tão relevantes para a formação da opinião pública no Brasil e no cenário internacional? Como o jornalismo têm respondido ao ambiente online conspiracionista? De que forma, dentro de suas competências, a profissão pode se aliar ao público e ao Estado para promover um debate sem desinformação e manipulação política? Para responder a essas perguntas-problema, este trabalho de conclusão de curso busca compreender os fatores que levaram ao crescimento das fake news e o impacto que tiveram na opinião pública nacional e internacional. Desta forma, a pesquisa de caráter expositivo baseia-se em um levantamento bibliográfico, utilizando o conhecimento disponível em artigos, livros e análises na mídia para entender o fenômeno da pós-verdade. Na pesquisa bibliográfica o investigador irá levantar o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da investigação. (KÖCHE, 2011, p. 122) O sucesso da pós-verdade é uma crise de confiança para a sociedade, sua saúde, sua economia e suas instituições. No âmbito político, a pós-verdade tem construído um debate online radicalizado que coloca em risco a própria democracia e a eficácia de suas instituições. Quando o eleitor toma sua decisão de voto pautado em uma informação falsa, ele está de fato se apoiando em uma noção deturpada da realidade. À medida que essas informações falsas são espalhadas e normalizadas, as decisões coletivas também se deterioram em favor de uma manipulação política, e o resultado é um debate improdutivo, com narrativas descompromissadas com os fatos e coniventes a uma ideologia, um político ou um eleitorado que se julgará sempre dono da verdade. "A política e a imprensa, só prosperam em sociedades democráticas, [...] onde a verdade dos fatos é um valor. Se a verdade factual cai em desprestígio ou em desuso, a imprensa perde relevância e a política simplesmente caduca" 5 (BUCCI, 2016, s/p.). A pós-verdade, a longo prazo, produz uma política isenta de autocrítica e que caminha para o autoritarismo. Isso é o que [Hannah] Arendt quis dizer com a banalidade do mal. É a falta de consideração que permite não considerar as consequências morais do que você está fazendo quando implementa um novo sistema de transporte para a fabricação de pessoas em cadáveres. [Adolf] Eichmann2 era um novo tipo de criminoso para o século XX - não apenas um assassino genocida, mas um inimigo da humanidade, porque não podia nem pensaria do ponto de vista de ninguém além de si mesmo (STONEBRIDGE, 2019, s/p.). Conspirações sobre a vacinação criaram falsas atribuições no Reino Unido, na esteira da popularização de boatos que atrelaram a imunização à crescente incidência de diagnósticos de autismo. Como resultado, as taxas de vacinação caíram de 92% para 73%, e perto de 50% em certas áreas de Londres. O que resultou em surtos de sarampo e casos de morte. "Em junho de 2008, a doença tinha uma vez mais se tornado endêmica na Grã- Bretanha, 14 anos após sua total erradicação" (D'ANCONA, 2018, p. 69). No Brasil, fake news compartilhadas em 2015 no contexto de epidemia do zika vírus instalaram o desespero na população com mensagens alertando sobre um lote vencido da vacina contra rubéola aplicada em gestantes, e que supostamente "causou o aumento de casos de microcefalia" (UOL, 2016, s/p.). Em 2017 o país teve o menor índice de vacinação em crianças menores de 16 anos e o resultado de tanto boato está custando caro: depois de 10 mil casos confirmados da doença, o país corre risco de perder o certificado de país livre do sarampo. Quem participa do debate político via Twitter pode ficar na ilusão de que há um debate histórico sobre se o regime instaurado em 1964 era uma ditadura ou não. Esta é a nova realidade no mundo pós-redes sociais. O número de temas passíveis de debate se ampliou. Debatemos, agora, se houve ditadura no Brasil. Se vacinas são mesmo saudáveis. Até se a Terra é realmente elipsoide (DORIA, 2019, s/p.). A pós-verdade é tóxica também para as empresas, os negócios e a economia, uma vez que a confiança é vital para transações e investimentos, "um vídeo viral pode afetar a reputação e o preço das ações. Já estamos 2 Adolf Eichmann foi um dos arquitetos do holocausto do Terceiro Reich. 6 vendo notícias falsas serem usadas em esquemas de ações do tipo inflacione e venda" (BERINATTO, 2018, p. 53). Entre assassinatos de reputação, algumas campanhas viralizam rapidamente online, como foi o caso dos boatos criados em fóruns da deep web de uma campanha do Starbucks que supostamente dava desconto em seus produtos para imigrantes vivendo nos Estados Unidos sem documentação (TAYLOR, 2017, s/p.). Um tweet da agência de notícias norte-americana Associated Press, em 2013, divulgou a notícia que o então presidente Barack Obama havia ficado ferido em uma explosão. Rápido a notícia se espalhou. De nada adiantou a agência afirmar que a conta havia sido hackeada: apesar da notícia não aparecer em mais nenhum lugar, em minutos US$ 130 bilhões sumiram das bolsas de valores do país. (GALILEU, 2018, s/p.) O risco para a democracia, diante desse quadro de desinformação epidêmica, é desastroso. Entender os mecanismos da pós-verdade e como ela se fortalece, para a elaboração de estratégias mais eficazes para solucionar essa batalha pelos fatos é tarefa crucial para as sociedades democráticas neste século digital. Essa monografia aborda o tema em seis capítulos. O primeiro trata o conceito da pós-verdade, como o fenômeno surge e as relações de Estado e mídia que desembocaram em conspirações e fake news. O segundo capítulo refere-se à psicologia da mentira, e como vieses cognitivos e de grupo contribuem para o narcisismo ideológico nas redes que alimenta a desinformação. O terceiro capítulo conta a história da mentira e da pós- verdade na política do Brasil e como o radicalismo online se formou desde as Jornadas de Junho, em 2013. O quarto capítulo aprofunda os dilemas do jornalismo na era da pós-verdade, e como a profissão tem tentado combater a desinformação com o fact-checking e novos manuais de redação. O quinto capítulo relata como ocorreu de forma massiva a desinformação online no Brasil durante o pleito presidencial de 2018. A conclusão tece uma crítica ao relativismo excessivo e aos malefícios da pós-verdade para a sociedade e as estruturas da democracia. Nele, também se avalia lições possíveis de se aprender para a criação de um debate nacional mais produtivo que envolve o jornalismo, as escolas, centros de pesquisa e outras instituições. 7 1. A PÓS-VERDADE Em 2016 houve um pico de uso da palavra pós-verdade na internet, que cresceu 2.000%, o que levou o termo a ser eleito a palavra do ano da língua inglesa pelo Dicionário Oxford (FÁBIO, 2016, s/p.). A pós-verdade é um fenômeno onde há uma aceitação de informação por um indivíduo ou grupo de indivíduos, que assumem essa informação como verdadeira por razões pessoais como preferências políticas ou crenças religiosas, por exemplo (SIGNIFICADOS, 2018, s/p.). A palavra composta pós-verdade exemplifica uma expansão no significado do prefixo pós- que se tornou cada vez mais proeminente nos últimos anos. Em vez de simplesmente referir-se ao tempo após uma situação ou evento especificado - como no pós-guerra ou pós-correspondência - o prefixo em post-truth tem um significado mais parecido com 'pertencer a um tempo em que o conceito especificado se tornou sem importância ou irrelevante' (DICIONÁRIO OXFORD, 2016, s/p.). A pós-verdade não implica necessariamente em uma mentira, mas sempre implica em uma negligência com relação a verdade e a busca por explicações factuais e objetivas. A política da pós-verdade é mais do que apenas uma invenção das elites dominantes que foram superadas. O termo seleciona o coração do que é novo: que a verdade não é falsificada ou contestada, mas de importância secundária. Uma vez, o propósito da mentira política era criar uma visão falsa do mundo. As mentiras de homens como o senhor Trump não funcionam assim. Eles não pretendem convencer as elites, nas quais seus eleitores alvo não confiam nem gostam, mas reforçar preconceitos (THE ECONOMIST, 2016, s/p.)3. O termo ganhou o prêmio de "palavra do ano", pelo Dicionário Oxford em 2016, "a novidade não é a desonestidade dos políticos, mas a resposta do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença, e por fim, à conveniência" (D'ANCONA, 2018, p. 34). Passa-se então de "uma ética de 3 But post-truth politics is more than just an invention of whingeing elites who have been outflanked. The term picks out the heart of what is new: that truth is not falsified, or contested, but of secondary importance. Once, the purpose of political lying was to create a false view of the world. The lies of men like Mr Trump do not work like that. They are not intended to convince the elites, whom their target voters neither trust nor like, but to reinforce prejudices. (tradução livre) 8 estilo Menu à La Carte para outra de estilo buffet: selecionando e escolhendo a qual obedecer” (KEYES, 2018, p. 24). Na pós-verdade, as pessoas creem obstinadamente em suas visões de mundo e apenas procuram aceitar aquelas informações que confirmam suas crenças, que não são postas em questionamento. Assim, perde a força de persuasão o contraste de argumentos, e as pessoas sucumbem a boatos, sem propensão a analisar os fatos. Esse é um caldo de cultura propícia à disseminação das fake news. (RAIS, p. 80, 2018) Importada dos Estados Unidos pelo Brasil, a pós-verdade nasce da mistura de diversos fatores. Um deles é a resposta da população frente às mentiras dos políticos como arma de propaganda política e coesão social, normalizada com o tempo, no âmbito de tantos escândalos institucionais. A pós-verdade é multidisciplinar, dividindo-se entre a política, psicologia, sociologia e tecnologia, mas sua principal característica é valer-se do emocional das pessoas, se apegando aos "ressentimentos específicos do público" (D'ANCONA, 2018, p. 27). Portanto, é um fenômeno que ganha proeminência e força em épocas de crises e convulsões sociais que despertam as paixões humanas intensas, como o ódio, por exemplo. O Brexit foi marcado pela noção "perniciosa de que a mobilidade social da população é um jogo de soma zero: aqueles que vêm para o Reino Unido são um bando de parasitas que privam os britânicos nativos de lugares nas escolas, moradias, empregos" (D'ANCONA, 2018, p. 29). A pós-verdade requer uma vida em estrutura de show na qual a sala de aula é o ensaio do espetáculo. A atitude estética, humorada e flexível, corrobora este cenário no qual é mais importante quem está falando, com seu carisma e estilo, do que argumentos, demonstrações ou provas de qualquer autoridade anônima que se apresenta como desinteressada. A confiança na última palavra e o consenso do momento são o que importa. Divergentes merecem no máximo o tratamento de “inclusão” e no mínimo o desprezo silencioso. Como se nenhuma conversa que não possa ser resolvida em menos de quinze minutos valha a pena. (DUNKER et al., 2017 p. 24) "A decepção política é subserviente à pós-verdade" (D'ANCONA, 2018, p. 122), nela, os debates políticos se reduzem à criação de imagens políticas populistas que nunca erram ou mentem, defendidos com empenho por seus partidários polarizados. A descrença nas instituições, atrelada à 9 insatisfação e as mentiras na política, contribuiu para que tanto no Brexit quanto na eleição presidencial americana em 2016 houvesse a manifestação de um voto de protesto contra a classe política e seu status quo. Na era do imprevisto, onde o futuro é incerto em meio a mudanças climáticas, econômicas, digitais, sociais e políticas tão marcantes, há o aumento da "ampliação da margem de ação dos indivíduos nessa sociedade de transição e risco", (ABRANCHES, 2017, p.73), essa ação tomou forma de um grito pela retomada do controle. As duas campanhas "iluminaram a paisagem em transformação, cujo surgimento a classe política e midiática falharam em registrar", (D'ANCONA, 2018, p. 21-22). E não só na sociedade ocidental a desinformação massiva foi usada como arma política. O jornalista britânico Peter Pomerantsev (2016, p. 271-2) descreve a Rússia do presidente Vladimir Putin nesses moldes, mas se valendo da mídia para disseminar notícias manipuladas em diversas plataformas, simultaneamente. A tática foi usada para legitimar conflitos e atitudes do presidente russo em prol da dezinformatsiya4, principalmente depois da eclosão da crise na Criméia, em 2013. Mais tarde, a estratégia viria a ser batizada de Firehose of Falsehood. O alto número de canais e mensagens russas tinha a disposição clara de disseminar verdades parciais ou ficções, criando uma nuvem de propaganda que "entretém, confunde e sobrecarrega o público. Também é rápida, contínua, repetitiva e sem compromisso com a consistência". (PAUL; MATTHEWS, 2016, p.1) A pós-verdade transfere a autoridade da ciência ou do jornalismo sério para a produção das opiniões criando certos efeitos. A dificuldade em abordar o problema da ciência em toda a sua complexidade exige a cobertura de uma área muito extensa com preceitos simples e abrangentes. Aliás, nada mais tentador do que pular os dados técnicos, os detalhes e as incertezas de um problema real com uma boa opinião de conjunto, ainda mais se ela for sancionada pela “razão universal”, que limpa o terreno e nos dispensa de considerar certos ângulos adicionais e excessivos na matéria. Assim vamos comprando a ideia de que existem coisas científicas e coisas “opinativas” ou digamos “políticas”. (DUNKER et al., 2017, p. 39-40) 4Tática de desinformação russa que se vale de um grande volume de produção de informações fraudulentas. 10 Na pós-verdade, jornalistas, cientistas e professores, estigmatizados em seus edifícios de conhecimento, são caçados pelo senso comum ideologizado. Trump, ao atribuir o aquecimento global a uma teoria criada pela China para diminuir a economia americana ou ao exclamar na Casa Branca "eu não vou te deixar fazer uma pergunta porque você publica notícias falsas. Quieto!" (THE DAILY BEAST, 2017, s/p.) a um dos repórteres da CNN, veículo que ele chamou de fake news, mostrava qual caminho deveria ser seguido: o que retirasse a autoridade da ditadura dos dados que a ciência e o jornalismo supostamente pregam, conferindo empoderamento às opiniões do senso comum ideologizado. Se a tecnologia digital é o hardware, a pós-verdade provou ser um software poderoso. Ela reduz o discurso político a um videogame em que o jogo interminável, em múltiplo níveis, é o único ponto de exercício. Quando Trump twittou que a “Mídia fake news” era a “inimiga do povo”, ele não estava apenas se apropriando do léxico da autocracia. Ele estava recomendando que os cidadãos norte-americanos se comportassem como jogadores, pegassem seus consoles e mirassem nos vilões que carregavam caderninhos de anotação. É tudo uma questão de escolha de times, intensidade de sentimentos e escalada dos insultos. É a política do puro espetáculo (D'ANCONA, 2018, p. 58-9). 1.1 VERDADES E MENTIRAS Definir o que é verdade sempre foi um desafio da humanidade. Em passagem de João (18:38) na Bíblia, nem mesmo Jesus conseguiu responder à pergunta de Pilatos, "O que é a verdade?" (RAIS, 2018, p.222). O filósofo grego Protágoras pensava de uma forma mais relativista, em que qualquer coisa “é para mim tal como me pareça, e é para você tal como lhe pareça. Vários séculos depois Hobbes afirmou que “Verdadeiro ou Falso são atributo do discurso, não das coisas” (KEYES, 2018, p.143). Há ainda, um eurocentrismo na visão que fixa a distribuição de verdades e mentiras como um fenômeno originado na Europa. Quando a linguagem humana começou a ser usada entre os Homo sapiens, esse momento "estava muito proximamente relacionado ao momento em que um homem inventou uma história, um mito a fim de desculpar um erro que ele cometeu" (KEYES, 2017, p. 27). Seja para impressionar alguém ou para 11 sobreviver, a capacidade de enganar aprimorou a habilidade do homem de não apenas caçar presas, escapar predadores ou impedir inimigos, a verdade tornou-se ao longo do tempo, um agregador social. Historicamente, os grupos sociais têm tido uma atitude fundamentalmente diferente em relação a dizer a verdade a conterrâneo e dizer a verdade a estrangeiros. [...] Ludibriar estranhos não era considerado mais pecaminoso do que ludibriar um bisonte a despencar de um penhasco. (KEYES, 2018, p. 31-32) A mentira já foi vista como um remédio inevitável se usado como motivo político. O filósofo grego Platão, que detestava mentirosos, "abriu uma exceção para o governante que, por vezes, sonega aos governados uma informação [...] desde que no interesse da própria cidade" (BUCCI, 2016, s/p.). No século XVI, Nicolau Maquiavel estabeleceu a mentira como uma prerrogativa válida a ser usada por um bom governante. O profeta Maomé valorizava a verdade entre os seus seguidores, sendo necessário o uso da mentira apenas para preservar a harmonia doméstica (KEYES, 2018, p. 35). A verdade como um valor para todos independente da crença foi apontada pelo filósofo Agostinho de Hipona em 395 d.C. Com a constante manipulação dos fatos, a procura por explicações ausentes de dogmas se tornou fundamental para desamarrar as cordas da sociedade contemporânea, desvinculando de alguma entidade, seja o Estado ou a Igreja, seu monopólio exclusivo sobre a verdade, como defendiam os iluministas já no século XVIII. O filósofo Immanuel Kant dizia que a verdade "é um dever que deverá prevalecer sempre e, como tal, é considerado base de todos os outros deveres. Da mesma forma, a verdade é essência de todos os princípios e somente por meio dela é que será possível compreendê-los" (RAIS, 2018, p. 222). Outro iluminista, Thomas Jefferson, em seu “projeto de lei para a maior difusão geral do conhecimento”, de 1779, expressou precisamente a necessidade da verdade como anteparo contra o autoritarismo e a ditadura: Mesmo sob as melhores formas [de governo], aqueles a quem foi atribuído poder, no devido tempo, e por meio de lentas operações, perverteram-se na tirania; e acredita-se que a maneira mais eficaz de impedir isso seria, iluminar, na medida do praticável, as mentes do público em geral e, sobretudo, dar-lhe conhecimento desses fatos, que a história exibiu [...] eles podem ser capacitados a perceber a ambição 12 sob todas as suas formas e impelidos a exercer seus poderes naturais para derrotar os intentos dela (D'ANCONA, 2018, p. 91). Se antes a verdade era usada como meio de coesão social, é nos anos 1960 com os pós-modernos Michel Foucault, Richard Ashley, Jean- François Lyotard, Jacques Derrida, Jean Baudrillard, Theodore Adorno e Walter Benjamin que o relativismo renasce e vira uma resposta, em forma de subversão, a tudo que representava a verdade difundida pelas elites políticas, econômicas, brancas e masculinas. O relativismo tem sido ascendente desde que as guerras culturais começaram nos anos 60. Naquela época, era abraçado pela Nova Esquerda, que estava ansiosa para expor os preconceitos do pensamento ocidental, burguês e dominado pelos homens; e por acadêmicos promovendo o evangelho do pós-modernismo, que argumentava que não existem verdades universais, apenas pequenas verdades pessoais - percepções moldadas pelas forças culturais e sociais do dia a dia. Desde então, argumentos relativistas foram sequestrados pela direita populista. (KAKUTANI, 2017, s/p.)5. A pós-verdade e seu relativismo aparecem como uma segunda onda dentro do movimento pós-moderno. A estrutura de verdade criada pelo sistema político e disseminado em formato de mídia, foi rompida pela noção desses teóricos que questionavam a natureza daquelas verdades institucionais enquanto opressão ideológica. Muitos antropólogos, por exemplo, afirmam que não há qualquer racionalidade que tenha validade universal, mas apenas diferentes racionalidades de diferentes culturas. Segundo essa doutrina, a que podemos chamar “relativismo”, a verdade é múltipla e depende do ponto de vista do sujeito ou do contexto em que é formulada. Assim, todas as afirmações, sejam científicas, filosóficas, religiosas, etc., seriam diferentes “narrativas”, que deveriam ser compreendidas em seus respectivos contextos históricos, culturais e lingüísticos, pois apenas revelariam os preconceitos culturais de diferentes narradores. Os critérios de verdade, dizem-nos, são relativos às diferentes práticas e 5Tradução: Relativism has been ascendant since the culture wars began in the 1960s. Back then, it was embraced by the New Left, who were eager to expose the biases of western, bourgeois, male-dominated thinking; and by academics promoting the gospel of postmodernism, which argued that there are no universal truths, only smaller personal truths – perceptions shaped by the cultural and social forces of one’s day. Since then, relativistic arguments have been hijacked by the populist right. 13 culturas e não há qualquer juiz ou padrão de racionalidade imparcial e superior capaz de avaliar essas diferentes narrativas (SILVA, 2005, s/p.). Apesar da atitude contestadora, os teóricos pós-modernos não imaginavam que futuramente suas teorias colocariam em cheque a base integral das instituições em nome do construto social. Apesar dos autores inspirarem uma forma mais pluralista de se ver o mundo, "seus discursos, ao questionarem a própria noção de realidade objetiva, desgastaram muito a noção de verdade. Seu terreno natural era a ironia, a superfície, o distanciamento e a fragmentação" (D'ANCONA, 2018, p. 85). Por mais que seja válida intelectualmente, a dificuldade de identificar o que é objetivamente verdadeiro não nos dá licença para dizermos, como se fosse verdadeiro, o que sabemos ser falso. Infelizmente uma conclusão leva muito facilmente à outra. Uma vez que decidamos que a verdade é um construto social, segue-se facilmente que mentir não pode ser tão ruim afinal. [...] Se não podemos distinguir verdade de mentiras, será que a honestidade não é superestimada? (KEYES, 2018, p. 144). 1.2 MÍDIA, ESTADO E NARRATIVAS PELA VERDADE As notícias fraudulentas sempre existiram. Alguns registros datam que desde a antiguidade foram escritas calúnias e difamações por historiadores para manipular o debate e entendimento da verdadeira trajetória dos fatos. Procópio foi um historiador bizantino do século 6 famoso por escrever a história do império de Justiniano. Mas ele também escreveu um texto secreto, chamado "Anekdota", e ali ele espalhou "fake news", arruinando completamente a reputação do imperador Justiniano e de outros. Era bem similar ao que aconteceu na campanha eleitoral americana. (VICTOR, 2017, s/p.). Entender o ambiente do jornalismo e sua evolução, principalmente nos Estados Unidos que tanto influenciou o comportamento da imprensa brasileira, é fundamental para compreender a evolução do monopólio da interpretação dos fatos e o surgimento da pós-verdade atrelada à criação de narrativas. Com a popularização do jornal nos lares americanos, por volta de meados do século XIX, a imprensa enfrentou uma sociedade em plena 14 transformação social. Beirando a modernidade, as cidades norte-americanas ganhavam corpo num contexto onde tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado agora é profanado e o homem moderno é obrigado a encarar, finalmente, com sentidos sóbrios suas reais condições de vida. Com um público tão grande e diverso em Nova York, Joseph Pulitzer e Willian Randolph Heartz utilizavam diversas formas e conteúdos sensacionalistas para ganhar visualização, se valendo de gatilhos emocionais, como medo, ódio e amor, o que viria a marcar os traços de um jornalismo ainda adolescente. O período nomeado de ‘jornalismo amarelo’ persistiu até a 1910 e foi muito caracterizado pelo uso massivo de propaganda com forte viés editorial e baixa credibilidade, (EMERY; SMITH, 1954, p.415-16). Nessa época a expressão "fake news" foi usada massivamente pela primeira vez (FALLON, 2017, s/p.). No começo do século XX, o mundo logo se deparou com um conflito sem precedentes, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com várias potências lutando pela hegemonia do mundo. Ligado à capacidade industrial de cada país, o conflito inaugurou um embate global de narrativas. À medida que cada país se comprometeu politicamente com a guerra, surgiu a necessidade mais crítica e urgente de forjar elos sólidos entre o indivíduo e a sociedade. Tornou-se essencial mobilizar sentimentos e lealdades, instilar nos cidadãos ódio e medo contra o inimigo, manter elevado seu moral diante das privações e captar-lhes energias em uma efetiva contribuição para sua nação (DEFLEUR, 1993, p.86). As mentiras também foram utilizadas para moldar a opinião pública de governos e manipulá-los pela emoção. Um general britânico de brigada, J. V. Charteris, fez uma colagem de duas imagens – uma foto de cadáveres de soldados alemães sendo levados para um enterro atrás da linha de frente e outra foto de cavalos mortos a caminho de uma fábrica alemã que fazia sabão com os animais. A foto que Charteris enviou para Xangai supunha que cadáveres alemães estavam a caminho de uma fábrica de sabão. A profanação com o corpo dos mortos foi considerado um dos motivos pelos qual os chineses declararam guerra contra a aliança alemã tempos depois. Era uma teoria relativamente simples e coerente com a imagem da sociedade de massa que era a herança intelectual do século XIX. Admitia que estímulos claramente concebidos atingiriam cada indivíduo da sociedade de 15 massa através da mídia, que cada pessoa os perceberia da mesma maneira geral, e que eles provocariam uma reação mais ou menos uniforme de todos (DEFLEUR, 1993, p.87). Essa batalha de narrativas foi arrastada também para as décadas seguintes. Com a chegada da Segunda Guerra (1939-1945), os EUA investiram em peças midiáticas contra o nazismo, filmes, artigos e até histórias em quadrinhos. No eixo, Hitler sustentava sua posição nos Protocolos do Sábio de Sião6, e o ministro de propaganda da Alemanha do terceiro Reich, Joseph Göebbels, criava a sua própria visão dos fatos pró- nazismo, valendo-se do pressuposto de que uma mentira repetida mil vezes torna-se uma verdade. Por períodos bem longos, de qualquer forma, pessoas podem permanecer imperturbáveis ante evidentes mentiras, porque simplesmente se esquecem de um dia para o outro do que foi dito, ou porque estão sob um bombardeio tão constante de propaganda que ficam anestesiadas com tudo o que acontece. (Os nazistas) apenas dizem a cada um o que acham que ele gostaria de ouvir supondo que provavelmente com razão, que ninguém se interesse pelos problemas alheios (ORWELL, 2017, p.93-4). Nessa época, o jornalista britânico George Orwell, que foi uma das principais vozes contra o totalitarismo, escreveu reflexões importantes sobre a manipulação da informação por parte dos regimes como uma estratégia para se controlar o passado e consequentemente o futuro. A verdadeira história dessa guerra nunca seria ou poderia ser escrita. Números exatos, relatos objetivos do que tinha acontecido, simplesmente não existem. E se Franco ou qualquer um semelhante a ele permanecer no poder, a história de guerra vai consistir bem amplamente de ‘fatos’ que milhões de pessoas viventes sabem serem mentiras. Assim, para quaisquer finalidades práticas, a mentira terá se tornado verdade (ORWELL, 2017, p.76-7). No contexto da Guerra Fria, tanto a máquina midiática americana como a soviética produziram mentiras e boatos de forma a distorcer a opinião pública, usando o apelo emocional como medo e o ódio. Nos EUA, o contexto da cruzada anti-comunista do presidente Joseph McCarthy, o macartismo (LESME, 200?, s/p.), e o escândalo posterior envolvendo a 6 Texto antissemita que descreve um suposto projeto de conspiração por parte dos judeus e maçons de modo a atingirem uma suposta dominação mundial através da destruição do mundo ocidental. 16 guerra do Vietnã, Pentagon Papers (UPI, 200?, s/p.). Na URSS, mais boatos e várias acusações de que os estadunidenses teriam criado o vírus da HIV (QLU, 2017, s/p.). O sentimento nacional tomou formato de propaganda televisiva, "os cidadãos tinham de odiar o inimigo, amar sua pátria e devotar- se ao máximo ao esforço de guerra" (DEFLEUR, 1993, p.86). Incentivada por líderes de governos, a ideologia hegemônica era fatalista e pregava uma verdade ampliada ao âmbito nacionalista e legitimadas pela relação do estado com a mídia (IANNI, p.12, 1999). A raiz da pós-verdade também está ligada à mídia. Mais especificamente, “ao surgimento da televisão. Seus espectadores são inundados, desde a primeira infância, pelas mentiras, meias-verdades e totais enganações desse meio” (KEYES, 2018, p. 173), um mundo de fronteiras onde o analógico e o digital ganham contornos cada vez menos definidos por realitys shows. O show na TV construiu credibilidade com o emocional dos cidadãos e, aos poucos, se normalizou. O resultado foi a vida cotidiana, comparada ao consumo e aos impulsos pós-modernos, se tornando opaca e desinteressante frente à espetacularização das telas. Aos poucos, a fronteira entre a simulação e o real se dissipava, transitando "entre textos verbais e imagéticos como uma produção publicitária, a verdade para ver, sem necessariamente ser verdade. A verdade que cola" (DUNKER et al., 2017, p.114). O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens, principalmente através dos meios de comunicação de massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem comum: celebridades, atores, políticos, personalidades, gurus, mensagens publicitárias - tudo transmite uma sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida. (JÚNIOR, 2001, p. 69) Na sociedade de consumo de massa "a quantidade tornou-se qualidade" (BENJAMIN, 1975, p. 31), e a explosão de impulsos se torna essencial. "Os homens são entregues a si mesmos, mas se tornaram estranhos a si mesmos, “alienados”, perdendo suas raízes e suas 17 comunidades de pertencimento, são suscetíveis de serem manipulados". (MAIGRET, 2010, p. 97-98). A pós-verdade toma uma forma de espetacularização dos fatos na esteira da popularização da mídia nos anos 80 com o presidente dos EUA Ronald Reagan, um ator que se aventurou na política com forte apelo emotivo, difundia sua imagem como um mito que caía "como luva às técnicas narrativas do telejornovelismo, que descrevia a Guerra Fria como a luta do “Bem” contra o “Mal” (JÚNIOR, 2001, p. 226). O republicano foi impulsionado sob forte propaganda em que "romanceava assuntos grandes e pequenos com o aprumo de um artista experiente, então parecia surpreso quando sua honestidade era questionada” (KEYES, 2018, p. 127). Reagan se apresentava como salvador das desilusões americanas carregando o embate macartista e midiático da guerra fria estadunidense, se antes para viver a modernidade era necessária a verdade, agora, segundo o pós-moderno Baudelaire, "era preciso ter constituição de herói" (KEHL, 2019, p.28). Não por acaso, "a 'era Reagan' fabricou Rambo, o guerrilheiro símbolo da luta contra o comunismo e portador dos ideais da Grande América." (JÚNIOR, 2001, p. 226). Se valendo do pensamento de "mitos úteis são mais significativos do que as verdades estéreis" (KEYES, 2018, p. 142), misturado ao relativismo dos pós-modernos, a conhecida geração “Baby Boomer” surge no mundo ocidental. Ela foi não só impactante por sua grande quantidade de pessoas, mas também por seus apelos emocionais tão fortes e que valorizavam a espontaneidade e o individualismo, muito mais do que a geração de seus pais que eram fiéis às verdades instituídas. "Mesmo aqueles que não aderiram a esse credo estavam cercados por uma cultura consumida por abrir-se emocionalmente" (KEYES, 2018, p. 183). Como artistas e políticos, eles [boomers] não se sentem isentos de ética, e sim detentores de uma ética singular. Trata-se de mais um caso de alt.ética em ação, neste caso, uma baseada no pressuposto boomerista de que, porque a sua integridade é um dado, eles não precisam respeitar os padrões morais que se aplicam aos meros mortais [...] eles têm um curioso código ético: “Já que eu disse, deve ser verdade. Mentiras são coisas que outras pessoas dizem. [...] Sou uma pessoa honesta. Eu disse isso. Portanto, o que eu disse é a verdade. (KEYES, 2018, p. 185-191) 18 O apelo emocional se aliou à crise de credibilidade crescente na mídia tradicional e foi fundamental para a pós-verdade uma vez que abriu espaço para o relativismo e a narrativa própria. A forma como os usuários avaliam o jornalismo usando como referência apenas seu viés pessoal é fator preponderante nesse enfraquecimento a mídia. Um estudo conduzido a partir da cobertura da mídia no massacre de Sabra e Chatila em 1982 no Líbano (VALLONE; LEPPER, 1985, p. 577), descobriu o efeito da mídia hostil. Neste estudo, três grupos ideológicos (um pró-Israel, um pró-Líbano e outro neutro) trataram de avaliar o impacto da imprensa na opinião pública a respeito do massacre. O que se descobriu foi que entre esses grupos a mesma cobertura imparcial da imprensa foi vista como neutra, enviesada para ataque ou para defesa de Israel. Ou seja, o viés estava muito mais associado ao receptor do que ao trabalho da mídia de fato. Para a pós-verdade, nada mais fácil do que as pessoas tratarem a mídia como hostil, assim fica mais fácil ignorar os fatos e assumir um papel enviesado para aproveitar o engajamento em grupo. O mundo ocidental já acompanhava os efeitos de cem anos de jornalismo quando os EUA entraram na Guerra do Golfo em 1991. O espetáculo por trás da notícia virou regra e apresentou uma releitura da cultura islâmica de forma completamente pejorativa, patrocinada pela televisão, e que viria a ditar debates futuros como a islamofobia. [Foi o] suposto choque civilizatório entre os Estados Unidos – portador de valores cristãos, democráticos e pluralistas da civilização ocidental, e o Iraque – representante do Islã, uma religião intolerante sustentada por fanáticos terroristas que ainda vivem no tempo dos camelos e obrigam suas mulheres a usar véu.[...] Milhões de telespectadores acreditam que, praticamente, não houve mortes na Guerra do Golfo, porque viram na televisão tratar-se de uma “guerra limpa”, mesmo quando eram advertidos de que as imagens haviam sido censuradas por Washington por “razões de segurança nacional” (JÚNIOR, 2001, p.116-8). Apesar de apresentar uma visão distorcida, a cobertura da guerra no Iraque chamou atenção para a mudança na postura da sociedade americana. Nos anos 60, na guerra do Vietnã por exemplo, a cobertura da 19 mídia foi decisiva para mostrar a violência excessiva do conflito, mas, anos depois, a mídia e a população foram colocados em xeque, sobre o dilema de saber dos fatos e se incomodar com eles, ou fechar os olhos e viver em uma simulação, nos moldes de um show. Naquele momento, narrativas paralelas conviviam e a pós-verdade se consolidava de fato na sociedade ocidental. A transmissão da Guerra do Golfo consagrou os jogos de simulação, a “fusão/confusão da informação com a informática”, uma profusão de dados que o receptor absorve sem estabelecer fronteiras. Não se sabe onde termina a simulação e onde começa a realidade (JÚNIOR, 2001, p. 121). 1.3 INTERNET Uma das maiores mudanças na horizontalidade da comunicação midiática acontecia justamente no período da Guerra do Golfo, quando um sistema que inicialmente funcionava como intermediador de informações em laboratórios de pesquisa, conhecido como Arpanet, havia ganhado tanto destaque no meio acadêmico que passou a ser comercializado nos EUA, era o começo da internet, (SILVA, 2001, s/p.). A internet possibilitou um universo informacional sem limites, capaz de conectar o mundo e reduzir fronteiras. Sua comunicação abriu caminho para que as pessoas pudessem se comunicar, abolindo o abismo entre o centro e a periferia, criando infinitas narrativas dentro de cada contexto. Pela primeira vez, era possível difundir pensamentos com uma amplitude jamais vista anteriormente e de forma ativa. "libertando-nos por um lado da ditadura do pensamento analítico estreitamente escolar e, pelo outro, das tiranias dos meios de comunicação de massa, da passividade", (MAIGRET, 2010, p. 406). Ficava clara a radical mudança de peso entre os interlocutores do diálogo político, até então hierárquico e partindo do líder para seus subordinados, e que na internet transformou-se em relações lateralizadas ou niveladas por baixo. O resultado foi a rápida normalização da desinformação e das narrativas paralelas em redes sociais de conteúdo dinâmico, como o Twitter, onde "as fake news se disseminam seis vezes mais rápido do que notícias verdadeiras" (LUIZA, 2019, s/p.). O relacionamento entre Estado e 20 mídia foi colocado em xeque "por uma malha de redes vinculadas não por laços institucionais, mas pelo poder viral da mídia social, do ciberespaço e dos sites, que se deleitam em sua repugnância em relação à grande mídia". (D'ANCONA, 2018. p. 63). A saturação midiática e a convergência oferecem em tal grau a possibilidade informativa que, como efeito colateral, dificultam ao sujeito a tarefa de permanecer informado sobre a totalidade de assuntos, tal a gama de fontes, meios e versões apresentadas. Assim, ganham importância as vozes mais representativas do cenário midiático, como influenciadores e especialistas, mas também como personagens aos quais o sujeito se vincula não somente devido à expertise, mas ao grau de aproximação consigo e com sua visão de mundo, crenças e costumes, a tal vinculação (MENDES, 2019, s/p.). O colapso da confiança "é a base social da era da pós-verdade", (D'ANCONA, 2018, p. 42). Na tentativa de reprodução do espetáculo mainstream, a imprensa tradicional apresentou forte perda de credibilidade ao se desvirtuar dos relatos comprometidos com os fatos por influência política ou sensacionalismo. No início do século a mídia era "questionada por sua quase generalizada subserviência ao "patriotismo" de George W. Bush" (AJZENBERG, 2003, s/p.), como foi o caso da jornalista premiada do New York Times, Judith Miller, autora de "reportagens afirmando que o Iraque tinha armas químicas, o que, mais tarde, se revelou falso" (SAYURI, 2019, s/p.). A derrocada do jornalismo também se atrelou a escândalos de plágio e fabricação de matérias envolvendo outros jornais grandes como Der Spiegel e o Washington Post. A mídia tradicional descredibilizada logo abriu espaço para o relativismo pois “quando um ou um punhado daqueles de qualquer profissão são expostos como desonestos, todos os outros dessa profissão ficam de olho roxo” (KEYES, 2018, p. 219). Observa-se que a confiança na mídia caiu 4 pontos de 2013 para 2014, em todo o mundo. Mas o mais interessante é observar como os novos meios digitais e outros processos de comunicação desvinculados da mídia tradicional passaram a contar com muito mais credibilidade, avançando no campo antes dominado por aquilo que chamamos classicamente de imprensa. O extrato da amostragem considerado como “público informado” declara que, ao buscar informações sobre qualquer assunto, confia tanto na mídia tradicional quanto nos sistemas de busca online. No 21 Brasil, esse aspecto é ainda mais diferenciado: as ferramentas de busca como o Google têm a confiança de 81% dos consultados (COSTA, 2015, s/p.). A internet propulsionou a pós-verdade e a degradação da memória, impactando fortemente a percepção humana de um fato. O frenesi por velocidade trouxe um paradoxo, "a produção de uma quantidade brutal e incessante de informação também produz a "amnésia permanente" (JÚNIOR, 2001, p. 89). Não há tempo para refletir sobre um fato, apenas para absorvê-lo, compartilhá-lo e se preparar para o próximo. Essa estrutura cria lacunas informacionais ao longo do tempo e que prejudicam o melhor entendimento de um fato amplo ou complexo. Ora, em um mundo em que a informação existe em abundância, para todos, tanto a rapidez como a eficácia na capacidade de obter uma informação exclusiva e na de disseminá-la adquiriram uma urgência dramática, acirrando ainda mais a competição entre os vários veículos de comunicação de massa. Ser mais rápido tornou-se uma demonstração de prestígio, de poder financeiro e político. É por essa razão que toda a produção da mídia passa a ser orientada sob o signo da velocidade (não raro, da precipitação) e da renovação permanente (JÚNIOR, 2001, p. 88). Agora, quem tinha acesso à internet também conseguia participar das narrativas de forma mais ativa, capaz de formular e divulgar amplamente suas ideologias nas primeiras redes sociais ou em cartas online, os chamados e-mails, "operando uma conciliação feliz entre a carta e a comunicação telefônica, a espontaneidade e a distância, a transmissão instantânea e o diferido" (MAIGRET, 2010, p. 414). Os primeiros e-mails e sites, principalmente os não institucionalizados, apresentaram uma nova dinâmica de debate massivo expandido das cartas. Falar traz um tempo diferente do escrever. Temos que esperar o outro terminar uma frase [...] Quando estamos falando com o outro, precisamos medir a perda ou ganho de atenção do locutor, avaliando se estamos indo muito rápido ou demasiadamente lento em nossas ideias [...] Quando temos um texto, um e-mail ou um torpedo, ou mesmo uma carta, podemos decidir por onde começar, pelo fim, pelo meio ou pelo começo (DUNKER et al., p. 32, 2017) 22 Essa dinâmica de debate online não possui obrigação com os fatos, não por acaso, muitos e-mails viralizavam entre opiniões e spams, "alguns usuários recebiam mais spams do que enviada com o objetivo de obter informações sigilosas ou injetar agentes maliciosos no computador do receptor" (RAIS, 2018, p. 71). Esse subterfúgio que passou a abrigar a desinformação de forma mais massiva se deu também pela ausência cada vez maior do contato humano direto. "Aqueles que conversam eletronicamente tomam a dissimulação como garantida acerca da identidade do outro" (KEYES, p. 195, 2018). Por seu espaço de liberdade de expressão, a internet não se realizou enquanto utopia informativa, uma vez que a disponibilidade de informação não garante uma sociedade informada. Na realidade, a estrutura digital com seus algoritmos e linguagens estimula muito mais uma sabedoria vazia e de multidão, que selecionava o seus fatos à luz de convicções já existentes, silenciando o pensamento mais complexo ou diferente. Quanto mais as pessoas se aglomerarem no ciberespaço, mais a sociedade em geral será povoada por aqueles que presumem que a autenticidade seja uma quimera. Ao longo do caminho, perderemos a confiança em nossos próprios olhos e ouvidos. Ao mesmo tempo, um número cada vez maior dos nossos contribuirá para essa atmosfera porque, tendo se acostumado a dissimular no ciberespaço, podemos achar mais fácil fazê-lo no espaço genuíno também. (KEYES, 2018, p. 204) Outros fatores contribuíram para a disseminação em massa de ódio e desinformação. A verdade é essencial para coesão social, sendo assim, a mentira institucionalizada, incentivada por políticos e militantes, é mais um traço do esfacelamento das relações humanas em tempos líquidos. Além disso, a internet não pede documento, possibilita o anonimato, a criação de diversas contas, e o hater por trás do seu computador se sente protegido, em seu mundo de simulação, espalhando sua narrativa de forma livre e descompromissada com a verdadeira trajetória dos fatos. Na era da web, a pós-verdade assume o seu ápice. A sociológica “Teoria dos papéis” sugere que nós temos tantas identidades quantas forem as máscaras que escolhemos usar. A Web recompensa aqueles dispostos a substituírem velhas máscaras por novas. É o ponto culminante do sonho americano estar em um estado 23 perpétuo de reinvenção. O resultado tem sido comparado a viajar para o exterior, livre para apresentar-se aos outros como você gostaria de ser, com pouco risco de ser descoberto (KEYES, 2018, p.198). Como comunidade de espaço público, a web se mostrou um incentivador de sensacionalismo. "Não sem razão, afirmou Habermas que a esfera pública não existe mais, ela passou a ser fabricada" (RAIS, 2018, p. 139). Conteúdos polêmicos, como vídeos espetacularizados ganham as manchetes, e tão logo, os boatos se tornaram comuns, acompanhados da confiança num veículo tão inclusivo, cunhando o pensamento de que se está na internet é verdade. [A internet] apoia aquele esteio de todos os vilarejos: a fofoca. Constrói lugares de encontro que crescem com rapidez para a troca livre e desorganizada de mensagens que se caracterizam por uma variedade de afirmações fantasiosas, suspeitas, divertidas, supersticiosas, escandalosas ou maléficas. As chances de que muitas dessas mensagens sejam verdadeiras são baixas e a probabilidade de que o próprio sistema venha a ajudar alguém a distinguir as verdadeiras são até mais baixas (D'ANCONA, 2018, p. 52). 1.4 PÓS-VERDADE ON DEMAND Aproveitando as predisposições à pós-verdade no ambiente digital, em 2013 o estrategista político Steve Bannon se aliou ao magnata Robert Mercer para criar uma plataforma de psicometria política. O herdeiro da Medallion, um fundo de investimentos que usava Big data e que chegou a ser considerada uma máquina de fazer dinheiro (JORNAL DE NEGÓCIOS, 2016, s/p.), encontrou no discurso conservador o conteúdo necessário para a nova forma de debate online que eles viriam a inaugurar, "o uso da rede e da internet para a manipulação social, (...) com a psicometria eleitoral que usa tecnologias analytics" (RAIS, 2018, p. 82). Steve Bannon já declarou, entre outras frases, que "a escuridão é boa. (...) Isso é poder. Isso só nos ajuda quando eles (liberais) erram. Quando eles estão cegos sobre quem somos e o que estamos fazendo" (DIAZ, 2016, s/p). As ideias do ex-editor do site conspiracionista Breitbart News encontrava o apoio e estrutura da família Mercer, e nascia então a Cambridge Analytica. 24 Ao dar milhões a um super PAC conservador, Make America Number 1, que sua filha Rebekah presidiu , Mercer parece ter comprado mais influência sobre a campanha de Trump do que qualquer outro doador. Rebekah também tem laços com Stephen Bannon, o polêmico presidente executivo da Breitbart News Network que foi recentemente nomeado o principal estrategista e conselheiro sênior da nova administração, segundo os registros (KUTNER, 2016, s/p.)7. Os estrategistas logo perceberam que o discurso de anti-política baseado em gritos de ordem e fomentado em fake news era extremamente convincente entre os conservadores. Essa conclusão se confirmou em dezembro de 2016, quando uma pesquisa de opinião do instituto Ipsos para o site BuzzFeed, com mais de 3 mil norte-americanos, notou que na média, "os eleitores de [Hillary] Clinton julgaram 58% das notícias falsas como sendo verdadeiras, contra 86% dos eleitores de Trump" (SILVERMAN, SINGER-VINE, 2016, s/p.). Além disso, pesquisa de 2019 trouxe que eleitores do Partido Republicano, do presidente Donald Trump, "tinham uma propensão muito maior a disseminar conteúdo enganoso em comparação àqueles que votaram no Partido Democrata: 18,1% contra 3,5%. E uma pesquisa da Universidade de Oxford, revelada pelo jornal The Guardian, mostra que a tendência de compartilhamento das chamadas "junk news", do inglês, "notícias lixo", são predominantes entre os militantes de direita. Essa mentalidade é favorecida pelos mais ressentidos com o establishment político e os que odeiam a política. Havia uma clara distorção em quem compartilhava links dos 91 sites que os pesquisadores haviam codificado manualmente como “notícias-lixo” (baseados na violação de pelo menos três dos cinco padrões de qualidade, incluindo “profissionalismo”, “preconceito” e “credibilidade”). “O grupo Trump Support consome o maior volume de fontes de notícias indesejadas no Twitter e espalha mais fontes de notícias indesejadas do que todos os outros grupos juntos. Esse padrão é repetido no Facebook, onde o grupo Hard 7Tradução: By giving millions to a conservative super PAC, Make America Number 1, which his daughter Rebekah chaired, Mercer seems to have bought more influence over Trump’s campaign than any other donor. Rebekah also has ties to Stephen Bannon, the controversial Breitbart News Network executive chairman who was recently named the new administration’s chief strategist and senior counselor, records show. 25 Conservatives consumiu a maior proporção de notícias indesejadas”. (HERN, 2018, s/p.)8 A Cambridge Analytica inaugurou uma nova estratégia de marketing político, investindo na doutrinação pelo populismo conservador em todos os espectros, e se pautando unicamente na busca por focos emotivos que pudessem despertar o grito por ordem. Em 2016 a empresa conseguiu coletar dados do Facebook de milhões de eleitores dos Estados Unidos, traçando um perfil psicológico utilizando parâmetros como idade, renda e localização, e usando manipulações on demand para convertê-los ao nacionalismo populista. Agora, era possível penetrar nas mais diferentes bolhas sociais nas redes explorando a brecha emocional de cada grupo, suas carências, medos e virtudes, seguindo o monólogo do gozo. É preciso saber, e de preferência de modo não ambíguo e rápido, o que o Outro quer de nós em determinada situação. É o que se poderia chamar de vida em formato de demanda. Onde há um encontro é preciso decidir rápida e iconicamente o que os envolvidos querem, e a negociação tende a ser curta, porque variáveis de contexto se impõem dramaticamente. Se você está no site de restaurantes, já decidiu que quer comida (...) Ele “pratica sua fantasia” de forma generalizada e a céu aberto, como se ele não preocupasse muito em “ser entendido” ou “se fazer compreender” (DUNKER et al., p. 30, 2017) A empresa de Mercer foi denunciada pelos jornais New York Times e The Guardian como a grande responsável por administrar a campanha do Brexit usando a mesma plataforma psicológica. As informações foram coletadas por um aplicativo, thisisyourdigitallife, "que pagou a centenas de milhares de usuários pequenas quantias para que eles fizessem um teste de personalidade e concordassem em ter seus dados coletados para uso acadêmico" (BBC, 2018, s/p.). O pensamento de Bannon ainda se expandiu para outros países, chegando na Europa e achando voz na insatisfação em grupos nacionalistas contra o bloco Europeu e as políticas de refugiados. Depois de sair da casa 8Tradução: There was a clear skew in who shared links from the 91 sites the researchers had manually coded as “junk news” (based on breaching at least three of five quality standards including “professionalism”, “bias” and “credibility”). “The Trump Support group consumes the highest volume of junk news sources on Twitter, and spreads more junk news sources, than all the other groups put together. This pattern is repeated on Facebook, where the Hard Conservatives group consumed the highest proportion of junk news” 26 branca, Bannon fundou o "The Movement", alinhada à alt-right, "com o qual se identificam nacionalistas brancos, grupos homofóbicos e anti-imigrantes" (BILENKY, 2019, s/p.). O movimento segue a cartilha da pós-verdade e esteve articulado no compartilhamento de fake news até mesmo para as eleições de 2019 para o parlamento europeu. A Avaaz mapeou uma ampla rede de mais de 500 páginas e grupos suspeitos, seguidos no total por "quase 32 milhões de usuários e geraram mais de 67 milhões de interações – comentários, curtidas e compartilhamentos – nos últimos três meses. No mesmo período, os conteúdos relacionados a essas páginas e grupos geraram 533 milhões de visualizações" (DW, 2019, s/p.). A ambição de Bannon é que sua organização finalmente rivalize com o impacto da Sociedade Aberta de Soros, que doou US$ 32 bilhões para causas amplamente liberais desde que foi criada em 1984. Bannon desferiu novo golpe contra a mídia tradicional, abrindo caminho para pseudo-teorias institucionalizadas e expandidas pelo público na pós-verdade do partido de extrema-direita na Polônia e na Alemanha, e em políticos com Marine Le Pen na França, Nigel Farage na Inglaterra, Geert Wilders na Holanda e Matteo Salvini na Itália, (DW, 2018,s/p.). "'Eu prefiro reinar no inferno, do que servir no céu', disse Bannon, parafraseando o Satanás de John Milton em Paraíso Perdido" (HINES, 2018, s/p.). O chamado "globalismo", ideia principal de Bannon, é uma "suposta ação planejada das elites internacionais para conduzir a globalização de acordo com valores liberais" (CHARLEAUX, 2019, s/p.), pregando a destruição dos valores nacionais. Para ser convincente em cada país, foram necessárias versões adaptadas de acordo com cada sociedade e suas histórias, explorando antigos ou novos medos. Na Húngria do primeiro- ministro Viktor Orbán, por exemplo, virou um plano de "islamismo da Europa", (MOUALLEM, 2018, s/p.), explorando os confrontos históricos entre cristãos, islâmicos e a questão migratória no país. 27 1.5 FAKE NEWS É importante notar a diferença entre os erros de apuração jornalística, que fazem parte da profissão, apelidados de "barrigas", e as fake news, notícias fabricadas com cinco possíveis intenções, "enganar o leitor; como uma tomada acidental de partido que leva a uma mentira; com algum objetivo escondido do público, motivado por interesses; com a propagação acidental de fatos enganosos; ou com a intenção de fazer piada e gerar humor" (BRITO, 2017, s/p.). As notícias falsas distinguem-se dos erros acidentais justamente por sua natureza de origem fraudulenta. Apesar de terem conquistado um espaço relevante especialmente depois da campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, as fake news, que fazem parte do cenário da “pós-verdade”, não são um fenômeno recente no jornalismo, embora tenham se beneficiado enormemente da velocidade cada vez maior de propagação de informações na internet de forma geral, mais especificamente nas redes sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens (RAIS, p. 57, 2018). Segundo o BuzzfeedNews, nas eleições norte-americanas as notícias falsas mais relevantes, renderam quase 9 milhões de compartilhamentos e reações no Facebook (G1, 2016, s/p.). O referendo do Brexit foi inundado por fake news: 56% do público - e 75% dos partidários de Leave - acham que a imigração europeia aumentou os níveis de criminalidade (DUNT, 2018, s/p.), mas o Comitê Consultivo de Migração (MAC) não encontrou evidências de qualquer vínculo do tipo. É muito comum que o comportamento das pessoas em rede seja muito mais para afirmar suas convicções, num gesto narcisista de autoafirmação, sendo, por conseguinte, difícil que as pessoas arredem o pé dos seus pressupostos, ainda que fundados em crenças absolutamente subjetivas, quando contrastados por contra-discursos ou com dados objetivos. (RAIS, p. 81, 2018) A jornalista Claire Wardle, criou uma lista de sete tipos de notícias falsas que podemos identificar e combater nas redes (VIEIRA, 2019, s/p.). A primeira é a sátira ou paródia, que por mais que não tenha intenção de desinformar, não tem a possibilidade de checagem, podendo se tornar persuasivo para diversos públicos desavisados. 28 Há ainda a falsa conexão, quando manchetes, imagens ou legendas dão falsas dicas do que o conteúdo é realmente. O terceiro tipo é o conteúdo enganoso, informação usada contra um assunto ou uma pessoa valendo-se de falsas atribuições. O quarto é o falso contexto, "quando o conteúdo genuíno é compartilhado com informação contextual falsa" (VIEIRA, 2019, s/p.). Outro tipo de fake news é o conteúdo impostor, quando fontes (pessoas, organizações ou entidades) têm seus nomes usados, porém com afirmações não ditas por eles. Esse tipos de fake news foi uma das categorias mais compartilhadas durante as eleições americanas em 2016. As duas notícias falsas que mais repercutiram foi “Wikileaks confirma que Clinton vendeu armas para o Estado Islâmico” e “Papa Francisco choca o mundo e apoia Donald Trump”. Das 20 notícias falsas de melhor performance analisadas, apenas três não eram pró-Donald Trump ou contra Hillary Clinton (G1, 2016, s/p.). Há ainda mais dois tipos: o conteúdo manipulado, quando uma informação ou ideia verdadeira é usada para enganar o público, e o conteúdo fabricado, como montagens em softwares de edição de áudio, imagem e vídeo. A mídia sintetizada é 100% falsa, construída com intuito de desinformar o público e causar algum impacto negativo a alguém. 1.6 CONSPIRAÇÕES As teorias da conspiração são bem mais difundidas do que se pensa e vivem em contraste direto com à ciência. Em 2014, metade da população dos Estados Unidos apoiou pelo menos uma teoria da conspiração. (D'ANCONA, 2018, p. 64). No Reino Unido, a maioria dos britânicos endossou uma entre cinco teorias "que variavam da existência de um grupo secreto que controlava eventos mundiais ao contato com extraterrestres" (TILEY, 2019, s/p.) A startup de tecnologia de publicidade, Sotryzy, "encontrou mais de 600 anúncios de marcas em sites que promoviam teorias da conspiração e outras informações enganosas." (WARDLE, 2018, p. 49). No dia a dia, na ânsia de provar que estamos certos, costumamos nos apoiar em qualquer material que reforce aquilo que já pensamos, e assim, baseado em uma notícia que sequer foi checada, mas que caiu como uma luva para a nossa prévia convicção, compartilhamos ansiosamente esse 29 conteúdo, que pode ser uma desinformação, contribuindo, assim, para poluir ainda mais o cenário político nacional. (RAIS, 2018, p. 107) No Facebook, teorias conspiratórias são mais compartilhadas e recomendadas do que postagens científicas (BESSI et al., 2015, s/p.). No Brasil a situação é mais grave com a academia, pesquisa da UNICAMP mostra que o 61% dos brasileiros gostam de ciência, mas 87% não soube apontar uma instituição científica no país. 95% não soube apontar o nome de um cientista brasileiro (MORAES; CAIRES, 2017, s/p.). As teorias conspiratórias não só desafiam a ciência, elas são capazes de aglutinar diversas fake news com narrativas mistas, trazendo o tempero de realidade necessária para justificar posicionamentos ideológicos na política, sendo, portanto, presente em todos os espectros. Ao contrário da crença popular, o típico teórico da conspiração não é um homem de meia-idade que vive no porão da casa da mãe usando um chapéu de papel alumínio (que protegeria contra o controle mental realizado por satélites do governo e extraterrestres). "Quando você realmente olha para os dados demográficos, a crença em conspirações transpõe classes sociais, gênero e idade", afirma o professor Chris French, psicólogo da Universidade Goldsmiths, em Londres. (TILEY, 2019, s/p.) Na expansão das simulações de rede sociais, as teorias da conspiração colocam a narrativa fiel aos fatos em xeque, oferecendo um plano de interpretação alternativo que ataca frontalmente os que se comprometem com métodos científicos para explicar os fenômenos e a trajetória dos fatos. "As pessoas questionam tudo aquilo que vai de encontro com as suas convicções, mesmo que seja pautado em argumentos fundados em dados verdadeiros" (RAIS, 2018, p. 80). Para eles, a guerra de narrativas pressupõe uma verdade de batalha que "não pode ser captada em uma planilha ou em um conjunto de gráficos. Assim, como o caso da permanência britânica na União Europeia não podia ser reduzido a uma série de estatísticas” (D'ANCONA, 2018, p. 110). Arron Banks, o empresário que financiou a campanha Leave.EU, em favor da saída da União europeia, estava correto em sua análise do resultado do referendo: “A campanha pela permanência na União Europeia apresentou fatos, fatos, fatos, fatos. Não funciona. Você tem que se ligar 30 emocionalmente com as pessoas. Esse é o sucesso de Trump". (D'ANCONA, 2018, p.27) No século XXI, a mentalidade conspiratória é uma resposta a um mundo de mudanças disruptivas, a "globalização e seus descontentes, a mobilidade populacional sem precedentes, a revolução digital, as formas em rápida mutação do extremismo e do terrorismo, as possibilidades estonteantes da biotecnologia.” (D'ANCONA, 2018, p. 79). Nesse caldeirão de fatores, as identidades e visões culturais também se misturam à narrativa. Trata-se de um embate de visões. De um lado, o Reino Unido ainda como centro de um vasto império mercantil e colonial, herdado em partes pela Commonwealth; de outro, a visão do Reino Unido como um país europeu, parte de algo maior e em pé de igualdade com os antigos rivais continentais. É um debate cultural e econômico que existe nas ilhas britânicas desde o século XIX, com a política do Isolamento Esplêndido. (FIGUEIREDO, 2019, s/p.) No ápice da organização do pensamento extremista, facilitado por bolhas ou câmaras de eco isoladas na internet, os usuários "vivenciam sua própria realidade e operam com seus próprios fatos (...) a internet não apenas reflete a realidade; molda-o" (KAKUTANI, 2018, s/p.). Sem o contraponto, o ambiente polarizado se isola em um eco dificultado tanto pelos algoritmos das redes sociais, como pelas opções oferecidas por ela, no que diz respeito à possibilidade de bloquear usuários com outras visões e unir conspiradores a cidadãos insatisfeitos. A correspondência em grupo gera uma sensação de poder, e na internet, a voz extremista ganha o mesmo valor que de qualquer outro, uma vez que não há hierarquia informacional. Como Umberto Eco enunciou, “normalmente os imbecis eram imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel" (JÚNIOR, 2019, s/p.) Antes, quando alguém tinha uma crença bizarra ou fora do esquadro, sentia-se acuada e desenvolvia formas de se conter; agora ela encontra “parceiros” para tudo na internet, inclusive para o pior. E em um grupo a gente fica valente. Em grupo de internet, então, parece que o Maracanã está nos aplaudindo, quando na verdade são quatro ou cinco simpatizantes. (DUNKER et al., 2017, p. 36) Na era da pós-verdade, as fake news que sustentam conspirações ganham força no grito, conforme a forma como o líder do 'rebanho ideológico' 31 diz algo torna-se tão importante quanto o conteúdo dito. Em um estudo da University of Southern California (WARE; WILLIAMS, 1975, s/p.), um ator foi contratado para se passar por um palestrante em apresentações inventadas. Pelo entusiasmo, o palestrante conseguiu convencer boa parte dos estudantes e especialistas, conclusão: entre um conteúdo ruim e animado versus um expert que falava mal, as pessoas preferem o conteúdo empolgado, se valendo do emocional. Entre alguém informado e alguém que fala gritando, muitos preferem as exclamações que atiçam o lado sentimental e nem se perguntam a qualificação de quem fala. Em tempos de conflito político acalorado, posts ideológicos ganham musculatura dentro de grupos online. Seu maior propulsor é a carga emotiva, tão forte e relevante para a pós-verdade. Em um estudo da Univesity of Pensilvannia em 2012 (BERGER; KATHERINE, 2012, s/p.), constatou-se que os conteúdos mais virais na internet são notícias interessantes, impressionantes ou de uso prático, mas nada é mais compartilhado do que aquilo que causa indignação e raiva nas pessoas. Nesse ponto, as dimensões simples que pensamentos populistas trazem são perfeitos para atribuir causas e efeitos, vilões e mocinhos, se valendo da base social da pós-verdade. Surgem atiçadores que buscam lucrar com a demanda conspiratória emotiva e sensacionalista, num mercado onde ganha quem apresentar a ideia mais palatável ou redentora, "onde as ideias viram mercadorias do mesmo modo que um pastor em uma igreja vende o seu peixe e ganha seu dízimo" (DUNKER et al., 2017, p. 100-101). Na Macedônia, muitos autores de fake news eram adolescentes que descobriram que ganhavam mais dinheiro com os cliques dos posts que defendiam Trump. Cada acesso vale uma fração de centavo para o dono do site ou do blog, mas aí a quantidade de acessos faz a diferença. Se você tiver milhões de visitantes, os centavinhos podem virar uma grana interessante. E como conseguir milhões de visitantes? Se você respondeu que um dos caminhos é criando fake news, você infelizmente está certo. Por definição, as notícias falsas tendem a ter uma pegada sensacionalista, inacreditável, polêmica. E isso é um chamariz para nossa curiosidade – e claro, para nosso clique, que rende grana aos veiculadores de lorotas. Na insana caça por cliques, o sensacionalismo é tão importante quanto o oxigênio. (...) Desinformação, manipulação, 32 hiperpartidarização e notícia falsa não implicam necessariamente na completa invenção de um fato. Uma manchete que distorça a realidade ou aumente um acontecimento para gerar cliques, muito possivelmente, vai dar dinheiro para quem a publicou (VAZA FALSIANE, 2018, s/p.). No abrigo do diálogo entre os conspiradores, há a proteção principalmente em sítios longe de fiscalização ou protegidos por criptografia. Em fóruns da deep-web, os chans, há o impacto inclusive em ações na vida analógica, como foi o exemplo do massacre em uma escola de Suzano (SP), fato comemorado e estimulado na deep web, e em uma mesquita em Christchurch, na Nova Zelândia, onde o atirador vitimou 49 pessoas islâmicas em transmissão ao vivo para um chan (ALECRIM, 2019, s/p.). Muitos memes misóginos e de supremacia branca, além de muitas notícias falsas, originam-se ou ganham impulso inicial em sites como 4chan e Reddit - antes de acumular buzz suficiente para dar o salto para o Facebook e Twitter, onde podem atrair mais atenção. Renee DiResta, que estuda as teorias da conspiração na web, argumenta que o Reddit pode ser um teste útil para os maus atores - incluindo governos estrangeiros como os da Rússia - para testar memes ou histórias falsas para ver quanto de tração eles recebem. DiResta alertou na primavera de 2016 que os algoritmos das redes sociais - que dão às pessoas notícias que são populares e tendências, ao invés de precisas ou importantes - estão ajudando a promover as teorias da conspiração. (KAKUTANI, 2018, s/p.)9 A estratégia no conspiracionismo por trás de Trump é sua própria armadura política, "uma empatia brutal, enraizada não em estatísticas, empirismos ou informações meticulosamente adquiridas, mas em um talento desinibido para a fúria, impaciência e atribuição de culpa" (D'ANCONA, 2018, p. 37). Segundo o Washington Post, até o fim de maio de 2019 ele disse mais de 10 mil afirmações falsas ou enganosas (WASHINGTON POST, 2019, s/p.). Trump, ao deslocar a sua narrativa como verdade absoluta frente 9 Tradução: Many misogynist and white supremacist memes, in addition to a lot of fake news, originate or gain initial momentum on sites such as 4chan and Reddit – before accumulating enough buzz to make the leap to Facebook and Twitter, where they can attract more mainstream attention. Renee DiResta, who studies conspiracy theories on the web, argues that Reddit can be a useful testing ground for bad actors – including foreign governments such as Russia’s – to try out memes or fake stories to see how much traction they get. DiResta warned in the spring of 2016 that the algorithms of social networks – which give people news that is popular and trending, rather than accurate or important – are helping to promote conspiracy theories. 33 o seu eleitorado, confere poder de grupo a quem o segue. Ele também se vitimiza ao considerar-se perseguido sempre que confrontado, em seu Twitter é comum vê-lo apontando inimigos aos seus fiéis, dessa forma, mantém seu eleitorado ocupado brigando online pelos fatos alternativos com os que podem incomodar seu capital político. Trump executou o perturbador truque orwelliano (“GUERRA É PAZ”, “LIBERDADE É ESCRAVIDÃO”, “IGNORÂNCIA É FORÇA”) de usar palavras para dizer exatamente o oposto do que elas realmente significam. Não é só o fato de ele usar o termo “notícias falsas”, virar de um avesso e usá-lo para tentar desacreditar o jornalismo que ele considera ameaçador ou desfavorável. Ele também chamou a investigação da interferência da eleição russa como "a maior caça às bruxas na história política americana" quando ele é aquele quem atacou repetidamente a imprensa, o departamento de justiça, o FBI, os serviços de inteligência e qualquer instituição que ele considera hostil. (KAKUTANI, 2018, s/p.)10 Quem sai beneficiado na pós-verdade não são somente políticos oportunistas, personagens como negacionistas do aquecimento global e militantes anti-vacina também, podendo viver sobre seus vieses cognitivos ou vendendo suas ideias em cursos online, é o saber a um toque de distância. Para uma dessas ativistas, não é necessária a pesquisa científica ou formação acadêmica, “tirei meu diploma na Universidade do Google” (D'ANCONA, 2018, p. 70). Marc Morano, ex-assessor republicano que dirige o site ClimateDepot.com "[O engarrafamento de trânsito é] o maior amigo do cético do aquecimento global, porque isso é tudo o que realmente se quer [...] Somos a força negativa. Estamos apenas tentando parar coisas". Morano admitiu que ser um leigo orientado ideologicamente é muitas vezes uma vantagem diante de um acadêmico: “A maioria dos cientistas que enfrentamos vai ficar em seu próprio mundo especializado ou área de expertise [...] muito hermético, muito difícil de entender, difícil de explicar e muito chato". (D'ANCONA, 2018, p. 47) 10Trump has performed the disturbing Orwellian trick (“WAR IS PEACE”, “FREEDOM IS SLAVERY”, “IGNORANCE IS STRENGTH”) of using words to mean the exact opposite of what they really mean. It’s not just his taking the term “fake news”, turning it inside out, and using it to try to discredit journalism that he finds threatening or unflattering. He has also called the investigation into Russian election interference “the single greatest witch-hunt in American political history”, when he is the one who has repeatedly attacked the press, the justice department, the FBI, the intelligence services and any institution he regards as hostile (tradução livre). 34 A estratégia do conspiracionismo é manter o debate acalorado fluindo, alimentando uma noção de urgência. Ao questionar fatos irrefutáveis como os benefícios da vacinação e a existência do aquecimento global, cria-se uma nova via de interpretação, que se pode atribuir o rótulo de opinião. A ideologia toma uma forma pragmática, uma vez que é determinante para o pertencimento de grupo, e essa noção constrói uma militância impedida de dialogar com a diferença, dividindo as pessoas em um jogo de vale-tudo pelas narrativas que convém. A conhecida observação de Daniel Patrick Moynihan de que “todo mundo tem direito a sua própria opinião, mas não a seus próprios fatos” é mais oportuna do que nunca: a polarização se tornou tão extrema que os eleitores têm dificuldade em chegar a um acordo sobre os mesmos fatos. Isso foi acelerado exponencialmente pela mídia social, que conecta os usuários com membros que pensam da mesma forma e os fornece feeds de notícias personalizados que reforçam seus preconceitos, permitindo que eles vivam em bolhas cada vez mais restritas. (KAKUTANI, 2018, s/p.)11 A ideia é que enquanto o mundo estiver sendo controlado por uma entidade implacável que manipula a todos e os impede de ver a verdade, os militantes são obrigados a se engajar e se polarizar, motivando ainda mais o comportamento extremista. O conspirador lucra política e economicamente com a pós-verdade na medida em que "as mentiras dos mentirosos que gostamos são compreensíveis, e aquelas dos mentirosos que não gostamos são desprezíveis." (KEYES, 2018, p. 129), é a binaridade dos manipulados que favorece a entidade maléfica controladora da verdade versus os esclarecidos que questionam e se refugiam nessa subversão relativista. [A Tobacco Industry Research Committee]12 foi projetada para sabotar a confiança do público e estabelecer uma falsa equivalência entre aqueles cientistas que detectaram uma ligação entre o uso do tabaco e o câncer de pulmão e aqueles que os desafiaram. O objetivo não era a vitória 11 Daniel Patrick Moynihan’s well-known observation that “Everyone is entitled to his own opinion, but not to his own facts” is more timely than ever: polarisation has grown so extreme that voters have a hard time even agreeing on the same facts. This has been exponentially accelerated by social media, which connects users with like-minded members and supplies them with customised news feeds that reinforce their preconceptions, allowing them to live in ever narrower silos, (tradução livre). 12A Tobacco Industry Research Comittee foi criada por grandes empresas de cigarro em 1953 para atacar estudos científicos que apontavam o tabaco como responsável pelo grande aumento de diagnósticos de câncer de pulmão. Eles também atacaram estudos científicos, apesar de lançarem dúvidas sobre eles em vez de refutá-los diretamente. 35 acadêmica, mas a confusão popular. Enquanto a dúvida pairasse sobre o caso contra o tabaco, o status quo lucrativo estaria garantido. Isso proporcionou aos negadores da mudança climática um modelo para as suas próprias campanhas (D'ANCONA, 2017, p. 46) 36 2. A PSICOLOGIA DA MENTIRA O compartilhamento de fake news e conspirações não se trata apenas de contexto histórico-político. O lado psicossocial humano é extremamente relevante para entender como formamos as opiniões e atrelamos fatos a elas. Como Daniel Kahneman (2011) explica, o ser humano é uma máquina associativa, extremamente propenso a aceitar verdades e procurar por relações de causa e efeito nelas. Essas nuances psicológicas são tendências de pensar de certas maneiras que podem levar a desvios sistemáticos de lógica e a decisões irracionais, são os chamados vieses cognitivos. Há razões psicológicas e sociais para a vulnerabilidade humana aos fake news. Como indivíduos temos um realismo ingênuo (do inglês, naïve realism), por meio do qual acreditamos que a percepção da realidade é o único ponto de vista correto, enquanto quem discorda de nós é visto como desinformado, irracional ou enviesado. E temos um viés de confirmação (do inglês, confirmation bias), pelo qual preferimos informações que corroboram com nossa visão atual (RAIS, 2018, p. 63) A narrativa é importante para formar as memórias humanas. Quando uma narrativa é contada para a mente humana, seu impacto emocional e descritivo pode ser utilizado para manipular memórias. Pesquisa conduzida por Elizabeth Loftus (NERDOLOGIA, 2014, s/p.) ilustrou a situação quando induziu voluntários a lembrar de terem abraçado o personagem Pernalonga na Disneylândia, por meio de fotos manipuladas. O resultado foram os voluntários apontando lembranças muito completas sobre a experiência, provando que a riqueza em detalhes emotivos dentro de uma narrativa aumenta a sua chance de tornar-se memória, uma vez que satisfazem explicações deixadas pelas lacunas do fato. Como o neurocientista James L. McGaugh apontou em seu trabalho de 2013 “Making Lasting Memories: Remembering the Significant”, excitação emocional aumentada durante uma experiência na verdade estimula a amígdala (a parte do cérebro responsável pelas emoções, instinto de sobrevivência e memória) para liberar hormônios de stress – químicos secretados em resposta a ocasiões estressantes ou excitantes – tornando mais provável que essas experiências sejam codificadas como memórias de longo prazo (YU, 2019, s/p.). 37 Teorias da conspiração se valem do emocional para florescer essa necessidade humana de compor uma narrativa que explique a razão das coisas, e se expandem em um contexto de degradação de memória. Elas "são realmente tranquilizadoras. Sugerem que há uma explicação, que as ações humanas são poderosas e que há ordem, em vez de caos" (D'ANCONA, 2018, p. 64). Nós, seres humanos, não gostamos do acaso. Sentimentos de acaso, bagunça e caos são sentimentos aversivos. Sentimentos assim incomodam o nosso sistema cognitivo. O ser humano está o tempo todo (desde criança) buscando compreender e estabelecer relações causais entre as coisas que acontecem. Dizer que A ou B acontecem por acaso não satisfaz nossa cognição. Mas esses sentimentos existem. E como seres adaptativos, estamos sempre buscando lidar com eles. (SOUZA, 2010, s/p.) As opiniões extremistas na internet geralmente se baseiam em testemunhos ou relatos que geram credibilidade entre os militantes. Mas é fato que o testemunho nem sempre retrata a realidade como se pensa. Uma tendência cognitiva comum é tornar a lembrança das nossas experiências no passado mais agradáveis ou mais felizes do que elas realmente foram. Esse viés cognitivo é chamado de retrospectiva idílica, e explica por exemplo, porque jovens na Rússia e em outros países ex-URSS têm defendido os tempos de chumbo da União Soviética ao lado de pessoas mais velhas que viveram o período, em um cúmulo de pós-verdade também incentivado por Putin, (TAYLOR, 2016, s/p.). É comum observar os usuários seguros para arriscar posicionamentos como exaltar um período ditatorial ou alguma figura guerrilheira histórica. A compensação de risco (WILDE, 200?, s/p.), fenômeno onde as pessoas em uma sensação de proteção se colocam em episódios perigosos, vira um fator determinante para incentivar o posicionamento radical na internet. Quem vive em uma democracia, possui direitos de expressão e sente-se seguro o suficiente para defender uma opinião impopular ou autoritária, muitas vezes por não ter a noção do perigo de sua fala ou por saber que pode se expressar livremente. Já o inverso, justamente não ocorre em ditaduras. Outro aspecto cognitivo interessante à pós-verdade é a familiaridade. O quanto a recorrência de um fato ou interpretação do mesmo aparece é 38 decisiva para montar a credibilidade na mente humana, mesmo que esse fato seja comprovadamente falso. Essa nuance auxilia e muito na formação de bolhas ideológicas online. A estrutura de rede social é feita para manter a atenção do usuário à plataforma, sendo assim, os posts são impulsionados por algoritmos cada vez mais complexos, alinhados ao interesse dos que rolam o feed. Desse alinhamento de informação, as pessoas vêem o que mais confirma e conforta seus pensamentos, e desta forma o compartilhamento gera ainda mais familiaridade e mais proximidade entre os ideologicamente alinhados. Como seres sociais, temos tendência a aceitar conceitos e ideias compartilhadas pelas nossas redes, o que ajuda a definir nossa identidade e autoestima, nos mantendo em ambientes socialmente seguros. Essa exposição seletiva ao conteúdo, que normalmente ocorre dentro de grupos com pessoas que compartilham crenças e pensamentos, é o principal promotor de difusão de conteúdo, formando a geração de clusters homogêneos, conhecidos como câmaras de eco (do inglês, echo chambers) ou bolhas de filtro (do inglês, filter bubbles), que os isolam de perspectivas contrárias ou alternativas. Esse efeito de câmara de eco facilita o consumo e a crença nas fake news devido à credibilidade social e a frequência de exposição a essas notícias. (RAIS, 2018, p. 63) Quando se analisa o contexto social familiar, não é por acaso que o compartilhamento de fake news em grupos de família tem sido tão grande no WhatsApp. Sabendo que "há um limite para a quantidade de mentiras que podemos fornecer àqueles que vemos regularmente" (KEYES, 2018, p. 42), o ser humano acostumou-se a ver nas figuras familiares, os maiores exemplos de credibilidade, de forma que a verdade virou fator decisivo para montar um sistema social coeso e um clima de confiança minimamente estável. “Para criar algum sentimento de pertencimento, é preciso participar de um grupo codificado, e para isso é preciso responder de forma homogênea” (DUNKER et al., 2017, p.35). Há, dentro da identidade de grupo, a propensão humana de aceitar uma interpretação de um fato que corrobore sua identidade e sua ideologia em grupo, isso ficou claro quando Jay Van Bavel, professor de psicologia e ciência neural da Universidade de Nova York, observou que "democratas tinham mais chances de lembrar George W. Bush como estando de férias 39 durante o furacão Katrina (ele não estava), enquanto os republicanos eram mais propensos a se lembrar de ter visto Barack Obama apertando as mãos do presidente do Irã (ele não fez isso)". As preferências políticas muitas vezes são parte essencial de como as pessoas constroem sua identidade – assim, uma crítica ou ameaça a determinado partido ou ideologia pode ser percebida, embora nem sempre de maneira consciente, como um ataque pessoal. A gente vê isso acontecer o tempo todo na internet. Nós ainda não temos todas as respostas em relação à atividade cerebral (...) mas quando você tem um compromisso realmente forte com um grupo ou crença e obtém informações que contradizem o que sabe, você constrói novas maneiras de pensar sobre essa informação em vez de atualizar sua crença”. Em outras palavras, nós tendemos a usar uma espécie de gambiarra cognitiva para lidar com informações conflitantes com aquilo em que acreditamos. (...) nossas estruturas cognitivas funcionam de forma a tornar agradável pertencer a um grupo e, por outro lado, tornam doloroso e assustador mudar as alianças (algo que talvez precise ocorrer quando descobrimos novos fatos que entram em conflito com nossas crenças centrais). Isso nos permitiu formar grupos coesos e funcionar como sociedade. Por isso, é provável que sempre tenhamos uma tendência a abraçar e compartilhar evidências que reforcem nossa visão de mundo e rejeitar tudo aquilo que a contradiz. (PRADO, 2018, s/p.) Verifica-se um número grande de fake news espalhadas em grupos familiares ou de militantes porque as pessoas confundem a credibilidade da proximidade familiar com a credibilidade de relato jornalístico. Em linhas gerais, quando há algum grau de relacionamento coeso, o receptor confia na mensagem por achar ser impossível que um parente ou parceiro de militância minta ou tente manipular o pensamento entre os seus. Essa dificuldade de dissociar a familiaridade da profundidade de conhecimento é comum de se observar na caixa de comentários de posts de notícias na internet. Também é ilustrada pelo efeito de Dunning-Krueger: quando a ignorância sobre algum fato é tão ampla que a pessoa acredita dominar uma área que mal conhece apenas pela noção de familiaridade que tem com o fato (HANCOCK, 2017, s/p.) Olhando para a psicologia de massas, não só a familiaridade como a busca pelo reforço de opinião faz com que os membros de grupos ideológicos tentem se mostrar mais envolvidos nas pautas discutidas, e 40 consequentemente legitimados pelo grupo, mantendo um processo de retroalimentação. Essa compulsão automática se torna tão mais forte quanto maior for o número de pessoas em que se perceba simultaneamente o mesmo afeto. Então a crítica do indivíduo se cala e ele se deixa deslizar para dentro do mesmo afeto. Mas, ao fazê-lo, eleva a excitação dos outros que agiram sobre ele, e assim se intensifica a carga afetiva dos indivíduos por meio da indução recíproca. (FREUD, 2013, p. 62) "É uma sensação prazerosa para os participantes entregar-se dessa maneira tão ilimitada a suas paixões e, enquanto isso, desaparecer na massa, perder a sensação de sua delimitação individual" (FREUD, 2013, p. 63). É nesse ambiente em que a polarização de ideias ganha mais força e alimenta a pós-verdade, distorcendo análises comprometidas com os fatos em prol da melhor relação de militância, basta ver qual é o comentário mais curtido nos posts políticos, geralmente pregando a eliminação de quem pensa diferente. 2.1 AS BOLHAS SOCIAIS Como já exposto, a pressão social é fator preponderante na construção do pensamento humano, em bolhas sociais ou em grupos de família, e muito tem a ver com o prazer da aceitação e do pertencimento. Na possibilidade de se criarem grupos de interesse cuja legitimidade reside mais na proximidade do que na credibilidade de cada membro, atestar se determinada informação é verdadeira ou não se torna menos importante do que aderir a determinados posicionamentos que refletem convicções e identidades. (MENDES, 2019, s/p.) Em 1951, um estudo publicado por Salomon Asch (NERDOLOGIA, 2015, s/p.) procurava descobrir o efeito que o condicionamento de grupo tem sobre a decisão das pessoas. Ao pedir para avaliarem qual das três linhas horizontais apresentadas possuíam o mesmo comprimento de uma linha de referência, ele notou que todos respondiam de forma correta, mas ao introduzir atores que induziram ao erro na avaliação, um terço das pessoas escolheram a opção errada, somente para não contrariar o grupo. Essa pressão em torno de um consenso, a fim de definir uma opinião hegemônica, 41 é descrita também por Elisabeth Noelle-Neumann em sua teoria da espiral do silêncio. A teoria da espiral do silêncio repousa na suposição de que a sociedade - e não apenas os grupos em que os membros se conhecem - ameaça com o isolamento e a exclusão os indivíduos que se desviam do consenso. Indivíduos, por outro lado, têm um grande medo subconsciente de isolamento, determinado provavelmente pela genética. O medo do isolamento faz com que as pessoas tentem verificar constantemente quais opiniões e modos de comportamento são aprovados ou desaprovados em seu meio, e que opiniões e formas de comportamento são aprovadas ou reprovadas em seu meio, e quais opiniões e formas de comportamento estão ganhando ou perdendo força. (NOELLE-NEUMANN, 1995, p. 179-180)13 Quando se leva em conta o ambiente de rede social, as opiniões reforçadas dentro das bolhas sociais tendem a assumir um aspecto mais agressivo e ainda mais polarizado, tendo como propulsor os algoritmos que estimulam o engajamento. Um estudo da Pew Research Center (2017, s/p.) apontou que posts polêmicos de crítica partidária recebem em média três vezes mais comentários e duas vezes mais compartilhamentos. Os algoritmos sabem que tipo de conteúdo nos mantém ligados nas plataformas e passam a priorizá-lo. Posts que despertam reações emocionais, que dão vontade de compartilhar, dar like, retuitar, vídeos que dão vontade de comentar: esse é o tipo de conteúdo que prende a nossa atenção e pode ser revertido em lucros com publicidade. Quanto mais tempo passamos nas redes, quanto mais clicamos, mas somos expostos a anúncios publicitários. E não é por acaso que, nessa lógica em que o conteúdo com apelo emocional é, normalmente, o que dá certo e retém atenção, o algoritmo passe a levar nossas preferências ao extremo. Até a radicalização. (DIAS, 2018, s/p.) Ao invés do suposto esclarecimento na internet, a individualidade que esse meio trouxe se somou ao fator desagregador do contexto urbano, 13"La teoria de la espiral del silencio se apoya en el supuesto de que la sociedade – y no sólo los grupos en que los miembros se conocen mutuamente – amenaza con el aislamento y la exclusión a los indivíduos que se desvian del consenso. Los individuos, por su parte, tienen un miedo en gran medida subconsciente al aislamiento, probablemente determinado geneticamente. Este miedo al aislamiento hace que la gente intente comprobar constantemente qué opiniones y modos de comportamiento son aprobados o deabrobados en su médio, y que opiniones y formas de comportamiento son aprobados o deaprovados en su médio, y qué opiniones y formas de comportamiento están ganando o perdendo fuerza." (tradução livre) 42 tornou-se comum o usuário exigir atenção, também contribuindo para abrigar ideologias fomentadas não só no espetacular, como também no ódio. A cidade é a matriz da verdade como história compartilhada, da qual se pode dar testemunho de convivência comum. A pós-verdade substitui essa experiência pelos condomínios e compartimentalizações étnicas [também com] um ódio que, em vez de marcar um afastamento e garantir que queremos mesmo “nos livrar” daquela pessoa, funciona como um apelo: “pelo amor de Deus, alguém note que eu estou aqui, sofrendo no deserto!”. É um ódio baseado nesta legenda de que ninguém nos escuta, ninguém está interessado em nossas razões, ninguém “quer saber”. (DUNKER et al., 2017, p. 27-34). 2.2 NARCISISMO IDEOLÓGICO E INVEJA Em 2009, um estudo acompanhou as discussões no Twitter a respeito do assassinato de um médico americano pró-aborto, George Tiller. Depois de analisar 30 mil tweets relacionados, Sarita Yardi e Danah Boyd (2010, p. 316-327) observaram que os tweets e retweets de pessoas de mesma opinião estavam se reforçando, e os ataques de pessoas de opinião contrária dividiam os grupos ainda mais. Ao mesmo tempo, as pessoas neutras ou sem posicionamento não se manifestaram, dando a impressão de que a divisão binária das opiniões era a única opção. É exageradamente otimista supor que haverá nas redes um diálogo livre de indiferença, irritação e desprezo, ainda mais diante do aumento dos chamados haters (pessoas que destilam, em rede, todo ódio que acumulam em relação a certas pautas de assuntos socialmente excludentes) e das pessoas que se utilizam da rede para disseminar discurso de ódio, segregação e opressão de grupos minoritários. (RAIS, 2018, p. 79). Na internet, aparecer tornou-se urgente, como forma de capital. Essa vontade está intrinsecamente ligada à sociedade do espetáculo, em um mundo de simulação onde todos tentam provar para si e para os outros que suas vidas valem ser seguidas. Para isso, a regra é parecer, muito mais do que ser, em um processo de retroalimentação que estimula a busca da aprovação em forma de Like. Em 2016 na cidade de Curitiba, um menino chegou a forjar um ataque a bomba no Jardim Botânico, e justificou-se dizendo que "queria ficar famoso" (G1 PR, 2016, s/p.). 43 Essa tendência de buscar aprovação pela fama produz duas reações diretas: o narcisismo patológico, que nasce desse culto de imagem exacerbada, e a consequente inveja, advinda do filtro de perfeição nos usuários das redes sociais. Fugindo do isolamento de grupo e edificando-se em torno de uma opinião consolidada por familiaridade, o narcisismo ganha um fator epidêmico nas redes, promovendo a anulação da diferença. Como em um espetáculo, as pessoas assumem papéis bons ou maus, atrelados à ideologias generalizadas e compartimentadas em um só viés. As ideologias são conjuntos de ideias prontas. "Podemos falar em ideologias de partidos, do mesmo modo que podemos dizer que todas as religiões possuem algo de ideológico justamente no elemento dogmático que lhe é inerente" (TIBURI, 2019, p. 11). Sua composição é "um conjunto de aparelhos privados ou estatais, voltados para construir um senso comum sobre as políticas hegemônicas que são implementadas pelo aparelho estatal" (FRANCO, 2018, p. 31). Nessa ideologia, é como se tudo tomasse forma de uma caixa de bombons (COSTA, 2015, s.p), onde não é possível segregar um doce sem levar o pacote completo, cria-se a impossibilidade de desvincular um argumento político específico da complexidade de uma corrente ideológica. Há "uma verdade inflacionada de subjetividade, mas sem nenhum sujeito. (...) É moralmente potente, mas que não produz transformações éticas relevantes." (DUNKER et al., 2017, p. 18). O narcisismo ideológico promove generalizações apressadas e noções binárias de sociedade: quem é a favor da legalização do aborto é classificado como de esquerda, quem defende o porte de armas é de direita, e ele se retroalimenta, mesmo que com mentiras. Dependendo do viés de quem o observa, a pessoa será classificada como boa ou má a depender da ideologia atrelada aos seus argumentos, o pensamento toma a forma da identidade da pessoa que o profere. Esse efeito ganha proporções maiores na internet e foi observado no Brasil durante as polarizações no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Coxinhas de um lado, com suas camisas amarelas a favor do impeachment, explorando o estereótipo da elite classista, e Petralhas de vermelho do outro, vistos como ladrões do assistencialismo petista. Primeiro, 44 amizades foram abaladas na web, mas logo "a tensão virtual passou para a vida real, com relatos de agressões e atitudes hostis contra pessoas que vestiam cores associadas a um ou outro grupo" (BUSCATO, 2016, s/p.). Essa moral identifica grupo, classe e massa para engendrar um tipo de relação duplamente indiferente. Para os de dentro, eu não preciso escutar, porque sei o que eles vão dizer, e, para os de fora escutar é desnecessário, porque, afinal, eu já sei quem eles são. É importante lembrar que o narcisismo em si não é uma patologia. [...] O problema começa quando temos uma patologia do narcisismo, que justamente me impede de exercer esta atitude reflexiva com o outro, porque, ao assumir o ponto de vista do outro, eu sinto que minha própria identidade está ameaçada. (DUNKER et al., 2017, p. 37). Quando se tem uma incapacidade de atitude reflexiva, a incompreensão do outro se torna destrutiva, e a empatia dá lugar à inveja. "A inveja aparece no momento em que ao invés de eu lutar pela efetivação do meu próprio desejo, eu passo a destruir o poder, as potências e o desejo do outro" (TIBURI, 2019, s/p.). Essa tendência se aplica ao posicionamento radical de ideologias entre os usuários, na medida que "o outro não me traz aquilo que eu quero, não alimenta meu buraco essencial, meu narcisismo, esse outro então deve ser destruído. O ódio nasce daí, ele está a serviço da inveja" (TIBURI, 2019, s/p.). Desse ódio implica-se a mesma reação de isolamento entre os ideologicamente alinhados em suas bolhas ideológicas, onde há um culto em grupo que prega a estigmatização do diferente. A inveja [...] impede que a ética como reflexão da ação, como reflexão da subjetividade que pensa, sente e age, se desenvolva. A inveja garante o moralismo e se desenvolve nele. Nem simplesmente afeto, nem simplesmente postura, a inveja é a posição na qual está em jogo a incapacidade do reconhecimento do outro. Todas as deturpações, preconceitos, desvalorizações, humilhações do campo do aparecer relacionam-se ao seu movimento. (DUNKER et al., 2017, p. 123) Na patologia do narcisismo esconde-se a inveja e o ódio, mas também a impossibilidade de aceitar que cada sujeito possui suas experiências próprias, que moldam o seu próprio ponto de vista. É o chamado efeito Rashomon. Essa falta de empatia produz uma indiferença e descompromisso 45 com a verdade numa clara afronta à diversidade e o pluralismo na sociedade brasileira, valores tão caros em um Estado democrático tão multifacetado. No alarmismo de posicionamentos a conivência se instala. Uns se calam, muitos tomam posição para entrar em grupo, e tantos outros estimulam radicalização para se legitimar. O pensamento de copiar e colar, sem questionar a fonte da informação ou confronto de autoridade, se consolida nos estímulos digitais de reafirmação. A verdadeira trajetória dos fatos saí enfraquecida e a pós-verdade sai fortalecida, pelo que a filósofa Márcia Tiburi definiu como uma escravização digital. Falamos muito e pensamos pouco no que dizemos. Por um lado, talvez estejamos pensando rápido demais, por outro, talvez estejamos confiando demais nos pensamentos prontos que vão nos servindo enquanto não encontramos coisa melhor. A textualidade de nossa época serve como um grande plano, uma tela infinita, onde uma colagem de enunciados organiza-se como um palimpsesto. [...] Um pensamento em copy-paste, como um “copia e cola”, instaurou-se em nosso mundo. [...] Nas redes sociais, ajudamos a sustentar esse senso por meio de um árduo trabalho que em tudo parece dócil. A labuta diante dos computadores envolve uma escravização sedutora. O trabalho digital nas redes não é remunerado, causa vícios e produz um tipo de devoto, uma espécie de escravo voluntário. O escravo digital. (DUNKER et al., 2017, p. 115- 116) 46 3. A PÓS-VERDADE NO BRASIL O embate entre narrativas teve espaço no Brasil do século passado, estimulada por políticos. "Não há como datar a mentira inicial na política brasileira, mas 1921 parece um bom ano para começar" (OTAVIO; TARDÁGUILA, 2018, p.10). As cartas atribuídas falsamente a Artur Bernardes sacudiram a República Velha ao atacar o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca, que presidia o clube militar. Depois das mentiras da República do café-com-leite, foi a vez de Vargas se valer do ‘Plano Cohen’, um suposto plano comunista para derrubá-lo, mas que tinha como verdadeira intenção dar um pré-texto para a centralização do poder do presidente gaúcho. Mais tarde, descobriu-se que o Plano Cohen não passava da tradução de um artigo em francês feita pelo então capitão Olímpio Mourão Filho para a Aliança Integralista Brasileira. Com a ampla divulgação do Plano Cohen em 30 de setembro de 1937, inclusive pela Hora do Brasil, coagida pelo medo, a sociedade brasileira preparava-se para conviver com o Estado Novo. Assim, de forma surpreendente, apenas 24 horas depois de receber uma simples nota do Ministério da Justiça, a Câmara dos Deputados, por ampla maioria (2/3), concedeu o "estado de guerra". Sabendo, inclusive, que as imunidades parlamentares seriam suspensas. A partir de então, os golpistas passaram, finalmente, a dominar sem qualquer restrição o quadro político. (MEZZAROBA, 1992, p.2) Mesmo no período ditatorial do Estado Novo (1937-1946), a batalha de narrativas aconteceu impondo a sua versão dos fatos, inclusive descambando para extremismos e mortes, sempre ligado ao teor emocional. O principal exemplo foi entre imigrantes japoneses que chegaram a fundar uma organização, a Shindo Renmei, em contestação aos veículos no Brasil que declaravam que o Japão havia sido derrotado na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e que o imperador Hirohito não era uma divindade como lhes fora ensinado. O ideal de um Japão invencível não permitia que os membros da Shindo Renmei aceitassem a derrota. O movimento conquistou 80% da comunidade nipônica no Brasil, e, ao todo, 23 pessoas foram mortas pela organização. As vítimas eram geralmente japoneses que acreditavam na versão brasileira dos fatos, apelidados de "Corações Sujos", (MORAIS, 2011, s/p.). 47 No contexto da Guerra Fria, a ditadura militar brasileira (1964-1985) protagonizou o uso de mentiras. O suposto suicídio do jornalista e crítico do regime, Vladimir Herzog, em 1975, e o atentado a bomba supostamente comunista no Rio Centro, em 1981, foram exemplos disso. Em ambos os casos, o uso de um episódio forjado para jogar a opinião pública contra a oposição ou fortalecer sua posição política. Desde Vargas, diversas figuras políticas brasileiras se valeram da narrativa importada do Macartismo que sempre procurava no comunismo a causa de todas as mazelas. Pode-se dizer que o medo do comunismo produziu pelo menos dois golpes políticos no Brasil, ambos marcados por manobras de informação. O primeiro foi o falso Plano Cohen, que empurrou para dezembro de 1945 as eleições de 1938, abrindo espaço para a instauração da ditadura do Estado Novo. O segundo, em 1964, que levou o país a 21 anos de regime militar, o maior período de exceção da história do Brasil. Esses dois episódios se prestaram a trapaça idêntica: cancelar eleições ou radicalizar uma ditadura. (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 15-16) A manipulação de fatos não é exclusividade do autoritarismo brasileiro, e já foi utilizado por presidentes na terceira República. O ex- presidente Fernando Collor durante período de campanha em 1989 acusou seu adversário político, Luiz Inácio Lula da Silva, de planejar confiscar a poupança do povo. Depois de eleito, anunciou o seu plano econômico de congelamento e confisco da poupança dos brasileiros. "Para sempre [o Brasil] se referiria a esse momento como o dia em que Collor tomou a poupança do povo" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 137). No mesmo período, a televisão brasileira ganhava redes de canais novos e se popularizava, sendo também importante para formar a opinião do brasileiro em formato de show, ainda que também tivesse um papel relevante na pedagogia e na saúde da população. Mesmo em 2017 a TV continuou forte, o país consumiu um total de 6 horas e 23 minutos de televisão diariamente, (REUTERS INSTITUTE FOR JOURNALISM, 2018, p. 116). Em 2019, pesquisa do Ideia Big data apontou que muita gente ainda se informa na internet via celular, 32% com índice de credibilidade em 29%, mas a TV lidera com 36% e é mais confiável para 30% dos entrevistados (MELLO, 2019, s/p.). 48 Durante décadas, o grande pedagogo do Brasil foi a televisão. É claro que a TV, como toda instituição social é contraditória. A mesma TV que é formadora de opinião, que edita debates e exibe anúncios também foi responsável por extinguir do Brasil a poliomielite. Se não fosse a XUXA dizendo para as crianças tomarem a gotinha no sábado, com todo o impacto que ela tinha como autoridade de comunicação em meio ao público infantil, não teríamos recebido o certificado de extinção da poliomielite em 1994 (CORTELLA; TÁS, 2017, p.73) Em maio de 2001, o publicitário Duda Mendonça criou para o PT a campanha "Xô Corrupção", em protesto ao arquivamento da CPI da corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso. Em período de campanha, o então candidato Lula declarou que "se ganharmos a eleição, tenho certeza de que parte da corrupção irá desaparecer já no primeiro semestre" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 180). Em 2009, quatro anos depois da eclosão do escândalo do Mensalão que envolveu o Partido dos Trabalhadores, o historiador Antônio de Almeida escreveu sobre a desilusão dos brasileiros com as mentiras petistas, uma vez que frustraram as expectativas dos que acreditaram na proposta de uma nova forma de se fazer política no país. "[Os petistas] abandonaram uma das suas principais bandeiras, que lhes renderam votos, credibilidade e capital político: o compromisso partidário com a ética na política" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 187). Após a conclusão do julgamento do mensalão, no final de 2012, o STF concluiu que o PT havia comprado apoio político para o ex-presidente Lula por meio de esquema orquestrado por Marcos Valério. Ao todo, 25 pessoas foram condenadas, incluindo os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Um ano antes, denúncia da Folha de S. Paulo trazia a informação de que semanas antes de assumir a chefia da Casa Civil do governo Dilma, Antônio Palocci comprou um apartamento de luxo em São Paulo no valor de R$6,6 milhões. Além disso, o petista havia multiplicado o seu patrimônio em 20 vezes em um período de 4 anos (FOLHA, 2011, s/p.). Depois da deflagração da Operação Lava Jato, em março do ano eleitoral de 2014, o PT teve sua ética novamente confrontada, e o marketing eleitoral do espetáculo, aperfeiçoado por João Santana e Mônica Moura, precisou entrar em cena para salvar a campanha de reeleição de Dilma. 49 Enquanto a propaganda petista se valia de acusações contra a adversária Marina Silva, apelidadas pelo futuro presidente do TSE, Luiz Fux, de primeiras fake news, Dilma também reiterou "não tenho banqueiro me apoiando e me sustentando" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018 p. 203) e "não mexo em direitos trabalhistas nem que a vaca tussa" (TARDÁGUILA, 2018, p. 211). Depois de eleita, Dilma escalou para a pasta econômica o diretor- superintendente do Bradesco Asset Management, Joaquim Levy, apelidado de "Mãos de Tesoura" por sua postura econômica austera. Levy não só mexeu nos direitos trabalhistas como tornou mais rigorosas as regras para receber seguro-desemprego, a pensão por morte e auxílio doença. Essa mudança radical de posicionamento, cunhado em inglês como policy switch, foi mais um estelionato eleitoral que contribuiu para a derrocada do petismo e consequentemente do governo Dilma. As insatisfações com as mentiras e o histórico de corrupção que também marcou os governos petistas fez o Brasil se dividir, tendo início com as jornadas de junho, se desenvolvendo durante o pleito de 2014 e ganhando ainda mais musculatura nos anos seguintes, com o processo de impeachment de Dilma. Depois da abertura do processo contra Dilma em dezembro de 2015, o ano seguinte acompanhou a agitação ideológica nos debates e ampliou a desinformação (ARAGÃO, 2016, s/p.). Em São Paulo, a voz das ruas se organizava, atingindo o maior ato político já registrado na capital paulista, com 500 mil manifestantes na Avenida Paulista, superando até mesmo o movimento pelas eleições democráticas durante a ditadura, as campanhas por Diretas Já. (FOLHA DE S. PAULO, 2016, s/p.) Os efeitos políticos, econômicos, sociais e psicológicos desembocaram em um clima de pós-verdade intolerante aos moldes do Brexit e do trumpismo, culminando nas eleições de 2018 marcadas pelas fake news generalizadas no país. Observou-se isso em junho quando apenas 16% dos brasileiros disseram acreditar na imprensa (TERENZI, 2019, s/p.) e o que se viu nos meses seguintes foram mentiras normalizadas em políticos como Jair Bolsonaro e conspiracionistas como o escritor e ex- jornalista Olavo de Carvalho. 50 A médio e a longo prazo isso cria uma desconfiança nas instituições. Se a gente perde a credibilidade nos meios de comunicação, que são um elemento importante na hora de compor a nossa democracia pelo fato de a esfera pública ser intermediada por esses meios, pelos quais os cidadãos se informam, estará sendo erodida uma parte importante da democracia. (BRITO, 2017, s/p.) 3.1 AS JORNADAS DE JUNHO Em 2013, com a política governista em declínio de popularidade, a insatisfação política no Brasil aguardava um estalo para incendiar-se nas ruas. O país assistia aos impactos econômicos da crise de 2008 numa clara piora no PIB e o meio de mandato de Dilma Rousseff já apresentava considerável desgaste político após o julgamento do mensalão. "Nas ruas, os primeiros protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo alastrou a insatisfação pelas redes sociais" (ABRANCHES, 2018, p. 286). A brutalidade policial nas ruas paulistanas do governador tucano Geraldo Alckmin e episódios de violência no estádio do Maracanã, no contexto das vaias à presidente Dilma na Copa das Confederações, provocaram manifestações maiores. Em São Paulo, o número de pessoas gritando que o povo havia acordado saltava de 6 mil, no dia 13, para 65 mil, no dia 17. Os Black Blocs, grupos mascarados que atacavam patrimônios nas ruas durante as manifestações, surgem nesse contexto, anunciando uma tendência comum de radicalização e violência como "sintoma de um país que asfixia no seu descrédito absoluto do Poder Público" (SOLANO; MANSO; NOVAES, 2014, p. 23). A pauta difusa contra a inflação, aumento das tarifas, corrupção e tentativas de cercear o poder de investigação do MP com os gastos da Copa tomavam o vocabulário dos brasileiros nas redes e cada vez mais no dia-dia. "O déficit público deixado por Dilma foi quase todo produzido para beneficiar setores parasitários do capital. Para os ricos" (ABRANCHES, 2018, p. 332). A insatisfação com tudo o que estava ali, ligada ao sentimento de desconexão com a classe política começava a alimentar o despertar das militâncias online. Somou-se a isso a rápida popularização dos smartphones no país e as consequentes expansões das bolhas sociais online que contribuíram para a rápida organização de protestos e debate de pautas. Em 51 2013 o Brasil vendeu, pela primeira vez, mais smartphones do que celulares tradicionais, alta de 123% (REUTERS, 2014, s/p.). Os smartphones trouxeram aplicativos que facilitaram a comunicação direta e popularizaram as redes sociais, como é o caso do app de troca de mensagens instantâneas protegida por criptografia de ponta-a-ponta, o WhatsApp. Este já derrubava concorrentes como o chat de mensagens do Facebook (G1, 2013, s/p.), em 2015 o app já era o 4º maior aplicativo da internet móvel do Brasil (GOMES, 2015, s/p.), no ano seguinte 89% dos brasileiros já tinham acesso ao WhatsApp (CANAL TECH, 2016, s/p.). A rápida expansão da internet e de aplicativos de mídias sociais nos smartphones dos brasileiros contribuiu para a melhor relação de militância e convocação de protestos. Durante as principais manifestações políticas, os brasileiros foram avaliados como o povo que mais preferia opiniões em notícias de política (REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNALISM, 2013, s/p.), o que alimentou ideologias e polarizações. A rápida e incontrolável ideologização do debate começou a marcar a visão política no senso comum e seria observado de forma assídua nos anos seguintes. Não por acaso o ano eleitoral de 2014 foi o marco da contraposição do PT com o PSDB, que crescia na vida analógica e digital retroalimentando-se com fake news de ambos os lados. A polarização aumentava ainda mais, bem como as narrativas com a militância de cada lado do espectro político, alimentada nas redes e na TV. "No enfrentamento, ganhavam resiliência contra os ataques recíprocos. O marketing eleitoral agressivo ajudou" (ABRANCHES, 2018, p.292). Dilma foi eleita com o menor percentual da terceira República. A oposição se fortaleceu com a Lava Jato, e não demoraria para que o castelo de publicidade petista ruísse. Essa reversão de expectativas conseguida a golpes de publicidade contribuiu para reeleger Dilma, mas promoveu rápido divórcio com a opinião pública. A criação de falsas esperanças alimenta a frustração e a decepção com a pessoa eleita, e corrói rapidamente a popularidade conquistada. (ABRANCHES, 2018, p. 292) Depois das prisões de diretores e presidentes da Petrobras, fato inédito na história do país, a conta veio salgada para a classe política: os indicadores econômicos estavam todos em deterioração no final de 2014. 52 Dilma começou o mandato sobre forte insatisfação nas redes, alimentando paixões de todos os espectros políticos. O ódio alimentava o extremismo de um país que em 2010 teve o maior crescimento do PIB desde 1986 (SPITZ, 2011, s/p.): ex-petistas e opositores sentiram-se traídos pelo lulopetismo e suas promessas, a corrupção política que eles acompanhavam no noticiário diariamente, que desviou bilhões do país, era vista como um fruto da falta de ética e das mentiras petistas. Reportagens em jornais e redes de televisão, processos judiciais, investigações policiais e boatos gerados na internet retroalimentaram-se, gerando uma nuvem de informações verdadeiras, duvidosas ou indubitavelmente falsas que estigmatizava o PT – e, por consequência, toda a esquerda – como reencarnação da desonestidade e do mal. (SOLANO, 2018, p. 25) O momento era propício para críticos do PT e de Dilma e o que ela representava em termos de alinhamento com a esquerda. Virou rotina ver o Jornal Nacional cobrir delações, manifestações e panelaços sobre os gritos de "o gigante acordou". Surgiam grupos idealizados por jovens que sabiam usar as vantagens da rede social, ao contrário da então classe política desconectada, foi o exemplo do Movimento Brasil Livre, ou MBL (MARTIN, 2014, s/p.). Ganhava voz também, a intolerância de teóricos conspiracionistas que se valiam de fake news e da indignação popular contra os políticos para alimentar o extremismo. E não somente a opinião pública se polarizava no país, os jornalistas perdiam credibilidade em meio a crises na imprensa que tinham escala global, "estamos nos aproximando do padrão EUA de polarização da mídia, e isso é péssima notícia. Ficamos com sites e colunistas pregando para convertidos e distorcendo os fatos". (MELO, 2014, s/p.) 3.2 GRITO, ORGULHO E PRECONCEITO Seguindo a tendência mundial de credibilidade em baixa da imprensa, a queda da ordem institucional e sua base de credibilidade deu ao extremismo uma nova voz, e ideias como separatismos e intervenção militar não eram mais vistas como indesejáveis, eram agora nova expressão da insatisfação popular. Entre essa nova camada ideológica de insatisfação, um 53 ideólogo começou a ficar popular com seu livro "o mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", do autor Olavo de Carvalho, que se apresenta como um filósofo. Em 2013, a obra chegou às prateleiras das livrarias "ao mesmo tempo em que o pessoal de verde e amarelo vagarosamente comecava a aparecer nas ruas e a bater panelas". (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.) De repente, a frase “Olavo tem razão” aparecia em protestos. Figuras em preto e branco com o Olavão fumando eram carregadas por jovens que agora repetiam incessantemente uma ladainha sobre Foro de São Paulo, doutrinação gayzista-comunista e a presença de cloro na água para emascular nossos jovens. O livro teve mais de 300 mil cópias vendidas; mais de 12 mil alunos passaram pelas fileiras de seus cursos. (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.) Não demoraria para que as teorias de Olavo de Carvalho florescessem. O escritor, exilado na Virgínia, nos EUA, já era um voraz crítico dos governos petistas e militava desde o começo do século na internet. É uma figura que ainda acha que vive na Guerra Fria, alimentando o medo de um comunismo que nem existe mais apenas para se promover como herói do ultraconservadorismo cristão contra uma inventada revolução satânica. [...] Ele se diz o dono de todas as verdades, e aí os seguidores se acham os desbravadores da verdade. (VILICIC, 2019, p. 17) Olavo pregava a busca de um saber autodidata, ensinando filosofia sem ter "se formado academicamente nesse campo, nem em qualquer outro. Conta que aprendeu sobre o tema por conta própria ao longo de vários anos, longe das "ideologias" que cerceiam o ensino universitário" (FELLET, 2016, s/p.). É importante frisar que Olavo não criou as conspirações brasileiras, mas as aperfeiçoou no âmbito digital, usando o emocional à favor de seus ideais que promoviam a extrema-direita em um período de forte descredibilidade da imprensa. Anos depois, declarava "eu quis que uma direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro dela, mas o parteiro não nasce com o bebê" (FELLET, 2016, s/p.). Olavo ofereceu uma saída com uma linguagem sofisticada o suficiente para que o seu alvo não se sentisse burro, mas engraçada o suficiente para que ele se sentisse legal, e ofereceu isso nos termos da internet. Olavo criou fóruns de discussão, fazia crônicas semanais temáticas junto com 54 apostilas de orientação intelectual falando dos clássicos gregos em uma linguagem acessível. Imaginem a surpresa de seus estudantes. Este cara que está nos Estados Unidos e manja de filosofia, misticismo, política e fala um monte de palavrão, esse cara responde minhas mensagens!, fala comigo como se eu fosse uma pessoa normal!, diz que eu sou inteligente! (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.) Entre outras declarações em seu Twitter, publicou, "dizer que um gay não pode ser conservador é EXATAMENTE o mesmo que dizer que um pecador não pode ser cristão" (CARVALHO, 2017, s/p.); "vacinas matam ou endoidam. Nunca dê a um filho seu" (CARVALHO, 2016, s/p.); "eu fumo há meio século, dois ou três maços por dia, e o meu pulmão está INTACTO, graças à Deus" (CARVALHO, 2016, s/p.) e "os jornalistas são os maiores inimigos do povo, seja nos EUA ou no Brasil" (CARVALHO, 2016, s/p.). A ideologia olavista possuía a carga de insatisfação que ecoava junto ao emocional dos brasileiros, e rapidamente produziu uma nova crença na oposição. A expressão nacional deste tipo de pós-verdade está ligada à emergência de um novo irracionalismo brasileiro – com sua disposição predatória contra professores, estudantes, artistas aposentados e demais “parasitas” que não sabem o “valor do trabalho” e que não aceitam as “verdades óbvias” – presume uma geografia simples e bem dividida entre ciência e religião, ordem e baderna, fatos e opiniões. A “pós- verdade” não é, portanto, o regime das opiniões desenfreadas e do relativismo niilista, tal como se anunciava no pós-modernismo liberal. Sua estrutura cognitiva, propriamente regressiva, depende do mito da unidade da ciência, da força de sua autoridade normativa, justamente para que ela possa se aliar com as piores formas de metafísica. Por isso, Lacan dizia que, “quando a ciência se aliar com a religião, aí sim, encontraremos o pior” (DUNKER et al., 2017, p. 39) Para muitos brasileiros das mais variadas classes sociais, a desilusão abriu espaço para conveniência. Agora os pensamentos de Olavo eram dogmáticos, como definiu o responsável por cunhar o termo "petralha", Reinaldo Azevedo, Olavo se tornou o "Aiatolavo" (AZEVEDO, 2017, s/p.). Os seus partidários, chamados por seu próprio guru de olavetes, se identificavam com a narrativa que ele oferecia: em meio a ofensas e ódio, um conjunto de conspirações pautadas no emocional, de forma acessível e 55 pseudo-intelectual, um verdadeiro "entretenimento disruptivo como distração da ciência laboriosa" (D'ANCONA, 2018, p. 47). Um mecanismo de inclusão dentro de uma espécie de alta cultura alternativa, algo que é, ao mesmo tempo, uma contracultura e uma comunidade onde transitam pessoas que acreditam ter acesso a um caminho alternativo. [Carvalho entendeu] que existe um movimento carente de uma linguagem que possa criar aderência rápida, que possa capturar a imaginação das pessoas sem grandes complicações e que, sobretudo, não ofenda as pessoas as chamando de burras – ou, para ser mais preciso, dizendo a todos que são burros, menos a seus seguidores. (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.) Além das estratégias discursivas do olavismo, muitos brasileiros se valiam da visão de um Estado ainda cunhado no período da ditadura para criminalizar partidos e instituições. Passada adiante nos tempos de FHC, Lula e Dilma, era a narrativa do mercado virtuoso e do Estado corrupto e ineficiente (DE SOUZA, 2018). Agora, ela surgia liderada por manifestantes, representados pelo empoderamento em formato de gritos por ordem contra o Estado preso em seu vício de corrupção e imoralidade, apoiados pelo establishment político do PSDB e do MDB. O discurso costuma apresentar o reforço da família tradicional como compensação para a demissão do Estado das tarefas de proteção social – Estado que é o inimigo comum, seja por regular relações econômicas, seja por reduzir a autoridade patriarcal ao determinar a proteção aos direitos dos outros integrantes do núcleo familiar (SOLANO, 2018, p. 20) Na esquerda e em movimentos de minorias representadas, Olavo apenas tratou de aplaudir a cultura quando ela convinha à sua visão de mundo. Em seu livro, exaltou "artistas negros brasileiros que entendiam que suas remotas origens africanas tinham sido neutralizadas pela absorção na cultura ocidental" e que não ficavam "choramingando coletivamente as saudades de culturas tribais extintas" (FELLET, 2018, s/p.). Carvalho exaltava a família e valorizava os preceitos de civilização ocidental, valendo- se de uma releitura do globalismo em Bannon e as supostas guerras culturais do pensador italiano Antonio Gramsci. Há um caminho, em particular, de fusão do anticomunismo com o reacionarismo moral, que passa por uma leitura fantasiosa da obra de Antonio Gramsci e recebe o nome de 56 “marxismo cultural”. (...) Gramsci é apresentado como alguém que bolou um “plano infalível” para a vitória do comunismo. (...) um passo fundamental para a derrubada do capitalismo e da “civilização ocidental” seria a dissolução da moral sexual convencional e da estrutura familiar tradicional. Afinal, “a família é a cellula mater da sociedade”; se destruída, faz todo o edifício romper. (...) [Para] Olavo de carvalho, a estratégia gramsciana é “apagar da mentalidade popular e sobretudo do fundo inconsciente do senso comum, toda a herança moral e cultural da humanidade” (SOLANO, 2018, p. 22) A busca por ordem não se deu somente no fortalecimento da identidade branca, que conferiu à pós-verdade de Trump uma grande fama, achou voz em torno de uma coesão pela família tradicional conservadora, apontando bodes expiatórios para a crise moral e de ordem no país, usando fake news misturadas a outros preconceitos como a visibilidade LGBTQI+ cada vez mais presente em produções culturais e nas instituições (KER, 2018, s/p.). Para o conservador saliente, qualquer indivíduo tachado de vagabundo incluindo o menor de idade, perde todos os seus direitos no momento em que opta pela via do crime. Ele deve ser encarcerado ou mesmo morto. Aqueles que protegem o “cidadão de bem”, portanto, são vistos como heróis dessa sociedade. [...] Aqueles que defendem os direitos humanos dos bandidos são os mesmos que propagam uma educação frouxa e promíscua que retira a inocência das crianças e as tornam vulneráveis a pedófilos. Esses, chamados de esquerdopatas, são os inimigos. (SOLANO, 2018, p.89) Com os boatos de um possível impeachment circulando entre imprensa e a timeline dos brasileiros, o ano de 2015 manteve o despertar político no país, sendo quase impossível não ouvir alguém falar de política ou mesmo não se deparar com os famosos "textões" (CIRNE, 2016, s/p.) nas redes sociais. Também foi o ano da Primavera das Mulheres (ODARA, 2016, s/p.), onde o feminismo desabrochou de forma inédita no Brasil. Apesar das manifestações democráticas, as instituições não iam bem, e no fim do ano "o mandato do presidente da Câmara estava por um fio. O da presidente da República também. O do presidente do Senado, sobre risco iminente." (ABRANCHES, 2018, p. 306). No grito de insatisfação, comum entre todos os brasileiros que buscavam os seu lado dos fatos, estava a busca para explicar a crise por 57 meio de rótulos e generalizações, algo que começou a se mostrar uma tendência inevitável e importada dos EUA. No Brasil, temos visto o crescimento de um discurso que não leva a um debate significativo, porque, em vez de se concentrar nos problemas reais com o governo, prefere exclamar histericamente que tudo é, ao mesmo tempo, comunista, nazista e anarquista; na melhor das hipóteses, isso é pouco construtivo; na pior, é perigoso. (MELLO, 2014,s/p.) Em meio a votação da abertura do processo de impeachment de Dilma, no Congresso, um dos discursos que mais viralizou na internet foi o de um deputado do baixo clero e saudosista da ditadura, que na ocasião elogiava "o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça" (EXTRA, 2016, s/p.), o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Jair Bolsonaro apareceu ali como o antipetista mais antipetista, atiçando e legitimando o extremismo sobre o cerne da liberdade de expressão e conexão digital. Em meio ao caos institucional, o Brasil começava a abraçar o grito de ordem pelo de ódio. Ainda que começasse a chamar a atenção ali, o capitão reformado começou ainda era um coadjuvante político perto de figuras políticas de oposição mais relevantes, como Aécio Neves e Michel Temer, e o grande aparato eleitoral do PSDB e MDB. Dilma foi oficialmente afastada do cargo em 31 de agosto de 2016, mas a crise e a pós-verdade no Brasil estavam longe de acabar. Apesar da popularidade alta, aos poucos os que confiavam na oposição democrática à corrupção, simbolizada pela gestão Dilma, iriam entender porque o ex-presidente da Câmara declarou em seu voto "Que Deus tenha misericórdia dessa nação" (FOLHA DE S. PAULO, 2016, s/p.). Os líderes da nova situação, peemedebistas e tucanos, logo viriam a ser atingidos pela operação Lava Jato. O gabinete [de Temer] era uma galeria de investigados e réus em processos de corrupção política e eleitoral. Alguns seriam presos dali a pouco tempo, como Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves, ou afastados do governo, como Romero Jucá. Gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, implicavam diversos ministros e políticos da proximidade de Michel Temer. Elas relatavam articulações para barrar as investigações de corrupção que ameaçavam a cúpula do PMDB e várias de suas oligarquias. (ABRANCHES, 2018, p. 316) 58 Em 2017 foram flagrados políticos em conversas particulares nada republicanas, nos casos de delação da JBS que expuseram o presidente do PSDB, Aécio Neves, e o presidente da República, Michel Temer. Temer foi formalmente acusado duas vezes por crime de corrupção pelo Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e se manteve no poder pela coalizão, negociando cargos e emendas parlamentares bilionárias (JUNGBLUT, 2017, s/p.), o que expôs ainda mais as vulnerabilidades e o clientelismo dentro do sistema político. A classe política se esfacelava conforme seus principais representantes eram presos, caso de um dos grandes opositores de Dilma, e que fora aplaudido pelos primeiros manifestantes da Lava Jato, o ex- presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de ter contas na Suíça. Também se aplicou a aliados de petistas, caso do ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. No total, 4 ex-presidentes foram denunciados, entre eles Lula, o símbolo principal da decepção política para muitos brasileiros. Em 2010 o ex-metalúrgico bateu recorde de aprovação de governo no Ibope, com 87%, mas em 2018 foi preso por corrupção e lavagem de dinheiro. A sensação que se instalava era de desconfiança institucional cada vez maior, e o abismo entre população e os poderes do Estado se evidenciava nos comentários cada vez mais agressivos e polarizados nas redes, a criminalização geral da política passou a ser vista como a vacina contra os governantes corruptos. Nesse período, o Brasil foi considerado o segundo povo com a pior noção da própria realidade. Tudo isso foi resultante de um forte sentimento antipolítica potencializado pelo protagonismo inédito das redes sociais, a partir da corrupção endêmica, do impeachment e dos efeitos da crise econômica. O sinal já estava presente nas jornadas de rua de 2013. As lideranças tradicionais operaram com software obsoleto. “Abaixo a velha política”, “Contra os mesmos políticos de sempre”, “não reeleja ninguém” foram os lemas vitoriosos. (PESTANA, 2019, s/p.) Os agentes de desinformação se aproveitaram da situação para instaurar diversos debates gritando por ordem e se valendo de fake news. Em 2017, depois que a Agência de fact-checking Truco checou as declarações do canal no Youtube do Movimento Brasil Livre sobre o regime semiaberto (FIGUEIREDO; MORAES, 2017, s/p.), o MBL acusou a Agência 59 e o movimento de fact-checking de ser formado por militantes de extrema- esquerda (BARBOSA, 2017, s/p.). A estratégia de associar o fact-checking e a mídia como controladas pelo braço cultural corrupto da esquerda foi tão bem empregada nessa época, que em 2018 voltaria com muito mais força no pleito. O medo do comunismo voltava ao debate político brasileiro repaginado e alimentando a pós-verdade nas redes, criado da contraposição entre o lado bom, representado por "cidadão de bem" versus as instituições controladas pelo "lulopetismo" e sua suposta expressão cultural controladora, incluindo imprensa, movimentos sociais, o Congresso e o poder Judiciário: O PT veio a ser apresentado como a encarnação do comunismo no Brasil, gerando uma notável sobreposição entre anticomunismo e antipetismo. (...) Movimentos sociais e sindicatos são corruptos, violentos e têm como plano oculto a implantação do comunismo no Brasil: o comunismo é um risco ainda maior do que a corrupção, pois ameaça a liberdade do “cidadão de bem”; foi para combater essa ameaça que o Exército foi forçado a intervir em 1964; diferentemente dos dias atuais, naquele tempo havia ordem, tanto pública quanto privada. Essa visão de mundo é autoevidente para todos, mas a mídia, mentirosa e manipuladora, impede que a população a enxergue; por isso é importante procurar e propagar a verdade nas redes sociais. (SOLANO, 2018, p. 22-90) Usando de várias estratégias de Trump e Bannon, como criminalização da oposição e a busca por bodes expiatórios para explicar a crise institucional, os agentes de desinformação no Brasil logo cresceram e se profissionalizaram com técnicas para angariar o público pelo emocional, valendo-se de narrativas dogmáticas, agressivas e mentirosas. No Youtube por exemplo, um dos pupilos olavetes chamado Nando Moura, viria a dizer para seus quase 3 milhões de seguidores que o ditador comunista Josef Stalin havia recebido duas vezes o prêmio Nobel da Paz (CATRACA LIVRE, 2019, s/p.), Moura também foi um dos youtubers mencionados por Jair Bolsonaro como "excelentes opções de informação" (FILHO, 2018, s/p.). Em ranking apresentado pela edição 1034 da Revista Época (BORGES, 2018, p. 26) os dois sites de boatos mais populares do país são Gospel Prime e Virgulistas, que respectivamente possuem 2,79 milhões e 1,05 milhões de visitantes mensais, em comum as entidades religiosas ou 60 políticas também investigadas, como o exemplo do ex-senador Magno Malta, antes ligado ao PT mas que após 2013 buscou se afastar do partido dos trabalhadores e culpá-lo integralmente por toda corrupção e desmoralização do país. Já o MBL, que conquistou seu público no Facebook com mais de 3 milhões de seguidores, discursava em fake news com chamadas espalhafatosas como “Após cinco anos, Globo cancela o ultraesquerdista Esquenta” (MBL, 2016, s/p.) e uma tradução de uma notícia fraudulenta do site de Steve Bannon, o Breitbart News, “Maior parte dos 8 mais ricos do mundo é de esquerda. Nenhum é de direita" (TOJA, 2017, s/p.). A dinâmica sensacionalista online se replicava sem parar em sites, redes sociais e vídeos conforme os agentes de desinformação buscavam uma conexão mais direta com seus fiéis. Existe um incentivo para os produtores fazerem vídeos cada vez mais extremos e bizarros para prender a audiência o máximo possível. Isso explica um pouco a obsessão da internet pela banheira de Nutella, e também ajuda a entender como se elegeram tantos youtubers interconectados nas últimas eleições. Como conteúdo radical dá dinheiro, por conta dos anúncios, extremistas usam também outras ferramentas para incentivar a formação de bolhas e atrair cada vez mais gente. No Brasil, donos de canais de conteúdo extremo e conspiratório, como a Joice Hasselmann, por exemplo, costumam divulgar seu número do WhatsApp, viciando as pessoas em seus conteúdos com base na exploração dessa relação de proximidade ou intimidade. (CÓRDOVA, 2019, s/p.) O MBL voltaria ainda à cena como protagonista em outro episódio de fake news ao atacar a ex-vereadora defensora dos direitos humanos assassinada em 2018, Marielle Franco, se valendo da suposta autoridade factual de um deputado e uma desembargadora para embasar suas injúrias. Num mecanismo típico de como funcionam as engrenagens das fake news, o MBL usou a declaração assumidamente sem embasamento da desembargadora em uma postagem em seu site. O grupo publicou na página do Facebook uma matéria titulada: "Desembargadora quebra narrativa do PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é 'cadáver comum' ". Na chamada o MBL ressaltou: "Isso é complicado. Bem complicado... ". Até as 17h deste sábado (17), o post do movimento já tinha mais de 38 mil curtidas e 28 mil compartilhamentos. (MENDONÇA, 2018, s/p.) Depois de tantos episódios de desinformação, próximo do pleito, o Facebook removeu 196 páginas e 87 perfis pessoais ligados ao MBL, 61 classificado como uma rede que “escondia das pessoas a natureza e a origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar desinformação” (HAYNES, 2018, s/p.). O vácuo que a Lava Jato deixou na classe política e em suas lideranças criou novos heróis, mitos e inimigos. Nomes como Joaquim Barbosa e Luciano Huck ganharam proeminência na política nesse período, sendo ofuscado somente pelo grito de intolerância, já bem comum em todos os espectros ideologizados. Depois do impeachment, os quase 30 anos de vida pública de Jair Bolsonaro começavam a migrar do ostracismo para o protagonismo, conforme a elite política ia se degradando frente a opinião pública, e a comunicação via internet estabelecia uma relação única com o eleitorado pela autoverdade14. O uso das redes sociais, a utilização de vídeos curtos e apelativos, o meme como ferramenta de comunicação, a figura heroica e juvenil do ‘mito ’Bolsonaro, falas irreverentes e até ridículas, falas fortes, destrutivas, contra todos, são aspectos que atraem os jovens. Se, nos anos 70, ser rebelde era ser de esquerda, agora, para muitos destes jovens, é votar nesta nova direita que se apresenta de uma forma cool, disfarçando seu discurso de ódio em formas de memes e de vídeos divertidos: O Bolsomito é divertido, o resto dos políticos não”. (BRUM, 2018, s/p.) Após a eleição de Donald Trump em 2016, o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro comemorou a vitória do republicano via Twitter "Parabéns ao povo dos EUA pela eleição d @realDonaldTrump .Vence aquele q lutou contra "tudo e todos". Em 2018 será o Brasil no mesmo caminho" (BOLSONARO, 2016, s/p.). O alinhamento do capitão reformado ao discurso trumpista, no entanto, não começou naquele ano. A herança do anti-petismo mais radical ligado a Olavo de Carvalho sedimentou a ideologia bolsonarista a ponto de no início do período de pré-campanha, um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo, se encontrar com Steve Bannon nos EUA, posteriormente nomeado por ele como líder sul-americano de seu grupo 14 Segundo Eliane Brum (2018, s/p.), a autoverdade pode ser entendida como a valorização de uma verdade pessoal autoproclamada, "uma verdade do indivíduo, determinada pelo 'dizer tudo' da internet. Expressa nas redes sociais pela palavra “lacrou”. 62 político conservador, The Movement. Eduardo ainda intermediou encontro posterior de Bannon com Olavo de Carvalho. 63 4. JORNALISMO EM ERA DE PÓS-VERDADE O jornalismo que tentou acompanhar a dinâmica online, produziu certos efeitos e vícios dentro da profissão, que no fundo ajudaram a criar ambiente favorável aos escravos digitais, informados exclusivamente pelas chamadas sensacionalistas das matérias nas redes sociais, "entre a produtividade e o consumismo diante das telas que administram o desejo. Inertes, no trabalho alienado de nossos membros adoecidos por esforços repetitivos, já não contemplamos o mundo" (TIBURI, 2017, s/p.). Estes, seja por falta de tempo ou de interesse frente a outros conteúdos, não leem os textos que compartilham, se valendo somente dos títulos carregados de teor emocional para reafirmar suas ideologias e reforçando o conspiracionismo. Em um estudo comportamental (SCHWARZ et al., 1991, p.195-202), pesquisadores alemães descobriram que a percepção da falta de argumentos faz as pessoas notarem que não têm tanta razão naquilo que defendem quando são submetidas a listar os motivos de suas posições. Esse teste simples poderia ser aplicado à realidade na web, em 2019, pesquisa do Ideia Big Data mostrou que 42% dos eleitores não concordaram nem discordaram com a afirmação “eu compartilhei fake news de conteúdo político durante a campanha eleitoral de 2018” (MELLO, 2019, s/p.), mostrando que no meio de tanta mentira, muitos não têm certeza do grau de credibilidade do que compartilham. Outro estudo, feito em 2016 pela Universidade Columbia e pelo Instituto Nacional Francês analisou 3 milhões de tweets e concluiu que de cada 10 pessoas que compartilhavam links no Twitter, 6 o fizeram sem nunca ter lido a matéria que passavam adiante, apenas confiando na informação da chamada do texto (LEONARDI, 2016, s/p.) No feed das redes sociais onde, por exemplo, 7 em cada 10 brasileiros se informam (ANDRION, 2019, s/p.), o que se observa são várias memórias desconexas, em estado de eterno presente, com saberes inertes, desconectados e inconsequentes entre si sem a possibilidade de ordená-los em uma interpretação coerente. Cada vez mais lemos a mensagem que o outro nos envia em pacotes de informação, compostos por imagens e textos, 64 que se apresentam como um “todo de uma vez”. Isso degrada a narrativa de viagem a um percurso sem memória. A resposta antecipada para uma determinada imagem coordena nossos códigos de comunicação e de produção de desejo, de tal forma que é preciso rapidamente acolher ou descartar, inibir ou estimular o progresso da comunicação com o outro. É o que alguns teóricos da linguagem chamam de cultura do connect e cut, na qual há igual facilidade de acesso e de desligamento no contato com o outro. (DUNKER et al., 2017, p. 28-30) Além da obra jornalística dentro da mídia tradicional perder autenticidade pela reprodução em formato de indústria cultural, o jornalismo se viu preso na lógica publicitária, precisando cada vez mais tentar ser impressionante frente ao conteúdo online. O ecossistema de publicidade nas mídias sociais depende da disseminação de conteúdo. Quanto mais atraente é o conteúdo, mais valor ele cria e mais receita em publicidade capta. Por isso, em certo sentido, o modelo de negócio de publicidade digitais atuais incentivam a propagação de notícias falsas - porque, como vimos, a informação enganosa se propaga mais rápido, vai mais longe, mais fundo e se difunde mais generalizadamente que as notícias verdadeiras. (ARAL, 2018, p. 34) Concorrendo com o apelo emotivo e massivo das conspirações, o jornalismo online passou a usar outras estratégias, como as chamadas cada vez mais sensacionalistas e que se valiam de elementos emocionais para estimular o clique, as "chamadas caça-cliques", ou click-baits (CAMINADA, 2015, s/p.). Além de frustrar os leitores por prometer uma informação não entregue conforme a expectativa, muita desinformação pode embarcar nos click-baits, como provou um site de sensacionalismo científico ao publicar um texto chamado “70% dos usuários do Facebook só lêem a manchete de notícias científicas antes de comentar“ (LEONARDI, 2016, s/p). O texto possuía parágrafos inteiros em lorem ipsum, texto sem sentido usado para preencher páginas em teste. Mesmo assim, a matéria foi compartilhada por 46 mil pessoas. 65 4.1 FACT-CHECKING E NOVAS PRÁTICAS Era de se esperar que a resposta a tanta desinformação no ambiente jornalístico e político fosse surgir. Em 1991, um jornalista estadunidense, Brooks Jackson, fundou a “Ad Police”, a primeira equipe direcionada a checar propaganda eleitoral, mais tarde viriam a ser batizadas como Agências de Fact-cheking. A missão inicial da Ad Police era investigar o que o confronto eleitoral entre Bill Clinton e George Bush (pai). Em 2003, estimulado pelo sucesso do trabalho na CNN, Jackson criou o primeiro site independente de fact-checking. Com a ajuda da Universidade da Pensilvânia e do Annenberg Public Policy Center, inaugurou o FactCheck.org, que está ativo até hoje. Meses depois, foi a vez do jornalista Bill Adair, do “Tampa Bay Times”, lançar uma nova seção em seu jornal, o Politifact.com (também ativo hoje) e ganhar um prêmio Pulitzer com isso. (LUPA, 2015, s/p.) A febre do fact-checking continuou a se espalhar no mundo. Na América Latina, a primeira agência a nascer foi na Argentina em 2010, a Chequeado, também foi a primeira a fazer a checagem de fatos em debates ao vivo. A expansão do fact-checking fez necessária a criação de uma organização própria, em 2015 o Poynter Institute fundou a rede internacional de fact-checking - IFCN (POYNTER, 2019, s/p.). No mesmo ano, a primeira agência de fact-checking brasileira nasceu, a Lupa, fundada por Cristina Tardáguila e inspirada na Chequeado. Logo outras reconhecidas surgiriam no Brasil como a Aos Fatos e Truco (Agência Pública). Outros sites que checavam boatos já existiam, como o E-farsas, fundado em 2002, mas é em 2015 que o fact-checking se profissionalizou, ano do início do impeachment de Dilma Rousseff, quando os brasileiros já ostentavam o título mundial de terceiro país mais tempo online no celular (FOLHA DE S.PAULO, 2015, s/p.). Os cinco princípios fundamentais da IFCN são: "o compromisso com ser apartidário e justo; transparência da fonte de recursos e da organização; transparência na metodologia utilizada transparência das fontes e abertura às correções honestas" (MARTINS, 2017, s/p.). Enquanto a política pública é algo mais perene por se tratar de decisões de Estado, a política governamental tem muito mais a ver com “o poder e com o que as pessoas dizem”.(...) É preciso saber diferenciar uma coisa da outra para que a cobertura não perca o foco do que é o mais importante numa história. “É 66 importante focar não apenas no que as pessoas dizem, mas no que elas fazem”, completou Josh Fischman, editor sênior da Scientific American (EUA). Ele lembrou que, durante a campanha eleitoral de 2016, repórteres da revista perguntaram aos eleitores sobre quais temas eram mais importantes para eles a fim de ajustar o tom da cobertura que fariam. O papel do jornalismo na formulação de política científica baseada em evidências foi a chave das discussões (...). Em um cenário em que “fatos alternativos” têm relevância na arena pública, voltar aos fundamentos do jornalismo sério e investigativo nunca foi tão importante — em especial quando o grupo que dita as regras nem sempre entende a importância de políticas baseadas em evidências. (RODRIGUES, 2019, s/p.) Apesar da idoneidade e esforço do jornalismo investigativo em busca de um resgate da valorização das fontes, dados e a verdadeira trajetória dos fatos, o fact-checking ainda esbarra nas barreiras cognitivas. O Facebook, que fora pressionado depois do caso Trump e Brexit e lançou uma campanha junto às agências, passou a tentar auxiliar na apuração contra fake news, sinalizando um alerta em cada conteúdo suspeito com a intenção de orientar os internautas no combate a desinformação. A campanha foi abandonada logo depois porque a plataforma considerou "que o ícone de advertência não só não é eficaz, como pode produzir o efeito contrário. Não surpreenderia se aquele conteúdo sinalizado como falso tivesse atraído ainda mais a atenção dos usuários do que os conteúdos sem indicação de falsidade" (RAIS, 2018, p. 121). Esse efeito de negação ocorre quando as pessoas enganadas, frente aos dados ou informações que confrontam suas visões de mundo, procuram a negação ou estabelecem falsas conexões para obter conforto cognitivo e manter sua narrativa ou coesão de grupo. É a chamada dissonância cognitiva. Para resolver o problema da desconfiança na mídia, a jornalista e diretora do programa de ética jornalística da Universidade de Santa Clara, no Vale do Silício, Sally Lehrman, ouviu do público dos EUA e da Europa os principais critérios para acreditar em uma notícia, classificando os consumidores de notícias em 4 grupos: ávidos (checam as informações que consomem), engajados (têm contato com as notícias mas se sobrecarregaram com o volume de informações hoje), leitores ocasionais e os desengajados, "os que mais preocupam o jornalismo. Atacam jornalistas no Twitter, dizendo que suas reportagens são falsas. Podem estar nos dois 67 polos políticos (liberais e conservadores). E são desengajados porque pararam de prestar atenção às notícias" (TERENZI, 2019, s/p.). Depois de mapear 8 indicadores que passaram a nortear uma espécie de manual de jornalismo para a pós-verdade, Sally lançou em 2017 o Trust Project com a adesão de jornais como The Economist, El Pais e The Washignton Post. Hoje o projeto conta com mais de 100 veículos, incluindo os brasileiros Nexo Jornal, Agência Lupa, Agência Mural, Folha de S. Paulo, Poder360 e O Povo, além de contar com o financiamento da Google e o suporte de plataformas como o Facebook. A transparência e adoção de um novo manual são atitudes necessárias em tempos de pós-verdade. Se, por exemplo, o veículo jornalístico seguir os 8 critérios definidos, consegue o selo da Trust. As características devem estar alinhadas às melhores práticas de transparência dos valores do veículo e sua correção de erros, a devida identificação dos jornalistas, a classificação de cada tipo de publicação para separar opinião dos relatos factuais, o uso de referências e citações linkadas a arquivos oficiais, a exposição de informações sobre como um determinado conteúdo foi produzido e por que o veículo decidiu investigar um tema, a exibição do local de apuração, a pluralidade de vozes e o feedback estimulado pelos veículos para ouvir as opiniões dos consumidores de notícias. O processo de autocrítica que o Trust Project apresentou foi importante no marco de um jornalismo mais compreensivo e menos hierárquico. Existe um sentimento de incerteza nas pessoas sobre confiar ou não no noticiário, em parte, porque tudo parece a mesma coisa na internet. [...] Há motivos para desconfiança e descrédito criados por nós jornalistas, infelizmente: nós desprezamos algumas comunidades; misturamos notícias com opinião (e as pessoas notaram isso no ambiente digital) (...) Os veículos de notícias pareciam perdidos e desamparados no ambiente digital, tentando responder se estavam explorando ou sendo explorados pelas redes sociais(…) não tomando um papel de liderança. (...) Os veículos têm intensificado a reação a essa crise. E o Trust Project é um exemplo muito bom disso. As organizações se uniram, em um meio altamente competitivo, por reconhecerem que são responsáveis pelos leitores e para retomar o controle em como o jornalismo está representado no ambiente digital. (TERENZI, 2019, s/p.) 68 5. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 Em agosto de 2018, Luiz Fux declarou que o TSE apresentou alternativas para combater fake news, e que nas eleições elas “não vão navegar pela internet como antigamente se navegava pelos mares” (DIAS; MARTINS, 2018, s.p/). Durante o ano, o tribunal desenvolveu estratégias como a criação de eventos destinados pesquisar e investigar o teor dos boatos com Google, Facebook e Twitter, fez um portal para alertar sobre fake news e criou um conselho consultivo composto por juízes do tribunal, policiais federais, membros do exército, e representantes da sociedade civil e das empresas responsáveis pelas redes sociais. O TSE ainda firmou termo de compromisso com 31 partidos para evitar a disseminação de informações falsas, apenas PT, PCO, PSTU e PTC não assinaram o acordo (PORTAL R7, 2018, s/p.). Outra medida foi a criação de um conselho consultivo composto por membros do tribunal, da Polícia Federal, das Forças Armadas, pesquisadores e empresas. Por fim, o ministro do STF mencionou a possibilidade de anular uma chapa que tenha sido impulsionada por notícias falsas. Com relação à tutela do campo eleitoral em si, nós temos o direito de resposta, que tem muita eficiência, nós temos multas, temos a cassação de diplomas e nós temos uma previsão que está expressa no artigo 222 do Código Eleitoral, no sentido de que se houver a comprovação de que uma candidatura se calcou preponderantemente em fake news, essa candidatura pode ser anulada. (CURY, 2018, s/p.) Apesar do poder Judiciário ter esboçado iniciativas contra as fake news, a campanha online foi um verdadeiro disseminador de pós-verdade, repleto de guerras de narrativas. Diante do desconhecimento dos fenômenos de desinformação e sua dinâmica online, o TSE se revelou perdido no assunto. Nas palavras da presidente do tribunal a respeito do combate às notícias falsas, a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, avaliaria dias antes do segundo turno "nós ainda não descobrimos o milagre" (VENTURA, 2018, s/p.). 69 Foram 3 meses de mentiras envolvendo todos os candidatos e muitos eleitores, com compartilhamentos se retroalimentando em cada segmento ideológico, vindo tanto da militância como dos próprios candidatos. No Rio Grande do Sul, uma estudante se mutilou com uma suástica e culpou bolsonaristas pelo ato (PORTAL IG, 2018, s/p.). O ex-presidente Lula foi dublado pedindo votos para Jair Bolsonaro (PSL) (SCHULTZ, 2018, s/p.), o capitão reformado foi acusado de ter se aposentado aos 33 anos por insanidade mental, quando na verdade o fizera por ter entrado na vida pública (BRASIL DE FATO, 2019, s/p.). Fernando Haddad (PT), chamou o vice da chapa do PSL, o general Hamilton Mourão (PRTB), de torturador (VETTORAZZO, 2018, s/p.). A candidata à vice na chapa do PT, Manuela D'Avila (PCdoB), teve montagem usando uma camiseta com a frase "Jesus é travesti" (VELASCO, 2018, s/p.). Flávio Bolsonaro (PSL) teve sua foto com uma camisa que exaltava a frase "Movimento nordestinos voltem pra casa. O Rio não é lugar para jegue" (SCHULTZ, 2018, s/p.), Carlos Bolsonaro teve um vídeo erroneamente atribuído a ele, no qual o personagem atacava nordestinos (G1, 2018, s/p.). No debate de estréia, o candidato cabo Daciolo (Patriota) contestou em debate ao vivo se Ciro Gomes integrou o Foro de São Paulo, um encontro de líderes de esquerda latino-americanos, classificado como uma tentativa de criar um Estado único comunista entre os países da América Latina, a URSAL (CATRACA LIVRE, 2018, s/p.). A sigla foi citada pela primeira vez por uma professora em tom de deboche em 2001, “a Ursal foi uma brincadeira que virou uma teoria conspiratória” (UOL, 2018, s/p.) e que depois foi apropriada por Olavo de Carvalho. As fake news não acabaram depois do pleito, um dos presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT), citou em entrevista à Globo News uma declaração de Paulo Guedes com base em uma matéria falsa da página de paródia da Folha de S. Paulo, a Falha de S. Paulo (REVISTA FÓRUM, 2018, s/p.). Mesmo em época de pré-campanha, a candidata Marina Silva (REDE) e o candidato Ciro Gomes (PDT) foram alvo de ataque de fake news envolvendo a Lava Jato. O TSE, na oportunidade, aplicou a pela primeira vez a norma que coibia a reprodução e veiculação dessas fake news, 70 determinando a remoção do conteúdo. O episódio, no caso de Ciro, abriu um debate sobre a intervenção do Estado e liberdade de imprensa. No caso Ciro Gomes o ponto controverso, me parece, começa a partir de uma notícia [com base em documentos da Odebrecht] que desencadeou outras publicações. A notícia, feita em seu regular exercício, fez uma associação, uma interpretação entre os documentos citando o nome de Ciro, fazendo a ressalva de que aquela ligação não constava na investigação. A reportagem não alterou, não deturpou elementos daqueles documentos. [...] Os advogados de Ciro dizem que há uma acusação falsa. Mas nesse caso não está se falando de fatos “sabidamente inverídicos”. Está se falando de uma investigação criminal, que dispõe desses documentos e que permite as mais diversas interpretações. A ministra Rosa Weber considerou, então, que é dever da Justiça intervir o mínimo possível no processo eleitoral. Se os advogados do pré-candidato estivessem certos, todo candidato que tivesse menção numa operação da Polícia Federal publicada na imprensa poderia pedir a remoção daquele conteúdo. Dando a eles um poder que inexiste em nosso sistema jurídico, de editar a sua própria história e a forma como a sociedade o enxerga a partir de uma cobertura jornalística. (VENTURINI, 2018, s/p.) Outra moderação do tribunal foi a determinação de que o Facebook e o Youtube apagassem seis postagens da campanha de Jair Bolsonaro em que o candidato faz críticas ao livro "Aparelho sexual e cia.", e cita que o material seria distribuído em escolas públicas para crianças de seis anos de idade, durante a gestão de Fernando Haddad no MEC, em 2012. O capitão reformado aproveitou a sabatina no Jornal Nacional para dar novo fôlego para sua narrativa de suposta sexualização infantil precoce como estratégia petista para desestabilizar a ordem social, caracterizando o livro e uma série de objetos dentro do que seria um "Kit Gay". O livro citado em questão foi publicado pela Companhia das Letras em 10 idiomas, e o público-alvo seriam crianças de 11 a 15 anos. Bolsonaro se valeu das teorias da ideologia de gênero15, e mesmo sendo punido pelo TSE manteve seu 15A ideologia de gênero foi citada pela primeira vez pelo cardeal Joseph Ratzinger da Igreja Católica, em 1997, em documento crítico ao "feminismo radical" que fora debatido em um Congresso da ONU Mulheres em Pequim, organizado em 1995 e que na oportunidade reconheceu a desigualdade da mulher em um problema estrutural que só pode ser abordado em uma perspectiva integral de gênero. Essas declarações, que tinham um alcance global, colocaram a categoria “gênero” no centro dos debates que giravam em torno do papel da mulher. A ideologia de gênero chega no Brasil apropriada pelo movimento Escola Sem Partido, criado pelo 71 discurso. Entre seus eleitores, 84% acreditaram no Kit Gay tal como o candidato do PSL havia insinuado (CONGRESSO EM FOCO, 2018, s/p.). O “kit” do modo como Bolsonaro descreve, de que seria uma doutrinação, nunca existiu. A cartilha explicava conceitos como gênero e sexualidade e sugeria atividades em sala de aula para os alunos refletirem sobre temas como comportamento preconceituoso. (...) Bolsonaro ainda repetiu que o debate contra o “kit gay” ocorreu durante o “9º Seminário LGBT Infantil”, na Câmara dos Deputados. Esse evento nunca ocorreu, muito menos no período de que Bolsonaro fala, entre 2009 e 2010. Em maio de 2012, ocorreu o evento anual “9º Seminário LGBT no Congresso Nacional”, que naquela edição tratou dos temas “infância e sexualidade”, e não tinha relação com o Ministério da Educação. Em maio de 2012, Haddad já não era mais o titular da pasta. (VENTURINI, 2018, s/p.) Em um processo de retroalimentação de fake news, não demorou para o eleitorado bolsonarista embarcar na narrativa paralela e criar teorias conspiratórias sobre o kit gay, incluindo a filmagem de uma mamadeira erótica como um dos itens que seria encomendado pelo PT para ser distribuído em creches (ESTADO DE S. PAULO, 2018, s/p.). No intervalo de nove dias, as campanhas eleitorais no Brasil e nos EUA mostraram como Donald Trump e Jair Bolsonaro recorrem a pelo menos quatro estratégias de comunicação política comuns aos dois contextos. A convergência de mensagens está presente nas suspeitas levantadas contra o sistema de apuração, na acusação de que adversários espalham notícias falsas, na alegada luta contra uma “ameaça socialista” ou “ameaça comunista” e, por fim, no discurso do combate à criminalidade impulsionando uma ideia de coesão nacional. (CHARLEAUX, 2018, s/p.) Entre outras mentiras, Bolsonaro, em sabatina no Roda Viva, chegou a dizer que os portugueses sequer pisaram na África durante as grandes navegações e que os próprios negros seriam responsáveis pelo tráfico negreiro (GONÇALVES, 2018, s/p.) . Não foi por acaso que foi apelidado pela imprensa estrangeira de "Trump of the tropics" (NEW YORK TIMES, 2019, s/p.). O objetivo da campanha do PSL era deslocar "o poder para a procurador Miguel Nagib em 2004 mas que em 2014 ganha relevância e lidera manifestações para vetar iniciativas que tratavam de orientação sexual e identidade de gênero nas escolas, sob o suposto pretexto de sexualização infantil alegado por conservadores nessas iniciativas. "Pânicos morais costumam chamar a atenção para uma suposta ameaça apenas como meio de se obter algo bem palpável. [...] Quem se beneficia com a disseminação desse fantasma sobre supostas consequências negativas que adviriam da igualdade de gênero e da plena cidadania de homossexuais?" (MISKOLCI; CAMPANA, 2017, p. 743) 72 verdade do um, destruindo a essência da política como mediadora do desejo de muitos" (BRUM, 2018, s/p.). “Ele é meio exagerado, mas porque é um sincerão”. Assim, Bolsonaro não seria homofóbico ou misógino ou mesmo racista para aqueles que aderem a ele, mas um “homem de bem” exercendo a “liberdade de expressão”. Estes são os adjetivos que aparecem com frequência colados ao candidato de extrema-direita por seus eleitores: “sincero”, “verdadeiro”, “autêntico”, “honesto” e “politicamente incorreto” (este último também como um elogio). [...] Formados nessa narrativa, uma geração de brasileiros é capaz de ler ou assistir a uma reportagem da imprensa mostrando verdades que Bolsonaro gostaria que não subissem à superfície não pelo seu conteúdo, mas pela ótica da perseguição. O conteúdo não importa quando quem questiona o inquestionável é automaticamente um inimigo, capaz de usar qualquer “mentira” para atacar um “homem de bem”. (BRUM, 2018, s/p.) Jair Bolsonaro foi de longe o que mais se beneficiou de fake news na campanha para a Presidência da República em 2018. Segundo o Avaaz, cerca de 90% de seu eleitorado acreditou em alguma fake news bolsonarista (PASQUINI, 2018, s/p.). A grande força de Bolsonaro foi também sua militância, construída desde a explosão do antipetismo em 2014, e cuja polarização era indiscutível para defendê-lo e ajudá-lo a corroborar sua narrativa. Uma das revistas liberais mais reconhecidas do mundo, The Economist, fez uma reportagem crítica ao então candidato, e recebeu o feedback de usuários bolsonaristas chamando-a de "The Communist" (INFOMONEY, 2018, s/p.) A indignação costuma ser má conselheira e, na pressa de distribuir responsabilidades, menospreza-se a opinião de uma massa significativa de eleitores. É fato que as fake news tiveram um papel importante na eleição, mas não necessariamente porque as pessoas acreditaram ingenuamente em notícias produzidas pelo aparato de campanha do candidato. A confiança gerada pelas técnicas de comunicação de Bolsonaro cria um ambiente de credibilidade que favorece a circulação de mensagens com conteúdo que confirme crenças e valores prévios, sejam eles verdadeiros ou falsos. (ROQUE; BRUNO, 2018, s/p.) O episódio não só marcou o momento em que os partidários do candidato do PSL se dispunham a taxar todos os opositores ou críticos do candidato de comunistas independente de sua origem ou trajetória política, como também abriu caminho para um revisionismo mais amplo e externo 73 onde os internautas se viam como intelectuais paralelos capazes de explicar fenômenos políticos internacionais, foi batizado de "Brazilsplaning" (GONZO, 2018, s/p.). Até mesmo a política francesa de extrema-direita, Marine Le Pen, que criticou as "falas desagradáveis" (NEVES, 2018, s/p.) de Bolsonaro, foi chamada de comunista pela militância bolsonarista no Twitter. Houve também contestações de bolsonaristas a respeito do nazismo ser um regime de direita16. Um vídeo publicado pela Embaixada da Alemanha no Brasil contra o extremismo de direita provocou forte reação nas redes sociais. Na publicação, a embaixada fala da importância de não esquecer os crimes do nazismo entre 1933 e 1945, período em que o Holocausto levou à morte de cerca de 6 milhões de judeus e de 5 milhões de pessoas de outros grupos. Alguns brasileiros, no entanto, questionaram a publicação alemã, negando que tenha existido o Holocausto ou dizendo que o Terceiro Reich era um regime de esquerda, e não de extrema direita. (QUEIROGA, 2018, s/p.) O então candidato do PSL chegou a colocar em dúvida a lisura das eleições. A ex-jornalista Joice Hasselmann (PSL), que obteve votação expressiva para a Câmara Federal, fez uma live no Facebook, onde possui 2 milhões de seguidores, alegando uma conversa com um hacker que lhe garantiu a existência da manipulação da urnas, "pouco tempo depois a mentira atingiu cerca 16,5 milhões de pessoas nas redes sociais nas 48 horas após as eleições. Às 11h do dia 7 de outubro, a hashtag #FraudeNasUrnas alcançou o topo dos trending topics do Twitter" (FILHO; FELIZARDO, 2018, s/p.). Boatos nas redes afirmavam que os códigos das urnas teriam sido entregues à Venezuela e seu filho, Flávio, que chegou a compartilhar um vídeo falso onde, "um eleitor filmou uma urna supostamente com problemas. Quando o eleitor digita o número 1, a urna mostra a imagem 16A polêmica sustentada em torno da ideologia nazista se deve ao nome do partido do Terceiro Reich: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, NSDAP em alemão. Segundo o jornalista Peter Ross Range, autor de "1924: o ano que criou Hitler", ao acrescentar "Nacional-Socialista" Hitler tentou colocar em sua associação política uma ressonância "que fosse além da sua identificação inicial com os trabalhadores. Buscava uma redefinição nacionalista do socialismo em contraste com o conceito internacionalista de marxismo" (RANGE, 2018, p. 40). O líder nazista rejeitava o conceito comunista de luta de classes, queria promover um sentido alemão de comunidade sem a divisão das mesmas, ao passo em que defendia a propriedade privada. "Na cabeça de Hitler, nacional e social eram dois conceitos comunitários idênticos, ser nacional é agir com amor sem limites e abrangentes pelo povo [alemão], ser social significa que cada indivíduo age nos interesses da comunidade [e] está pronto a morrer por ela". (RANGE, 2018, p. 40) 74 do candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, número 13" (TAKAR; FREIRE, 2018, s/p.). Mesmo após a divulgação do resultado que o colocou no segundo turno, em um discurso nas redes sociais, "o candidato Jair Bolsonaro (PSL) agradeceu aos seus eleitores e afirmou que não ganhou no 1° turno por causa dos "problemas nas urnas" (BELLONI, 2018, s/p.). A Organização dos Estados Americanos (OEA) enviou observadores internacionais, que atestaram a lisura nas eleições e confirmaram algumas tendências de pós-verdade latente no debate público: polarização e agressividade sem qualquer compromisso democrático. Essa análise foi confirmada pouco tempo antes do pleito pelos gritos de Bolsonaro no norte do país, "vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre" (PODER360, 2018, s/p.) e nas declarações autoritárias de José Dirceu, "dentro do país é uma questão de tempo para gente tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição" (O GLOBO, 2018, s/p.). Vejo que três capas de revistas tradicionais no Brasil - Veja, Época e Exame - são, juntas, compartilhadas em 17 grupos. As "reportagens de capa" das três mostram o mexicano Gerardo de Icaza, diretor do Departamento para a Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, assumindo "fraude nas urnas a favor do PT". Os criadores de notícias falsas se apropriam de formatos de notícias reais para dar respaldo à mentira e confundir quem confia nos meios tradicionais (GRAGNANI, 2018, s/p.) O ápice da polarização digital causa desastres nas narrativas fiéis aos fatos, mas também à própria vida analógica. Foi num contexto de divisão ideológica extrema, associada à predisposição psicológica instável de Adélio Bispo de Oliveira, que o fizeram sair do conforto de seu feed composto por conspirações illuminatis para ir ao centro de Juiz de Fora (MG) cometer um atentado antidemocrático contra um dos candidatos que ele mais nutria ódio na internet, Jair Bolsonaro. Não bastasse que os posts raivosos de Adélio na internet expusessem o caráter problemático do discurso de ódio se tornar prática, cada lado polarizado buscou criar sua narrativa para voltar a ter coesão. Opositores do capitão espalhavam fake news nas redes sociais questionando a veracidade do atentado a partir das imagens que não mostravam sangue na blusa do 75 então candidato. Um áudio falsamente atribuído ao capitão, acusava-o de ter planejado o atentado e alguns opositores até levantavam teorias sobre uma cortina de fumaça no ato para disfarçar o tratamento de um câncer (MELLO, 2018, s/p.). Já a militância que integrava a campanha de Jair Bolsonaro explorou o atentado a partir da informação de que Adélio havia sido filiado ao PSOL de 2007 até 2014. Logo surgiram fake news atribuindo ao deputado federal Jean Wyllys (PSOL), rival ideológico de Jair Bolsonaro, o pagamento de R$ 50 mil pelo suposto serviço de Adélio. (AFONSO, 2018, s/p.). Wyllys foi um dos deputados mais vítimas de fake news na campanha, tendo passado por uma rotina de calúnias que o associavam a atividade criminosa ligada ao atentado de Adélio ou notícias que relacionassem sua sexualidade à educação, explorando o lado homofóbico e relacionando-o à fragilidade institucional ou pedofilia. Em um episódio, o psolista foi falsamente acusado de ter aceitado convite para compor o Ministério da Educação em uma futura gestão de Haddad (SCHULTZ, 2018, s/p.). O petista também foi atacado, em uma frase falsamente atribuída a ele com os dizeres "crianças ao completarem 5 anos se tornam propriedade do Estado! Cabe a nós decidir se menino será menina e vice-versa" (RODRIGUES, 2019, s/p.). Em 2019, Olavo de Carvalho, Alexandre Frota (PSL) e Lobão atribuíram a facada a Jean Wyllys e seu exílio aos EUA por motivos de ameaças familiares, como uma fuga do delito (FONSECA, 2019, s/p.). Depois da campanha, em entrevista ao El País, o deputado do PSOL citou os problemas relacionados ao assassinato de reputação baseada em fake news. As fake news têm por objetivo não apenas a destruição da minha imagem e o ataque a uma agenda de direitos humanos e liberdades individuais, como também a invenção de falsas justificativas para espalhar ódio contra mim e contra minha família e promover atos de violência que possam me atingir. A gente precisa lembrar, por exemplo, do massacre do Realengo e do mais recente em Campinas, para entender que não é só através de grupos organizados, como as milícias, que um defensor dos direitos humanos pode ser morto. Quando há uma sistemática campanha de destruição da reputação de uma pessoa através do uso de fake news para demonizá-la e transformá-la em inimiga pública, qualquer louco envenenado por esse ódio pode agir de forma individual. (EL PAÍS, 2018, s/p.) 76 Manuela D'Ávila, vice da chapa encabeçada pelo PT, foi outra vítima de assassinato de reputação durante toda a campanha eleitoral. Depois do atentado de Adélio, ela foi falsamente acusada de ligar 18 vezes para o esfaqueador (LOPES, 2018, s/p.), e o TSE chegou a determinar a remoção de 33 posts no Facebook que a acusavam dos mais diversos delitos. "No total de alcance desses posts, havia nada menos do que 146.480 compartilhamentos e 5.190.942 visualizações" (REVISTA FÓRUM, 2018, s/p.). As fake news na eleição ocorreram em todos os espectros, mas tinham vítimas definidas, explorando sempre o emocional da pós-verdade, como medos por trás da misoginia e homofobia, com uma desproporção ímpar. Em cerca de 70 dias desde o início da campanha eleitoral, as iniciativas de checagem de fatos tiveram de desmentir mais de 100 boatos contra o candidato à Presidência Fernando Haddad (PT) e seu partido. Levantamento do Congresso em Foco mostra que, ao todo, foram 123 checagens de boatos diretamente ligados a Haddad e ao candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL) desmentidos desde 16 de agosto. As agências de checagem Lupa e Aos Fatos e o projeto Fato ou Fake, do Grupo Globo, tiveram de desmentir pelo menos 104 “fake news” contra Haddad e o PT e outras 19 prejudiciais a Bolsonaro e seus aliados. (MACEDO, 2018, s/p.) 5.1 A DEEP WEB DE BOLSO: WHATSAPP Enquanto a desinformação se expandia no pleito, os jornalistas e fact- checkers desmentiam rotineiramente algum boato de grande circulação. Antes do segundo turno, uma coalizão articulada com o TSE, A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) e checadores compostos pela Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, e-Farsas e Fato Ou Fake flagraram 50 conteúdos suspeitos em 48 horas de trabalho. "Isso dá uma média de mais de uma mentira por hora ao longo do fim de semana eleitoral - o que mostra a dimensão do combate travado", ao todo, em um período de 3 horas no Twitter, esse conteúdo movimentou 679 mil visualizações pela hashtag #CheckBR, e contou com a coordenação da Abraji e grupos de WhatsApp com checadores, TSE e repórteres e editores de seis plataformas de checagem. (TARDÁGUILA, 2018, s/p.). Apesar dos esforços das agências de fact-checking, a criptografia blindou a 77 desinformação em grupos extremistas. O uso do Whatsapp no Brasil escondeu de muitas timelines as fake news mais tóxicas. Após analisar por um ano 120 grupos de WhatsApp, pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) descobriram que as correntes de mensagens que continham fake news sobre política atingiam mais usuários do que as conversas com desinformação de outros assuntos. O conteúdo enganoso de política também suscitou discussões mais longas e mais duradouras no aplicativo. Os autores da pesquisa identificaram ainda um aumento significativo nas conversas políticas com dados falsos perto das eleições. "Teve um pico enorme. O momento político favoreceu a discussão com fake news no WhatsApp". (AGÊNCIA ESTADO, 2019, s/p.) Os conceitos cognitivos atrelados familiaridade já abordada nesse trabalho contribuíram para a credibilidade do WhatsApp e o seu impacto na desinformação acompanhou o processo de rápida expansão do aplicativo na comunicação diária do brasileiro. Em 2016 o Brasil já era o segundo país que mais utilizava o aplicativo e no ano seguinte mais de 120 milhões de brasileiros usavam o WhatsApp (OLIVEIRA, 2018, s/p.). Nessa época o padrão de consumo de conteúdo online móvel já estava bem consolidado, com 90% usando a internet diariamente, e metade se valendo de dispositivos móveis conectada em média, 8h56 diárias, sendo 3h43 nas redes sociais (KEMP, 2017, s/p.). Em 2018, já existiam mais smartphones ativos do que habitantes no país, e quase metade dos brasileiros usavam o WhatsApp para compartilhar notícias, (REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNALISM, 2018, s/p.). Em uma semana eu vi: muita desinformação, como imagens no contexto errado, áudios com teorias conspiratórias, fotos manipuladas, pesquisas falsas. Ataques à imprensa tradicional, como capas falsas de revistas e falsa "checagem" de notícias que, de fato, eram verdadeiras. Imagens que fomentam o ódio a LGBTs e ao feminismo. Uma "guerra cultural" organizada, com ataques sistematizados a artistas em redes sociais. Áudios e vídeos de gente comum ou de gente que se passa por gente comum, mas com identidade desconhecida, dando motivos para votar em um candidato. (GRANGNANI, 2018, s/p.) O sigilo de conversas e de grupos protegidos pela criptografia de ponta a ponta, a disponibilidade de pelo menos 58 pacotes de dados gratuitos para alguma rede social no Brasil e a falta de acesso à internet para 78 checar as informações compartilhadas são outros fatores fortes para fake news se normalizar nesse meio. O acesso à informação acaba prejudicado quando redes sociais como o Facebook ferem a neutralidade da rede - isto é, o princípio segundo o qual um provedor de internet deve fornecer aos consumidores acesso igualitário a todo conteúdo. "No Brasil, 60% dos celulares são pré-pagos e têm acesso grátis a essas redes sociais, oferecido pelas operadoras [que não descontam do pacote de dados o acesso a esses serviços]. Então, essas pessoas que usam pré-pago ficam rendidas a essas fontes de informação e interação." Para ela [Yasodara Córdova, pesquisadora- sênior sobre desinformação e dados na Digital Harvard Kennedy School], as pessoas recebem as informações por essas plataformas, mas não saem dali para ler a notícia inteira ou mesmo checar informações por causa de diversas barreiras, a exemplo da econômica. (BBC NEWS BRASIL, 2019, s/p.) Ainda que seja difícil mensurar o impacto do WhatsApp por meio dos dados disponíveis até então, em entrevista à Sputnik Brasil um pesquisador da Universidade George Washignton e fundador do Ideia Big Data, Maurício Moura, estimou que os conteúdos de Bolsonaro atingiram mais de 40 mil grupos. Há uma estimativa que na campanha presidencial o conteúdo do candidato Jair Bolsonaro atingia até 50 mil grupos [de WhatsApp] diariamente. Além disso, é só olhar a quantidade de políticos que foram eleitos pro Congresso sem o fundo partidário, e que tinha o WhatsApp como principal forma de disseminação de conteúdo. (SPUTNIK BRASIL, 2018, s/p.) Próximo do segundo turno, diversos veículos trouxeram reportagens sobre o real impacto do WhatsApp no pleito, o que se descobriu a partir daí foi a formação de listas ilegais vazadas de telefonias e aplicativos de redes sociais para segmentar o público que receberia o conteúdo na plataforma de compartilhamento de mensagens. Era uma pós-verdade on demand. Diversos usuários que foram considerados suspeitos de espalhar desinformação foram bloqueados, inclusive um dos filhos de Jair Bolsonaro, Flávio. Esses aplicativos [de mineração de dados], além dos números de telefone, também acessam dados que usuários 79 deixaram públicos, como cidade onde moram, data de nascimento, email e número de telefone. Por exemplo: uma amostra coletada a partir de um desses serviços reuniu os dados de 37 mil usuários que interagiram com posts ligados a um dos candidatos à Presidência - quase metade (18 mil) deles deixam seus números disponíveis de forma pública na rede. Ou seja, na prática, candidatos podem agrupar segmentos específicos, como paulistanos defensores de armas ou soteropolitanas a favor da descriminalização do aborto. (MAGENTA; GRAGNANI; SOUZA, 2018, s/p.) Semelhante às estratégias de psicometria política traçadas por Steve Bannon e a Cambridge Analytica, outras trapaças foram descobertas, como o uso de chips internacionais para burlar o limite de compartilhamentos de conteúdo. O que se sabe é que, em 2018, as campanhas identificaram a rede social como relevante para convencer eleitores e investiram nela. Reportagem da BBC News Brasil mostrou como elas obtiveram softwares capazes de coletar dados de usuários no Facebook - telefones segmentados por curtidas em páginas, sexo, idade, região, por exemplo - e enviar mensagens em massa no WhatsApp, com softwares que permitiam o disparo para até 300 mil números. Também criaram grupos na plataforma com esses números e se utilizaram de outros tipos de bancos de dados (vendidos ilegalmente, por exemplo). (GRAGNANI, 2018, s/p.) Reportagens mais graves surgiram em torno do aplicativo, no dia 18. Faltando uma semana para o segundo turno, reportagem da Folha de S. Paulo entitulada "Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp" (MELLO, 2018, s/p.) trazia a denúncia de um esquema de compra de disparos em massa por parte de empresários contra o PT, o que além de configurar ilegalidade na publicidade eleitoral, também poderia ser enquadrado como caixa dois. No mesmo dia, horas após a reportagem, foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela campanha do PSL. Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma grande operação na semana anterior ao segundo turno. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada. A Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12 milhões e, entre as empresas compradoras, está a Havan. Os contratos são para disparos de centenas de milhões de mensagens. Entre as agências prestando esse tipo de 80 serviços estão a Quickmobile, a Yacows, Croc Services e SMS Mark. (MELLO, 2018, s/p.) Principal alvo da reportagem, Jair Bolsonaro defendeu-se alegando que o seu crescimento nos últimos dias que antecederam a eleição no primeiro turno se deram de forma orgânica. Na prestação de contas do candidato, na época, constava apenas a AM4 Brasil Inteligência Digital, como tendo recebido R$114 mil. A AM4 negou que usasse a ferramenta. Bolsonaro também negou a utilização e disse na ocasião que não controla o que fazem "seus apoiadores". Nesta sexta (26), ao UOL, a AM4 admitiu pela primeira vez que usou um serviço desse tipo. A empresa alega que fez um único envio de mensagem por meio do serviço da Bulk Services, sistema criado pela Yacows, diz que a mensagem foi enviada "para 8.000 doadores cadastrados na base própria da empresa" e versava "sobre mudanças de seu número de contato e suporte". (REBELLO; COSTA; PRAZERES, 2018, s/p.) O Partido dos Trabalhadores também foi alvo de denúncia do jornal por ter trabalhado com a agência de publicidade Yacows. Outra denúncia envolvendo a agência, também da Folha, bateu na porta do MDB, o candidato Henrique Meirelles teria tido acesso aos números sigilosos dos beneficiários do Bolsa Família e se valido dos números para disparos no WhatsApp. A campanha de Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e candidato derrotado à Presidência da República, fez disparos de mensagem em massa pelo WhatsApp para números de telefone de beneficiários do programa social Bolsa Família, do governo federal. Os envios foram feitos durante o primeiro turno das eleições. A campanha de Meirelles contratou por R$ 2 milhões a empresa Deep Marketing para cuidar de parte da campanha na internet incluindo serviços como a construção e manutenção de um site, a gestão de redes sociais e o envio de mensagens via WhatsApp do candidato. A Deep Marketing tem entre seus sócios o empresário Lindolfo Antônio Alves Neto, que também é dono da Yacows, empresa que presta o serviço de envio das mensagens via WhatsApp. (FOLHA, 2018, s/p.) Ainda de acordo com o professor de direito eleitoral da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Diogo Rais, “É pouco crível pensar que não houve contratações de pessoas para espalhar 'fake news'” (VENTURINI, 2018, s/p.), e o motivo seria a quantidade de mensagens semelhantes produzidas diariamente e divulgada de forma sistematizada. Outro especialista, 81 membros do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições no TSE, Marco Aurélio Ruediger, criticou a falta de integração na busca pelos rastros dessa rede de fake news. Acho que os fatos falam por si. Foi muito abaixo da crítica. Teve uma profusão de fake news e robôs. O TSE deixou muito por conta das plataformas [Facebook e Twitter], mas não articulou bem com elas e esqueceu completamente do Whatsapp. [...] Essa eleição é basicamente financiada por recurso público. Uma vez que se tem recurso público, você tem capacidade de fazer uma auditoria mais profunda até chegar em quem está produzindo as informações nas redes que atendem a cada candidato. E isso não foi feito como poderia. Uma das propostas que nós colocamos era ter uma rede de forma integrada para ajudar o TSE e que as campanhas fossem obrigadas a abrir sua API [tradução de Interface de Programação de Aplicativos] para poder ter acesso aos dados. E que houvesse auditoria para o uso do recurso público. Mas essas ideias não foram postas em prática. Faltou adequação legal, mas principalmente de processos de integração de todos atores. (VENTURINI, 2018, s/p.) Depois da publicação da reportagem que apontava o uso do WhatsApp como meio de propaganda política, o ódio que habitava as redes sociais foi usado como meio de intimidação. A jornalista da Folha que publicou a denúncia do esquema do PSL de disparos em massa no WhatsApp, Patrícia Campos Mello, sofreu um linchamento virtual intenso, com diversas acusações tentando ligá-la ao petismo, incluindo a viralização de montagens abraçando o petista Fernando Haddad (POYNTER, 2018, s/p.). A jornalista também foi difamada em fake news onde o STF supostamente determinava multa de R$ 200 mil pela matéria contra Bolsonaro (G1, 2018, s/p.). Após as eleições, a revista TIME homenageou como pessoas do ano os jornalistas vítimas de perseguição política, entre eles, Patrícia (FOLHA DE S. PAULO, 2018, s/p.). Os episódios de ódio contra jornalistas no Brasil era generalizado, com impactos na vida analógica17, mas o caráter preconceituoso de muitos alvos tinham preferências de gênero. A Pesquisa “Attacks and Harassment: The Impact on Female Journalists and Their Reporting” (Ataques e assédio: o impacto sobre as jornalistas e suas matérias), da International Women’s 17 "O Brasil foi o oitavo país que mais matou jornalistas em 2018" (IG SÃO PAULO, 2018, s/p.), atrás de Filipinas, Iêmen, Índia, Paquistão, Iraque, Afeganistão, México e Síria. 82 Media Foundation e da TrollBuster apontou que os linchamentos de jornalistas online tem sido uma infeliz tendência crescente, acompanhada da ascensão de mulheres no jornalismo: 63% das repórteres já foram ameaçadas ou assediadas online (MELLO, 2019, s/p.). No início de 2019, um vídeo editado foi compartilhado no Twitter do presidente acusando a jornalista do Estadão, Constança Rezende, autora de reportagens sobre Flávio Bolsonaro e o Coaf, de conspirar para segundo o presidente, arruinar seu filho e o governo. "A frase, no entanto, não aparece nas gravações divulgadas pelo próprio site. (...) O presidente conclui: 'Querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e vazamentos'” (O GLOBO, 2019, s,p.). Jornalistas têm sido crescentemente vítimas de intimidação nas redes sociais, com uso de estratégias sofisticadas para amedrontar, espalhar desinformação, desacreditar as repórteres e a mídia em geral, e prejudicar as carreiras das profissionais. [...] O ambiente online foi transformado em arma e usa a velocidade e suas redes para montar ataques sofisticados que amplificam misoginia, sexismo, racismo, homofobia e outros discursos de ódio”, diz o relatório. “Contas falsas e impostores no Twitter semeiam desinformação. Tanto online como offline, o mundo se tornou um lugar muito mais perigoso para os jornalistas nos últimos 5 anos. (MELLO, 2019, s/p.) 5.2 A SABOTAGEM DOS BOTS Os ataques sistematizados à jornalista da Folha por parte de contas falsas deram exposição a outro problema além do uso do disparo em massa de fake news: trata-se do uso de contas falsas, chamados de bots, para divulgar essas mentiras, também com ataques por parte de milícias digitais (BENTES, 2019, s/p.). Esses perfis são fabricados e se dividem entre robôs, quando um algoritmo faz algum serviço pré-definido, como é o exemplo de chats automatizados. O segundo tipo de conta falsa são os ciborgues, que simulam ser pessoas reais, há uma estimativa de pelo menos 15% de ciborgues existentes só no Twitter (GUGELMIN, 2017, s/p.). A grande quantidade deles auxilia na disseminação de mentiras conformem replicam mensagens e geram familiaridade, incentivando militantes online. Segundo o 83 estudo do MIT, uma notícia fraudulenta precisa de 10 horas para alcançar 1500 usuários no Twitter, já uma informação verídica, 60 horas. "A equipe concluiu que o fator humano é mais importante na disseminação de notícias falsas" (LIMA, 2018, s/p.), apesar do pontapé ser dos bots. Há ainda os militantes que autorizam o uso de sua conta para curtir e engajar-se automaticamente com perfis estabelecidos, chamados de robôs políticos. As últimas classificações são os fakes clássicos, usados por pessoas para garantir anonimato, e os ativistas em série, "pessoas reais altamente prolíficas politicamente no Twitter e com postagens sobre eventos políticos em diferentes partes do mundo" (GRAGNANI, 2017, s/p.). O uso de bots é oferecido por dezenas de empresas que por meio de robôs e programas de computador que simulam e criam mídias, se valendo de falsas tendências e manipulando o debate pelo efeito manada nos comentários de notícias. Episódio de ataques semelhantes haviam acontecido com a ex-vereadora do PSOL assassinada em 2018, Marielle Franco. Boa parte das últimas mídias sintéticas é produzida pelos avanços em aprendizado de máquina - especificamente, uma técnica chamada "redes geradoras de adversários". Basicamente você lança duas redes neurais uma contra a outra usando os mesmos dados. A tarefa de uma rede é gerar alguma coisa - por exemplo, imagens convincentes. O trabalho da outra é distinguir imagens verdadeiras de falsas. Isso acelera o aprendizado - transformando-o num jogo de gato e rato contínuo - e torna as redes muito mais eficientes em gerar falsificações (BERINATTO, 2018, p. 52) Antes e depois das eleições, reportagens mostraram o uso de contas fabricadas também para pautar os assuntos em caixas de comentários em posts de redes sociais, ou para inflacionar um tema no Trending Topics do Twitter usando tags em outros países, como a Malásia, por exemplo. Jair Bolsonaro, ao lado do candidato Álvaro Dias (PODEMOS), não apenas endossaram tweets de contas falsas na campanha, como em seus perfis no Twitter há uma grande predominância de bots seguindo suas contas, no caso de Álvaro, 64% são bots (OLIVEIRA, 2018, s/p.), e Jair Bolsonaro possui mais de um quinto de contas fabricadas seguindo-o (WAKKA, 2018, s/p.). 84 Estudo inédito da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP) aponta que perfis automatizados motivaram debates no Twitter em situações de repercussão política brasileira desde as eleições de 2014. Na greve geral de abril de 2017, por exemplo, mais de 20% das interações ocorridas no Twitter entre os usuários a favor da greve foram provocadas por esse tipo de conta. Durante as eleições presidenciais de 2014, os robôs também chegaram a gerar mais de 10% do debate. (FGV/DAPP, 2017, s/p.) Em uma clara demonstração de manipulação do debate público, o ciberataque de hackers em um grupo no Facebook, Mulheres Contra Bolsonaro, deu dimensão do exército de bots e ativistas que o candidato do PSL dispunha durante a eleição. O grupo começou a angariar sucesso online passando da marca de 1 milhão de integrantes em poucos dias. A primavera das mulheres voltava a deixar sua marca na medida que organizaram grandes manifestações antes do primeiro e segundo turno da eleição contra o candidato do PSL (SETA, 2018, s/p.). Em poucos dias depois da divulgação dos grandes números na mídia, o grupo foi atacado por hackers que trocaram o nome da mobilização para "Mulheres com Bolsonaro", as integrantes do grupo logo foram ameaçadas com a possibilidade de vazamento de informações por parte dos hackers que compunham a milícia digital invasora (ESTADÃO, 2018, s/p.). Foi então que muitas usuárias saíram do grupo, depois bloqueado pelo Facebook ao notar as movimentações suspeitas. A intimidação não foi só online, dias depois, uma das administradoras foi agredida por três homens na rua (VITORIO, 2018, s/p.). Eduardo Bolsonaro coletou as informações que valiam a pena para sua narrativa e expôs em seu Twitter um "fato alternativo" para o episódio, jogando a opinião pública contra um movimento feminista e até a jornalistas, que ele classificou como "fake news" (BOLSONARO, 2018, s/p.). As brigas por narrativas se tornavam cada vez mais radicais às vésperas do segundo turno. De um lado, os anti-Bolsonaro pregavam um voto petista, sustentando uma noção de "tudo ou nada", e que quem não votasse no PT era fascista. Bolsonaro dizia que ia acabar com as doutrinações ideológicas, ao passo em que atacava a imprensa, as instituiçõe e a oposição bem como Trump, "a faxina agora será muito mais 85 ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria" (REUTERS, 2018, s/p.). Não havia exposições de ideias sem agressividade. Tanto nas redes quanto na campanha, o capitão reformado se valeu de sua vantagem em relação ao adversário nas pesquisas do Datafolha. Haddad pedia por debates que fossem para além das máscaras das redes, ato negado por Bolsonaro na resposta em que apelida o petista de "marmita de corrupto preso" (O GLOBO, 2018, s/p.). O ódio aqui, não era só incentivado pelo líder do rebanho ideológico em suas redes sociais, ele era acompanhado do orgulho de não debater, de não ter que ouvir o outro lado por desprezá-lo ao ridículo, justamente advindo da noção de se sentir superior ideologicamente. Em um país onde "a confiança das pessoas em notícias compartilhadas por amigos e familiares é o dobro da confiança em jornais" (MELLO, 2019, s/p.), a eleição do 38º presidente da República consolidou o relativismo da pós- verdade como a nova situação ideológica no país, simbolizado posteriormente no dia da posse do capitão. Os apoiadores de Bolsonaro receberam aos gritos de “comunistas” e “vão falir” os jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas credenciados para a cobertura no local, bem em frente ao Palácio do Planalto. Alguns deles tentaram boicotar as entrevistas da imprensa com os bolsonaristas, mas acabavam ignorados pelos dois lados. (...0 Em apoio à tática de comunicação direta do presidente com seus eleitores, pelas redes sociais, os presentes gritavam: “Facebook”, “WhatsApp”, “Record” e “SBT”. À emissora Rede Globo foram reservadas expressões negativas: “Globo lixo” e “Abaixo a Rede Globo”, ambas também usadas com entusiasmo pelos manifestantes de esquerda. (MARIN, 2019, s/p.) 86 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS: No início de janeiro de 2017, o livro "1984", publicado em meados do século XX pelo jornalista George Orwell, chegou ao primeiro lugar no catálogo de livros da Amazon. O romance de Orwell narra um futuro distópico, movido pelo controle do Estado sobre a população pela instrumentalização da verdade do grande líder, o Big Brother e o Partido. O motivo do retorno do clássico ao topo das leituras mundiais foi uma resposta a uma expressão proferida em 2017 para defender uma das narrativas do republicano Donald Trump: "fatos alternativos". Na ocasião, a internet espalhou imagens que comparavam a fotografia tirada no momento do discurso do republicano com imagens da posse do ex- presidente Barack Obama, em 2009. O resultado foi a exposição de um apoio menor por parte do eleitorado ao empresário em relação ao democrata. Foi então que o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, saiu em defesa de Trump alegando que a cerimônia do presidente tinha a "maior audiência de sempre a assistir a uma tomada de posse — ponto final — tanto em pessoa, como por todo o mundo” (HAMEDY, 2017, s/p.). A mentira foi desmascarada por imagens aéreas e em uma entrevista à emissora NBC. Na oportunidade, Kellyanne Conway, estrategista e conselheira de Trump saiu em defesa de Spicer alegando que o porta-voz apenas apresentou “fatos alternativos” uma vez que não era possível comprovar a veracidade do que foi dito por ele. As palavras de Kellyanne foram prontamente corrigidas pelo entrevistador Chuck Todd “então é uma mentira" (HAINS, 2017, s/p.). Na Alemanha, o termo ganhou o prêmio de “despalavra do ano”, título dado quando uma formulação não apresenta nexo. Após um ano de 2016 repleto de turbulência em discussões políticas do Brexit, referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia, e a eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a sociedade ocidental começou a se atentar para o controle da verdade, mas também para a conveniência que se instalava entre os militantes e eleitores. 87 Na obra 1984, Orwell apresenta a ideia do "duplipensamento": ato de aceitar simultaneamente duas crenças contraditórias como corretas, em contextos sociais distintos. O que Orwell já diagnosticava era o antepassado direto da pós-verdade. É inegável que a internet revolucionou a comunicação no mundo globalizado, e seus impactos ainda estão sendo compreendidos, mas é fundamental que livros como os de George Orwell sejam valorizados. O jornalista britânico viveu em tempos de grandes transformações mundiais e seus reflexos que semearam a intolerância e o ódio na Europa. O controle e monopólio sobre a verdade degrada a memória humana, reduz o saber crítico e leva a culpabilização em massa que caracterizou o stalinismo e o nazismo. Ainda que muito longe do autoritarismo, é perigoso quando o mundo começa a responder de forma mais aberta a ele, produzindo a falta de empatia que virou norma em um mundo com fronteiras tão líquidas, com identidades se dissolvendo e a busca desesperada por reafirmação. A valorização do direito aos próprios fatos mostra o quão indisposta a sociedade está em confiar nas relações humanas e seus elos pela verdade. A liberdade de expressão é um direito, mas não é direito absoluto, a pergunta "o Estado pode interferir na desinformação?" deveria ser "Como o Estado pode interferir para evitar a desinformação?", na medida que as fake news anulam o debate, prejudicam os negócios, colocam a saúde das pessoas em risco e atacam frontalmente o Estado de Direito e suas instituições ao banalizar a violência e a intolerância. O Estado já interfere em questões de liberdade de expressão justamente para garanti-la, como é o exemplo do sigilo da fonte do jornalista. O dilema de Karl Popper se faz necessário: ideologias que pregam a anulação da diferença, a verdade do um como única, devem ser anuladas justamente pelo seu caráter fascista? Ao silenciar o que grita pelo fim das instituições e da diferença, e valorizar os que são capazes de debater, independente do viés ideológico, não seria isso uma forma de resguardar o direito de liberdade de expressão? De garantir a convivência pública? Quem pode definir esse limiar de intolerância? 88 O desconhecimento do TSE em relação à indústria de desinformação, assumido pela própria presidente do tribunal ainda durante o pleito mostra o quão longe as instituições estão dessas respostas. É urgente a necessidade das instituições em diferenciar e definir o que é fake news e traçar um plano estratégico para frear a desinformação com políticas públicas efetivas que conscientizem a população dos riscos da desinformação e como detectá-las. O problema da liderança por parte do Estado reside nessa empreitada de definir o que é verdade ou não é, o que abre a possibilidade da transferência de monopólio para o braço estatal, fator que pode ser abrandado com um conselho mais plural, atualizado e participativo do que o conselho consultivo que esteve ativo durante as eleições de 2018. O futuro promete um obscurantismo maior, conforme a tecnologia avança e novas formas de trapaças são descobertas. Nesse ponto, pesquisas e softwares precisam ser desenvolvidos e voltados para batalhar com modelos cada vez mais sofisticados de desinformação. Não se deve confiar tão somente na crença de que a internet vai se curar sozinha e desenvolver mecanismos automáticos de detecção de desinformação. Pois é nesse contexto que surgem as fake news que mais exploram o caráter de credibilidade imagética da sociedade, conhecidas como Deepfakes: conteúdos feitos em computadores que são capazes de se valer de inteligência artificial para sintetizar fraudes em vídeo de personalidades dizendo ou fazendo algo. As Deepfakes representam um grande perigo no universo de desinformação online pelo seu potencial realista (KLAAS, 2019,s/p.). Durante a campanha eleitoral, o vídeo que vazou do governador eleito João Dória quase o colocou no segundo turno, e tratava-se de uma montagem nível Deepfake para muitos especialistas. Elas são capazes de imperar o processo democrático e "os métodos mais simples estão disponíveis na internet com código aberto. Ele não foi pensado para esse fim, mas a pessoa que baixou pode acabar usando dessa forma" (JORDÃO, 2018, s/p.). Por questionar tanta mentira, o pensamento crítico é a maior arma contra a pós-verdade, a possibilidade de manipulação e o estelionato eleitoral na democracia digital. É urgente a necessidade de incentivos de 89 educadores, políticos, jornalistas e agentes do Estado para reformar as escolas para além das decorebas do vestibular e polêmicas conspiratórias vazias. A suposta doutrinação apontada pelos integrantes do Escola Sem Partido não passa de um movimento conservador ultrapassado e que tenta se valer do seu slogan para pregar o fim do debate em nome das conspirações machistas e homofóbicas da ideologia de gênero. De forma tão autoritária, os deputados da Bancada Evangélica no Rio de Janeiro em 2019 vetaram qualquer menção à palavra gênero, reproduzindo o efeito tragicômico do veto à palavra "gênero alimentício" (AUTRAN, 2019, s/p.). Aqui, é impossível não lembrar de outro conceito desenvolvido em 1984 de Orwell, a novafala ou newspeak. O Big Brother tinha como meta a imposição de uma nova língua para os cidadãos da Oceania, que removia antônimos, sinônimos e palavras que pudessem remeter à qualquer forma de subversão, a intenção era não representar pensamentos errados chamadas "crimideias", ou crimethink, afinal, se não era possível definir algo, seria como se esse algo não existisse. O debate conspiratório assume bodes expiatórios, não apresenta soluções úteis para além de seu delírio e ainda exclui o debate. Para evitá-lo, é necessário controlar as mídias e os seus efeitos, pelo menos em um ponto em que elas não passem a nos controlar. Essa é a proposta da alfabetização digital da população, ou media literacy. Presente em algumas universidades americanas, a ideia é aliar a dinâmica digital ao aprendizado consciente e produtivo, abolindo o pensamento copy-paste doutrinador e passando pelo questionamento e amadurecimento emocional em debates e confrontações que saíam do ambiente de bolha. A criação de um fundo de pesquisas para media literacy foi liderada pelo Facebook junto a Universidade Pública de Nova York (CUNY) com o objetivo de "avançar na alfabetização midiática" (PORTAL IMPRENSA, 2017, s/p.) e terá investimento de US$ 14 milhões. Os perigos da desinformação online precisam ser encarados de forma mais séria, acompanhando e direcionando uma autonomia crítica que considere construir ao invés da crítica vazia e destrutiva. Tanto o jornalismo como a ciência precisam se unir para se conectar ao senso comum e barrar sua ideologização na pós-verdade, para isso é 90 necessário uma mudança de abordagens visando reconhecer a existência do conspiracionismo como uma relação de causa e efeito. Acreditar fielmente no academicismo e na ditadura dos números não produz efeito prático, porque desloca a verdade de um lado para outro em uma época onde todos ganharam voz e não querem mais se sentir passivos ou ignorantes, é importante entender que nesse sentido, estimular a pedagogia freiriana da construção de ideias por debates pode ser um caminho produtivo. O pensamento hierárquico apenas aumenta o abismo do cientificismo com o senso comum, deixando o cenário de debate político suscetível a preenchimentos de lacunas informacionais com conspirações ideológicas que se valem de preconceitos para atacar o apreço ao conhecimento, as críticas necessárias da arte e humor, o ensino de professores e a manifestação política de movimentos sociais de minorias representadas. Se exclusão gera mais exclusão, o compromisso com os fatos deve acompanhar a inclusão adaptada ao seu tempo, com uma valorização da estética no produto científico, se valendo de uma embalagem mais sedutora para uma época de espetáculo, sem perder sua característica essencial de apreço aos fatos. A busca por critérios mais bem definidos de apuração e parcerias com as plataformas - tendo em vista que a maioria dos brasileiros se informa em redes sociais, é um bom caminho. A exemplo do Novo Manual da Folha e o já citado Trust Project, apresentando e tentando desenvolver um papel mais transparente de seus atos, sendo inclusivo e menos apelativo. Neste ponto, outro exemplo importante foi a iniciativa Science Vlogs Brasil, que conta com 48 dos principais canais de divulgação científica no Youtube, e somam juntos 8 milhões de inscritos e 500 milhões de visualizações. A parceria entre os defensores do método científico e jornalístico de apuração com as plataformas é fundamental para compartilhar experiências entre os produtores de conteúdo, organizando um canal mais direto, pessoal e midiático em comum com o público online, sem perder o rigor do comprometimento factual. As redes sociais nunca vão deixar de atrair público. Produzir conteúdo científico nelas, melhorando sua divulgação, 91 apresentação emocional e até mesmo humor são as melhores estratégias para popularizar o conteúdo muitas vezes visto como massante. Ainda assim, o uso de dados nessas plataformas também tem se mostrado um problema que pode ser resolvido com maior rigor e interferência integrada junto às instituições no que diz respeito à criação de usuários, detecção e descontinuação de agentes ou conteúdos de ódio, além de mais parcerias relevantes com os sites e uma autonomia maior do usuário para controlar o seu conteúdo e os algoritmos que o definem. O Facebook melhorou, do discurso de classificar como "'loucura' a ideia de que notícias falsas em sua plataforma poderia ter influenciado a eleição de Donald Trump como presidente dos EUA", (GRAHAM-HARRISON, 2019, s/p.), passou a admitir parte de sua responsabilidade, e entre outubro de 2017 e novembro de 2018 removeu 2,8 bilhões de contas falsas. Mas ainda há um longo caminho, a plataforma foi incapaz de identificar redes de extrema-direita na Espanha em 2019, e que alcançaram quase 2 milhões de pessoas, ou no caso em que manteve noar o vídeo editado com especulações sobre a saúde da opositora de Trump, Nancy Pelosi. A Google desenvolveu projetos interessantes em parcerias com universidades para difundir uma educação digital, mas pecou ao não notar que em uma de suas doações para grupos com o intuito de ajudar o jornalismo a prosperar na era digital, mas repassou cerca de 50 mil euros para uma empresa de mídia húngara ligada a conteúdos de extrema-direita. Ao todo, o Google concedeu fundos para 103 projetos de mídia de 23 países (BAYER, 2019, s/p.), muitos especialistas afirmam que as ações das plataformas ainda permanecem pouco eficazes e mais preocupadas com RP, (MEDIAPOWERMONITOR, 2019, s/p.), uma vez que o lucro com conteúdo conspiratório ainda continua garantido. O Instagram, por exemplo, bloqueou hashtags de movimentos anti- vacina e para fazer a diferenciação com conteúdo conspiratório, "a plataforma vai usar informações da Organização Mundial da Saúde e outras instituições focadas em desmascarar dados cientificamente mentirosos" (FARINACCIO, 2019, s/p.). Resta um reforço na ética do fato e o trabalho de apuração jornalístico, uma cobertura de forma mais aprofundada e respeitando os 92 limites do tempo, com jornalistas que saibam entrar no fato sem sensacionalismo, promovendo uma visão mais integrada do que imediatista, querendo informar e ouvir os protagonistas do fato, mais do que tentar reproduzir a imagem ou estereótipo que não estimula a compreensão dos acontecimentos. Neste ponto, a iniciativa de jornais como A Folha de S. Paulo em usar recursos das plataformas de redes sociais, como as threads do Twitter, para juntar as notícias e formar um contexto conectado e mais claro entre cada fato é interessante, são abordagens no modelo conhecido por slow news. Outra iniciativa interessante da Folha foi a ideia de dar assinatura digital grátis por um ano a professores da rede pública. Por fim, um entendimento mais aprofundado e pesquisas a respeito da manipulação emocional, ouvindo o público e de que forma o jornalismo poderia se reinventar por essa nuance é essencial para criar novos manuais adequados aos tempos de pós-verdade. Os próprios personagens de Orwell em 1984 vivem o conflito de uma sociedade desconfiada, onde o fanatismo cria tantos inimigos imaginários que as arbitrariedades tiram os direitos de todos, sujeitos a serem denunciados por crianças ideologizadas e onde ninguém garante a paz de ninguém. Amadurecer politicamente no ambiente online se faz urgente, uma vez que ainda somos muito jovens nesse espaço público, ainda tentando entender as plataformas, o novo jornalismo e as próprias ideologias em transformação na Era do Imprevisto. O primeiro passo é buscar ver como interpretamos essa realidade, se ela vale a pena, se essa visão produz algo ou se só serve para agregar e segregar grupos ou trazer conforto cognitivo. A pós-verdade também tem muita relação com a ética de seu povo. Ela permite alucinações coletivas e seletivas, aplaudimos as posturas diante da corrupção, fato inédito no país, mas somos capazes de ao mesmo tempo alimentamos a noção de que a falta de ética não é relacionada a nossa postura diária também, somente existe em um setor, alimenta-se o pensamento simplista de que corrupção é coisa da política, de um espectro. Não é, nunca vai ser. Falta a palavra que consagrou as eleições, a tal da autocrítica. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi outro personagem da pós-verdade quando seu currículo inflado em Harvard foi descoberto, mas com a mentira em alta, isso não é exclusividade de 93 políticos, 75% dos currículos enviados aos RHs das empresas em 2018 no Brasil apresentaram embelezamentos. O fim do pensamento de anti-política é necessário, na medida que reforça a desconexão do eleitorado com seus representantes e reproduz heróis outsiders, que tanto podem estar mal intencionados como mal preparados para o cargo. O político é representante do povo, não inimigo. Vê-lo como funcionário se mostra essencial para não só valoriza-lo como também não tratá-lo de forma incontestável, e sim passível de erros humanos e com compromissos que precisam ser cumpridos, vemos mais lados e espectros, menos desinteresse e salvadores da pátria. No discurso de vitória, Bolsonaro se apresentou ao vivo junto a quatro livros, a Constituição, a Bíblia, o livro "Memórias da segunda guerra", de Winston Churchill, e o livro "Tudo o que você precisa saber para não ser um idiota", do guru Olavo de Carvalho. O escritor viria a ser elogiado e reconhecido como líder do movimento que o catapultou politicamente e nas palavras do presidente "teve um papel considerável na exposição das ideias conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela esquerda e que tanto mal fez ao nosso país" (MAZUI, 2019, s/p.). Olavo ainda recebeu a condecoração da Ordem de Rio Branco de Jair Bolsonaro. O escritor foi responsável por indicar o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e o Ministro da Educação, Ricardo Vélez, do governo Bolsonaro. Jair se elegeu pregando que todas as instituições brasileiras estavam contaminadas pelo petismo, e que essa seria a justificativa para tanta ineficiência e corrupção, onde o caráter técnico não era levado a sério, e sim o alinhamento ideológico. Seu discurso é incoerente com a prática, alinhada a manter animada as bases em favor da memecracia, ao atacar opositores. Logo o presidente foi contrariado por um membro da bancada evangélica que o apoiou, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), que se demonstrou insatisfeito com os primeiros nomes ventilados no MEC após a eleição, e disse “para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério, menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós” (FOLHA, 2018, s/p.). 94 Os próprios ministros indicados por Olavo e nomeados por Bolsonaro não possuíam especificações técnicas relevantes, muito pelo contrário, a mentira na propaganda política estimulou os ministros a inflarem seus currículos. Vélez errou em seu currículo 22 vezes, estimulou o Big Brother político com professores sendo filmados em sala de aula, a bandeira do governo se mostrou ideológica e perseguidora de qualquer opositor. Ao solicitar que crianças fossem gravadas cantando o hino nacional, Vélez não só estimulou um nacionalismo atrelado a slogan de campanha orwelliano, ainda deu pouco valor à necessidade de fontes em trabalhos bibliográficos, sem qualquer apreço à informações checadas. Em um governo de senso comum ideologizado não são necessárias referências e fontes, a verdade é o que o líder diz. O resultado foi tudo que ocorreu no MEC desde o começo do governo serviu como labuta para uma "despetização", esvaziando as funções de pastas tão importantes, onde em 3 meses 10 funcionários do alto escalão foram demitidos. Com a pasta parada, a coordenação do ENEM foi interrompida. Outra despetização, na Casa Civil, provocou um apagão administrativo na pasta. A ideologia cega procura significados, desculpas e explicações bizarras para nossas dissonâncias em teorias rudes que podem até mesmo causar malefício próprio, feito o humanitismo de Rubião em Quincas Borba, de Machado de Assis. Essa mentalidade conspiratória está "afundando" (BARIFOUSE, 2019, s/p.) o presidente, como disse uma companheira de sigla do presidente, a deputada estadual paulista Janaina Paschoal. Nos 3 minutos de ódio contra Emmanuel Goldstein, o opositor do Big Brother, simula o momento de hate em formato de comentários online contra PT ou PSL, contra uma corrente ideológica ou outra. Enquanto isso, a política não se mantém estática, mas seu campo de ação e transformação reproduzem uma lógica repetitiva de debate, e as violências diárias aos brasileiros continuam. As tragédias nos fazem lamentar "o fato ocorrido ontem, a gente parece estar anestesiado ou gostar da anestesia que nos faz esquecer desse fato, tão logo surge o fato de amanhã que receberá o 95 mesmíssimo tratamento" (BOECHAT, 2019, s/p.), a indignação se transforma em conveniência e por fim, nos silenciamos com tanta desgraça e mentira. A narrativa repleta de fake news e seu culto exagerado ao militarismo norte-americano e à violência institucionaliza as armas enquanto terceirização das responsabilidades de segurança do Estado, e reproduz um clima em que as armas são vistas como resposta para tudo, até à falta de diálogo. Aos poucos, as fuziladas online tomam forma de tiros em caravanas ou manifestações políticas, em um período onde não há espaço para o reconhecimento do outro. No meio de depoimentos que pregam execuções pública que negam a história ou o próprio preconceito racial brasileiro, há a banalização da violência racista e sua espetacularização, como fez Wilson Witzel. O governador carioca ganhou um mosaico próprio feito de cartuchos de bala e filmou uma operação da Polícia Civil, de um helicóptero, atirando numa tenda de oração em um morro carioca. Se valendo da narrativa de oposição entre a cidade e as favelas, Witzel se apoia no papel repressor do Estado nessas regiões para se legitimar no senso comum "de que os moradores de favelas são, em sua maioria, participantes do varejo das drogas imposto pelo tráfico na comunidade, o que não se justifica por nenhuma evidência empírica" (FRANCO, 2018, p.47). Apesar da falta de comprovação, o impacto do senso comum manipulado mostra suas faces na vida de milhares de brasileiros. O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2016, "produzido com informações das próprias forças de segurança registrou que 21.892 pessoas foram mortas pelas polícias entre 2009 e 2016, destas: 76,2% eram negros" (FÁBIO et al., 2018, s/p.). A bordo do helicóptero do populismo, o discurso de Witzel supera os fatos em números, como o de que a letalidade policial que ele tanto estimula em 2019 aumentou no Rio de Janeiro em 18% entre janeiro e março, na relação com o mesmo período em 2018, ano em que custou, ao menos, R$ 4,56 bilhões ao país e matou 6,2 vezes mais do que nos EUA. O resultado é a completa desinformação como cortina de fumaça para alimentar a base que continua a aplaudir política pública ineficiente e sem profundidade por meio de palavra de ordem e selfie. Em praticamente um século de repressão nas favelas brasileiras com a desculpa de 96 segurança pública, a violência nas ruas não diminuiu, pelo contrário, aumentou. O país possui índices de homicídio 30 vezes maior do que a Europa e o tráfico se expandiu, profissionalizou e corrompeu instituições apesar dos gastos bilionários e do genocídio da população negra e pobre nas favelas do Brasil. Perto do discurso atraente e fácil da repressão, os investimentos em educação, que tanto poderiam ajudar a sanar o problema de segurança, são descartados e até cortados. Quando o povo pede mais armas e menos livros, estamos mais perto de uma jihad do que de uma Coréia do Sul. Enquanto os caveirões sobem os morros buscando a trama de uma cena de Tropa de Elite, agentes e ex-agentes de segurança corruptos, chamados de milicianos, praticam extorsão e grilagem de terras com a população carente que Marielle Franco defendia pouco antes de ser executada. Sob a eterna égide de impunidade e autoridade do poder repressivo, em abril, a grilagem de milicianos vitimou mais de 20 pessoas na Muzema, zona oeste do Rio. Na Operação Os Intocáveis, a prisão de líderes milicianos levou à maior apreensão de fuzis na história da Polícia do Rio de Janeiro. Na ocasião, 117 fuzis M-16 foram encontrados na casa de um amigo de um miliciano, em um condomínio de luxo no norte da cidade. Diante desses fatos, e se valendo de um maniqueísmo relativista, a pós-verdade cria heróis e vilões eternos que viciam a mente, além de permitir um estado de leis e exceções paralelas ao Estado. Tudo isso é sustentado na defesa da política de execuções nas favelas por frases de "bandido bom é bandido morto", e na prática chega a absurdos como as duas vidas levadas nos mais de 80 tiros dados por militares em um carro de família negra no Rio de Janeiro, tudo sendo chamado de acidente. O Brasil chega ao cúmulo da pós-verdade quando destrói sua memória, relativiza os horrores da ditadura, e faz pouco caso para a identidade de seu próprio povo, na sustentação de um pensamento xenofóbico incompatível com a história de estrangeiros que ajudaram a criar o país de hoje. Tudo isso foi simbolizado na falta de empatia e crueldade vista em cenas de barbárie em Roraima onde brasileiros colocaram fogo em acampamentos de refugiados venezuelanos e compartilharam em redes sociais como se fosse um evento esportivo. 97 O futuro, assim como em 1984, é distópico, é de uma guerra sem fim que faz as mesmas elites políticas e econômicas lucrarem, mantendo um discurso esquizofrênico de revolta violenta e antidemocrática contra as instituições e a política do espectro opositor, e a conveniência de oligopólio dogmático tratado com os aliados, tudo sustentado por dinâmicas de opressão. A história do Brasil é desde sempre o dogmatismo aos aliados e a violência aos inimigos, explorando o oportunismo sem limites numa classe de nepotismo político concentrado na oligarquia do atraso e do privilégio, que prega o direito igual a todos mas que na prática alguns têm mais direitos que outros. Lemas tão conservadores para uma bandeira que se diz em nome do progresso. Isso não significa que a política deve ser extinta ou entregue a um monarca ou a um grupo nacionalista armado, significa de fato que precisamos ocupar espaços, se valer das novas conexões que surgiram para transformar a política num conceito amplo e de inclusão, e não destruí-la. Como disse Churchill, a democracia é a pior forma de governo, "com exceção de todas as outras" (SCHWARTSMAN, 2000, s/p.). A internet pode mudar isso, mas como um microondas, ela pode funcionar para alimentar as pessoas ou matar um gato, depende da intenção de quem o usa. É preciso autocrítica para se entender, empatia para entender o outro e informação factual para entender o país. A questão é: os brasileiros estão dispostos a usar sua insatisfação para rumar o caminho da ordem e do progresso por si? Ao vencedor dessa narrativa, as batatas. 98 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ABRANCHES, Sérgio. Presidencialismo de coalizão: Raízes e evolução do modelo político brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. 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