UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E LETRAS
JORNALISMO
JOÃO AUGUSTO RODRIGUEZ QUINTINO
PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018
NO BRASIL
São Paulo
2019
JOÃO AUGUSTO RODRIGUEZ QUINTINO
PÓS-VERDADE, FAKE NEWS E AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018
NO BRASIL
Monografia (Trabalho de
Conclusão de Curso) apresentada
ao Centro de Comunicação e
Letras da Universidade
Presbiteriana Mackenzie para
avaliação parcial do Curso de
Jornalismo.
Orientação: Profª. Drª. Márcia
Detoni.
São Paulo
2019
Este Trabalho de Conclusão de Curso não reflete a opinião da Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Seu conteúdo e abordagem são de total
responsabilidade de seu autor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a toda a minha família, que por ser tão diversa e paradoxal, me
ensinou que há várias formas de contar uma história, mas como diz minha
abuela, nunca se deve mentir ao fazê-la. Agradeço ao meu cachorrinho Cobi,
que me acompanhou crescer com isso e esteve ao meu lado nos piores
momentos de minha vida até onde pôde.
Agradeço aos meus pais, Willians e Marta, minha irmã Carolina; e meus
primos Gabriela, Fernanda e Pedro que foram tão importantes na construção
desse trabalho e como lidar com ele.
Agradeço aos meus amigos que me aguentam falando de fake news
incessantemente por tanto tempo, em especial Lucas Yoshio, Fernanda
Suguimoto, Leonardo Konishi, Júlia Smidt, Letícia Sayuri, Viviane An Chen
Chu, Letícia Namie, Asnate Ferreira, Marcelo Guo e Alexandre Ghefter.
Agradeço aos meus amigos colegas de faculdade, em especial Leonardo
Mantovani, Pedro Sanches, Lucas Berti, Gabriel Beleze, Letícia Oliveira,
Eduardo Ramos, Vitor Correia, Artur Ribeiro, Tárik El Zein e Pedro Romanos
que vão ser grandes jornalistas.
Agradeço a todos os excelentes professores do CCL na Universidade
Presbiteriana Mackenzie que me ajudaram com materiais e conceitos para
formar e desenvolver meu pensamento crítico, em especial Anderson Gurgel,
André Santoro, Carlos Sandano, Denise Paiero, Fernando Morais, Fernando
Pereira, Hugo Harris, Lenize Villaça, Mirtes de Moraes, Rafael Fonseca e a
minha orientadora que não aguenta mais ouvir falar de fake news, Márcia
Detoni.
Agradeço a todos os jornalistas, cientistas, professores e especialistas que
foram citados nesse trabalho, não só por me ajudarem a entender este
mundo, mas por continuarem lutando por uma sociedade progressista,
madura e bem informada. A educação e os fatos resistem, e sempre
resistirão.
"Entre o fogo e o chicote, ficam nossas memórias,
num país especialista em como deletar histórias.
Museu em chamas, o luto é sempre dobrado,
na pele de quem já nasceu com o passado apagado."
Cesar Mc
RESUMO
O presente trabalho pretende explorar as nuances multidisciplinares
da pós-verdade e como elas abriram espaço para a proliferação em massa
de desinformação e teorias da conspiração no Brasil durante as eleições
para a Presidência da República em 2018.
Esta monografia se dispõe, por meio de uma pesquisa bibliográfica
expositiva, entender as características principais da pós-verdade do Brexit e
do trumpismo e aplicá-los à realidade brasileira e ao pleito presidencial de
2018. Também tem como objetivo compreender os porquês psicossociais,
históricos, políticos e tecnológicos por trás do compartilhamento de fake
news e apontar estratégias para a melhor atuação da mídia e um melhor
entendimento das origens e manifestações de ideologias em períodos de
crise. A prioridade passa ser a construção de um debate limpo e um
afastamento das conspirações em todos os espectros, que somente pregam
dogma aos convertidos e indiferença (ou violência) aos opositores, além de
não apontar soluções ou políticas públicas eficientes.
Palavras-chave: Pós-verdade. Fake News. Jornalismo Conspirações.
Eleições. Brasil. 2018.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
1. A PÓS-VERDADE 7
1.1 VERDADES E MENTIRAS 10
1.2 MÍDIA, ESTADO E NARRATIVAS PELA VERDADE 13
1.3 INTERNET 19
1.4 PÓS-VERDADE ON DEMAND 23
1.5 FAKE NEWS 27
1.6 CONSPIRAÇÕES 28
2. A PSICOLOGIA DA MENTIRA 36
2.1 AS BOLHAS SOCIAIS 40
2.2 NARCISISMO IDEOLÓGICO E INVEJA 42
3. A PÓS-VERDADE NO BRASIL 46
3.1 AS JORNADAS DE JUNHO 50
3.2 GRITO, ORGULHO E PRECONCEITO 52
4. JORNALISMO EM ERA DE PÓS-VERDADE 63
4.1 FACT-CHECKING E NOVAS PRÁTICAS 65
5. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018 68
5.1 A DEEP WEB DE BOLSO: WHATSAPP 76
5.2 A SABOTAGEM DOS BOTS 82
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 86
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 98
1
INTRODUÇÃO
O ano de 2016 foi o marco do resgate do termo pós-verdade. Após a
divulgação do resultado do Brexit, referendo para a saída do Reino Unido da
União Europeia, a revista The Economist publicou em setembro do mesmo
ano a capa, "a arte da mentira: política da pós-verdade na era das redes
sociais", onde expunha um novo fenômeno notado na campanha de
partidários do Brexit. Nele, os eleitores deixaram de se chocar com as
mentiras de campanha e se apoiavam em conspirações ou notícias
fabricadas para sustentar sua opinião política. A mesma tendência era
observada entre eleitores do então candidato à presidência dos Estados
Unidos, o republicano Donald Trump, que entre suas declarações públicas
chegou a dizer que seu antecessor, o democrata Barack Obama, era
fundador do Estado Islâmico e havia nascido fora dos EUA.
Trump é o principal expoente da política da “pós-verdade” -
uma confiança em afirmações que “parecem verdadeiras”,
mas não têm base em fatos. Sua ousadia não é punida, mas
tomada como prova de sua disposição para enfrentar o
poder da elite. E ele não está sozinho. Membros do governo
da Polônia afirmam que um presidente anterior, que morreu
em um acidente de avião, foi assassinado pela Rússia.
Políticos turcos alegam que os autores do recente golpe
mal-sucedido estavam agindo sob ordens emitidas pela CIA.
A bem-sucedida campanha para que a Grã-Bretanha
deixasse a União Européia alertou sobre as hordas de
imigrantes que resultariam da iminente adesão da Turquia
ao sindicato (THE ECONOMIST, 2016, s/p.)1.
O termo resgatado pela revista, pós-verdade, foi cunhado em 1992
pelo dramaturgo Steve Tesich, em um artigo para a revista The Nation sobre
os escândalos de mentiras na política dos EUA, envolvendo os casos
Watergate, Irã-Contras e a Guerra do Golfo. “Nós, as pessoas livres,
decidimos livremente que queremos viver em um mundo de pós-verdade”
(TESICH, 1992, p.12).
1 Trump is the leading exponent of “post-truth” politics—a reliance on assertions that “feel
true” but have no basis in fact. His brazenness is not punished, but taken as evidence of his
willingness to stand up to elite power. And he is not alone. Members of Poland’s government
assert that a previous president, who died in a plane crash, was assassinated by Russia.
Turkish politicians claim the perpetrators of the recent bungled coup were acting on orders
issued by the CIA. The successful campaign for Britain to leave the European Union warned
of the hordes of immigrants that would result from Turkey’s imminent accession to the union.
(tradução livre)
2
Tesich chamava a atenção para a seletividade presente na análise
dos fatos por parte da opinião pública nos Estados Unidos em contraste à
imposição da verdade em governos autoritários, como em seu país de
origem, a Sérvia. A atitude que se desenhava era todos mentem,
especialmente nossos líderes, qual é o problema?, "ao que parecia, o peso e
o valor da desonestidade passou a ser sentida menos como exceção e mais
como a norma” (KEYES, 2018, p. 20). Na pós-verdade elucidada em 2016, o
mundo conheceu a forma de naturalizar a mentira e simular uma narrativa
com base em fatos alternativos.
[Quando] apresentamos razões para manipular a verdade de
modo que possamos dissimular sem culpa. Eu chamo isso
de pós-verdade. Ela existe em uma zona ética crepuscular.
Permite-nos dissimularmos sem nos considerarmos
desonestos. Quando o nosso comportamento entra em
conflito com nossos valores, o que somos mais propensos a
fazer é reconceber os nosso valores. Poucos de nós
queremos pensar em nós como antiéticos, muito menos
admitir isso para os outros, de modo que desenvolvemos
abordagens alternativas da moralidade. (KEYES, 2018, p.20)
Em meio a maior explosão informacional da história com a internet, o
mundo conheceu a epidemia das fake news, ou a desinformação online. Em
uma definição mais precisa, são "todas as formas de informações falsas,
imprecisas ou enganadoras criadas, apresentadas e promovidas para causar
prejuízo de maneira proposital ou para fins lucrativos" (MERELES, 2017,
s/p). Na internet "as notícias fraudulentas são 70 vezes mais compartilhadas
do que notícias verdadeiras" (GALILEU, 2018, s/p.).
As notícias falsas distinguem-se dos erros acidentais
justamente por sua natureza de origem fraudulenta. Apesar
de terem conquistado um espaço relevante especialmente
depois da campanha de Donald Trump à presidência dos
Estados Unidos, as fake news, que fazem parte do cenário
da “pós-verdade”, não são um fenômeno recente, embora
tenham se beneficiado enormemente da velocidade cada
vez maior de propagação de informações na internet de
forma geral, mais especificamente nas redes sociais e nos
aplicativos de trocas de mensagens (RAIS, 2018, p. 57)
No mesmo 2016, a pós-verdade também se consolidou no Brasil,
prova disso foi o compartilhamento de desinformação sobre a Operação
Lava Jato, palco de fake news em todos espectros políticos. Segundo o
Buzzfeed, em um ano, as 10 principais notícias falsas envolvendo a
3
operação tiveram 3,9 milhões de engajamentos, enquanto as 10 principais
notícias verdadeiras somaram 2,7 milhões (ARAGÃO, 2016, s/p.). Na
semana do impeachment, 3 das 5 notícias mais compartilhadas no Facebook
eram falsas e atingiram mais de 200 mil pessoas (SENRA, 2016, s/p.). A
pós-verdade no Brasil criou um ambiente propício para a disseminação de
fake news e a consequente mobilização em torno de conspirações no país,
aumentando a polarização que moveria a máquina de mentiras nas eleições
presidenciais de 2018.
Depois do fim do primeiro turno no pleito, a agência de checagem de
fatos, Lupa, estimou que as dez fake news mais compartilhadas no
Facebook tiveram quase 1 milhão de compartilhamentos (TARDÁGUILA,
2018, s/p.). Segundo outra agência de checagem, a Aos Fatos, de julho a
outubro de 2018, 113 boatos foram desmentidos pela agência sobre
eleições, cujo número de compartilhamentos somados acumularam ao
menos 3,84 milhões de posts no Facebook e no Twitter (LIBÓRIO; CUNHA,
2018, s/p.).
Durante a conferência "Brazil UK Forum" em maio de 2019, realizada
na London School of Economics e na Universidadede de Oxford, uma
pesquisa do Ideia Big Data com 1660 entrevistados apontou que 2 em cada
3 brasileiros receberam notícias falsas durante a eleição. "67% concordam
com a frase “eu certamente recebi fake news no WhatsApp durante a
campanha eleitoral em 2018”, enquanto 17% discordam e 16% nem
discordam, nem concordam". (MELLO, 2019, s/p.). Um estudo de 100.000
imagens políticas compartilhadas no WhatsApp no Brasil no período que
antecedeu a eleição de 2018 "descobriu que mais da metade continha
informações enganosas ou falsas; Não está claro quem estava por trás
deles" (BANJOO, 2019, s/p.).
Outros países como Sri Lanka, Malásia, Índia, México e África do Sul
registraram uma verdadeira disputa digital pelos fatos e que só vem se
expandindo: "um relatório de 2018 da Universidade de Oxford encontrou
evidências de campanhas organizadas de manipulação da mídia social em
48 países, contra 28 em 2017" (BANJOO, 2019, s,p.). Durante o período de
eleições para o Parlamento Europeu em 2019, os sites que publicaram fake
4
news conseguiram "engajamento de 1,2 a 4 vezes maior do que os veículos
tradicionais" (PEDERNEIRAS, 2019, s/p.).
Mas afinal, como a pós-verdade ganhou tamanha projeção desde o
início do século? Quais aspectos históricos, cognitivos, sociais, econômicos
e políticos tornaram as fake news tão relevantes para a formação da opinião
pública no Brasil e no cenário internacional? Como o jornalismo têm
respondido ao ambiente online conspiracionista? De que forma, dentro de
suas competências, a profissão pode se aliar ao público e ao Estado para
promover um debate sem desinformação e manipulação política?
Para responder a essas perguntas-problema, este trabalho de
conclusão de curso busca compreender os fatores que levaram ao
crescimento das fake news e o impacto que tiveram na opinião pública
nacional e internacional. Desta forma, a pesquisa de caráter expositivo
baseia-se em um levantamento bibliográfico, utilizando o conhecimento
disponível em artigos, livros e análises na mídia para entender o fenômeno
da pós-verdade.
Na pesquisa bibliográfica o investigador irá levantar o
conhecimento disponível na área, identificando as teorias
produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para
auxiliar a compreender ou explicar o problema objeto da
investigação. (KÖCHE, 2011, p. 122)
O sucesso da pós-verdade é uma crise de confiança para a sociedade,
sua saúde, sua economia e suas instituições.
No âmbito político, a pós-verdade tem construído um debate online
radicalizado que coloca em risco a própria democracia e a eficácia de suas
instituições. Quando o eleitor toma sua decisão de voto pautado em uma
informação falsa, ele está de fato se apoiando em uma noção deturpada da
realidade. À medida que essas informações falsas são espalhadas e
normalizadas, as decisões coletivas também se deterioram em favor de uma
manipulação política, e o resultado é um debate improdutivo, com narrativas
descompromissadas com os fatos e coniventes a uma ideologia, um político
ou um eleitorado que se julgará sempre dono da verdade. "A política e a
imprensa, só prosperam em sociedades democráticas, [...] onde a verdade
dos fatos é um valor. Se a verdade factual cai em desprestígio ou em
desuso, a imprensa perde relevância e a política simplesmente caduca"
5
(BUCCI, 2016, s/p.). A pós-verdade, a longo prazo, produz uma política
isenta de autocrítica e que caminha para o autoritarismo.
Isso é o que [Hannah] Arendt quis dizer com a banalidade do
mal. É a falta de consideração que permite não considerar
as consequências morais do que você está fazendo quando
implementa um novo sistema de transporte para a fabricação
de pessoas em cadáveres. [Adolf] Eichmann2 era um novo
tipo de criminoso para o século XX - não apenas um
assassino genocida, mas um inimigo da humanidade, porque
não podia nem pensaria do ponto de vista de ninguém além
de si mesmo (STONEBRIDGE, 2019, s/p.).
Conspirações sobre a vacinação criaram falsas atribuições no Reino
Unido, na esteira da popularização de boatos que atrelaram a imunização à
crescente incidência de diagnósticos de autismo. Como resultado, as taxas
de vacinação caíram de 92% para 73%, e perto de 50% em certas áreas de
Londres. O que resultou em surtos de sarampo e casos de morte. "Em junho
de 2008, a doença tinha uma vez mais se tornado endêmica na Grã-
Bretanha, 14 anos após sua total erradicação" (D'ANCONA, 2018, p. 69).
No Brasil, fake news compartilhadas em 2015 no contexto de epidemia
do zika vírus instalaram o desespero na população com mensagens
alertando sobre um lote vencido da vacina contra rubéola aplicada em
gestantes, e que supostamente "causou o aumento de casos de
microcefalia" (UOL, 2016, s/p.). Em 2017 o país teve o menor índice de
vacinação em crianças menores de 16 anos e o resultado de tanto boato
está custando caro: depois de 10 mil casos confirmados da doença, o país
corre risco de perder o certificado de país livre do sarampo.
Quem participa do debate político via Twitter pode ficar na
ilusão de que há um debate histórico sobre se o regime
instaurado em 1964 era uma ditadura ou não. Esta é a nova
realidade no mundo pós-redes sociais. O número de temas
passíveis de debate se ampliou. Debatemos, agora, se
houve ditadura no Brasil. Se vacinas são mesmo saudáveis.
Até se a Terra é realmente elipsoide (DORIA, 2019, s/p.).
A pós-verdade é tóxica também para as empresas, os negócios e a
economia, uma vez que a confiança é vital para transações e investimentos,
"um vídeo viral pode afetar a reputação e o preço das ações. Já estamos
2 Adolf Eichmann foi um dos arquitetos do holocausto do Terceiro Reich.
6
vendo notícias falsas serem usadas em esquemas de ações do tipo
inflacione e venda" (BERINATTO, 2018, p. 53). Entre assassinatos de
reputação, algumas campanhas viralizam rapidamente online, como foi o
caso dos boatos criados em fóruns da deep web de uma campanha do
Starbucks que supostamente dava desconto em seus produtos para
imigrantes vivendo nos Estados Unidos sem documentação (TAYLOR, 2017,
s/p.).
Um tweet da agência de notícias norte-americana
Associated Press, em 2013, divulgou a notícia que o então
presidente Barack Obama havia ficado ferido em uma
explosão. Rápido a notícia se espalhou. De nada adiantou a
agência afirmar que a conta havia sido hackeada: apesar da
notícia não aparecer em mais nenhum lugar, em minutos
US$ 130 bilhões sumiram das bolsas de valores do país.
(GALILEU, 2018, s/p.)
O risco para a democracia, diante desse quadro de desinformação
epidêmica, é desastroso. Entender os mecanismos da pós-verdade e como
ela se fortalece, para a elaboração de estratégias mais eficazes para
solucionar essa batalha pelos fatos é tarefa crucial para as sociedades
democráticas neste século digital.
Essa monografia aborda o tema em seis capítulos. O primeiro trata o
conceito da pós-verdade, como o fenômeno surge e as relações de Estado e
mídia que desembocaram em conspirações e fake news. O segundo capítulo
refere-se à psicologia da mentira, e como vieses cognitivos e de grupo
contribuem para o narcisismo ideológico nas redes que alimenta a
desinformação. O terceiro capítulo conta a história da mentira e da pós-
verdade na política do Brasil e como o radicalismo online se formou desde as
Jornadas de Junho, em 2013. O quarto capítulo aprofunda os dilemas do
jornalismo na era da pós-verdade, e como a profissão tem tentado combater
a desinformação com o fact-checking e novos manuais de redação. O quinto
capítulo relata como ocorreu de forma massiva a desinformação online no
Brasil durante o pleito presidencial de 2018. A conclusão tece uma crítica ao
relativismo excessivo e aos malefícios da pós-verdade para a sociedade e as
estruturas da democracia. Nele, também se avalia lições possíveis de se
aprender para a criação de um debate nacional mais produtivo que envolve o
jornalismo, as escolas, centros de pesquisa e outras instituições.
7
1. A PÓS-VERDADE
Em 2016 houve um pico de uso da palavra pós-verdade na internet,
que cresceu 2.000%, o que levou o termo a ser eleito a palavra do ano da
língua inglesa pelo Dicionário Oxford (FÁBIO, 2016, s/p.). A pós-verdade é
um fenômeno onde há uma aceitação de informação por um indivíduo ou
grupo de indivíduos, que assumem essa informação como verdadeira por
razões pessoais como preferências políticas ou crenças religiosas, por
exemplo (SIGNIFICADOS, 2018, s/p.).
A palavra composta pós-verdade exemplifica uma expansão
no significado do prefixo pós- que se tornou cada vez mais
proeminente nos últimos anos. Em vez de simplesmente
referir-se ao tempo após uma situação ou evento
especificado - como no pós-guerra ou pós-correspondência -
o prefixo em post-truth tem um significado mais parecido
com 'pertencer a um tempo em que o conceito especificado
se tornou sem importância ou irrelevante' (DICIONÁRIO
OXFORD, 2016, s/p.).
A pós-verdade não implica necessariamente em uma mentira, mas
sempre implica em uma negligência com relação a verdade e a busca por
explicações factuais e objetivas.
A política da pós-verdade é mais do que apenas uma
invenção das elites dominantes que foram superadas. O
termo seleciona o coração do que é novo: que a verdade
não é falsificada ou contestada, mas de importância
secundária. Uma vez, o propósito da mentira política era
criar uma visão falsa do mundo. As mentiras de homens
como o senhor Trump não funcionam assim. Eles não
pretendem convencer as elites, nas quais seus eleitores alvo
não confiam nem gostam, mas reforçar preconceitos (THE
ECONOMIST, 2016, s/p.)3.
O termo ganhou o prêmio de "palavra do ano", pelo Dicionário Oxford
em 2016, "a novidade não é a desonestidade dos políticos, mas a resposta
do público a isso. A indignação dá lugar à indiferença, e por fim, à
conveniência" (D'ANCONA, 2018, p. 34). Passa-se então de "uma ética de
3 But post-truth politics is more than just an invention of whingeing elites who have
been outflanked. The term picks out the heart of what is new: that truth is not
falsified, or contested, but of secondary importance. Once, the purpose of political
lying was to create a false view of the world. The lies of men like Mr Trump do not
work like that. They are not intended to convince the elites, whom their target voters
neither trust nor like, but to reinforce prejudices. (tradução livre)
8
estilo Menu à La Carte para outra de estilo buffet: selecionando e escolhendo
a qual obedecer” (KEYES, 2018, p. 24).
Na pós-verdade, as pessoas creem obstinadamente em
suas visões de mundo e apenas procuram aceitar aquelas
informações que confirmam suas crenças, que não são
postas em questionamento. Assim, perde a força de
persuasão o contraste de argumentos, e as pessoas
sucumbem a boatos, sem propensão a analisar os fatos.
Esse é um caldo de cultura propícia à disseminação das fake
news. (RAIS, p. 80, 2018)
Importada dos Estados Unidos pelo Brasil, a pós-verdade nasce da
mistura de diversos fatores. Um deles é a resposta da população frente às
mentiras dos políticos como arma de propaganda política e coesão social,
normalizada com o tempo, no âmbito de tantos escândalos institucionais.
A pós-verdade é multidisciplinar, dividindo-se entre a política,
psicologia, sociologia e tecnologia, mas sua principal característica é valer-se
do emocional das pessoas, se apegando aos "ressentimentos específicos do
público" (D'ANCONA, 2018, p. 27). Portanto, é um fenômeno que ganha
proeminência e força em épocas de crises e convulsões sociais que
despertam as paixões humanas intensas, como o ódio, por exemplo. O Brexit
foi marcado pela noção "perniciosa de que a mobilidade social da população
é um jogo de soma zero: aqueles que vêm para o Reino Unido são um
bando de parasitas que privam os britânicos nativos de lugares nas escolas,
moradias, empregos" (D'ANCONA, 2018, p. 29).
A pós-verdade requer uma vida em estrutura de show na
qual a sala de aula é o ensaio do espetáculo. A atitude
estética, humorada e flexível, corrobora este cenário no qual
é mais importante quem está falando, com seu carisma e
estilo, do que argumentos, demonstrações ou provas de
qualquer autoridade anônima que se apresenta como
desinteressada. A confiança na última palavra e o consenso
do momento são o que importa. Divergentes merecem no
máximo o tratamento de “inclusão” e no mínimo o desprezo
silencioso. Como se nenhuma conversa que não possa ser
resolvida em menos de quinze minutos valha a pena.
(DUNKER et al., 2017 p. 24)
"A decepção política é subserviente à pós-verdade" (D'ANCONA,
2018, p. 122), nela, os debates políticos se reduzem à criação de imagens
políticas populistas que nunca erram ou mentem, defendidos com empenho
por seus partidários polarizados. A descrença nas instituições, atrelada à
9
insatisfação e as mentiras na política, contribuiu para que tanto no Brexit
quanto na eleição presidencial americana em 2016 houvesse a manifestação
de um voto de protesto contra a classe política e seu status quo. Na era do
imprevisto, onde o futuro é incerto em meio a mudanças climáticas,
econômicas, digitais, sociais e políticas tão marcantes, há o aumento da
"ampliação da margem de ação dos indivíduos nessa sociedade de transição
e risco", (ABRANCHES, 2017, p.73), essa ação tomou forma de um grito
pela retomada do controle. As duas campanhas "iluminaram a paisagem em
transformação, cujo surgimento a classe política e midiática falharam em
registrar", (D'ANCONA, 2018, p. 21-22).
E não só na sociedade ocidental a desinformação massiva foi usada
como arma política. O jornalista britânico Peter Pomerantsev (2016, p. 271-2)
descreve a Rússia do presidente Vladimir Putin nesses moldes, mas se
valendo da mídia para disseminar notícias manipuladas em diversas
plataformas, simultaneamente. A tática foi usada para legitimar conflitos e
atitudes do presidente russo em prol da dezinformatsiya4, principalmente
depois da eclosão da crise na Criméia, em 2013. Mais tarde, a estratégia
viria a ser batizada de Firehose of Falsehood. O alto número de canais e
mensagens russas tinha a disposição clara de disseminar verdades parciais
ou ficções, criando uma nuvem de propaganda que "entretém, confunde e
sobrecarrega o público. Também é rápida, contínua, repetitiva e sem
compromisso com a consistência". (PAUL; MATTHEWS, 2016, p.1)
A pós-verdade transfere a autoridade da ciência ou do
jornalismo sério para a produção das opiniões criando certos
efeitos. A dificuldade em abordar o problema da ciência em
toda a sua complexidade exige a cobertura de uma área
muito extensa com preceitos simples e abrangentes. Aliás,
nada mais tentador do que pular os dados técnicos, os
detalhes e as incertezas de um problema real com uma boa
opinião de conjunto, ainda mais se ela for sancionada pela
“razão universal”, que limpa o terreno e nos dispensa de
considerar certos ângulos adicionais e excessivos na
matéria. Assim vamos comprando a ideia de que existem
coisas científicas e coisas “opinativas” ou digamos
“políticas”.
(DUNKER et al., 2017, p. 39-40)
4Tática de desinformação russa que se vale de um grande volume de produção de
informações fraudulentas.
10
Na pós-verdade, jornalistas, cientistas e professores, estigmatizados
em seus edifícios de conhecimento, são caçados pelo senso comum
ideologizado. Trump, ao atribuir o aquecimento global a uma teoria criada
pela China para diminuir a economia americana ou ao exclamar na Casa
Branca "eu não vou te deixar fazer uma pergunta porque você publica
notícias falsas. Quieto!" (THE DAILY BEAST, 2017, s/p.) a um dos repórteres
da CNN, veículo que ele chamou de fake news, mostrava qual caminho
deveria ser seguido: o que retirasse a autoridade da ditadura dos dados que
a ciência e o jornalismo supostamente pregam, conferindo empoderamento
às opiniões do senso comum ideologizado.
Se a tecnologia digital é o hardware, a pós-verdade provou
ser um software poderoso. Ela reduz o discurso político a um
videogame em que o jogo interminável, em múltiplo níveis, é
o único ponto de exercício. Quando Trump twittou que a
“Mídia fake news” era a “inimiga do povo”, ele não estava
apenas se apropriando do léxico da autocracia. Ele estava
recomendando que os cidadãos norte-americanos se
comportassem como jogadores, pegassem seus consoles e
mirassem nos vilões que carregavam caderninhos de
anotação. É tudo uma questão de escolha de times,
intensidade de sentimentos e escalada dos insultos. É a
política do puro espetáculo (D'ANCONA, 2018, p. 58-9).
1.1 VERDADES E MENTIRAS
Definir o que é verdade sempre foi um desafio da humanidade. Em
passagem de João (18:38) na Bíblia, nem mesmo Jesus conseguiu
responder à pergunta de Pilatos, "O que é a verdade?" (RAIS, 2018, p.222).
O filósofo grego Protágoras pensava de uma forma mais relativista, em que
qualquer coisa “é para mim tal como me pareça, e é para você tal como lhe
pareça. Vários séculos depois Hobbes afirmou que “Verdadeiro ou Falso são
atributo do discurso, não das coisas” (KEYES, 2018, p.143).
Há ainda, um eurocentrismo na visão que fixa a distribuição de
verdades e mentiras como um fenômeno originado na Europa. Quando a
linguagem humana começou a ser usada entre os Homo sapiens, esse
momento "estava muito proximamente relacionado ao momento em que um
homem inventou uma história, um mito a fim de desculpar um erro que ele
cometeu" (KEYES, 2017, p. 27). Seja para impressionar alguém ou para
11
sobreviver, a capacidade de enganar aprimorou a habilidade do homem de
não apenas caçar presas, escapar predadores ou impedir inimigos, a
verdade tornou-se ao longo do tempo, um agregador social.
Historicamente, os grupos sociais têm tido uma atitude
fundamentalmente diferente em relação a dizer a verdade a
conterrâneo e dizer a verdade a estrangeiros. [...] Ludibriar
estranhos não era considerado mais pecaminoso do que
ludibriar um bisonte a despencar de um penhasco. (KEYES,
2018, p. 31-32)
A mentira já foi vista como um remédio inevitável se usado como
motivo político. O filósofo grego Platão, que detestava mentirosos, "abriu
uma exceção para o governante que, por vezes, sonega aos governados
uma informação [...] desde que no interesse da própria cidade" (BUCCI,
2016, s/p.). No século XVI, Nicolau Maquiavel estabeleceu a mentira como
uma prerrogativa válida a ser usada por um bom governante. O profeta
Maomé valorizava a verdade entre os seus seguidores, sendo necessário o
uso da mentira apenas para preservar a harmonia doméstica (KEYES, 2018,
p. 35). A verdade como um valor para todos independente da crença foi
apontada pelo filósofo Agostinho de Hipona em 395 d.C.
Com a constante manipulação dos fatos, a procura por explicações
ausentes de dogmas se tornou fundamental para desamarrar as cordas da
sociedade contemporânea, desvinculando de alguma entidade, seja o
Estado ou a Igreja, seu monopólio exclusivo sobre a verdade, como
defendiam os iluministas já no século XVIII. O filósofo Immanuel Kant dizia
que a verdade "é um dever que deverá prevalecer sempre e, como tal, é
considerado base de todos os outros deveres. Da mesma forma, a verdade é
essência de todos os princípios e somente por meio dela é que será possível
compreendê-los" (RAIS, 2018, p. 222). Outro iluminista, Thomas Jefferson,
em seu “projeto de lei para a maior difusão geral do conhecimento”, de 1779,
expressou precisamente a necessidade da verdade como anteparo contra o
autoritarismo e a ditadura:
Mesmo sob as melhores formas [de governo], aqueles a
quem foi atribuído poder, no devido tempo, e por meio de
lentas operações, perverteram-se na tirania; e acredita-se
que a maneira mais eficaz de impedir isso seria, iluminar, na
medida do praticável, as mentes do público em geral e,
sobretudo, dar-lhe conhecimento desses fatos, que a história
exibiu [...] eles podem ser capacitados a perceber a ambição
12
sob todas as suas formas e impelidos a exercer seus
poderes naturais para derrotar os intentos dela (D'ANCONA,
2018, p. 91).
Se antes a verdade era usada como meio de coesão social, é nos
anos 1960 com os pós-modernos Michel Foucault, Richard Ashley, Jean-
François Lyotard, Jacques Derrida, Jean Baudrillard, Theodore Adorno e
Walter Benjamin que o relativismo renasce e vira uma resposta, em forma de
subversão, a tudo que representava a verdade difundida pelas elites
políticas, econômicas, brancas e masculinas.
O relativismo tem sido ascendente desde que as guerras
culturais começaram nos anos 60. Naquela época, era
abraçado pela Nova Esquerda, que estava ansiosa para
expor os preconceitos do pensamento ocidental, burguês e
dominado pelos homens; e por acadêmicos promovendo o
evangelho do pós-modernismo, que argumentava que não
existem verdades universais, apenas pequenas verdades
pessoais - percepções moldadas pelas forças culturais e
sociais do dia a dia. Desde então, argumentos relativistas
foram sequestrados pela direita populista. (KAKUTANI,
2017, s/p.)5.
A pós-verdade e seu relativismo aparecem como uma segunda onda
dentro do movimento pós-moderno. A estrutura de verdade criada pelo
sistema político e disseminado em formato de mídia, foi rompida pela noção
desses teóricos que questionavam a natureza daquelas verdades
institucionais enquanto opressão ideológica.
Muitos antropólogos, por exemplo, afirmam que não há
qualquer racionalidade que tenha validade universal, mas
apenas diferentes racionalidades de diferentes culturas.
Segundo essa doutrina, a que podemos chamar
“relativismo”, a verdade é múltipla e depende do ponto de
vista do sujeito ou do contexto em que é formulada. Assim,
todas as afirmações, sejam científicas, filosóficas, religiosas,
etc., seriam diferentes “narrativas”, que deveriam ser
compreendidas em seus respectivos contextos históricos,
culturais e lingüísticos, pois apenas revelariam os
preconceitos culturais de diferentes narradores. Os critérios
de verdade, dizem-nos, são relativos às diferentes práticas e
5Tradução: Relativism has been ascendant since the culture wars began in the
1960s. Back then, it was embraced by the New Left, who were eager to expose the
biases of western, bourgeois, male-dominated thinking; and by academics promoting
the gospel of postmodernism, which argued that there are no universal truths, only
smaller personal truths – perceptions shaped by the cultural and social forces of
one’s day. Since then, relativistic arguments have been hijacked by the populist
right.
13
culturas e não há qualquer juiz ou padrão de racionalidade
imparcial e superior capaz de avaliar essas diferentes
narrativas (SILVA, 2005, s/p.).
Apesar da atitude contestadora, os teóricos pós-modernos não
imaginavam que futuramente suas teorias colocariam em cheque a base
integral das instituições em nome do construto social. Apesar dos autores
inspirarem uma forma mais pluralista de se ver o mundo, "seus discursos, ao
questionarem a própria noção de realidade objetiva, desgastaram muito a
noção de verdade. Seu terreno natural era a ironia, a superfície, o
distanciamento e a fragmentação" (D'ANCONA, 2018, p. 85).
Por mais que seja válida intelectualmente, a dificuldade de
identificar o que é objetivamente verdadeiro não nos dá
licença para dizermos, como se fosse verdadeiro, o que
sabemos ser falso. Infelizmente uma conclusão leva muito
facilmente à outra. Uma vez que decidamos que a verdade é
um construto social, segue-se facilmente que mentir não
pode ser tão ruim afinal. [...] Se não podemos distinguir
verdade de mentiras, será que a honestidade não é
superestimada? (KEYES, 2018, p. 144).
1.2 MÍDIA, ESTADO E NARRATIVAS PELA VERDADE
As notícias fraudulentas sempre existiram. Alguns registros datam que
desde a antiguidade foram escritas calúnias e difamações por historiadores
para manipular o debate e entendimento da verdadeira trajetória dos fatos.
Procópio foi um historiador bizantino do século 6 famoso por
escrever a história do império de Justiniano. Mas ele
também escreveu um texto secreto, chamado "Anekdota", e
ali ele espalhou "fake news", arruinando completamente a
reputação do imperador Justiniano e de outros. Era bem
similar ao que aconteceu na campanha eleitoral americana.
(VICTOR, 2017, s/p.).
Entender o ambiente do jornalismo e sua evolução, principalmente
nos Estados Unidos que tanto influenciou o comportamento da imprensa
brasileira, é fundamental para compreender a evolução do monopólio da
interpretação dos fatos e o surgimento da pós-verdade atrelada à criação de
narrativas.
Com a popularização do jornal nos lares americanos, por volta de
meados do século XIX, a imprensa enfrentou uma sociedade em plena
14
transformação social. Beirando a modernidade, as cidades norte-americanas
ganhavam corpo num contexto onde tudo o que era sólido se desmancha no
ar, tudo o que era sagrado agora é profanado e o homem moderno é
obrigado a encarar, finalmente, com sentidos sóbrios suas reais condições
de vida. Com um público tão grande e diverso em Nova York, Joseph Pulitzer
e Willian Randolph Heartz utilizavam diversas formas e conteúdos
sensacionalistas para ganhar visualização, se valendo de gatilhos
emocionais, como medo, ódio e amor, o que viria a marcar os traços de um
jornalismo ainda adolescente. O período nomeado de ‘jornalismo amarelo’
persistiu até a 1910 e foi muito caracterizado pelo uso massivo de
propaganda com forte viés editorial e baixa credibilidade, (EMERY; SMITH,
1954, p.415-16). Nessa época a expressão "fake news" foi usada
massivamente pela primeira vez (FALLON, 2017, s/p.).
No começo do século XX, o mundo logo se deparou com um conflito
sem precedentes, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), com várias
potências lutando pela hegemonia do mundo. Ligado à capacidade industrial
de cada país, o conflito inaugurou um embate global de narrativas.
À medida que cada país se comprometeu politicamente com
a guerra, surgiu a necessidade mais crítica e urgente de
forjar elos sólidos entre o indivíduo e a sociedade. Tornou-se
essencial mobilizar sentimentos e lealdades, instilar nos
cidadãos ódio e medo contra o inimigo, manter elevado seu
moral diante das privações e captar-lhes energias em uma
efetiva contribuição para sua nação (DEFLEUR, 1993, p.86).
As mentiras também foram utilizadas para moldar a opinião pública de
governos e manipulá-los pela emoção. Um general britânico de brigada, J. V.
Charteris, fez uma colagem de duas imagens – uma foto de cadáveres de
soldados alemães sendo levados para um enterro atrás da linha de frente e
outra foto de cavalos mortos a caminho de uma fábrica alemã que fazia
sabão com os animais. A foto que Charteris enviou para Xangai supunha que
cadáveres alemães estavam a caminho de uma fábrica de sabão. A
profanação com o corpo dos mortos foi considerado um dos motivos pelos
qual os chineses declararam guerra contra a aliança alemã tempos depois.
Era uma teoria relativamente simples e coerente com a
imagem da sociedade de massa que era a herança
intelectual do século XIX. Admitia que estímulos claramente
concebidos atingiriam cada indivíduo da sociedade de
15
massa através da mídia, que cada pessoa os perceberia da
mesma maneira geral, e que eles provocariam uma reação
mais ou menos uniforme de todos (DEFLEUR, 1993, p.87).
Essa batalha de narrativas foi arrastada também para as décadas
seguintes. Com a chegada da Segunda Guerra (1939-1945), os EUA
investiram em peças midiáticas contra o nazismo, filmes, artigos e até
histórias em quadrinhos. No eixo, Hitler sustentava sua posição nos
Protocolos do Sábio de Sião6, e o ministro de propaganda da Alemanha do
terceiro Reich, Joseph Göebbels, criava a sua própria visão dos fatos pró-
nazismo, valendo-se do pressuposto de que uma mentira repetida mil vezes
torna-se uma verdade.
Por períodos bem longos, de qualquer forma, pessoas
podem permanecer imperturbáveis ante evidentes mentiras,
porque simplesmente se esquecem de um dia para o outro
do que foi dito, ou porque estão sob um bombardeio tão
constante de propaganda que ficam anestesiadas com tudo
o que acontece. (Os nazistas) apenas dizem a cada um o
que acham que ele gostaria de ouvir supondo que
provavelmente com razão, que ninguém se interesse pelos
problemas alheios (ORWELL, 2017, p.93-4).
Nessa época, o jornalista britânico George Orwell, que foi uma das
principais vozes contra o totalitarismo, escreveu reflexões importantes sobre
a manipulação da informação por parte dos regimes como uma estratégia
para se controlar o passado e consequentemente o futuro.
A verdadeira história dessa guerra nunca seria ou poderia
ser escrita. Números exatos, relatos objetivos do que tinha
acontecido, simplesmente não existem. E se Franco ou
qualquer um semelhante a ele permanecer no poder, a
história de guerra vai consistir bem amplamente de ‘fatos’
que milhões de pessoas viventes sabem serem mentiras.
Assim, para quaisquer finalidades práticas, a mentira terá se
tornado verdade (ORWELL, 2017, p.76-7).
No contexto da Guerra Fria, tanto a máquina midiática americana
como a soviética produziram mentiras e boatos de forma a distorcer a
opinião pública, usando o apelo emocional como medo e o ódio. Nos EUA, o
contexto da cruzada anti-comunista do presidente Joseph McCarthy, o
macartismo (LESME, 200?, s/p.), e o escândalo posterior envolvendo a
6 Texto antissemita que descreve um suposto projeto de conspiração por parte dos judeus e
maçons de modo a atingirem uma suposta dominação mundial através da destruição do
mundo ocidental.
16
guerra do Vietnã, Pentagon Papers (UPI, 200?, s/p.). Na URSS, mais boatos
e várias acusações de que os estadunidenses teriam criado o vírus da HIV
(QLU, 2017, s/p.). O sentimento nacional tomou formato de propaganda
televisiva, "os cidadãos tinham de odiar o inimigo, amar sua pátria e devotar-
se ao máximo ao esforço de guerra" (DEFLEUR, 1993, p.86). Incentivada por
líderes de governos, a ideologia hegemônica era fatalista e pregava uma
verdade ampliada ao âmbito nacionalista e legitimadas pela relação do
estado com a mídia (IANNI, p.12, 1999).
A raiz da pós-verdade também está ligada à mídia. Mais
especificamente, “ao surgimento da televisão. Seus espectadores são
inundados, desde a primeira infância, pelas mentiras, meias-verdades e
totais enganações desse meio” (KEYES, 2018, p. 173), um mundo de
fronteiras onde o analógico e o digital ganham contornos cada vez menos
definidos por realitys shows.
O show na TV construiu credibilidade com o emocional dos cidadãos
e, aos poucos, se normalizou. O resultado foi a vida cotidiana, comparada ao
consumo e aos impulsos pós-modernos, se tornando opaca e
desinteressante frente à espetacularização das telas. Aos poucos, a fronteira
entre a simulação e o real se dissipava, transitando "entre textos verbais e
imagéticos como uma produção publicitária, a verdade para ver, sem
necessariamente ser verdade. A verdade que cola" (DUNKER et al., 2017,
p.114).
O espetáculo consiste na multiplicação de ícones e imagens,
principalmente através dos meios de comunicação de
massa, mas também dos rituais políticos, religiosos e hábitos
de consumo, de tudo aquilo que falta à vida real do homem
comum: celebridades, atores, políticos, personalidades,
gurus, mensagens publicitárias - tudo transmite uma
sensação de permanente aventura, felicidade, grandiosidade
e ousadia. O espetáculo é a aparência que confere
integridade e sentido a uma sociedade esfacelada e dividida.
(JÚNIOR, 2001, p. 69)
Na sociedade de consumo de massa "a quantidade tornou-se
qualidade" (BENJAMIN, 1975, p. 31), e a explosão de impulsos se torna
essencial. "Os homens são entregues a si mesmos, mas se tornaram
estranhos a si mesmos, “alienados”, perdendo suas raízes e suas
17
comunidades de pertencimento, são suscetíveis de serem manipulados".
(MAIGRET, 2010, p. 97-98).
A pós-verdade toma uma forma de espetacularização dos fatos na
esteira da popularização da mídia nos anos 80 com o presidente dos EUA
Ronald Reagan, um ator que se aventurou na política com forte apelo
emotivo, difundia sua imagem como um mito que caía "como luva às
técnicas narrativas do telejornovelismo, que descrevia a Guerra Fria como a
luta do “Bem” contra o “Mal” (JÚNIOR, 2001, p. 226).
O republicano foi impulsionado sob forte propaganda em que
"romanceava assuntos grandes e pequenos com o aprumo de um artista
experiente, então parecia surpreso quando sua honestidade era
questionada” (KEYES, 2018, p. 127). Reagan se apresentava como salvador
das desilusões americanas carregando o embate macartista e midiático da
guerra fria estadunidense, se antes para viver a modernidade era necessária
a verdade, agora, segundo o pós-moderno Baudelaire, "era preciso ter
constituição de herói" (KEHL, 2019, p.28). Não por acaso, "a 'era Reagan'
fabricou Rambo, o guerrilheiro símbolo da luta contra o comunismo e
portador dos ideais da Grande América." (JÚNIOR, 2001, p. 226).
Se valendo do pensamento de "mitos úteis são mais significativos do
que as verdades estéreis" (KEYES, 2018, p. 142), misturado ao relativismo
dos pós-modernos, a conhecida geração “Baby Boomer” surge no mundo
ocidental. Ela foi não só impactante por sua grande quantidade de pessoas,
mas também por seus apelos emocionais tão fortes e que valorizavam a
espontaneidade e o individualismo, muito mais do que a geração de seus
pais que eram fiéis às verdades instituídas. "Mesmo aqueles que não
aderiram a esse credo estavam cercados por uma cultura consumida por
abrir-se emocionalmente" (KEYES, 2018, p. 183).
Como artistas e políticos, eles [boomers] não se sentem
isentos de ética, e sim detentores de uma ética singular.
Trata-se de mais um caso de alt.ética em ação, neste caso,
uma baseada no pressuposto boomerista de que, porque a
sua integridade é um dado, eles não precisam respeitar os
padrões morais que se aplicam aos meros mortais [...] eles
têm um curioso código ético: “Já que eu disse, deve ser
verdade. Mentiras são coisas que outras pessoas dizem. [...]
Sou uma pessoa honesta. Eu disse isso. Portanto, o que eu
disse é a verdade. (KEYES, 2018, p. 185-191)
18
O apelo emocional se aliou à crise de credibilidade crescente na mídia
tradicional e foi fundamental para a pós-verdade uma vez que abriu espaço
para o relativismo e a narrativa própria. A forma como os usuários avaliam o
jornalismo usando como referência apenas seu viés pessoal é fator
preponderante nesse enfraquecimento a mídia. Um estudo conduzido a partir
da cobertura da mídia no massacre de Sabra e Chatila em 1982 no Líbano
(VALLONE; LEPPER, 1985, p. 577), descobriu o efeito da mídia hostil. Neste
estudo, três grupos ideológicos (um pró-Israel, um pró-Líbano e outro neutro)
trataram de avaliar o impacto da imprensa na opinião pública a respeito do
massacre.
O que se descobriu foi que entre esses grupos a mesma cobertura
imparcial da imprensa foi vista como neutra, enviesada para ataque ou para
defesa de Israel. Ou seja, o viés estava muito mais associado ao receptor do
que ao trabalho da mídia de fato. Para a pós-verdade, nada mais fácil do que
as pessoas tratarem a mídia como hostil, assim fica mais fácil ignorar os
fatos e assumir um papel enviesado para aproveitar o engajamento em
grupo.
O mundo ocidental já acompanhava os efeitos de cem anos de
jornalismo quando os EUA entraram na Guerra do Golfo em 1991. O
espetáculo por trás da notícia virou regra e apresentou uma releitura da
cultura islâmica de forma completamente pejorativa, patrocinada pela
televisão, e que viria a ditar debates futuros como a islamofobia.
[Foi o] suposto choque civilizatório entre os Estados Unidos
– portador de valores cristãos, democráticos e pluralistas da
civilização ocidental, e o Iraque – representante do Islã, uma
religião intolerante sustentada por fanáticos terroristas que
ainda vivem no tempo dos camelos e obrigam suas mulheres
a usar véu.[...] Milhões de telespectadores acreditam que,
praticamente, não houve mortes na Guerra do Golfo, porque
viram na televisão tratar-se de uma “guerra limpa”, mesmo
quando eram advertidos de que as imagens haviam sido
censuradas por Washington por “razões de segurança
nacional” (JÚNIOR, 2001, p.116-8).
Apesar de apresentar uma visão distorcida, a cobertura da guerra no
Iraque chamou atenção para a mudança na postura da sociedade
americana. Nos anos 60, na guerra do Vietnã por exemplo, a cobertura da
19
mídia foi decisiva para mostrar a violência excessiva do conflito, mas, anos
depois, a mídia e a população foram colocados em xeque, sobre o dilema de
saber dos fatos e se incomodar com eles, ou fechar os olhos e viver em uma
simulação, nos moldes de um show. Naquele momento, narrativas paralelas
conviviam e a pós-verdade se consolidava de fato na sociedade ocidental.
A transmissão da Guerra do Golfo consagrou os jogos de
simulação, a “fusão/confusão da informação com a
informática”, uma profusão de dados que o receptor absorve
sem estabelecer fronteiras. Não se sabe onde termina a
simulação e onde começa a realidade (JÚNIOR, 2001, p.
121).
1.3 INTERNET
Uma das maiores mudanças na horizontalidade da comunicação
midiática acontecia justamente no período da Guerra do Golfo, quando um
sistema que inicialmente funcionava como intermediador de informações em
laboratórios de pesquisa, conhecido como Arpanet, havia ganhado tanto
destaque no meio acadêmico que passou a ser comercializado nos EUA, era
o começo da internet, (SILVA, 2001, s/p.).
A internet possibilitou um universo informacional sem limites, capaz de
conectar o mundo e reduzir fronteiras. Sua comunicação abriu caminho para
que as pessoas pudessem se comunicar, abolindo o abismo entre o centro e
a periferia, criando infinitas narrativas dentro de cada contexto. Pela primeira
vez, era possível difundir pensamentos com uma amplitude jamais vista
anteriormente e de forma ativa. "libertando-nos por um lado da ditadura do
pensamento analítico estreitamente escolar e, pelo outro, das tiranias dos
meios de comunicação de massa, da passividade", (MAIGRET, 2010, p.
406).
Ficava clara a radical mudança de peso entre os interlocutores do
diálogo político, até então hierárquico e partindo do líder para seus
subordinados, e que na internet transformou-se em relações lateralizadas ou
niveladas por baixo. O resultado foi a rápida normalização da desinformação
e das narrativas paralelas em redes sociais de conteúdo dinâmico, como o
Twitter, onde "as fake news se disseminam seis vezes mais rápido do que
notícias verdadeiras" (LUIZA, 2019, s/p.). O relacionamento entre Estado e
20
mídia foi colocado em xeque "por uma malha de redes vinculadas não por
laços institucionais, mas pelo poder viral da mídia social, do ciberespaço e
dos sites, que se deleitam em sua repugnância em relação à grande mídia".
(D'ANCONA, 2018. p. 63).
A saturação midiática e a convergência oferecem em tal grau
a possibilidade informativa que, como efeito colateral,
dificultam ao sujeito a tarefa de permanecer informado sobre
a totalidade de assuntos, tal a gama de fontes, meios e
versões apresentadas. Assim, ganham importância as vozes
mais representativas do cenário midiático, como
influenciadores e especialistas, mas também como
personagens aos quais o sujeito se vincula não somente
devido à expertise, mas ao grau de aproximação consigo e
com sua visão de mundo, crenças e costumes, a tal
vinculação (MENDES, 2019, s/p.).
O colapso da confiança "é a base social da era da pós-verdade",
(D'ANCONA, 2018, p. 42). Na tentativa de reprodução do espetáculo
mainstream, a imprensa tradicional apresentou forte perda de credibilidade
ao se desvirtuar dos relatos comprometidos com os fatos por influência
política ou sensacionalismo. No início do século a mídia era "questionada por
sua quase generalizada subserviência ao "patriotismo" de George W. Bush"
(AJZENBERG, 2003, s/p.), como foi o caso da jornalista premiada do New
York Times, Judith Miller, autora de "reportagens afirmando que o Iraque
tinha armas químicas, o que, mais tarde, se revelou falso" (SAYURI, 2019,
s/p.).
A derrocada do jornalismo também se atrelou a escândalos de plágio
e fabricação de matérias envolvendo outros jornais grandes como Der
Spiegel e o Washington Post. A mídia tradicional descredibilizada logo abriu
espaço para o relativismo pois “quando um ou um punhado daqueles de
qualquer profissão são expostos como desonestos, todos os outros dessa
profissão ficam de olho roxo” (KEYES, 2018, p. 219).
Observa-se que a confiança na mídia caiu 4 pontos de 2013
para 2014, em todo o mundo. Mas o mais interessante é
observar como os novos meios digitais e outros processos
de comunicação desvinculados da mídia tradicional
passaram a contar com muito mais credibilidade, avançando
no campo antes dominado por aquilo que chamamos
classicamente de imprensa. O extrato da amostragem
considerado como “público informado” declara que, ao
buscar informações sobre qualquer assunto, confia tanto na
mídia tradicional quanto nos sistemas de busca online. No
21
Brasil, esse aspecto é ainda mais diferenciado: as
ferramentas de busca como o Google têm a confiança de
81% dos consultados (COSTA, 2015, s/p.).
A internet propulsionou a pós-verdade e a degradação da memória,
impactando fortemente a percepção humana de um fato. O frenesi por
velocidade trouxe um paradoxo, "a produção de uma quantidade brutal e
incessante de informação também produz a "amnésia permanente"
(JÚNIOR, 2001, p. 89). Não há tempo para refletir sobre um fato, apenas
para absorvê-lo, compartilhá-lo e se preparar para o próximo. Essa estrutura
cria lacunas informacionais ao longo do tempo e que prejudicam o melhor
entendimento de um fato amplo ou complexo.
Ora, em um mundo em que a informação existe em
abundância, para todos, tanto a rapidez como a eficácia na
capacidade de obter uma informação exclusiva e na de
disseminá-la adquiriram uma urgência dramática, acirrando
ainda mais a competição entre os vários veículos de
comunicação de massa. Ser mais rápido tornou-se uma
demonstração de prestígio, de poder financeiro e político. É
por essa razão que toda a produção da mídia passa a ser
orientada sob o signo da velocidade (não raro, da
precipitação) e da renovação permanente (JÚNIOR, 2001, p.
88).
Agora, quem tinha acesso à internet também conseguia participar das
narrativas de forma mais ativa, capaz de formular e divulgar amplamente
suas ideologias nas primeiras redes sociais ou em cartas online, os
chamados e-mails, "operando uma conciliação feliz entre a carta e a
comunicação telefônica, a espontaneidade e a distância, a transmissão
instantânea e o diferido" (MAIGRET, 2010, p. 414). Os primeiros e-mails e
sites, principalmente os não institucionalizados, apresentaram uma nova
dinâmica de debate massivo expandido das cartas.
Falar traz um tempo diferente do escrever. Temos que
esperar o outro terminar uma frase [...] Quando estamos
falando com o outro, precisamos medir a perda ou ganho de
atenção do locutor, avaliando se estamos indo muito rápido
ou demasiadamente lento em nossas ideias [...] Quando
temos um texto, um e-mail ou um torpedo, ou mesmo uma
carta, podemos decidir por onde começar, pelo fim, pelo
meio ou pelo começo (DUNKER et al., p. 32, 2017)
22
Essa dinâmica de debate online não possui obrigação com os fatos,
não por acaso, muitos e-mails viralizavam entre opiniões e spams, "alguns
usuários recebiam mais spams do que enviada com o objetivo de obter
informações sigilosas ou injetar agentes maliciosos no computador do
receptor" (RAIS, 2018, p. 71). Esse subterfúgio que passou a abrigar a
desinformação de forma mais massiva se deu também pela ausência cada
vez maior do contato humano direto. "Aqueles que conversam
eletronicamente tomam a dissimulação como garantida acerca da identidade
do outro" (KEYES, p. 195, 2018).
Por seu espaço de liberdade de expressão, a internet não se realizou
enquanto utopia informativa, uma vez que a disponibilidade de informação
não garante uma sociedade informada. Na realidade, a estrutura digital com
seus algoritmos e linguagens estimula muito mais uma sabedoria vazia e de
multidão, que selecionava o seus fatos à luz de convicções já existentes,
silenciando o pensamento mais complexo ou diferente.
Quanto mais as pessoas se aglomerarem no ciberespaço,
mais a sociedade em geral será povoada por aqueles que
presumem que a autenticidade seja uma quimera. Ao longo
do caminho, perderemos a confiança em nossos próprios
olhos e ouvidos. Ao mesmo tempo, um número cada vez
maior dos nossos contribuirá para essa atmosfera porque,
tendo se acostumado a dissimular no ciberespaço, podemos
achar mais fácil fazê-lo no espaço genuíno também.
(KEYES, 2018, p. 204)
Outros fatores contribuíram para a disseminação em massa de ódio e
desinformação. A verdade é essencial para coesão social, sendo assim, a
mentira institucionalizada, incentivada por políticos e militantes, é mais um
traço do esfacelamento das relações humanas em tempos líquidos. Além
disso, a internet não pede documento, possibilita o anonimato, a criação de
diversas contas, e o hater por trás do seu computador se sente protegido, em
seu mundo de simulação, espalhando sua narrativa de forma livre e
descompromissada com a verdadeira trajetória dos fatos. Na era da web, a
pós-verdade assume o seu ápice.
A sociológica “Teoria dos papéis” sugere que nós temos
tantas identidades quantas forem as máscaras que
escolhemos usar. A Web recompensa aqueles dispostos a
substituírem velhas máscaras por novas. É o ponto
culminante do sonho americano estar em um estado
23
perpétuo de reinvenção. O resultado tem sido comparado a
viajar para o exterior, livre para apresentar-se aos outros
como você gostaria de ser, com pouco risco de ser
descoberto (KEYES, 2018, p.198).
Como comunidade de espaço público, a web se mostrou um
incentivador de sensacionalismo. "Não sem razão, afirmou Habermas que a
esfera pública não existe mais, ela passou a ser fabricada" (RAIS, 2018, p.
139). Conteúdos polêmicos, como vídeos espetacularizados ganham as
manchetes, e tão logo, os boatos se tornaram comuns, acompanhados da
confiança num veículo tão inclusivo, cunhando o pensamento de que se está
na internet é verdade.
[A internet] apoia aquele esteio de todos os vilarejos: a
fofoca. Constrói lugares de encontro que crescem com
rapidez para a troca livre e desorganizada de mensagens
que se caracterizam por uma variedade de afirmações
fantasiosas, suspeitas, divertidas, supersticiosas,
escandalosas ou maléficas. As chances de que muitas
dessas mensagens sejam verdadeiras são baixas e a
probabilidade de que o próprio sistema venha a ajudar
alguém a distinguir as verdadeiras são até mais baixas
(D'ANCONA, 2018, p. 52).
1.4 PÓS-VERDADE ON DEMAND
Aproveitando as predisposições à pós-verdade no ambiente digital,
em 2013 o estrategista político Steve Bannon se aliou ao magnata Robert
Mercer para criar uma plataforma de psicometria política. O herdeiro da
Medallion, um fundo de investimentos que usava Big data e que chegou a
ser considerada uma máquina de fazer dinheiro (JORNAL DE NEGÓCIOS,
2016, s/p.), encontrou no discurso conservador o conteúdo necessário para a
nova forma de debate online que eles viriam a inaugurar, "o uso da rede e da
internet para a manipulação social, (...) com a psicometria eleitoral que usa
tecnologias analytics" (RAIS, 2018, p. 82).
Steve Bannon já declarou, entre outras frases, que "a escuridão é
boa. (...) Isso é poder. Isso só nos ajuda quando eles (liberais) erram.
Quando eles estão cegos sobre quem somos e o que estamos fazendo"
(DIAZ, 2016, s/p). As ideias do ex-editor do site conspiracionista Breitbart
News encontrava o apoio e estrutura da família Mercer, e nascia então a
Cambridge Analytica.
24
Ao dar milhões a um super PAC conservador, Make America
Number 1, que sua filha Rebekah presidiu , Mercer parece
ter comprado mais influência sobre a campanha de Trump
do que qualquer outro doador. Rebekah também tem laços
com Stephen Bannon, o polêmico presidente executivo da
Breitbart News Network que foi recentemente nomeado o
principal estrategista e conselheiro sênior da nova
administração, segundo os registros (KUTNER, 2016, s/p.)7.
Os estrategistas logo perceberam que o discurso de anti-política
baseado em gritos de ordem e fomentado em fake news era extremamente
convincente entre os conservadores. Essa conclusão se confirmou em
dezembro de 2016, quando uma pesquisa de opinião do instituto Ipsos para
o site BuzzFeed, com mais de 3 mil norte-americanos, notou que na média,
"os eleitores de [Hillary] Clinton julgaram 58% das notícias falsas como
sendo verdadeiras, contra 86% dos eleitores de Trump" (SILVERMAN,
SINGER-VINE, 2016, s/p.).
Além disso, pesquisa de 2019 trouxe que eleitores do Partido
Republicano, do presidente Donald Trump, "tinham uma propensão muito
maior a disseminar conteúdo enganoso em comparação àqueles que
votaram no Partido Democrata: 18,1% contra 3,5%. E uma pesquisa da
Universidade de Oxford, revelada pelo jornal The Guardian, mostra que a
tendência de compartilhamento das chamadas "junk news", do inglês,
"notícias lixo", são predominantes entre os militantes de direita. Essa
mentalidade é favorecida pelos mais ressentidos com o establishment
político e os que odeiam a política.
Havia uma clara distorção em quem compartilhava links dos
91 sites que os pesquisadores haviam codificado
manualmente como “notícias-lixo” (baseados na violação de
pelo menos três dos cinco padrões de qualidade, incluindo
“profissionalismo”, “preconceito” e “credibilidade”). “O grupo
Trump Support consome o maior volume de fontes de
notícias indesejadas no Twitter e espalha mais fontes de
notícias indesejadas do que todos os outros grupos juntos.
Esse padrão é repetido no Facebook, onde o grupo Hard
7Tradução: By giving millions to a conservative super PAC, Make America Number 1, which
his daughter Rebekah chaired, Mercer seems to have bought more influence over Trump’s
campaign than any other donor. Rebekah also has ties to Stephen Bannon, the controversial
Breitbart News Network executive chairman who was recently named the new
administration’s chief strategist and senior counselor, records show.
25
Conservatives consumiu a maior proporção de notícias
indesejadas”. (HERN, 2018, s/p.)8
A Cambridge Analytica inaugurou uma nova estratégia de marketing
político, investindo na doutrinação pelo populismo conservador em todos os
espectros, e se pautando unicamente na busca por focos emotivos que
pudessem despertar o grito por ordem. Em 2016 a empresa conseguiu
coletar dados do Facebook de milhões de eleitores dos Estados Unidos,
traçando um perfil psicológico utilizando parâmetros como idade, renda e
localização, e usando manipulações on demand para convertê-los ao
nacionalismo populista. Agora, era possível penetrar nas mais diferentes
bolhas sociais nas redes explorando a brecha emocional de cada grupo,
suas carências, medos e virtudes, seguindo o monólogo do gozo.
É preciso saber, e de preferência de modo não ambíguo e
rápido, o que o Outro quer de nós em determinada situação.
É o que se poderia chamar de vida em formato de demanda.
Onde há um encontro é preciso decidir rápida e
iconicamente o que os envolvidos querem, e a negociação
tende a ser curta, porque variáveis de contexto se impõem
dramaticamente. Se você está no site de restaurantes, já
decidiu que quer comida (...) Ele “pratica sua fantasia” de
forma generalizada e a céu aberto, como se ele não
preocupasse muito em “ser entendido” ou “se fazer
compreender” (DUNKER et al., p. 30, 2017)
A empresa de Mercer foi denunciada pelos jornais New York Times e
The Guardian como a grande responsável por administrar a campanha do
Brexit usando a mesma plataforma psicológica. As informações foram
coletadas por um aplicativo, thisisyourdigitallife, "que pagou a centenas de
milhares de usuários pequenas quantias para que eles fizessem um teste de
personalidade e concordassem em ter seus dados coletados para uso
acadêmico" (BBC, 2018, s/p.).
O pensamento de Bannon ainda se expandiu para outros países,
chegando na Europa e achando voz na insatisfação em grupos nacionalistas
contra o bloco Europeu e as políticas de refugiados. Depois de sair da casa
8Tradução: There was a clear skew in who shared links from the 91 sites the researchers
had manually coded as “junk news” (based on breaching at least three of five quality
standards including “professionalism”, “bias” and “credibility”). “The Trump Support group
consumes the highest volume of junk news sources on Twitter, and spreads more junk news
sources, than all the other groups put together. This pattern is repeated on Facebook, where
the Hard Conservatives group consumed the highest proportion of junk news”
26
branca, Bannon fundou o "The Movement", alinhada à alt-right, "com o qual
se identificam nacionalistas brancos, grupos homofóbicos e anti-imigrantes"
(BILENKY, 2019, s/p.). O movimento segue a cartilha da pós-verdade e
esteve articulado no compartilhamento de fake news até mesmo para as
eleições de 2019 para o parlamento europeu. A Avaaz mapeou uma ampla
rede de mais de 500 páginas e grupos suspeitos, seguidos no total por
"quase 32 milhões de usuários e geraram mais de 67 milhões de interações
– comentários, curtidas e compartilhamentos – nos últimos três meses. No
mesmo período, os conteúdos relacionados a essas páginas e grupos
geraram 533 milhões de visualizações" (DW, 2019, s/p.).
A ambição de Bannon é que sua organização finalmente rivalize com
o impacto da Sociedade Aberta de Soros, que doou US$ 32 bilhões para
causas amplamente liberais desde que foi criada em 1984. Bannon desferiu
novo golpe contra a mídia tradicional, abrindo caminho para pseudo-teorias
institucionalizadas e expandidas pelo público na pós-verdade do partido de
extrema-direita na Polônia e na Alemanha, e em políticos com Marine Le Pen
na França, Nigel Farage na Inglaterra, Geert Wilders na Holanda e Matteo
Salvini na Itália, (DW, 2018,s/p.). "'Eu prefiro reinar no inferno, do que servir
no céu', disse Bannon, parafraseando o Satanás de John Milton em Paraíso
Perdido" (HINES, 2018, s/p.).
O chamado "globalismo", ideia principal de Bannon, é uma "suposta
ação planejada das elites internacionais para conduzir a globalização de
acordo com valores liberais" (CHARLEAUX, 2019, s/p.), pregando a
destruição dos valores nacionais. Para ser convincente em cada país, foram
necessárias versões adaptadas de acordo com cada sociedade e suas
histórias, explorando antigos ou novos medos. Na Húngria do primeiro-
ministro Viktor Orbán, por exemplo, virou um plano de "islamismo da
Europa", (MOUALLEM, 2018, s/p.), explorando os confrontos históricos entre
cristãos, islâmicos e a questão migratória no país.
27
1.5 FAKE NEWS
É importante notar a diferença entre os erros de apuração jornalística,
que fazem parte da profissão, apelidados de "barrigas", e as fake news,
notícias fabricadas com cinco possíveis intenções, "enganar o leitor; como
uma tomada acidental de partido que leva a uma mentira; com algum
objetivo escondido do público, motivado por interesses; com a propagação
acidental de fatos enganosos; ou com a intenção de fazer piada e gerar
humor" (BRITO, 2017, s/p.).
As notícias falsas distinguem-se dos erros acidentais
justamente por sua natureza de origem fraudulenta. Apesar
de terem conquistado um espaço relevante especialmente
depois da campanha de Donald Trump à presidência dos
Estados Unidos, as fake news, que fazem parte do cenário
da “pós-verdade”, não são um fenômeno recente no
jornalismo, embora tenham se beneficiado enormemente da
velocidade cada vez maior de propagação de informações
na internet de forma geral, mais especificamente nas redes
sociais e nos aplicativos de trocas de mensagens (RAIS, p.
57, 2018).
Segundo o BuzzfeedNews, nas eleições norte-americanas as notícias
falsas mais relevantes, renderam quase 9 milhões de compartilhamentos e
reações no Facebook (G1, 2016, s/p.). O referendo do Brexit foi inundado
por fake news: 56% do público - e 75% dos partidários de Leave - acham
que a imigração europeia aumentou os níveis de criminalidade (DUNT, 2018,
s/p.), mas o Comitê Consultivo de Migração (MAC) não encontrou evidências
de qualquer vínculo do tipo.
É muito comum que o comportamento das pessoas em rede
seja muito mais para afirmar suas convicções, num gesto
narcisista de autoafirmação, sendo, por conseguinte, difícil
que as pessoas arredem o pé dos seus pressupostos, ainda
que fundados em crenças absolutamente subjetivas, quando
contrastados por contra-discursos ou com dados objetivos.
(RAIS, p. 81, 2018)
A jornalista Claire Wardle, criou uma lista de sete tipos de notícias
falsas que podemos identificar e combater nas redes (VIEIRA, 2019, s/p.). A
primeira é a sátira ou paródia, que por mais que não tenha intenção de
desinformar, não tem a possibilidade de checagem, podendo se tornar
persuasivo para diversos públicos desavisados.
28
Há ainda a falsa conexão, quando manchetes, imagens ou legendas
dão falsas dicas do que o conteúdo é realmente. O terceiro tipo é o conteúdo
enganoso, informação usada contra um assunto ou uma pessoa valendo-se
de falsas atribuições. O quarto é o falso contexto, "quando o conteúdo
genuíno é compartilhado com informação contextual falsa" (VIEIRA, 2019,
s/p.). Outro tipo de fake news é o conteúdo impostor, quando fontes
(pessoas, organizações ou entidades) têm seus nomes usados, porém com
afirmações não ditas por eles. Esse tipos de fake news foi uma das
categorias mais compartilhadas durante as eleições americanas em 2016.
As duas notícias falsas que mais repercutiram foi “Wikileaks
confirma que Clinton vendeu armas para o Estado Islâmico”
e “Papa Francisco choca o mundo e apoia Donald Trump”.
Das 20 notícias falsas de melhor performance analisadas,
apenas três não eram pró-Donald Trump ou contra Hillary
Clinton (G1, 2016, s/p.).
Há ainda mais dois tipos: o conteúdo manipulado, quando uma
informação ou ideia verdadeira é usada para enganar o público, e o
conteúdo fabricado, como montagens em softwares de edição de áudio,
imagem e vídeo. A mídia sintetizada é 100% falsa, construída com intuito de
desinformar o público e causar algum impacto negativo a alguém.
1.6 CONSPIRAÇÕES
As teorias da conspiração são bem mais difundidas do que se pensa e
vivem em contraste direto com à ciência. Em 2014, metade da população
dos Estados Unidos apoiou pelo menos uma teoria da conspiração.
(D'ANCONA, 2018, p. 64). No Reino Unido, a maioria dos britânicos
endossou uma entre cinco teorias "que variavam da existência de um grupo
secreto que controlava eventos mundiais ao contato com extraterrestres"
(TILEY, 2019, s/p.) A startup de tecnologia de publicidade, Sotryzy,
"encontrou mais de 600 anúncios de marcas em sites que promoviam teorias
da conspiração e outras informações enganosas." (WARDLE, 2018, p. 49).
No dia a dia, na ânsia de provar que estamos certos,
costumamos nos apoiar em qualquer material que reforce
aquilo que já pensamos, e assim, baseado em uma notícia
que sequer foi checada, mas que caiu como uma luva para a
nossa prévia convicção, compartilhamos ansiosamente esse
29
conteúdo, que pode ser uma desinformação, contribuindo,
assim, para poluir ainda mais o cenário político nacional.
(RAIS, 2018, p. 107)
No Facebook, teorias conspiratórias são mais compartilhadas e
recomendadas do que postagens científicas (BESSI et al., 2015, s/p.). No
Brasil a situação é mais grave com a academia, pesquisa da UNICAMP
mostra que o 61% dos brasileiros gostam de ciência, mas 87% não soube
apontar uma instituição científica no país. 95% não soube apontar o nome de
um cientista brasileiro (MORAES; CAIRES, 2017, s/p.).
As teorias conspiratórias não só desafiam a ciência, elas são capazes
de aglutinar diversas fake news com narrativas mistas, trazendo o tempero
de realidade necessária para justificar posicionamentos ideológicos na
política, sendo, portanto, presente em todos os espectros.
Ao contrário da crença popular, o típico teórico da
conspiração não é um homem de meia-idade que vive no
porão da casa da mãe usando um chapéu de papel alumínio
(que protegeria contra o controle mental realizado por
satélites do governo e extraterrestres). "Quando você
realmente olha para os dados demográficos, a crença em
conspirações transpõe classes sociais, gênero e idade",
afirma o professor Chris French, psicólogo da Universidade
Goldsmiths, em Londres. (TILEY, 2019, s/p.)
Na expansão das simulações de rede sociais, as teorias da
conspiração colocam a narrativa fiel aos fatos em xeque, oferecendo um
plano de interpretação alternativo que ataca frontalmente os que se
comprometem com métodos científicos para explicar os fenômenos e a
trajetória dos fatos. "As pessoas questionam tudo aquilo que vai de encontro
com as suas convicções, mesmo que seja pautado em argumentos fundados
em dados verdadeiros" (RAIS, 2018, p. 80). Para eles, a guerra de narrativas
pressupõe uma verdade de batalha que "não pode ser captada em uma
planilha ou em um conjunto de gráficos. Assim, como o caso da permanência
britânica na União Europeia não podia ser reduzido a uma série de
estatísticas” (D'ANCONA, 2018, p. 110).
Arron Banks, o empresário que financiou a campanha
Leave.EU, em favor da saída da União europeia, estava
correto em sua análise do resultado do referendo: “A
campanha pela permanência na União Europeia apresentou
fatos, fatos, fatos, fatos. Não funciona. Você tem que se ligar
30
emocionalmente com as pessoas. Esse é o sucesso de
Trump". (D'ANCONA, 2018, p.27)
No século XXI, a mentalidade conspiratória é uma resposta a um
mundo de mudanças disruptivas, a "globalização e seus descontentes, a
mobilidade populacional sem precedentes, a revolução digital, as formas em
rápida mutação do extremismo e do terrorismo, as possibilidades
estonteantes da biotecnologia.” (D'ANCONA, 2018, p. 79). Nesse caldeirão
de fatores, as identidades e visões culturais também se misturam à narrativa.
Trata-se de um embate de visões. De um lado, o Reino
Unido ainda como centro de um vasto império mercantil e
colonial, herdado em partes pela Commonwealth; de outro, a
visão do Reino Unido como um país europeu, parte de algo
maior e em pé de igualdade com os antigos rivais
continentais. É um debate cultural e econômico que existe
nas ilhas britânicas desde o século XIX, com a política do
Isolamento Esplêndido. (FIGUEIREDO, 2019, s/p.)
No ápice da organização do pensamento extremista, facilitado por
bolhas ou câmaras de eco isoladas na internet, os usuários "vivenciam sua
própria realidade e operam com seus próprios fatos (...) a internet não
apenas reflete a realidade; molda-o" (KAKUTANI, 2018, s/p.). Sem o
contraponto, o ambiente polarizado se isola em um eco dificultado tanto
pelos algoritmos das redes sociais, como pelas opções oferecidas por ela, no
que diz respeito à possibilidade de bloquear usuários com outras visões e
unir conspiradores a cidadãos insatisfeitos. A correspondência em grupo
gera uma sensação de poder, e na internet, a voz extremista ganha o
mesmo valor que de qualquer outro, uma vez que não há hierarquia
informacional. Como Umberto Eco enunciou, “normalmente os imbecis eram
imediatamente calados, mas agora eles têm o mesmo direito à palavra de
um Prêmio Nobel" (JÚNIOR, 2019, s/p.)
Antes, quando alguém tinha uma crença bizarra ou fora do
esquadro, sentia-se acuada e desenvolvia formas de se
conter; agora ela encontra “parceiros” para tudo na internet,
inclusive para o pior. E em um grupo a gente fica valente.
Em grupo de internet, então, parece que o Maracanã está
nos aplaudindo, quando na verdade são quatro ou cinco
simpatizantes. (DUNKER et al., 2017, p. 36)
Na era da pós-verdade, as fake news que sustentam conspirações
ganham força no grito, conforme a forma como o líder do 'rebanho ideológico'
31
diz algo torna-se tão importante quanto o conteúdo dito. Em um estudo da
University of Southern California (WARE; WILLIAMS, 1975, s/p.), um ator foi
contratado para se passar por um palestrante em apresentações inventadas.
Pelo entusiasmo, o palestrante conseguiu convencer boa parte dos
estudantes e especialistas, conclusão: entre um conteúdo ruim e animado
versus um expert que falava mal, as pessoas preferem o conteúdo
empolgado, se valendo do emocional. Entre alguém informado e alguém que
fala gritando, muitos preferem as exclamações que atiçam o lado sentimental
e nem se perguntam a qualificação de quem fala.
Em tempos de conflito político acalorado, posts ideológicos ganham
musculatura dentro de grupos online. Seu maior propulsor é a carga emotiva,
tão forte e relevante para a pós-verdade. Em um estudo da Univesity of
Pensilvannia em 2012 (BERGER; KATHERINE, 2012, s/p.), constatou-se
que os conteúdos mais virais na internet são notícias interessantes,
impressionantes ou de uso prático, mas nada é mais compartilhado do que
aquilo que causa indignação e raiva nas pessoas.
Nesse ponto, as dimensões simples que pensamentos populistas
trazem são perfeitos para atribuir causas e efeitos, vilões e mocinhos, se
valendo da base social da pós-verdade. Surgem atiçadores que buscam
lucrar com a demanda conspiratória emotiva e sensacionalista, num mercado
onde ganha quem apresentar a ideia mais palatável ou redentora, "onde as
ideias viram mercadorias do mesmo modo que um pastor em uma igreja
vende o seu peixe e ganha seu dízimo" (DUNKER et al., 2017, p. 100-101).
Na Macedônia, muitos autores de fake news eram adolescentes que
descobriram que ganhavam mais dinheiro com os cliques dos posts que
defendiam Trump.
Cada acesso vale uma fração de centavo para o dono do
site ou do blog, mas aí a quantidade de acessos faz a
diferença. Se você tiver milhões de visitantes, os
centavinhos podem virar uma grana interessante. E como
conseguir milhões de visitantes? Se você respondeu que um
dos caminhos é criando fake news, você infelizmente está
certo. Por definição, as notícias falsas tendem a ter uma
pegada sensacionalista, inacreditável, polêmica. E isso é um
chamariz para nossa curiosidade – e claro, para nosso
clique, que rende grana aos veiculadores de lorotas. Na
insana caça por cliques, o sensacionalismo é tão importante
quanto o oxigênio. (...) Desinformação, manipulação,
32
hiperpartidarização e notícia falsa não implicam
necessariamente na completa invenção de um fato. Uma
manchete que distorça a realidade ou aumente um
acontecimento para gerar cliques, muito possivelmente, vai
dar dinheiro para quem a publicou (VAZA FALSIANE, 2018,
s/p.).
No abrigo do diálogo entre os conspiradores, há a proteção
principalmente em sítios longe de fiscalização ou protegidos por criptografia.
Em fóruns da deep-web, os chans, há o impacto inclusive em ações na vida
analógica, como foi o exemplo do massacre em uma escola de Suzano (SP),
fato comemorado e estimulado na deep web, e em uma mesquita em
Christchurch, na Nova Zelândia, onde o atirador vitimou 49 pessoas
islâmicas em transmissão ao vivo para um chan (ALECRIM, 2019, s/p.).
Muitos memes misóginos e de supremacia branca, além de
muitas notícias falsas, originam-se ou ganham impulso inicial
em sites como 4chan e Reddit - antes de acumular buzz
suficiente para dar o salto para o Facebook e Twitter, onde
podem atrair mais atenção. Renee DiResta, que estuda as
teorias da conspiração na web, argumenta que o Reddit
pode ser um teste útil para os maus atores - incluindo
governos estrangeiros como os da Rússia - para testar
memes ou histórias falsas para ver quanto de tração eles
recebem. DiResta alertou na primavera de 2016 que os
algoritmos das redes sociais - que dão às pessoas notícias
que são populares e tendências, ao invés de precisas ou
importantes - estão ajudando a promover as teorias da
conspiração. (KAKUTANI, 2018, s/p.)9
A estratégia no conspiracionismo por trás de Trump é sua própria
armadura política, "uma empatia brutal, enraizada não em estatísticas,
empirismos ou informações meticulosamente adquiridas, mas em um talento
desinibido para a fúria, impaciência e atribuição de culpa" (D'ANCONA, 2018,
p. 37). Segundo o Washington Post, até o fim de maio de 2019 ele disse
mais de 10 mil afirmações falsas ou enganosas (WASHINGTON POST,
2019, s/p.). Trump, ao deslocar a sua narrativa como verdade absoluta frente
9 Tradução: Many misogynist and white supremacist memes, in addition to a lot of fake news,
originate or gain initial momentum on sites such as 4chan and Reddit – before accumulating
enough buzz to make the leap to Facebook and Twitter, where they can attract more
mainstream attention. Renee DiResta, who studies conspiracy theories on the web, argues
that Reddit can be a useful testing ground for bad actors – including foreign governments
such as Russia’s – to try out memes or fake stories to see how much traction they get.
DiResta warned in the spring of 2016 that the algorithms of social networks – which give
people news that is popular and trending, rather than accurate or important – are helping to
promote conspiracy theories.
33
o seu eleitorado, confere poder de grupo a quem o segue. Ele também se
vitimiza ao considerar-se perseguido sempre que confrontado, em seu
Twitter é comum vê-lo apontando inimigos aos seus fiéis, dessa forma,
mantém seu eleitorado ocupado brigando online pelos fatos alternativos com
os que podem incomodar seu capital político.
Trump executou o perturbador truque orwelliano (“GUERRA
É PAZ”, “LIBERDADE É ESCRAVIDÃO”, “IGNORÂNCIA É
FORÇA”) de usar palavras para dizer exatamente o oposto
do que elas realmente significam. Não é só o fato de ele usar
o termo “notícias falsas”, virar de um avesso e usá-lo para
tentar desacreditar o jornalismo que ele considera
ameaçador ou desfavorável. Ele também chamou a
investigação da interferência da eleição russa como "a maior
caça às bruxas na história política americana" quando ele é
aquele quem atacou repetidamente a imprensa, o
departamento de justiça, o FBI, os serviços de inteligência e
qualquer instituição que ele considera hostil. (KAKUTANI,
2018, s/p.)10
Quem sai beneficiado na pós-verdade não são somente políticos
oportunistas, personagens como negacionistas do aquecimento global e
militantes anti-vacina também, podendo viver sobre seus vieses cognitivos
ou vendendo suas ideias em cursos online, é o saber a um toque de
distância. Para uma dessas ativistas, não é necessária a pesquisa científica
ou formação acadêmica, “tirei meu diploma na Universidade do Google”
(D'ANCONA, 2018, p. 70).
Marc Morano, ex-assessor republicano que dirige o site
ClimateDepot.com "[O engarrafamento de trânsito é] o maior
amigo do cético do aquecimento global, porque isso é tudo o
que realmente se quer [...] Somos a força negativa. Estamos
apenas tentando parar coisas". Morano admitiu que ser um
leigo orientado ideologicamente é muitas vezes uma
vantagem diante de um acadêmico: “A maioria dos cientistas
que enfrentamos vai ficar em seu próprio mundo
especializado ou área de expertise [...] muito hermético,
muito difícil de entender, difícil de explicar e muito chato".
(D'ANCONA, 2018, p. 47)
10Trump has performed the disturbing Orwellian trick (“WAR IS PEACE”, “FREEDOM IS
SLAVERY”, “IGNORANCE IS STRENGTH”) of using words to mean the exact opposite of
what they really mean. It’s not just his taking the term “fake news”, turning it inside out, and
using it to try to discredit journalism that he finds threatening or unflattering. He has also
called the investigation into Russian election interference “the single greatest witch-hunt in
American political history”, when he is the one who has repeatedly attacked the press, the
justice department, the FBI, the intelligence services and any institution he regards as hostile
(tradução livre).
34
A estratégia do conspiracionismo é manter o debate acalorado fluindo,
alimentando uma noção de urgência. Ao questionar fatos irrefutáveis como
os benefícios da vacinação e a existência do aquecimento global, cria-se
uma nova via de interpretação, que se pode atribuir o rótulo de opinião. A
ideologia toma uma forma pragmática, uma vez que é determinante para o
pertencimento de grupo, e essa noção constrói uma militância impedida de
dialogar com a diferença, dividindo as pessoas em um jogo de vale-tudo
pelas narrativas que convém.
A conhecida observação de Daniel Patrick Moynihan de que
“todo mundo tem direito a sua própria opinião, mas não a
seus próprios fatos” é mais oportuna do que nunca: a
polarização se tornou tão extrema que os eleitores têm
dificuldade em chegar a um acordo sobre os mesmos fatos.
Isso foi acelerado exponencialmente pela mídia social, que
conecta os usuários com membros que pensam da mesma
forma e os fornece feeds de notícias personalizados que
reforçam seus preconceitos, permitindo que eles vivam em
bolhas cada vez mais restritas. (KAKUTANI, 2018, s/p.)11
A ideia é que enquanto o mundo estiver sendo controlado por uma
entidade implacável que manipula a todos e os impede de ver a verdade, os
militantes são obrigados a se engajar e se polarizar, motivando ainda mais o
comportamento extremista. O conspirador lucra política e economicamente
com a pós-verdade na medida em que "as mentiras dos mentirosos que
gostamos são compreensíveis, e aquelas dos mentirosos que não gostamos
são desprezíveis." (KEYES, 2018, p. 129), é a binaridade dos manipulados
que favorece a entidade maléfica controladora da verdade versus os
esclarecidos que questionam e se refugiam nessa subversão relativista.
[A Tobacco Industry Research Committee]12 foi projetada
para sabotar a confiança do público e estabelecer uma falsa
equivalência entre aqueles cientistas que detectaram uma
ligação entre o uso do tabaco e o câncer de pulmão e
aqueles que os desafiaram. O objetivo não era a vitória
11 Daniel Patrick Moynihan’s well-known observation that “Everyone is entitled to his own
opinion, but not to his own facts” is more timely than ever: polarisation has grown so extreme
that voters have a hard time even agreeing on the same facts. This has been exponentially
accelerated by social media, which connects users with like-minded members and supplies
them with customised news feeds that reinforce their preconceptions, allowing them to live in
ever narrower silos, (tradução livre).
12A Tobacco Industry Research Comittee foi criada por grandes empresas de cigarro em
1953 para atacar estudos científicos que apontavam o tabaco como responsável pelo
grande aumento de diagnósticos de câncer de pulmão. Eles também atacaram estudos
científicos, apesar de lançarem dúvidas sobre eles em vez de refutá-los diretamente.
35
acadêmica, mas a confusão popular. Enquanto a dúvida
pairasse sobre o caso contra o tabaco, o status quo lucrativo
estaria garantido. Isso proporcionou aos negadores da
mudança climática um modelo para as suas próprias
campanhas (D'ANCONA, 2017, p. 46)
36
2. A PSICOLOGIA DA MENTIRA
O compartilhamento de fake news e conspirações não se trata apenas
de contexto histórico-político. O lado psicossocial humano é extremamente
relevante para entender como formamos as opiniões e atrelamos fatos a
elas. Como Daniel Kahneman (2011) explica, o ser humano é uma máquina
associativa, extremamente propenso a aceitar verdades e procurar por
relações de causa e efeito nelas. Essas nuances psicológicas são
tendências de pensar de certas maneiras que podem levar a desvios
sistemáticos de lógica e a decisões irracionais, são os chamados vieses
cognitivos.
Há razões psicológicas e sociais para a vulnerabilidade
humana aos fake news. Como indivíduos temos um realismo
ingênuo (do inglês, naïve realism), por meio do qual
acreditamos que a percepção da realidade é o único ponto
de vista correto, enquanto quem discorda de nós é visto
como desinformado, irracional ou enviesado. E temos um
viés de confirmação (do inglês, confirmation bias), pelo qual
preferimos informações que corroboram com nossa visão
atual (RAIS, 2018, p. 63)
A narrativa é importante para formar as memórias humanas. Quando
uma narrativa é contada para a mente humana, seu impacto emocional e
descritivo pode ser utilizado para manipular memórias. Pesquisa conduzida
por Elizabeth Loftus (NERDOLOGIA, 2014, s/p.) ilustrou a situação quando
induziu voluntários a lembrar de terem abraçado o personagem Pernalonga
na Disneylândia, por meio de fotos manipuladas. O resultado foram os
voluntários apontando lembranças muito completas sobre a experiência,
provando que a riqueza em detalhes emotivos dentro de uma narrativa
aumenta a sua chance de tornar-se memória, uma vez que satisfazem
explicações deixadas pelas lacunas do fato.
Como o neurocientista James L. McGaugh apontou em seu
trabalho de 2013 “Making Lasting Memories: Remembering
the Significant”, excitação emocional aumentada durante
uma experiência na verdade estimula a amígdala (a parte do
cérebro responsável pelas emoções, instinto de
sobrevivência e memória) para liberar hormônios de stress –
químicos secretados em resposta a ocasiões estressantes
ou excitantes – tornando mais provável que essas
experiências sejam codificadas como memórias de longo
prazo (YU, 2019, s/p.).
37
Teorias da conspiração se valem do emocional para florescer essa
necessidade humana de compor uma narrativa que explique a razão das
coisas, e se expandem em um contexto de degradação de memória. Elas
"são realmente tranquilizadoras. Sugerem que há uma explicação, que as
ações humanas são poderosas e que há ordem, em vez de caos"
(D'ANCONA, 2018, p. 64).
Nós, seres humanos, não gostamos do acaso. Sentimentos
de acaso, bagunça e caos são sentimentos aversivos.
Sentimentos assim incomodam o nosso sistema cognitivo. O
ser humano está o tempo todo (desde criança) buscando
compreender e estabelecer relações causais entre as coisas
que acontecem. Dizer que A ou B acontecem por acaso não
satisfaz nossa cognição. Mas esses sentimentos existem. E
como seres adaptativos, estamos sempre buscando lidar
com eles. (SOUZA, 2010, s/p.)
As opiniões extremistas na internet geralmente se baseiam em
testemunhos ou relatos que geram credibilidade entre os militantes. Mas é
fato que o testemunho nem sempre retrata a realidade como se pensa. Uma
tendência cognitiva comum é tornar a lembrança das nossas experiências no
passado mais agradáveis ou mais felizes do que elas realmente foram. Esse
viés cognitivo é chamado de retrospectiva idílica, e explica por exemplo,
porque jovens na Rússia e em outros países ex-URSS têm defendido os
tempos de chumbo da União Soviética ao lado de pessoas mais velhas que
viveram o período, em um cúmulo de pós-verdade também incentivado por
Putin, (TAYLOR, 2016, s/p.).
É comum observar os usuários seguros para arriscar posicionamentos
como exaltar um período ditatorial ou alguma figura guerrilheira histórica. A
compensação de risco (WILDE, 200?, s/p.), fenômeno onde as pessoas em
uma sensação de proteção se colocam em episódios perigosos, vira um fator
determinante para incentivar o posicionamento radical na internet. Quem vive
em uma democracia, possui direitos de expressão e sente-se seguro o
suficiente para defender uma opinião impopular ou autoritária, muitas vezes
por não ter a noção do perigo de sua fala ou por saber que pode se
expressar livremente. Já o inverso, justamente não ocorre em ditaduras.
Outro aspecto cognitivo interessante à pós-verdade é a familiaridade.
O quanto a recorrência de um fato ou interpretação do mesmo aparece é
38
decisiva para montar a credibilidade na mente humana, mesmo que esse
fato seja comprovadamente falso. Essa nuance auxilia e muito na formação
de bolhas ideológicas online.
A estrutura de rede social é feita para manter a atenção do usuário à
plataforma, sendo assim, os posts são impulsionados por algoritmos cada
vez mais complexos, alinhados ao interesse dos que rolam o feed. Desse
alinhamento de informação, as pessoas vêem o que mais confirma e conforta
seus pensamentos, e desta forma o compartilhamento gera ainda mais
familiaridade e mais proximidade entre os ideologicamente alinhados.
Como seres sociais, temos tendência a aceitar conceitos e
ideias compartilhadas pelas nossas redes, o que ajuda a
definir nossa identidade e autoestima, nos mantendo em
ambientes socialmente seguros. Essa exposição seletiva ao
conteúdo, que normalmente ocorre dentro de grupos com
pessoas que compartilham crenças e pensamentos, é o
principal promotor de difusão de conteúdo, formando a
geração de clusters homogêneos, conhecidos como
câmaras de eco (do inglês, echo chambers) ou bolhas de
filtro (do inglês, filter bubbles), que os isolam de perspectivas
contrárias ou alternativas. Esse efeito de câmara de eco
facilita o consumo e a crença nas fake news devido à
credibilidade social e a frequência de exposição a essas
notícias. (RAIS, 2018, p. 63)
Quando se analisa o contexto social familiar, não é por acaso que o
compartilhamento de fake news em grupos de família tem sido tão grande no
WhatsApp. Sabendo que "há um limite para a quantidade de mentiras que
podemos fornecer àqueles que vemos regularmente" (KEYES, 2018, p. 42),
o ser humano acostumou-se a ver nas figuras familiares, os maiores
exemplos de credibilidade, de forma que a verdade virou fator decisivo para
montar um sistema social coeso e um clima de confiança minimamente
estável. “Para criar algum sentimento de pertencimento, é preciso participar
de um grupo codificado, e para isso é preciso responder de forma
homogênea” (DUNKER et al., 2017, p.35).
Há, dentro da identidade de grupo, a propensão humana de aceitar
uma interpretação de um fato que corrobore sua identidade e sua ideologia
em grupo, isso ficou claro quando Jay Van Bavel, professor de psicologia e
ciência neural da Universidade de Nova York, observou que "democratas
tinham mais chances de lembrar George W. Bush como estando de férias
39
durante o furacão Katrina (ele não estava), enquanto os republicanos eram
mais propensos a se lembrar de ter visto Barack Obama apertando as mãos
do presidente do Irã (ele não fez isso)".
As preferências políticas muitas vezes são parte essencial
de como as pessoas constroem sua identidade – assim, uma
crítica ou ameaça a determinado partido ou ideologia pode
ser percebida, embora nem sempre de maneira consciente,
como um ataque pessoal. A gente vê isso acontecer o tempo
todo na internet. Nós ainda não temos todas as respostas
em relação à atividade cerebral (...) mas quando você tem
um compromisso realmente forte com um grupo ou crença e
obtém informações que contradizem o que sabe, você
constrói novas maneiras de pensar sobre essa informação
em vez de atualizar sua crença”. Em outras palavras, nós
tendemos a usar uma espécie de gambiarra cognitiva para
lidar com informações conflitantes com aquilo em que
acreditamos. (...) nossas estruturas cognitivas funcionam de
forma a tornar agradável pertencer a um grupo e, por outro
lado, tornam doloroso e assustador mudar as alianças (algo
que talvez precise ocorrer quando descobrimos novos fatos
que entram em conflito com nossas crenças centrais). Isso
nos permitiu formar grupos coesos e funcionar como
sociedade. Por isso, é provável que sempre tenhamos uma
tendência a abraçar e compartilhar evidências que reforcem
nossa visão de mundo e rejeitar tudo aquilo que a contradiz.
(PRADO, 2018, s/p.)
Verifica-se um número grande de fake news espalhadas em grupos
familiares ou de militantes porque as pessoas confundem a credibilidade da
proximidade familiar com a credibilidade de relato jornalístico. Em linhas
gerais, quando há algum grau de relacionamento coeso, o receptor confia na
mensagem por achar ser impossível que um parente ou parceiro de
militância minta ou tente manipular o pensamento entre os seus.
Essa dificuldade de dissociar a familiaridade da profundidade de
conhecimento é comum de se observar na caixa de comentários de posts de
notícias na internet. Também é ilustrada pelo efeito de Dunning-Krueger:
quando a ignorância sobre algum fato é tão ampla que a pessoa acredita
dominar uma área que mal conhece apenas pela noção de familiaridade que
tem com o fato (HANCOCK, 2017, s/p.)
Olhando para a psicologia de massas, não só a familiaridade como a
busca pelo reforço de opinião faz com que os membros de grupos
ideológicos tentem se mostrar mais envolvidos nas pautas discutidas, e
40
consequentemente legitimados pelo grupo, mantendo um processo de
retroalimentação.
Essa compulsão automática se torna tão mais forte quanto
maior for o número de pessoas em que se perceba
simultaneamente o mesmo afeto. Então a crítica do indivíduo
se cala e ele se deixa deslizar para dentro do mesmo afeto.
Mas, ao fazê-lo, eleva a excitação dos outros que agiram
sobre ele, e assim se intensifica a carga afetiva dos
indivíduos por meio da indução recíproca. (FREUD, 2013, p.
62)
"É uma sensação prazerosa para os participantes entregar-se dessa
maneira tão ilimitada a suas paixões e, enquanto isso, desaparecer na
massa, perder a sensação de sua delimitação individual" (FREUD, 2013, p.
63). É nesse ambiente em que a polarização de ideias ganha mais força e
alimenta a pós-verdade, distorcendo análises comprometidas com os fatos
em prol da melhor relação de militância, basta ver qual é o comentário mais
curtido nos posts políticos, geralmente pregando a eliminação de quem
pensa diferente.
2.1 AS BOLHAS SOCIAIS
Como já exposto, a pressão social é fator preponderante na
construção do pensamento humano, em bolhas sociais ou em grupos de
família, e muito tem a ver com o prazer da aceitação e do pertencimento.
Na possibilidade de se criarem grupos de interesse cuja
legitimidade reside mais na proximidade do que na
credibilidade de cada membro, atestar se determinada
informação é verdadeira ou não se torna menos importante
do que aderir a determinados posicionamentos que refletem
convicções e identidades. (MENDES, 2019, s/p.)
Em 1951, um estudo publicado por Salomon Asch (NERDOLOGIA,
2015, s/p.) procurava descobrir o efeito que o condicionamento de grupo tem
sobre a decisão das pessoas. Ao pedir para avaliarem qual das três linhas
horizontais apresentadas possuíam o mesmo comprimento de uma linha de
referência, ele notou que todos respondiam de forma correta, mas ao
introduzir atores que induziram ao erro na avaliação, um terço das pessoas
escolheram a opção errada, somente para não contrariar o grupo. Essa
pressão em torno de um consenso, a fim de definir uma opinião hegemônica,
41
é descrita também por Elisabeth Noelle-Neumann em sua teoria da espiral
do silêncio.
A teoria da espiral do silêncio repousa na suposição de que
a sociedade - e não apenas os grupos em que os membros
se conhecem - ameaça com o isolamento e a exclusão os
indivíduos que se desviam do consenso. Indivíduos, por
outro lado, têm um grande medo subconsciente de
isolamento, determinado provavelmente pela genética. O
medo do isolamento faz com que as pessoas tentem verificar
constantemente quais opiniões e modos de comportamento
são aprovados ou desaprovados em seu meio, e que
opiniões e formas de comportamento são aprovadas ou
reprovadas em seu meio, e quais opiniões e formas de
comportamento estão ganhando ou perdendo força.
(NOELLE-NEUMANN, 1995, p. 179-180)13
Quando se leva em conta o ambiente de rede social, as opiniões
reforçadas dentro das bolhas sociais tendem a assumir um aspecto mais
agressivo e ainda mais polarizado, tendo como propulsor os algoritmos que
estimulam o engajamento. Um estudo da Pew Research Center (2017, s/p.)
apontou que posts polêmicos de crítica partidária recebem em média três
vezes mais comentários e duas vezes mais compartilhamentos.
Os algoritmos sabem que tipo de conteúdo nos mantém
ligados nas plataformas e passam a priorizá-lo. Posts que
despertam reações emocionais, que dão vontade de
compartilhar, dar like, retuitar, vídeos que dão vontade de
comentar: esse é o tipo de conteúdo que prende a nossa
atenção e pode ser revertido em lucros com publicidade.
Quanto mais tempo passamos nas redes, quanto mais
clicamos, mas somos expostos a anúncios publicitários. E
não é por acaso que, nessa lógica em que o conteúdo com
apelo emocional é, normalmente, o que dá certo e retém
atenção, o algoritmo passe a levar nossas preferências ao
extremo. Até a radicalização. (DIAS, 2018, s/p.)
Ao invés do suposto esclarecimento na internet, a individualidade que
esse meio trouxe se somou ao fator desagregador do contexto urbano,
13"La teoria de la espiral del silencio se apoya en el supuesto de que la sociedade – y no
sólo los grupos en que los miembros se conocen mutuamente – amenaza con el aislamento
y la exclusión a los indivíduos que se desvian del consenso. Los individuos, por su parte,
tienen un miedo en gran medida subconsciente al aislamiento, probablemente determinado
geneticamente. Este miedo al aislamiento hace que la gente intente comprobar
constantemente qué opiniones y modos de comportamiento son aprobados o deabrobados
en su médio, y que opiniones y formas de comportamiento son aprobados o deaprovados en
su médio, y qué opiniones y formas de comportamiento están ganando o perdendo fuerza."
(tradução livre)
42
tornou-se comum o usuário exigir atenção, também contribuindo para abrigar
ideologias fomentadas não só no espetacular, como também no ódio.
A cidade é a matriz da verdade como história compartilhada,
da qual se pode dar testemunho de convivência comum. A
pós-verdade substitui essa experiência pelos condomínios e
compartimentalizações étnicas [também com] um ódio que,
em vez de marcar um afastamento e garantir que queremos
mesmo “nos livrar” daquela pessoa, funciona como um
apelo: “pelo amor de Deus, alguém note que eu estou aqui,
sofrendo no deserto!”. É um ódio baseado nesta legenda de
que ninguém nos escuta, ninguém está interessado em
nossas razões, ninguém “quer saber”. (DUNKER et al.,
2017, p. 27-34).
2.2 NARCISISMO IDEOLÓGICO E INVEJA
Em 2009, um estudo acompanhou as discussões no Twitter a respeito
do assassinato de um médico americano pró-aborto, George Tiller. Depois
de analisar 30 mil tweets relacionados, Sarita Yardi e Danah Boyd (2010, p.
316-327) observaram que os tweets e retweets de pessoas de mesma
opinião estavam se reforçando, e os ataques de pessoas de opinião
contrária dividiam os grupos ainda mais. Ao mesmo tempo, as pessoas
neutras ou sem posicionamento não se manifestaram, dando a impressão de
que a divisão binária das opiniões era a única opção.
É exageradamente otimista supor que haverá nas redes um
diálogo livre de indiferença, irritação e desprezo, ainda mais
diante do aumento dos chamados haters (pessoas que
destilam, em rede, todo ódio que acumulam em relação a
certas pautas de assuntos socialmente excludentes) e das
pessoas que se utilizam da rede para disseminar discurso de
ódio, segregação e opressão de grupos minoritários. (RAIS,
2018, p. 79).
Na internet, aparecer tornou-se urgente, como forma de capital. Essa
vontade está intrinsecamente ligada à sociedade do espetáculo, em um
mundo de simulação onde todos tentam provar para si e para os outros que
suas vidas valem ser seguidas. Para isso, a regra é parecer, muito mais do
que ser, em um processo de retroalimentação que estimula a busca da
aprovação em forma de Like. Em 2016 na cidade de Curitiba, um menino
chegou a forjar um ataque a bomba no Jardim Botânico, e justificou-se
dizendo que "queria ficar famoso" (G1 PR, 2016, s/p.).
43
Essa tendência de buscar aprovação pela fama produz duas reações
diretas: o narcisismo patológico, que nasce desse culto de imagem
exacerbada, e a consequente inveja, advinda do filtro de perfeição nos
usuários das redes sociais. Fugindo do isolamento de grupo e edificando-se
em torno de uma opinião consolidada por familiaridade, o narcisismo ganha
um fator epidêmico nas redes, promovendo a anulação da diferença. Como
em um espetáculo, as pessoas assumem papéis bons ou maus, atrelados à
ideologias generalizadas e compartimentadas em um só viés.
As ideologias são conjuntos de ideias prontas. "Podemos falar em
ideologias de partidos, do mesmo modo que podemos dizer que todas as
religiões possuem algo de ideológico justamente no elemento dogmático que
lhe é inerente" (TIBURI, 2019, p. 11). Sua composição é "um conjunto de
aparelhos privados ou estatais, voltados para construir um senso comum
sobre as políticas hegemônicas que são implementadas pelo aparelho
estatal" (FRANCO, 2018, p. 31).
Nessa ideologia, é como se tudo tomasse forma de uma caixa de
bombons (COSTA, 2015, s.p), onde não é possível segregar um doce sem
levar o pacote completo, cria-se a impossibilidade de desvincular um
argumento político específico da complexidade de uma corrente ideológica.
Há "uma verdade inflacionada de subjetividade, mas sem nenhum sujeito.
(...) É moralmente potente, mas que não produz transformações éticas
relevantes." (DUNKER et al., 2017, p. 18).
O narcisismo ideológico promove generalizações apressadas e
noções binárias de sociedade: quem é a favor da legalização do aborto é
classificado como de esquerda, quem defende o porte de armas é de direita,
e ele se retroalimenta, mesmo que com mentiras. Dependendo do viés de
quem o observa, a pessoa será classificada como boa ou má a depender da
ideologia atrelada aos seus argumentos, o pensamento toma a forma da
identidade da pessoa que o profere.
Esse efeito ganha proporções maiores na internet e foi observado no
Brasil durante as polarizações no impeachment da ex-presidente Dilma
Rousseff (PT). Coxinhas de um lado, com suas camisas amarelas a favor do
impeachment, explorando o estereótipo da elite classista, e Petralhas de
vermelho do outro, vistos como ladrões do assistencialismo petista. Primeiro,
44
amizades foram abaladas na web, mas logo "a tensão virtual passou para a
vida real, com relatos de agressões e atitudes hostis contra pessoas que
vestiam cores associadas a um ou outro grupo" (BUSCATO, 2016, s/p.).
Essa moral identifica grupo, classe e massa para engendrar
um tipo de relação duplamente indiferente. Para os de
dentro, eu não preciso escutar, porque sei o que eles vão
dizer, e, para os de fora escutar é desnecessário, porque,
afinal, eu já sei quem eles são. É importante lembrar que o
narcisismo em si não é uma patologia. [...] O problema
começa quando temos uma patologia do narcisismo, que
justamente me impede de exercer esta atitude reflexiva com
o outro, porque, ao assumir o ponto de vista do outro, eu
sinto que minha própria identidade está ameaçada.
(DUNKER et al., 2017, p. 37).
Quando se tem uma incapacidade de atitude reflexiva, a
incompreensão do outro se torna destrutiva, e a empatia dá lugar à inveja. "A
inveja aparece no momento em que ao invés de eu lutar pela efetivação do
meu próprio desejo, eu passo a destruir o poder, as potências e o desejo do
outro" (TIBURI, 2019, s/p.).
Essa tendência se aplica ao posicionamento radical de ideologias
entre os usuários, na medida que "o outro não me traz aquilo que eu quero,
não alimenta meu buraco essencial, meu narcisismo, esse outro então deve
ser destruído. O ódio nasce daí, ele está a serviço da inveja" (TIBURI, 2019,
s/p.). Desse ódio implica-se a mesma reação de isolamento entre os
ideologicamente alinhados em suas bolhas ideológicas, onde há um culto em
grupo que prega a estigmatização do diferente.
A inveja [...] impede que a ética como reflexão da ação,
como reflexão da subjetividade que pensa, sente e age, se
desenvolva. A inveja garante o moralismo e se desenvolve
nele. Nem simplesmente afeto, nem simplesmente postura, a
inveja é a posição na qual está em jogo a incapacidade do
reconhecimento do outro. Todas as deturpações,
preconceitos, desvalorizações, humilhações do campo do
aparecer relacionam-se ao seu movimento. (DUNKER et al.,
2017, p. 123)
Na patologia do narcisismo esconde-se a inveja e o ódio, mas também
a impossibilidade de aceitar que cada sujeito possui suas experiências
próprias, que moldam o seu próprio ponto de vista. É o chamado efeito
Rashomon. Essa falta de empatia produz uma indiferença e descompromisso
45
com a verdade numa clara afronta à diversidade e o pluralismo na sociedade
brasileira, valores tão caros em um Estado democrático tão multifacetado.
No alarmismo de posicionamentos a conivência se instala. Uns se
calam, muitos tomam posição para entrar em grupo, e tantos outros
estimulam radicalização para se legitimar. O pensamento de copiar e colar,
sem questionar a fonte da informação ou confronto de autoridade, se
consolida nos estímulos digitais de reafirmação. A verdadeira trajetória dos
fatos saí enfraquecida e a pós-verdade sai fortalecida, pelo que a filósofa
Márcia Tiburi definiu como uma escravização digital.
Falamos muito e pensamos pouco no que dizemos. Por um
lado, talvez estejamos pensando rápido demais, por outro,
talvez estejamos confiando demais nos pensamentos
prontos que vão nos servindo enquanto não encontramos
coisa melhor. A textualidade de nossa época serve como um
grande plano, uma tela infinita, onde uma colagem de
enunciados organiza-se como um palimpsesto. [...] Um
pensamento em copy-paste, como um “copia e cola”,
instaurou-se em nosso mundo. [...] Nas redes sociais,
ajudamos a sustentar esse senso por meio de um árduo
trabalho que em tudo parece dócil. A labuta diante dos
computadores envolve uma escravização sedutora. O
trabalho digital nas redes não é remunerado, causa vícios e
produz um tipo de devoto, uma espécie de escravo
voluntário. O escravo digital. (DUNKER et al., 2017, p. 115-
116)
46
3. A PÓS-VERDADE NO BRASIL
O embate entre narrativas teve espaço no Brasil do século passado,
estimulada por políticos. "Não há como datar a mentira inicial na política
brasileira, mas 1921 parece um bom ano para começar" (OTAVIO;
TARDÁGUILA, 2018, p.10). As cartas atribuídas falsamente a Artur
Bernardes sacudiram a República Velha ao atacar o ex-presidente marechal
Hermes da Fonseca, que presidia o clube militar.
Depois das mentiras da República do café-com-leite, foi a vez de
Vargas se valer do ‘Plano Cohen’, um suposto plano comunista para
derrubá-lo, mas que tinha como verdadeira intenção dar um pré-texto para a
centralização do poder do presidente gaúcho. Mais tarde, descobriu-se que o
Plano Cohen não passava da tradução de um artigo em francês feita pelo
então capitão Olímpio Mourão Filho para a Aliança Integralista Brasileira.
Com a ampla divulgação do Plano Cohen em 30 de
setembro de 1937, inclusive pela Hora do Brasil, coagida
pelo medo, a sociedade brasileira preparava-se para
conviver com o Estado Novo. Assim, de forma
surpreendente, apenas 24 horas depois de receber uma
simples nota do Ministério da Justiça, a Câmara dos
Deputados, por ampla maioria (2/3), concedeu o "estado de
guerra". Sabendo, inclusive, que as imunidades
parlamentares seriam suspensas. A partir de então, os
golpistas passaram, finalmente, a dominar sem qualquer
restrição o quadro político. (MEZZAROBA, 1992, p.2)
Mesmo no período ditatorial do Estado Novo (1937-1946), a batalha
de narrativas aconteceu impondo a sua versão dos fatos, inclusive
descambando para extremismos e mortes, sempre ligado ao teor emocional.
O principal exemplo foi entre imigrantes japoneses que chegaram a fundar
uma organização, a Shindo Renmei, em contestação aos veículos no Brasil
que declaravam que o Japão havia sido derrotado na Segunda Guerra
Mundial (1939-1945), e que o imperador Hirohito não era uma divindade
como lhes fora ensinado. O ideal de um Japão invencível não permitia que
os membros da Shindo Renmei aceitassem a derrota. O movimento
conquistou 80% da comunidade nipônica no Brasil, e, ao todo, 23 pessoas
foram mortas pela organização. As vítimas eram geralmente japoneses que
acreditavam na versão brasileira dos fatos, apelidados de "Corações Sujos",
(MORAIS, 2011, s/p.).
47
No contexto da Guerra Fria, a ditadura militar brasileira (1964-1985)
protagonizou o uso de mentiras. O suposto suicídio do jornalista e crítico do
regime, Vladimir Herzog, em 1975, e o atentado a bomba supostamente
comunista no Rio Centro, em 1981, foram exemplos disso. Em ambos os
casos, o uso de um episódio forjado para jogar a opinião pública contra a
oposição ou fortalecer sua posição política. Desde Vargas, diversas figuras
políticas brasileiras se valeram da narrativa importada do Macartismo que
sempre procurava no comunismo a causa de todas as mazelas.
Pode-se dizer que o medo do comunismo produziu pelo
menos dois golpes políticos no Brasil, ambos marcados por
manobras de informação. O primeiro foi o falso Plano Cohen,
que empurrou para dezembro de 1945 as eleições de 1938,
abrindo espaço para a instauração da ditadura do Estado
Novo. O segundo, em 1964, que levou o país a 21 anos de
regime militar, o maior período de exceção da história do
Brasil. Esses dois episódios se prestaram a trapaça idêntica:
cancelar eleições ou radicalizar uma ditadura. (OTÁVIO;
TARDÁGUILA, 2018, p. 15-16)
A manipulação de fatos não é exclusividade do autoritarismo
brasileiro, e já foi utilizado por presidentes na terceira República. O ex-
presidente Fernando Collor durante período de campanha em 1989 acusou
seu adversário político, Luiz Inácio Lula da Silva, de planejar confiscar a
poupança do povo. Depois de eleito, anunciou o seu plano econômico de
congelamento e confisco da poupança dos brasileiros. "Para sempre [o
Brasil] se referiria a esse momento como o dia em que Collor tomou a
poupança do povo" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 137).
No mesmo período, a televisão brasileira ganhava redes de canais
novos e se popularizava, sendo também importante para formar a opinião do
brasileiro em formato de show, ainda que também tivesse um papel relevante
na pedagogia e na saúde da população. Mesmo em 2017 a TV continuou
forte, o país consumiu um total de 6 horas e 23 minutos de televisão
diariamente, (REUTERS INSTITUTE FOR JOURNALISM, 2018, p. 116). Em
2019, pesquisa do Ideia Big data apontou que muita gente ainda se informa
na internet via celular, 32% com índice de credibilidade em 29%, mas a TV
lidera com 36% e é mais confiável para 30% dos entrevistados (MELLO,
2019, s/p.).
48
Durante décadas, o grande pedagogo do Brasil foi a
televisão. É claro que a TV, como toda instituição social é
contraditória. A mesma TV que é formadora de opinião, que
edita debates e exibe anúncios também foi responsável por
extinguir do Brasil a poliomielite. Se não fosse a XUXA
dizendo para as crianças tomarem a gotinha no sábado, com
todo o impacto que ela tinha como autoridade de
comunicação em meio ao público infantil, não teríamos
recebido o certificado de extinção da poliomielite em 1994
(CORTELLA; TÁS, 2017, p.73)
Em maio de 2001, o publicitário Duda Mendonça criou para o PT a
campanha "Xô Corrupção", em protesto ao arquivamento da CPI da
corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso. Em período de
campanha, o então candidato Lula declarou que "se ganharmos a eleição,
tenho certeza de que parte da corrupção irá desaparecer já no primeiro
semestre" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018, p. 180). Em 2009, quatro anos
depois da eclosão do escândalo do Mensalão que envolveu o Partido dos
Trabalhadores, o historiador Antônio de Almeida escreveu sobre a desilusão
dos brasileiros com as mentiras petistas, uma vez que frustraram as
expectativas dos que acreditaram na proposta de uma nova forma de se
fazer política no país. "[Os petistas] abandonaram uma das suas principais
bandeiras, que lhes renderam votos, credibilidade e capital político: o
compromisso partidário com a ética na política" (OTÁVIO; TARDÁGUILA,
2018, p. 187).
Após a conclusão do julgamento do mensalão, no final de 2012, o
STF concluiu que o PT havia comprado apoio político para o ex-presidente
Lula por meio de esquema orquestrado por Marcos Valério. Ao todo, 25
pessoas foram condenadas, incluindo os petistas José Dirceu, José Genoino
e Delúbio Soares. Um ano antes, denúncia da Folha de S. Paulo trazia a
informação de que semanas antes de assumir a chefia da Casa Civil do
governo Dilma, Antônio Palocci comprou um apartamento de luxo em São
Paulo no valor de R$6,6 milhões. Além disso, o petista havia multiplicado o
seu patrimônio em 20 vezes em um período de 4 anos (FOLHA, 2011, s/p.).
Depois da deflagração da Operação Lava Jato, em março do ano
eleitoral de 2014, o PT teve sua ética novamente confrontada, e o marketing
eleitoral do espetáculo, aperfeiçoado por João Santana e Mônica Moura,
precisou entrar em cena para salvar a campanha de reeleição de Dilma.
49
Enquanto a propaganda petista se valia de acusações contra a
adversária Marina Silva, apelidadas pelo futuro presidente do TSE, Luiz Fux,
de primeiras fake news, Dilma também reiterou "não tenho banqueiro me
apoiando e me sustentando" (OTÁVIO; TARDÁGUILA, 2018 p. 203) e "não
mexo em direitos trabalhistas nem que a vaca tussa" (TARDÁGUILA, 2018,
p. 211). Depois de eleita, Dilma escalou para a pasta econômica o diretor-
superintendente do Bradesco Asset Management, Joaquim Levy, apelidado
de "Mãos de Tesoura" por sua postura econômica austera. Levy não só
mexeu nos direitos trabalhistas como tornou mais rigorosas as regras para
receber seguro-desemprego, a pensão por morte e auxílio doença. Essa
mudança radical de posicionamento, cunhado em inglês como policy switch,
foi mais um estelionato eleitoral que contribuiu para a derrocada do petismo
e consequentemente do governo Dilma.
As insatisfações com as mentiras e o histórico de corrupção que
também marcou os governos petistas fez o Brasil se dividir, tendo início com
as jornadas de junho, se desenvolvendo durante o pleito de 2014 e
ganhando ainda mais musculatura nos anos seguintes, com o processo de
impeachment de Dilma.
Depois da abertura do processo contra Dilma em dezembro de 2015,
o ano seguinte acompanhou a agitação ideológica nos debates e ampliou a
desinformação (ARAGÃO, 2016, s/p.). Em São Paulo, a voz das ruas se
organizava, atingindo o maior ato político já registrado na capital paulista,
com 500 mil manifestantes na Avenida Paulista, superando até mesmo o
movimento pelas eleições democráticas durante a ditadura, as campanhas
por Diretas Já. (FOLHA DE S. PAULO, 2016, s/p.)
Os efeitos políticos, econômicos, sociais e psicológicos
desembocaram em um clima de pós-verdade intolerante aos moldes do
Brexit e do trumpismo, culminando nas eleições de 2018 marcadas pelas
fake news generalizadas no país. Observou-se isso em junho quando
apenas 16% dos brasileiros disseram acreditar na imprensa (TERENZI,
2019, s/p.) e o que se viu nos meses seguintes foram mentiras normalizadas
em políticos como Jair Bolsonaro e conspiracionistas como o escritor e ex-
jornalista Olavo de Carvalho.
50
A médio e a longo prazo isso cria uma desconfiança nas
instituições. Se a gente perde a credibilidade nos meios de
comunicação, que são um elemento importante na hora de
compor a nossa democracia pelo fato de a esfera pública ser
intermediada por esses meios, pelos quais os cidadãos se
informam, estará sendo erodida uma parte importante da
democracia. (BRITO, 2017, s/p.)
3.1 AS JORNADAS DE JUNHO
Em 2013, com a política governista em declínio de popularidade, a
insatisfação política no Brasil aguardava um estalo para incendiar-se nas
ruas. O país assistia aos impactos econômicos da crise de 2008 numa clara
piora no PIB e o meio de mandato de Dilma Rousseff já apresentava
considerável desgaste político após o julgamento do mensalão.
"Nas ruas, os primeiros protestos contra o aumento das tarifas de
ônibus em São Paulo alastrou a insatisfação pelas redes sociais"
(ABRANCHES, 2018, p. 286). A brutalidade policial nas ruas paulistanas do
governador tucano Geraldo Alckmin e episódios de violência no estádio do
Maracanã, no contexto das vaias à presidente Dilma na Copa das
Confederações, provocaram manifestações maiores. Em São Paulo, o
número de pessoas gritando que o povo havia acordado saltava de 6 mil, no
dia 13, para 65 mil, no dia 17.
Os Black Blocs, grupos mascarados que atacavam patrimônios nas
ruas durante as manifestações, surgem nesse contexto, anunciando uma
tendência comum de radicalização e violência como "sintoma de um país
que asfixia no seu descrédito absoluto do Poder Público" (SOLANO;
MANSO; NOVAES, 2014, p. 23).
A pauta difusa contra a inflação, aumento das tarifas, corrupção e
tentativas de cercear o poder de investigação do MP com os gastos da Copa
tomavam o vocabulário dos brasileiros nas redes e cada vez mais no dia-dia.
"O déficit público deixado por Dilma foi quase todo produzido para beneficiar
setores parasitários do capital. Para os ricos" (ABRANCHES, 2018, p. 332).
A insatisfação com tudo o que estava ali, ligada ao sentimento de
desconexão com a classe política começava a alimentar o despertar das
militâncias online. Somou-se a isso a rápida popularização dos smartphones
no país e as consequentes expansões das bolhas sociais online que
contribuíram para a rápida organização de protestos e debate de pautas. Em
51
2013 o Brasil vendeu, pela primeira vez, mais smartphones do que celulares
tradicionais, alta de 123% (REUTERS, 2014, s/p.). Os smartphones
trouxeram aplicativos que facilitaram a comunicação direta e popularizaram
as redes sociais, como é o caso do app de troca de mensagens instantâneas
protegida por criptografia de ponta-a-ponta, o WhatsApp. Este já derrubava
concorrentes como o chat de mensagens do Facebook (G1, 2013, s/p.), em
2015 o app já era o 4º maior aplicativo da internet móvel do Brasil (GOMES,
2015, s/p.), no ano seguinte 89% dos brasileiros já tinham acesso ao
WhatsApp (CANAL TECH, 2016, s/p.). A rápida expansão da internet e de
aplicativos de mídias sociais nos smartphones dos brasileiros contribuiu para
a melhor relação de militância e convocação de protestos.
Durante as principais manifestações políticas, os brasileiros foram
avaliados como o povo que mais preferia opiniões em notícias de política
(REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF JOURNALISM, 2013, s/p.), o
que alimentou ideologias e polarizações. A rápida e incontrolável
ideologização do debate começou a marcar a visão política no senso comum
e seria observado de forma assídua nos anos seguintes. Não por acaso o
ano eleitoral de 2014 foi o marco da contraposição do PT com o PSDB, que
crescia na vida analógica e digital retroalimentando-se com fake news de
ambos os lados. A polarização aumentava ainda mais, bem como as
narrativas com a militância de cada lado do espectro político, alimentada nas
redes e na TV. "No enfrentamento, ganhavam resiliência contra os ataques
recíprocos. O marketing eleitoral agressivo ajudou" (ABRANCHES, 2018,
p.292). Dilma foi eleita com o menor percentual da terceira República. A
oposição se fortaleceu com a Lava Jato, e não demoraria para que o castelo
de publicidade petista ruísse.
Essa reversão de expectativas conseguida a golpes de
publicidade contribuiu para reeleger Dilma, mas promoveu
rápido divórcio com a opinião pública. A criação de falsas
esperanças alimenta a frustração e a decepção com a
pessoa eleita, e corrói rapidamente a popularidade
conquistada. (ABRANCHES, 2018, p. 292)
Depois das prisões de diretores e presidentes da Petrobras, fato
inédito na história do país, a conta veio salgada para a classe política: os
indicadores econômicos estavam todos em deterioração no final de 2014.
52
Dilma começou o mandato sobre forte insatisfação nas redes, alimentando
paixões de todos os espectros políticos. O ódio alimentava o extremismo de
um país que em 2010 teve o maior crescimento do PIB desde 1986 (SPITZ,
2011, s/p.): ex-petistas e opositores sentiram-se traídos pelo lulopetismo e
suas promessas, a corrupção política que eles acompanhavam no noticiário
diariamente, que desviou bilhões do país, era vista como um fruto da falta de
ética e das mentiras petistas.
Reportagens em jornais e redes de televisão, processos
judiciais, investigações policiais e boatos gerados na internet
retroalimentaram-se, gerando uma nuvem de informações
verdadeiras, duvidosas ou indubitavelmente falsas que
estigmatizava o PT – e, por consequência, toda a esquerda
– como reencarnação da desonestidade e do mal.
(SOLANO, 2018, p. 25)
O momento era propício para críticos do PT e de Dilma e o que ela
representava em termos de alinhamento com a esquerda. Virou rotina ver o
Jornal Nacional cobrir delações, manifestações e panelaços sobre os gritos
de "o gigante acordou". Surgiam grupos idealizados por jovens que sabiam
usar as vantagens da rede social, ao contrário da então classe política
desconectada, foi o exemplo do Movimento Brasil Livre, ou MBL (MARTIN,
2014, s/p.).
Ganhava voz também, a intolerância de teóricos conspiracionistas que
se valiam de fake news e da indignação popular contra os políticos para
alimentar o extremismo. E não somente a opinião pública se polarizava no
país, os jornalistas perdiam credibilidade em meio a crises na imprensa que
tinham escala global, "estamos nos aproximando do padrão EUA de
polarização da mídia, e isso é péssima notícia. Ficamos com sites e
colunistas pregando para convertidos e distorcendo os fatos". (MELO, 2014,
s/p.)
3.2 GRITO, ORGULHO E PRECONCEITO
Seguindo a tendência mundial de credibilidade em baixa da imprensa,
a queda da ordem institucional e sua base de credibilidade deu ao
extremismo uma nova voz, e ideias como separatismos e intervenção militar
não eram mais vistas como indesejáveis, eram agora nova expressão da
insatisfação popular. Entre essa nova camada ideológica de insatisfação, um
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ideólogo começou a ficar popular com seu livro "o mínimo que você precisa
saber para não ser um idiota", do autor Olavo de Carvalho, que se apresenta
como um filósofo. Em 2013, a obra chegou às prateleiras das livrarias "ao
mesmo tempo em que o pessoal de verde e amarelo vagarosamente
comecava a aparecer nas ruas e a bater panelas". (BRIZZI; PONTIN, 2018,
s/p.)
De repente, a frase “Olavo tem razão” aparecia em
protestos. Figuras em preto e branco com o Olavão fumando
eram carregadas por jovens que agora repetiam
incessantemente uma ladainha sobre Foro de São Paulo,
doutrinação gayzista-comunista e a presença de cloro na
água para emascular nossos jovens. O livro teve mais de
300 mil cópias vendidas; mais de 12 mil alunos passaram
pelas fileiras de seus cursos. (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.)
Não demoraria para que as teorias de Olavo de Carvalho
florescessem. O escritor, exilado na Virgínia, nos EUA, já era um voraz
crítico dos governos petistas e militava desde o começo do século na
internet.
É uma figura que ainda acha que vive na Guerra Fria,
alimentando o medo de um comunismo que nem existe mais
apenas para se promover como herói do
ultraconservadorismo cristão contra uma inventada
revolução satânica. [...] Ele se diz o dono de todas as
verdades, e aí os seguidores se acham os desbravadores da
verdade. (VILICIC, 2019, p. 17)
Olavo pregava a busca de um saber autodidata, ensinando filosofia
sem ter "se formado academicamente nesse campo, nem em qualquer outro.
Conta que aprendeu sobre o tema por conta própria ao longo de vários anos,
longe das "ideologias" que cerceiam o ensino universitário" (FELLET, 2016,
s/p.). É importante frisar que Olavo não criou as conspirações brasileiras,
mas as aperfeiçoou no âmbito digital, usando o emocional à favor de seus
ideais que promoviam a extrema-direita em um período de forte
descredibilidade da imprensa. Anos depois, declarava "eu quis que uma
direita existisse, o que não quer dizer que eu pertença a ela. Fui o parteiro
dela, mas o parteiro não nasce com o bebê" (FELLET, 2016, s/p.).
Olavo ofereceu uma saída com uma linguagem sofisticada o
suficiente para que o seu alvo não se sentisse burro, mas
engraçada o suficiente para que ele se sentisse legal, e
ofereceu isso nos termos da internet. Olavo criou fóruns de
discussão, fazia crônicas semanais temáticas junto com
54
apostilas de orientação intelectual falando dos clássicos
gregos em uma linguagem acessível. Imaginem a surpresa
de seus estudantes. Este cara que está nos Estados Unidos
e manja de filosofia, misticismo, política e fala um monte de
palavrão, esse cara responde minhas mensagens!, fala
comigo como se eu fosse uma pessoa normal!, diz que eu
sou inteligente! (BRIZZI; PONTIN, 2018, s/p.)
Entre outras declarações em seu Twitter, publicou, "dizer que um gay
não pode ser conservador é EXATAMENTE o mesmo que dizer que um
pecador não pode ser cristão" (CARVALHO, 2017, s/p.); "vacinas matam ou
endoidam. Nunca dê a um filho seu" (CARVALHO, 2016, s/p.); "eu fumo há
meio século, dois ou três maços por dia, e o meu pulmão está INTACTO,
graças à Deus" (CARVALHO, 2016, s/p.) e "os jornalistas são os maiores
inimigos do povo, seja nos EUA ou no Brasil" (CARVALHO, 2016, s/p.). A
ideologia olavista possuía a carga de insatisfação que ecoava junto ao
emocional dos brasileiros, e rapidamente produziu uma nova crença na
oposição.
A expressão nacional deste tipo de pós-verdade está ligada
à emergência de um novo irracionalismo brasileiro – com
sua disposição predatória contra professores, estudantes,
artistas aposentados e demais “parasitas” que não sabem o
“valor do trabalho” e que não aceitam as “verdades óbvias” –
presume uma geografia simples e bem dividida entre ciência
e religião, ordem e baderna, fatos e opiniões. A “pós-
verdade” não é, portanto, o regime das opiniões
desenfreadas e do relativismo niilista, tal como se anunciava
no pós-modernismo liberal. Sua estrutura cognitiva,
propriamente regressiva, depende do mito da unidade da
ciência, da força de sua autoridade normativa, justamente
para que ela possa se aliar com as piores formas de
metafísica. Por isso, Lacan dizia que, “quando a ciência se
aliar com a religião, aí sim, encontraremos o pior” (DUNKER
et al., 2017, p. 39)
Para muitos brasileiros das mais variadas classes sociais, a desilusão
abriu espaço para conveniência. Agora os pensamentos de Olavo eram
dogmáticos, como definiu o responsável por cunhar o termo "petralha",
Reinaldo Azevedo, Olavo se tornou o "Aiatolavo" (AZEVEDO, 2017, s/p.). Os
seus partidários, chamados por seu próprio guru de olavetes, se
identificavam com a narrativa que ele oferecia: em meio a ofensas e ódio, um
conjunto de conspirações pautadas no emocional, de forma acessível e
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pseudo-intelectual, um verdadeiro "entretenimento disruptivo como distração
da ciência laboriosa" (D'ANCONA, 2018, p. 47).
Um mecanismo de inclusão dentro de uma espécie de alta
cultura alternativa, algo que é, ao mesmo tempo, uma
contracultura e uma comunidade onde transitam pessoas
que acreditam ter acesso a um caminho alternativo.
[Carvalho entendeu] que existe um movimento carente de
uma linguagem que possa criar aderência rápida, que possa
capturar a imaginação das pessoas sem grandes
complicações e que, sobretudo, não ofenda as pessoas as
chamando de burras – ou, para ser mais preciso, dizendo a
todos que são burros, menos a seus seguidores. (BRIZZI;
PONTIN, 2018, s/p.)
Além das estratégias discursivas do olavismo, muitos brasileiros se
valiam da visão de um Estado ainda cunhado no período da ditadura para
criminalizar partidos e instituições. Passada adiante nos tempos de FHC,
Lula e Dilma, era a narrativa do mercado virtuoso e do Estado corrupto e
ineficiente (DE SOUZA, 2018). Agora, ela surgia liderada por manifestantes,
representados pelo empoderamento em formato de gritos por ordem contra o
Estado preso em seu vício de corrupção e imoralidade, apoiados pelo
establishment político do PSDB e do MDB.
O discurso costuma apresentar o reforço da família
tradicional como compensação para a demissão do Estado
das tarefas de proteção social – Estado que é o inimigo
comum, seja por regular relações econômicas, seja por
reduzir a autoridade patriarcal ao determinar a proteção aos
direitos dos outros integrantes do núcleo familiar (SOLANO,
2018, p. 20)
Na esquerda e em movimentos de minorias representadas, Olavo
apenas tratou de aplaudir a cultura quando ela convinha à sua visão de
mundo. Em seu livro, exaltou "artistas negros brasileiros que entendiam que
suas remotas origens africanas tinham sido neutralizadas pela absorção na
cultura ocidental" e que não ficavam "choramingando coletivamente as
saudades de culturas tribais extintas" (FELLET, 2018, s/p.). Carvalho
exaltava a família e valorizava os preceitos de civilização ocidental, valendo-
se de uma releitura do globalismo em Bannon e as supostas guerras
culturais do pensador italiano Antonio Gramsci.
Há um caminho, em particular, de fusão do anticomunismo
com o reacionarismo moral, que passa por uma leitura
fantasiosa da obra de Antonio Gramsci e recebe o nome de
56
“marxismo cultural”. (...) Gramsci é apresentado como
alguém que bolou um “plano infalível” para a vitória do
comunismo. (...) um passo fundamental para a derrubada do
capitalismo e da “civilização ocidental” seria a dissolução da
moral sexual convencional e da estrutura familiar tradicional.
Afinal, “a família é a cellula mater da sociedade”; se
destruída, faz todo o edifício romper. (...) [Para] Olavo de
carvalho, a estratégia gramsciana é “apagar da mentalidade
popular e sobretudo do fundo inconsciente do senso comum,
toda a herança moral e cultural da humanidade” (SOLANO,
2018, p. 22)
A busca por ordem não se deu somente no fortalecimento da
identidade branca, que conferiu à pós-verdade de Trump uma grande fama,
achou voz em torno de uma coesão pela família tradicional conservadora,
apontando bodes expiatórios para a crise moral e de ordem no país, usando
fake news misturadas a outros preconceitos como a visibilidade LGBTQI+
cada vez mais presente em produções culturais e nas instituições (KER,
2018, s/p.).
Para o conservador saliente, qualquer indivíduo tachado de
vagabundo incluindo o menor de idade, perde todos os seus
direitos no momento em que opta pela via do crime. Ele deve
ser encarcerado ou mesmo morto. Aqueles que protegem o
“cidadão de bem”, portanto, são vistos como heróis dessa
sociedade. [...] Aqueles que defendem os direitos humanos
dos bandidos são os mesmos que propagam uma educação
frouxa e promíscua que retira a inocência das crianças e as
tornam vulneráveis a pedófilos. Esses, chamados de
esquerdopatas, são os inimigos. (SOLANO, 2018, p.89)
Com os boatos de um possível impeachment circulando entre
imprensa e a timeline dos brasileiros, o ano de 2015 manteve o despertar
político no país, sendo quase impossível não ouvir alguém falar de política
ou mesmo não se deparar com os famosos "textões" (CIRNE, 2016, s/p.) nas
redes sociais. Também foi o ano da Primavera das Mulheres (ODARA, 2016,
s/p.), onde o feminismo desabrochou de forma inédita no Brasil. Apesar das
manifestações democráticas, as instituições não iam bem, e no fim do ano "o
mandato do presidente da Câmara estava por um fio. O da presidente da
República também. O do presidente do Senado, sobre risco iminente."
(ABRANCHES, 2018, p. 306).
No grito de insatisfação, comum entre todos os brasileiros que
buscavam os seu lado dos fatos, estava a busca para explicar a crise por
57
meio de rótulos e generalizações, algo que começou a se mostrar uma
tendência inevitável e importada dos EUA.
No Brasil, temos visto o crescimento de um discurso que não
leva a um debate significativo, porque, em vez de se
concentrar nos problemas reais com o governo, prefere
exclamar histericamente que tudo é, ao mesmo tempo,
comunista, nazista e anarquista; na melhor das hipóteses,
isso é pouco construtivo; na pior, é perigoso. (MELLO,
2014,s/p.)
Em meio a votação da abertura do processo de impeachment de
Dilma, no Congresso, um dos discursos que mais viralizou na internet foi o
de um deputado do baixo clero e saudosista da ditadura, que na ocasião
elogiava "o único militar brasileiro declarado torturador pela Justiça" (EXTRA,
2016, s/p.), o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Jair Bolsonaro apareceu
ali como o antipetista mais antipetista, atiçando e legitimando o extremismo
sobre o cerne da liberdade de expressão e conexão digital. Em meio ao caos
institucional, o Brasil começava a abraçar o grito de ordem pelo de ódio.
Ainda que começasse a chamar a atenção ali, o capitão reformado começou
ainda era um coadjuvante político perto de figuras políticas de oposição mais
relevantes, como Aécio Neves e Michel Temer, e o grande aparato eleitoral
do PSDB e MDB. Dilma foi oficialmente afastada do cargo em 31 de agosto
de 2016, mas a crise e a pós-verdade no Brasil estavam longe de acabar.
Apesar da popularidade alta, aos poucos os que confiavam na oposição
democrática à corrupção, simbolizada pela gestão Dilma, iriam entender
porque o ex-presidente da Câmara declarou em seu voto "Que Deus tenha
misericórdia dessa nação" (FOLHA DE S. PAULO, 2016, s/p.). Os líderes da
nova situação, peemedebistas e tucanos, logo viriam a ser atingidos pela
operação Lava Jato.
O gabinete [de Temer] era uma galeria de investigados e
réus em processos de corrupção política e eleitoral. Alguns
seriam presos dali a pouco tempo, como Geddel Vieira Lima
e Henrique Eduardo Alves, ou afastados do governo, como
Romero Jucá. Gravações feitas pelo ex-presidente da
Transpetro, Sérgio Machado, implicavam diversos ministros
e políticos da proximidade de Michel Temer. Elas relatavam
articulações para barrar as investigações de corrupção que
ameaçavam a cúpula do PMDB e várias de suas oligarquias.
(ABRANCHES, 2018, p. 316)
58
Em 2017 foram flagrados políticos em conversas particulares nada
republicanas, nos casos de delação da JBS que expuseram o presidente do
PSDB, Aécio Neves, e o presidente da República, Michel Temer. Temer foi
formalmente acusado duas vezes por crime de corrupção pelo Procurador
Geral da República, Rodrigo Janot, e se manteve no poder pela coalizão,
negociando cargos e emendas parlamentares bilionárias (JUNGBLUT, 2017,
s/p.), o que expôs ainda mais as vulnerabilidades e o clientelismo dentro do
sistema político.
A classe política se esfacelava conforme seus principais
representantes eram presos, caso de um dos grandes opositores de Dilma, e
que fora aplaudido pelos primeiros manifestantes da Lava Jato, o ex-
presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de ter contas na Suíça.
Também se aplicou a aliados de petistas, caso do ex-governador do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral. No total, 4 ex-presidentes foram denunciados, entre
eles Lula, o símbolo principal da decepção política para muitos brasileiros.
Em 2010 o ex-metalúrgico bateu recorde de aprovação de governo no Ibope,
com 87%, mas em 2018 foi preso por corrupção e lavagem de dinheiro.
A sensação que se instalava era de desconfiança institucional cada
vez maior, e o abismo entre população e os poderes do Estado se
evidenciava nos comentários cada vez mais agressivos e polarizados nas
redes, a criminalização geral da política passou a ser vista como a vacina
contra os governantes corruptos. Nesse período, o Brasil foi considerado o
segundo povo com a pior noção da própria realidade.
Tudo isso foi resultante de um forte sentimento antipolítica
potencializado pelo protagonismo inédito das redes sociais,
a partir da corrupção endêmica, do impeachment e dos
efeitos da crise econômica. O sinal já estava presente nas
jornadas de rua de 2013. As lideranças tradicionais
operaram com software obsoleto. “Abaixo a velha política”,
“Contra os mesmos políticos de sempre”, “não reeleja
ninguém” foram os lemas vitoriosos. (PESTANA, 2019, s/p.)
Os agentes de desinformação se aproveitaram da situação para
instaurar diversos debates gritando por ordem e se valendo de fake news.
Em 2017, depois que a Agência de fact-checking Truco checou as
declarações do canal no Youtube do Movimento Brasil Livre sobre o regime
semiaberto (FIGUEIREDO; MORAES, 2017, s/p.), o MBL acusou a Agência
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e o movimento de fact-checking de ser formado por militantes de extrema-
esquerda (BARBOSA, 2017, s/p.).
A estratégia de associar o fact-checking e a mídia como controladas
pelo braço cultural corrupto da esquerda foi tão bem empregada nessa
época, que em 2018 voltaria com muito mais força no pleito. O medo do
comunismo voltava ao debate político brasileiro repaginado e alimentando a
pós-verdade nas redes, criado da contraposição entre o lado bom,
representado por "cidadão de bem" versus as instituições controladas pelo
"lulopetismo" e sua suposta expressão cultural controladora, incluindo
imprensa, movimentos sociais, o Congresso e o poder Judiciário:
O PT veio a ser apresentado como a encarnação do
comunismo no Brasil, gerando uma notável sobreposição
entre anticomunismo e antipetismo. (...) Movimentos sociais e
sindicatos são corruptos, violentos e têm como plano oculto
a implantação do comunismo no Brasil: o comunismo é um
risco ainda maior do que a corrupção, pois ameaça a
liberdade do “cidadão de bem”; foi para combater essa
ameaça que o Exército foi forçado a intervir em 1964;
diferentemente dos dias atuais, naquele tempo havia ordem,
tanto pública quanto privada. Essa visão de mundo é
autoevidente para todos, mas a mídia, mentirosa e
manipuladora, impede que a população a enxergue; por isso
é importante procurar e propagar a verdade nas redes
sociais. (SOLANO, 2018, p. 22-90)
Usando de várias estratégias de Trump e Bannon, como
criminalização da oposição e a busca por bodes expiatórios para explicar a
crise institucional, os agentes de desinformação no Brasil logo cresceram e
se profissionalizaram com técnicas para angariar o público pelo emocional,
valendo-se de narrativas dogmáticas, agressivas e mentirosas. No Youtube
por exemplo, um dos pupilos olavetes chamado Nando Moura, viria a dizer
para seus quase 3 milhões de seguidores que o ditador comunista Josef
Stalin havia recebido duas vezes o prêmio Nobel da Paz (CATRACA LIVRE,
2019, s/p.), Moura também foi um dos youtubers mencionados por Jair
Bolsonaro como "excelentes opções de informação" (FILHO, 2018, s/p.).
Em ranking apresentado pela edição 1034 da Revista Época
(BORGES, 2018, p. 26) os dois sites de boatos mais populares do país são
Gospel Prime e Virgulistas, que respectivamente possuem 2,79 milhões e
1,05 milhões de visitantes mensais, em comum as entidades religiosas ou
60
políticas também investigadas, como o exemplo do ex-senador Magno Malta,
antes ligado ao PT mas que após 2013 buscou se afastar do partido dos
trabalhadores e culpá-lo integralmente por toda corrupção e desmoralização
do país. Já o MBL, que conquistou seu público no Facebook com mais de 3
milhões de seguidores, discursava em fake news com chamadas
espalhafatosas como “Após cinco anos, Globo cancela o ultraesquerdista
Esquenta” (MBL, 2016, s/p.) e uma tradução de uma notícia fraudulenta do
site de Steve Bannon, o Breitbart News, “Maior parte dos 8 mais ricos do
mundo é de esquerda. Nenhum é de direita" (TOJA, 2017, s/p.). A dinâmica
sensacionalista online se replicava sem parar em sites, redes sociais e
vídeos conforme os agentes de desinformação buscavam uma conexão mais
direta com seus fiéis.
Existe um incentivo para os produtores fazerem vídeos cada
vez mais extremos e bizarros para prender a audiência o
máximo possível. Isso explica um pouco a obsessão da
internet pela banheira de Nutella, e também ajuda a
entender como se elegeram tantos youtubers
interconectados nas últimas eleições. Como conteúdo radical
dá dinheiro, por conta dos anúncios, extremistas usam
também outras ferramentas para incentivar a formação de
bolhas e atrair cada vez mais gente. No Brasil, donos de
canais de conteúdo extremo e conspiratório, como a Joice
Hasselmann, por exemplo, costumam divulgar seu número
do WhatsApp, viciando as pessoas em seus conteúdos com
base na exploração dessa relação de proximidade ou
intimidade. (CÓRDOVA, 2019, s/p.)
O MBL voltaria ainda à cena como protagonista em outro episódio de
fake news ao atacar a ex-vereadora defensora dos direitos humanos
assassinada em 2018, Marielle Franco, se valendo da suposta autoridade
factual de um deputado e uma desembargadora para embasar suas injúrias.
Num mecanismo típico de como funcionam as engrenagens
das fake news, o MBL usou a declaração assumidamente
sem embasamento da desembargadora em uma postagem
em seu site. O grupo publicou na página do Facebook uma
matéria titulada: "Desembargadora quebra narrativa do
PSOL e diz que Marielle se envolvia com bandidos e é
'cadáver comum' ". Na chamada o MBL ressaltou: "Isso é
complicado. Bem complicado... ". Até as 17h deste sábado
(17), o post do movimento já tinha mais de 38 mil curtidas e
28 mil compartilhamentos. (MENDONÇA, 2018, s/p.)
Depois de tantos episódios de desinformação, próximo do pleito, o
Facebook removeu 196 páginas e 87 perfis pessoais ligados ao MBL,
61
classificado como uma rede que “escondia das pessoas a natureza e a
origem de seu conteúdo com o propósito de gerar divisão e espalhar
desinformação” (HAYNES, 2018, s/p.).
O vácuo que a Lava Jato deixou na classe política e em suas
lideranças criou novos heróis, mitos e inimigos. Nomes como Joaquim
Barbosa e Luciano Huck ganharam proeminência na política nesse período,
sendo ofuscado somente pelo grito de intolerância, já bem comum em todos
os espectros ideologizados. Depois do impeachment, os quase 30 anos de
vida pública de Jair Bolsonaro começavam a migrar do ostracismo para o
protagonismo, conforme a elite política ia se degradando frente a opinião
pública, e a comunicação via internet estabelecia uma relação única com o
eleitorado pela autoverdade14.
O uso das redes sociais, a utilização de vídeos curtos e
apelativos, o meme como ferramenta de comunicação, a
figura heroica e juvenil do ‘mito ’Bolsonaro, falas irreverentes
e até ridículas, falas fortes, destrutivas, contra todos, são
aspectos que atraem os jovens. Se, nos anos 70, ser rebelde
era ser de esquerda, agora, para muitos destes jovens, é
votar nesta nova direita que se apresenta de uma forma
cool, disfarçando seu discurso de ódio em formas de memes
e de vídeos divertidos: O Bolsomito é divertido, o resto dos
políticos não”. (BRUM, 2018, s/p.)
Após a eleição de Donald Trump em 2016, o então deputado federal
Jair Messias Bolsonaro comemorou a vitória do republicano via Twitter
"Parabéns ao povo dos EUA pela eleição d @realDonaldTrump .Vence
aquele q lutou contra "tudo e todos". Em 2018 será o Brasil no mesmo
caminho" (BOLSONARO, 2016, s/p.). O alinhamento do capitão reformado
ao discurso trumpista, no entanto, não começou naquele ano. A herança do
anti-petismo mais radical ligado a Olavo de Carvalho sedimentou a ideologia
bolsonarista a ponto de no início do período de pré-campanha, um dos filhos
de Bolsonaro, Eduardo, se encontrar com Steve Bannon nos EUA,
posteriormente nomeado por ele como líder sul-americano de seu grupo
14 Segundo Eliane Brum (2018, s/p.), a autoverdade pode ser entendida como a
valorização de uma verdade pessoal autoproclamada, "uma verdade do indivíduo,
determinada pelo 'dizer tudo' da internet. Expressa nas redes sociais pela palavra
“lacrou”.
62
político conservador, The Movement. Eduardo ainda intermediou encontro
posterior de Bannon com Olavo de Carvalho.
63
4. JORNALISMO EM ERA DE PÓS-VERDADE
O jornalismo que tentou acompanhar a dinâmica online, produziu
certos efeitos e vícios dentro da profissão, que no fundo ajudaram a criar
ambiente favorável aos escravos digitais, informados exclusivamente pelas
chamadas sensacionalistas das matérias nas redes sociais, "entre a
produtividade e o consumismo diante das telas que administram o desejo.
Inertes, no trabalho alienado de nossos membros adoecidos por esforços
repetitivos, já não contemplamos o mundo" (TIBURI, 2017, s/p.).
Estes, seja por falta de tempo ou de interesse frente a outros
conteúdos, não leem os textos que compartilham, se valendo somente dos
títulos carregados de teor emocional para reafirmar suas ideologias e
reforçando o conspiracionismo. Em um estudo comportamental (SCHWARZ
et al., 1991, p.195-202), pesquisadores alemães descobriram que a
percepção da falta de argumentos faz as pessoas notarem que não têm
tanta razão naquilo que defendem quando são submetidas a listar os motivos
de suas posições.
Esse teste simples poderia ser aplicado à realidade na web, em 2019,
pesquisa do Ideia Big Data mostrou que 42% dos eleitores não concordaram
nem discordaram com a afirmação “eu compartilhei fake news de conteúdo
político durante a campanha eleitoral de 2018” (MELLO, 2019, s/p.),
mostrando que no meio de tanta mentira, muitos não têm certeza do grau de
credibilidade do que compartilham. Outro estudo, feito em 2016 pela
Universidade Columbia e pelo Instituto Nacional Francês analisou 3 milhões
de tweets e concluiu que de cada 10 pessoas que compartilhavam links no
Twitter, 6 o fizeram sem nunca ter lido a matéria que passavam adiante,
apenas confiando na informação da chamada do texto (LEONARDI, 2016,
s/p.)
No feed das redes sociais onde, por exemplo, 7 em cada 10
brasileiros se informam (ANDRION, 2019, s/p.), o que se observa são várias
memórias desconexas, em estado de eterno presente, com saberes inertes,
desconectados e inconsequentes entre si sem a possibilidade de ordená-los
em uma interpretação coerente.
Cada vez mais lemos a mensagem que o outro nos envia em
pacotes de informação, compostos por imagens e textos,
64
que se apresentam como um “todo de uma vez”. Isso
degrada a narrativa de viagem a um percurso sem memória.
A resposta antecipada para uma determinada imagem
coordena nossos códigos de comunicação e de produção de
desejo, de tal forma que é preciso rapidamente acolher ou
descartar, inibir ou estimular o progresso da comunicação
com o outro. É o que alguns teóricos da linguagem chamam
de cultura do connect e cut, na qual há igual facilidade de
acesso e de desligamento no contato com o outro.
(DUNKER et al., 2017, p. 28-30)
Além da obra jornalística dentro da mídia tradicional perder
autenticidade pela reprodução em formato de indústria cultural, o jornalismo
se viu preso na lógica publicitária, precisando cada vez mais tentar ser
impressionante frente ao conteúdo online.
O ecossistema de publicidade nas mídias sociais depende
da disseminação de conteúdo. Quanto mais atraente é o
conteúdo, mais valor ele cria e mais receita em publicidade
capta. Por isso, em certo sentido, o modelo de negócio de
publicidade digitais atuais incentivam a propagação de
notícias falsas - porque, como vimos, a informação
enganosa se propaga mais rápido, vai mais longe, mais
fundo e se difunde mais generalizadamente que as notícias
verdadeiras. (ARAL, 2018, p. 34)
Concorrendo com o apelo emotivo e massivo das conspirações, o
jornalismo online passou a usar outras estratégias, como as chamadas cada
vez mais sensacionalistas e que se valiam de elementos emocionais para
estimular o clique, as "chamadas caça-cliques", ou click-baits (CAMINADA,
2015, s/p.).
Além de frustrar os leitores por prometer uma informação não
entregue conforme a expectativa, muita desinformação pode embarcar nos
click-baits, como provou um site de sensacionalismo científico ao publicar um
texto chamado “70% dos usuários do Facebook só lêem a manchete de
notícias científicas antes de comentar“ (LEONARDI, 2016, s/p). O texto
possuía parágrafos inteiros em lorem ipsum, texto sem sentido usado para
preencher páginas em teste. Mesmo assim, a matéria foi compartilhada por
46 mil pessoas.
65
4.1 FACT-CHECKING E NOVAS PRÁTICAS
Era de se esperar que a resposta a tanta desinformação no ambiente
jornalístico e político fosse surgir. Em 1991, um jornalista estadunidense,
Brooks Jackson, fundou a “Ad Police”, a primeira equipe direcionada a
checar propaganda eleitoral, mais tarde viriam a ser batizadas como
Agências de Fact-cheking. A missão inicial da Ad Police era investigar o que
o confronto eleitoral entre Bill Clinton e George Bush (pai).
Em 2003, estimulado pelo sucesso do trabalho na CNN,
Jackson criou o primeiro site independente de fact-checking.
Com a ajuda da Universidade da Pensilvânia e do
Annenberg Public Policy Center, inaugurou o FactCheck.org,
que está ativo até hoje. Meses depois, foi a vez do jornalista
Bill Adair, do “Tampa Bay Times”, lançar uma nova seção
em seu jornal, o Politifact.com (também ativo hoje) e ganhar
um prêmio Pulitzer com isso. (LUPA, 2015, s/p.)
A febre do fact-checking continuou a se espalhar no mundo. Na
América Latina, a primeira agência a nascer foi na Argentina em 2010, a
Chequeado, também foi a primeira a fazer a checagem de fatos em debates
ao vivo. A expansão do fact-checking fez necessária a criação de uma
organização própria, em 2015 o Poynter Institute fundou a rede internacional
de fact-checking - IFCN (POYNTER, 2019, s/p.). No mesmo ano, a primeira
agência de fact-checking brasileira nasceu, a Lupa, fundada por Cristina
Tardáguila e inspirada na Chequeado. Logo outras reconhecidas surgiriam
no Brasil como a Aos Fatos e Truco (Agência Pública). Outros sites que
checavam boatos já existiam, como o E-farsas, fundado em 2002, mas é em
2015 que o fact-checking se profissionalizou, ano do início do impeachment
de Dilma Rousseff, quando os brasileiros já ostentavam o título mundial de
terceiro país mais tempo online no celular (FOLHA DE S.PAULO, 2015, s/p.).
Os cinco princípios fundamentais da IFCN são: "o compromisso com
ser apartidário e justo; transparência da fonte de recursos e da organização;
transparência na metodologia utilizada transparência das fontes e abertura
às correções honestas" (MARTINS, 2017, s/p.).
Enquanto a política pública é algo mais perene por se tratar de
decisões de Estado, a política governamental tem muito mais a
ver com “o poder e com o que as pessoas dizem”.(...) É preciso
saber diferenciar uma coisa da outra para que a cobertura não
perca o foco do que é o mais importante numa história. “É
66
importante focar não apenas no que as pessoas dizem, mas no
que elas fazem”, completou Josh Fischman, editor sênior da
Scientific American (EUA). Ele lembrou que, durante a
campanha eleitoral de 2016, repórteres da revista perguntaram
aos eleitores sobre quais temas eram mais importantes para
eles a fim de ajustar o tom da cobertura que fariam. O papel do
jornalismo na formulação de política científica baseada em
evidências foi a chave das discussões (...). Em um cenário em
que “fatos alternativos” têm relevância na arena pública, voltar
aos fundamentos do jornalismo sério e investigativo nunca foi
tão importante — em especial quando o grupo que dita as
regras nem sempre entende a importância de políticas
baseadas em evidências. (RODRIGUES, 2019, s/p.)
Apesar da idoneidade e esforço do jornalismo investigativo em busca
de um resgate da valorização das fontes, dados e a verdadeira trajetória dos
fatos, o fact-checking ainda esbarra nas barreiras cognitivas. O Facebook,
que fora pressionado depois do caso Trump e Brexit e lançou uma
campanha junto às agências, passou a tentar auxiliar na apuração contra
fake news, sinalizando um alerta em cada conteúdo suspeito com a intenção
de orientar os internautas no combate a desinformação.
A campanha foi abandonada logo depois porque a plataforma
considerou "que o ícone de advertência não só não é eficaz, como pode
produzir o efeito contrário. Não surpreenderia se aquele conteúdo sinalizado
como falso tivesse atraído ainda mais a atenção dos usuários do que os
conteúdos sem indicação de falsidade" (RAIS, 2018, p. 121). Esse efeito de
negação ocorre quando as pessoas enganadas, frente aos dados ou
informações que confrontam suas visões de mundo, procuram a negação ou
estabelecem falsas conexões para obter conforto cognitivo e manter sua
narrativa ou coesão de grupo. É a chamada dissonância cognitiva.
Para resolver o problema da desconfiança na mídia, a jornalista e
diretora do programa de ética jornalística da Universidade de Santa Clara, no
Vale do Silício, Sally Lehrman, ouviu do público dos EUA e da Europa os
principais critérios para acreditar em uma notícia, classificando os
consumidores de notícias em 4 grupos: ávidos (checam as informações que
consomem), engajados (têm contato com as notícias mas se
sobrecarregaram com o volume de informações hoje), leitores ocasionais e
os desengajados, "os que mais preocupam o jornalismo. Atacam jornalistas
no Twitter, dizendo que suas reportagens são falsas. Podem estar nos dois
67
polos políticos (liberais e conservadores). E são desengajados porque
pararam de prestar atenção às notícias" (TERENZI, 2019, s/p.).
Depois de mapear 8 indicadores que passaram a nortear uma
espécie de manual de jornalismo para a pós-verdade, Sally lançou em 2017
o Trust Project com a adesão de jornais como The Economist, El Pais e The
Washignton Post. Hoje o projeto conta com mais de 100 veículos, incluindo
os brasileiros Nexo Jornal, Agência Lupa, Agência Mural, Folha de S. Paulo,
Poder360 e O Povo, além de contar com o financiamento da Google e o
suporte de plataformas como o Facebook.
A transparência e adoção de um novo manual são atitudes
necessárias em tempos de pós-verdade. Se, por exemplo, o veículo
jornalístico seguir os 8 critérios definidos, consegue o selo da Trust. As
características devem estar alinhadas às melhores práticas de transparência
dos valores do veículo e sua correção de erros, a devida identificação dos
jornalistas, a classificação de cada tipo de publicação para separar opinião
dos relatos factuais, o uso de referências e citações linkadas a arquivos
oficiais, a exposição de informações sobre como um determinado conteúdo
foi produzido e por que o veículo decidiu investigar um tema, a exibição do
local de apuração, a pluralidade de vozes e o feedback estimulado pelos
veículos para ouvir as opiniões dos consumidores de notícias. O processo de
autocrítica que o Trust Project apresentou foi importante no marco de um
jornalismo mais compreensivo e menos hierárquico.
Existe um sentimento de incerteza nas pessoas sobre
confiar ou não no noticiário, em parte, porque tudo parece a
mesma coisa na internet. [...] Há motivos para desconfiança
e descrédito criados por nós jornalistas, infelizmente: nós
desprezamos algumas comunidades; misturamos notícias
com opinião (e as pessoas notaram isso no ambiente digital)
(...) Os veículos de notícias pareciam perdidos e
desamparados no ambiente digital, tentando responder se
estavam explorando ou sendo explorados pelas redes
sociais(…) não tomando um papel de liderança. (...) Os
veículos têm intensificado a reação a essa crise. E o Trust
Project é um exemplo muito bom disso. As organizações se
uniram, em um meio altamente competitivo, por
reconhecerem que são responsáveis pelos leitores e para
retomar o controle em como o jornalismo está representado
no ambiente digital. (TERENZI, 2019, s/p.)
68
5. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018
Em agosto de 2018, Luiz Fux declarou que o TSE apresentou
alternativas para combater fake news, e que nas eleições elas “não vão
navegar pela internet como antigamente se navegava pelos mares” (DIAS;
MARTINS, 2018, s.p/). Durante o ano, o tribunal desenvolveu estratégias
como a criação de eventos destinados pesquisar e investigar o teor dos
boatos com Google, Facebook e Twitter, fez um portal para alertar sobre fake
news e criou um conselho consultivo composto por juízes do tribunal,
policiais federais, membros do exército, e representantes da sociedade civil e
das empresas responsáveis pelas redes sociais.
O TSE ainda firmou termo de compromisso com 31 partidos para
evitar a disseminação de informações falsas, apenas PT, PCO, PSTU e PTC
não assinaram o acordo (PORTAL R7, 2018, s/p.). Outra medida foi a
criação de um conselho consultivo composto por membros do tribunal, da
Polícia Federal, das Forças Armadas, pesquisadores e empresas. Por fim, o
ministro do STF mencionou a possibilidade de anular uma chapa que tenha
sido impulsionada por notícias falsas.
Com relação à tutela do campo eleitoral em si, nós temos o
direito de resposta, que tem muita eficiência, nós temos
multas, temos a cassação de diplomas e nós temos uma
previsão que está expressa no artigo 222 do Código
Eleitoral, no sentido de que se houver a comprovação de
que uma candidatura se calcou preponderantemente em
fake news, essa candidatura pode ser anulada. (CURY,
2018, s/p.)
Apesar do poder Judiciário ter esboçado iniciativas contra as fake
news, a campanha online foi um verdadeiro disseminador de pós-verdade,
repleto de guerras de narrativas. Diante do desconhecimento dos fenômenos
de desinformação e sua dinâmica online, o TSE se revelou perdido no
assunto. Nas palavras da presidente do tribunal a respeito do combate às
notícias falsas, a presidente do TSE, ministra Rosa Weber, avaliaria dias
antes do segundo turno "nós ainda não descobrimos o milagre" (VENTURA,
2018, s/p.).
69
Foram 3 meses de mentiras envolvendo todos os candidatos e muitos
eleitores, com compartilhamentos se retroalimentando em cada segmento
ideológico, vindo tanto da militância como dos próprios candidatos. No Rio
Grande do Sul, uma estudante se mutilou com uma suástica e culpou
bolsonaristas pelo ato (PORTAL IG, 2018, s/p.). O ex-presidente Lula foi
dublado pedindo votos para Jair Bolsonaro (PSL) (SCHULTZ, 2018, s/p.), o
capitão reformado foi acusado de ter se aposentado aos 33 anos por
insanidade mental, quando na verdade o fizera por ter entrado na vida
pública (BRASIL DE FATO, 2019, s/p.). Fernando Haddad (PT), chamou o
vice da chapa do PSL, o general Hamilton Mourão (PRTB), de torturador
(VETTORAZZO, 2018, s/p.).
A candidata à vice na chapa do PT, Manuela D'Avila (PCdoB), teve
montagem usando uma camiseta com a frase "Jesus é travesti" (VELASCO,
2018, s/p.). Flávio Bolsonaro (PSL) teve sua foto com uma camisa que
exaltava a frase "Movimento nordestinos voltem pra casa. O Rio não é lugar
para jegue" (SCHULTZ, 2018, s/p.), Carlos Bolsonaro teve um vídeo
erroneamente atribuído a ele, no qual o personagem atacava nordestinos
(G1, 2018, s/p.). No debate de estréia, o candidato cabo Daciolo (Patriota)
contestou em debate ao vivo se Ciro Gomes integrou o Foro de São Paulo,
um encontro de líderes de esquerda latino-americanos, classificado como
uma tentativa de criar um Estado único comunista entre os países da
América Latina, a URSAL (CATRACA LIVRE, 2018, s/p.). A sigla foi citada
pela primeira vez por uma professora em tom de deboche em 2001, “a Ursal
foi uma brincadeira que virou uma teoria conspiratória” (UOL, 2018, s/p.) e
que depois foi apropriada por Olavo de Carvalho. As fake news não
acabaram depois do pleito, um dos presidenciáveis, Ciro Gomes (PDT), citou
em entrevista à Globo News uma declaração de Paulo Guedes com base em
uma matéria falsa da página de paródia da Folha de S. Paulo, a Falha de S.
Paulo (REVISTA FÓRUM, 2018, s/p.).
Mesmo em época de pré-campanha, a candidata Marina Silva (REDE)
e o candidato Ciro Gomes (PDT) foram alvo de ataque de fake news
envolvendo a Lava Jato. O TSE, na oportunidade, aplicou a pela primeira vez
a norma que coibia a reprodução e veiculação dessas fake news,
70
determinando a remoção do conteúdo. O episódio, no caso de Ciro, abriu um
debate sobre a intervenção do Estado e liberdade de imprensa.
No caso Ciro Gomes o ponto controverso, me parece,
começa a partir de uma notícia [com base em documentos
da Odebrecht] que desencadeou outras publicações. A
notícia, feita em seu regular exercício, fez uma associação,
uma interpretação entre os documentos citando o nome de
Ciro, fazendo a ressalva de que aquela ligação não constava
na investigação. A reportagem não alterou, não deturpou
elementos daqueles documentos. [...] Os advogados de Ciro
dizem que há uma acusação falsa. Mas nesse caso não está
se falando de fatos “sabidamente inverídicos”. Está se
falando de uma investigação criminal, que dispõe desses
documentos e que permite as mais diversas interpretações.
A ministra Rosa Weber considerou, então, que é dever da
Justiça intervir o mínimo possível no processo eleitoral. Se
os advogados do pré-candidato estivessem certos, todo
candidato que tivesse menção numa operação da Polícia
Federal publicada na imprensa poderia pedir a remoção
daquele conteúdo. Dando a eles um poder que inexiste em
nosso sistema jurídico, de editar a sua própria história e a
forma como a sociedade o enxerga a partir de uma cobertura
jornalística. (VENTURINI, 2018, s/p.)
Outra moderação do tribunal foi a determinação de que o Facebook e
o Youtube apagassem seis postagens da campanha de Jair Bolsonaro em
que o candidato faz críticas ao livro "Aparelho sexual e cia.", e cita que o
material seria distribuído em escolas públicas para crianças de seis anos de
idade, durante a gestão de Fernando Haddad no MEC, em 2012.
O capitão reformado aproveitou a sabatina no Jornal Nacional para
dar novo fôlego para sua narrativa de suposta sexualização infantil precoce
como estratégia petista para desestabilizar a ordem social, caracterizando o
livro e uma série de objetos dentro do que seria um "Kit Gay". O livro citado
em questão foi publicado pela Companhia das Letras em 10 idiomas, e o
público-alvo seriam crianças de 11 a 15 anos. Bolsonaro se valeu das teorias
da ideologia de gênero15, e mesmo sendo punido pelo TSE manteve seu
15A ideologia de gênero foi citada pela primeira vez pelo cardeal Joseph Ratzinger
da Igreja Católica, em 1997, em documento crítico ao "feminismo radical" que fora
debatido em um Congresso da ONU Mulheres em Pequim, organizado em 1995 e
que na oportunidade reconheceu a desigualdade da mulher em um problema
estrutural que só pode ser abordado em uma perspectiva integral de gênero. Essas
declarações, que tinham um alcance global, colocaram a categoria “gênero” no
centro dos debates que giravam em torno do papel da mulher. A ideologia de
gênero chega no Brasil apropriada pelo movimento Escola Sem Partido, criado pelo
71
discurso. Entre seus eleitores, 84% acreditaram no Kit Gay tal como o
candidato do PSL havia insinuado (CONGRESSO EM FOCO, 2018, s/p.).
O “kit” do modo como Bolsonaro descreve, de que seria uma
doutrinação, nunca existiu. A cartilha explicava conceitos
como gênero e sexualidade e sugeria atividades em sala de
aula para os alunos refletirem sobre temas como
comportamento preconceituoso. (...) Bolsonaro ainda repetiu
que o debate contra o “kit gay” ocorreu durante o “9º Seminário
LGBT Infantil”, na Câmara dos Deputados. Esse evento nunca
ocorreu, muito menos no período de que Bolsonaro fala, entre
2009 e 2010. Em maio de 2012, ocorreu o evento anual “9º
Seminário LGBT no Congresso Nacional”, que naquela edição
tratou dos temas “infância e sexualidade”, e não tinha relação
com o Ministério da Educação. Em maio de 2012, Haddad já
não era mais o titular da pasta. (VENTURINI, 2018, s/p.)
Em um processo de retroalimentação de fake news, não demorou
para o eleitorado bolsonarista embarcar na narrativa paralela e criar teorias
conspiratórias sobre o kit gay, incluindo a filmagem de uma mamadeira
erótica como um dos itens que seria encomendado pelo PT para ser
distribuído em creches (ESTADO DE S. PAULO, 2018, s/p.).
No intervalo de nove dias, as campanhas eleitorais no Brasil
e nos EUA mostraram como Donald Trump e Jair Bolsonaro
recorrem a pelo menos quatro estratégias de comunicação
política comuns aos dois contextos. A convergência de
mensagens está presente nas suspeitas levantadas contra o
sistema de apuração, na acusação de que adversários
espalham notícias falsas, na alegada luta contra uma
“ameaça socialista” ou “ameaça comunista” e, por fim, no
discurso do combate à criminalidade impulsionando uma
ideia de coesão nacional. (CHARLEAUX, 2018, s/p.)
Entre outras mentiras, Bolsonaro, em sabatina no Roda Viva, chegou
a dizer que os portugueses sequer pisaram na África durante as grandes
navegações e que os próprios negros seriam responsáveis pelo tráfico
negreiro (GONÇALVES, 2018, s/p.) . Não foi por acaso que foi apelidado
pela imprensa estrangeira de "Trump of the tropics" (NEW YORK TIMES,
2019, s/p.). O objetivo da campanha do PSL era deslocar "o poder para a
procurador Miguel Nagib em 2004 mas que em 2014 ganha relevância e lidera
manifestações para vetar iniciativas que tratavam de orientação sexual e identidade
de gênero nas escolas, sob o suposto pretexto de sexualização infantil alegado por
conservadores nessas iniciativas. "Pânicos morais costumam chamar a atenção
para uma suposta ameaça apenas como meio de se obter algo bem palpável. [...]
Quem se beneficia com a disseminação desse fantasma sobre supostas
consequências negativas que adviriam da igualdade de gênero e da plena cidadania
de homossexuais?" (MISKOLCI; CAMPANA, 2017, p. 743)
72
verdade do um, destruindo a essência da política como mediadora do desejo
de muitos" (BRUM, 2018, s/p.).
“Ele é meio exagerado, mas porque é um sincerão”. Assim,
Bolsonaro não seria homofóbico ou misógino ou mesmo
racista para aqueles que aderem a ele, mas um “homem de
bem” exercendo a “liberdade de expressão”. Estes são os
adjetivos que aparecem com frequência colados ao
candidato de extrema-direita por seus eleitores: “sincero”,
“verdadeiro”, “autêntico”, “honesto” e “politicamente
incorreto” (este último também como um elogio). [...]
Formados nessa narrativa, uma geração de brasileiros é
capaz de ler ou assistir a uma reportagem da imprensa
mostrando verdades que Bolsonaro gostaria que não
subissem à superfície não pelo seu conteúdo, mas pela ótica
da perseguição. O conteúdo não importa quando quem
questiona o inquestionável é automaticamente um inimigo,
capaz de usar qualquer “mentira” para atacar um “homem de
bem”. (BRUM, 2018, s/p.)
Jair Bolsonaro foi de longe o que mais se beneficiou de fake news na
campanha para a Presidência da República em 2018. Segundo o Avaaz,
cerca de 90% de seu eleitorado acreditou em alguma fake news bolsonarista
(PASQUINI, 2018, s/p.). A grande força de Bolsonaro foi também sua
militância, construída desde a explosão do antipetismo em 2014, e cuja
polarização era indiscutível para defendê-lo e ajudá-lo a corroborar sua
narrativa. Uma das revistas liberais mais reconhecidas do mundo, The
Economist, fez uma reportagem crítica ao então candidato, e recebeu o
feedback de usuários bolsonaristas chamando-a de "The Communist"
(INFOMONEY, 2018, s/p.)
A indignação costuma ser má conselheira e, na pressa de
distribuir responsabilidades, menospreza-se a opinião de
uma massa significativa de eleitores. É fato que as fake
news tiveram um papel importante na eleição, mas não
necessariamente porque as pessoas acreditaram
ingenuamente em notícias produzidas pelo aparato de
campanha do candidato. A confiança gerada pelas técnicas
de comunicação de Bolsonaro cria um ambiente de
credibilidade que favorece a circulação de mensagens com
conteúdo que confirme crenças e valores prévios, sejam eles
verdadeiros ou falsos. (ROQUE; BRUNO, 2018, s/p.)
O episódio não só marcou o momento em que os partidários do
candidato do PSL se dispunham a taxar todos os opositores ou críticos do
candidato de comunistas independente de sua origem ou trajetória política,
como também abriu caminho para um revisionismo mais amplo e externo
73
onde os internautas se viam como intelectuais paralelos capazes de explicar
fenômenos políticos internacionais, foi batizado de "Brazilsplaning" (GONZO,
2018, s/p.). Até mesmo a política francesa de extrema-direita, Marine Le Pen,
que criticou as "falas desagradáveis" (NEVES, 2018, s/p.) de Bolsonaro, foi
chamada de comunista pela militância bolsonarista no Twitter. Houve
também contestações de bolsonaristas a respeito do nazismo ser um regime
de direita16.
Um vídeo publicado pela Embaixada da Alemanha no Brasil
contra o extremismo de direita provocou forte reação nas
redes sociais. Na publicação, a embaixada fala da
importância de não esquecer os crimes do nazismo entre
1933 e 1945, período em que o Holocausto levou à morte de
cerca de 6 milhões de judeus e de 5 milhões de pessoas de
outros grupos. Alguns brasileiros, no entanto, questionaram
a publicação alemã, negando que tenha existido o
Holocausto ou dizendo que o Terceiro Reich era um regime
de esquerda, e não de extrema direita. (QUEIROGA, 2018,
s/p.)
O então candidato do PSL chegou a colocar em dúvida a lisura das
eleições. A ex-jornalista Joice Hasselmann (PSL), que obteve votação
expressiva para a Câmara Federal, fez uma live no Facebook, onde possui 2
milhões de seguidores, alegando uma conversa com um hacker que lhe
garantiu a existência da manipulação da urnas, "pouco tempo depois a
mentira atingiu cerca 16,5 milhões de pessoas nas redes sociais nas 48
horas após as eleições. Às 11h do dia 7 de outubro, a hashtag
#FraudeNasUrnas alcançou o topo dos trending topics do Twitter" (FILHO;
FELIZARDO, 2018, s/p.). Boatos nas redes afirmavam que os códigos das
urnas teriam sido entregues à Venezuela e seu filho, Flávio, que chegou a
compartilhar um vídeo falso onde, "um eleitor filmou uma urna supostamente
com problemas. Quando o eleitor digita o número 1, a urna mostra a imagem
16A polêmica sustentada em torno da ideologia nazista se deve ao nome do partido do
Terceiro Reich: Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, NSDAP em
alemão. Segundo o jornalista Peter Ross Range, autor de "1924: o ano que criou Hitler", ao
acrescentar "Nacional-Socialista" Hitler tentou colocar em sua associação política uma
ressonância "que fosse além da sua identificação inicial com os trabalhadores. Buscava uma
redefinição nacionalista do socialismo em contraste com o conceito internacionalista de
marxismo" (RANGE, 2018, p. 40). O líder nazista rejeitava o conceito comunista de luta de
classes, queria promover um sentido alemão de comunidade sem a divisão das mesmas, ao
passo em que defendia a propriedade privada. "Na cabeça de Hitler, nacional e social eram
dois conceitos comunitários idênticos, ser nacional é agir com amor sem limites e
abrangentes pelo povo [alemão], ser social significa que cada indivíduo age nos interesses
da comunidade [e] está pronto a morrer por ela". (RANGE, 2018, p. 40)
74
do candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad, número 13" (TAKAR;
FREIRE, 2018, s/p.).
Mesmo após a divulgação do resultado que o colocou no segundo
turno, em um discurso nas redes sociais, "o candidato Jair Bolsonaro (PSL)
agradeceu aos seus eleitores e afirmou que não ganhou no 1° turno por
causa dos "problemas nas urnas" (BELLONI, 2018, s/p.).
A Organização dos Estados Americanos (OEA) enviou observadores
internacionais, que atestaram a lisura nas eleições e confirmaram algumas
tendências de pós-verdade latente no debate público: polarização e
agressividade sem qualquer compromisso democrático. Essa análise foi
confirmada pouco tempo antes do pleito pelos gritos de Bolsonaro no norte
do país, "vamo fuzilar a petralhada aqui do Acre" (PODER360, 2018, s/p.) e
nas declarações autoritárias de José Dirceu, "dentro do país é uma questão
de tempo para gente tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição"
(O GLOBO, 2018, s/p.).
Vejo que três capas de revistas tradicionais no Brasil - Veja,
Época e Exame - são, juntas, compartilhadas em 17 grupos.
As "reportagens de capa" das três mostram o mexicano
Gerardo de Icaza, diretor do Departamento para a
Cooperação e Observação Eleitoral da OEA, assumindo
"fraude nas urnas a favor do PT". Os criadores de notícias
falsas se apropriam de formatos de notícias reais para dar
respaldo à mentira e confundir quem confia nos meios
tradicionais (GRAGNANI, 2018, s/p.)
O ápice da polarização digital causa desastres nas narrativas fiéis aos
fatos, mas também à própria vida analógica. Foi num contexto de divisão
ideológica extrema, associada à predisposição psicológica instável de Adélio
Bispo de Oliveira, que o fizeram sair do conforto de seu feed composto por
conspirações illuminatis para ir ao centro de Juiz de Fora (MG) cometer um
atentado antidemocrático contra um dos candidatos que ele mais nutria ódio
na internet, Jair Bolsonaro.
Não bastasse que os posts raivosos de Adélio na internet expusessem
o caráter problemático do discurso de ódio se tornar prática, cada lado
polarizado buscou criar sua narrativa para voltar a ter coesão. Opositores do
capitão espalhavam fake news nas redes sociais questionando a veracidade
do atentado a partir das imagens que não mostravam sangue na blusa do
75
então candidato. Um áudio falsamente atribuído ao capitão, acusava-o de ter
planejado o atentado e alguns opositores até levantavam teorias sobre uma
cortina de fumaça no ato para disfarçar o tratamento de um câncer (MELLO,
2018, s/p.). Já a militância que integrava a campanha de Jair Bolsonaro
explorou o atentado a partir da informação de que Adélio havia sido filiado ao
PSOL de 2007 até 2014. Logo surgiram fake news atribuindo ao deputado
federal Jean Wyllys (PSOL), rival ideológico de Jair Bolsonaro, o pagamento
de R$ 50 mil pelo suposto serviço de Adélio. (AFONSO, 2018, s/p.).
Wyllys foi um dos deputados mais vítimas de fake news na campanha,
tendo passado por uma rotina de calúnias que o associavam a atividade
criminosa ligada ao atentado de Adélio ou notícias que relacionassem sua
sexualidade à educação, explorando o lado homofóbico e relacionando-o à
fragilidade institucional ou pedofilia. Em um episódio, o psolista foi
falsamente acusado de ter aceitado convite para compor o Ministério da
Educação em uma futura gestão de Haddad (SCHULTZ, 2018, s/p.). O
petista também foi atacado, em uma frase falsamente atribuída a ele com os
dizeres "crianças ao completarem 5 anos se tornam propriedade do Estado!
Cabe a nós decidir se menino será menina e vice-versa" (RODRIGUES,
2019, s/p.).
Em 2019, Olavo de Carvalho, Alexandre Frota (PSL) e Lobão
atribuíram a facada a Jean Wyllys e seu exílio aos EUA por motivos de
ameaças familiares, como uma fuga do delito (FONSECA, 2019, s/p.).
Depois da campanha, em entrevista ao El País, o deputado do PSOL citou
os problemas relacionados ao assassinato de reputação baseada em fake
news.
As fake news têm por objetivo não apenas a destruição da
minha imagem e o ataque a uma agenda de direitos
humanos e liberdades individuais, como também a invenção
de falsas justificativas para espalhar ódio contra mim e
contra minha família e promover atos de violência que
possam me atingir. A gente precisa lembrar, por exemplo, do
massacre do Realengo e do mais recente em Campinas,
para entender que não é só através de grupos organizados,
como as milícias, que um defensor dos direitos humanos
pode ser morto. Quando há uma sistemática campanha de
destruição da reputação de uma pessoa através do uso de
fake news para demonizá-la e transformá-la em inimiga
pública, qualquer louco envenenado por esse ódio pode agir
de forma individual. (EL PAÍS, 2018, s/p.)
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Manuela D'Ávila, vice da chapa encabeçada pelo PT, foi outra vítima
de assassinato de reputação durante toda a campanha eleitoral. Depois do
atentado de Adélio, ela foi falsamente acusada de ligar 18 vezes para o
esfaqueador (LOPES, 2018, s/p.), e o TSE chegou a determinar a remoção
de 33 posts no Facebook que a acusavam dos mais diversos delitos. "No
total de alcance desses posts, havia nada menos do que 146.480
compartilhamentos e 5.190.942 visualizações" (REVISTA FÓRUM, 2018,
s/p.). As fake news na eleição ocorreram em todos os espectros, mas tinham
vítimas definidas, explorando sempre o emocional da pós-verdade, como
medos por trás da misoginia e homofobia, com uma desproporção ímpar.
Em cerca de 70 dias desde o início da campanha eleitoral,
as iniciativas de checagem de fatos tiveram de desmentir
mais de 100 boatos contra o candidato à Presidência
Fernando Haddad (PT) e seu partido. Levantamento do
Congresso em Foco mostra que, ao todo, foram 123
checagens de boatos diretamente ligados a Haddad e ao
candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro (PSL)
desmentidos desde 16 de agosto. As agências de checagem
Lupa e Aos Fatos e o projeto Fato ou Fake, do Grupo Globo,
tiveram de desmentir pelo menos 104 “fake news” contra
Haddad e o PT e outras 19 prejudiciais a Bolsonaro e seus
aliados. (MACEDO, 2018, s/p.)
5.1 A DEEP WEB DE BOLSO: WHATSAPP
Enquanto a desinformação se expandia no pleito, os jornalistas e fact-
checkers desmentiam rotineiramente algum boato de grande circulação.
Antes do segundo turno, uma coalizão articulada com o TSE, A Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) e checadores compostos
pela Agência Lupa, Aos Fatos, Boatos.org, Comprova, e-Farsas e Fato Ou
Fake flagraram 50 conteúdos suspeitos em 48 horas de trabalho. "Isso dá
uma média de mais de uma mentira por hora ao longo do fim de semana
eleitoral - o que mostra a dimensão do combate travado", ao todo, em um
período de 3 horas no Twitter, esse conteúdo movimentou 679 mil
visualizações pela hashtag #CheckBR, e contou com a coordenação da
Abraji e grupos de WhatsApp com checadores, TSE e repórteres e editores
de seis plataformas de checagem. (TARDÁGUILA, 2018, s/p.). Apesar dos
esforços das agências de fact-checking, a criptografia blindou a
77
desinformação em grupos extremistas. O uso do Whatsapp no Brasil
escondeu de muitas timelines as fake news mais tóxicas.
Após analisar por um ano 120 grupos de WhatsApp,
pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) descobriram que as correntes de mensagens que
continham fake news sobre política atingiam mais usuários
do que as conversas com desinformação de outros
assuntos. O conteúdo enganoso de política também suscitou
discussões mais longas e mais duradouras no aplicativo. Os
autores da pesquisa identificaram ainda um aumento
significativo nas conversas políticas com dados falsos perto
das eleições. "Teve um pico enorme. O momento político
favoreceu a discussão com fake news no WhatsApp".
(AGÊNCIA ESTADO, 2019, s/p.)
Os conceitos cognitivos atrelados familiaridade já abordada nesse
trabalho contribuíram para a credibilidade do WhatsApp e o seu impacto na
desinformação acompanhou o processo de rápida expansão do aplicativo na
comunicação diária do brasileiro. Em 2016 o Brasil já era o segundo país que
mais utilizava o aplicativo e no ano seguinte mais de 120 milhões de
brasileiros usavam o WhatsApp (OLIVEIRA, 2018, s/p.). Nessa época o
padrão de consumo de conteúdo online móvel já estava bem consolidado,
com 90% usando a internet diariamente, e metade se valendo de dispositivos
móveis conectada em média, 8h56 diárias, sendo 3h43 nas redes sociais
(KEMP, 2017, s/p.). Em 2018, já existiam mais smartphones ativos do que
habitantes no país, e quase metade dos brasileiros usavam o WhatsApp
para compartilhar notícias, (REUTERS INSTITUTE FOR THE STUDY OF
JOURNALISM, 2018, s/p.).
Em uma semana eu vi: muita desinformação, como imagens
no contexto errado, áudios com teorias conspiratórias, fotos
manipuladas, pesquisas falsas. Ataques à imprensa
tradicional, como capas falsas de revistas e falsa
"checagem" de notícias que, de fato, eram verdadeiras.
Imagens que fomentam o ódio a LGBTs e ao feminismo.
Uma "guerra cultural" organizada, com ataques
sistematizados a artistas em redes sociais. Áudios e vídeos
de gente comum ou de gente que se passa por gente
comum, mas com identidade desconhecida, dando motivos
para votar em um candidato. (GRANGNANI, 2018, s/p.)
O sigilo de conversas e de grupos protegidos pela criptografia de
ponta a ponta, a disponibilidade de pelo menos 58 pacotes de dados
gratuitos para alguma rede social no Brasil e a falta de acesso à internet para
78
checar as informações compartilhadas são outros fatores fortes para fake
news se normalizar nesse meio.
O acesso à informação acaba prejudicado quando redes
sociais como o Facebook ferem a neutralidade da rede - isto
é, o princípio segundo o qual um provedor de internet deve
fornecer aos consumidores acesso igualitário a todo
conteúdo. "No Brasil, 60% dos celulares são pré-pagos e
têm acesso grátis a essas redes sociais, oferecido pelas
operadoras [que não descontam do pacote de dados o
acesso a esses serviços]. Então, essas pessoas que usam
pré-pago ficam rendidas a essas fontes de informação e
interação." Para ela [Yasodara Córdova, pesquisadora-
sênior sobre desinformação e dados na Digital Harvard
Kennedy School], as pessoas recebem as informações por
essas plataformas, mas não saem dali para ler a notícia
inteira ou mesmo checar informações por causa de diversas
barreiras, a exemplo da econômica. (BBC NEWS BRASIL,
2019, s/p.)
Ainda que seja difícil mensurar o impacto do WhatsApp por meio dos
dados disponíveis até então, em entrevista à Sputnik Brasil um pesquisador
da Universidade George Washignton e fundador do Ideia Big Data, Maurício
Moura, estimou que os conteúdos de Bolsonaro atingiram mais de 40 mil
grupos.
Há uma estimativa que na campanha presidencial o
conteúdo do candidato Jair Bolsonaro atingia até 50 mil
grupos [de WhatsApp] diariamente. Além disso, é só olhar a
quantidade de políticos que foram eleitos pro Congresso
sem o fundo partidário, e que tinha o WhatsApp como
principal forma de disseminação de conteúdo. (SPUTNIK
BRASIL, 2018, s/p.)
Próximo do segundo turno, diversos veículos trouxeram reportagens
sobre o real impacto do WhatsApp no pleito, o que se descobriu a partir daí
foi a formação de listas ilegais vazadas de telefonias e aplicativos de redes
sociais para segmentar o público que receberia o conteúdo na plataforma de
compartilhamento de mensagens. Era uma pós-verdade on demand.
Diversos usuários que foram considerados suspeitos de espalhar
desinformação foram bloqueados, inclusive um dos filhos de Jair Bolsonaro,
Flávio.
Esses aplicativos [de mineração de dados], além dos
números de telefone, também acessam dados que usuários
79
deixaram públicos, como cidade onde moram, data de
nascimento, email e número de telefone. Por exemplo: uma
amostra coletada a partir de um desses serviços reuniu os
dados de 37 mil usuários que interagiram com posts ligados
a um dos candidatos à Presidência - quase metade (18 mil)
deles deixam seus números disponíveis de forma pública na
rede. Ou seja, na prática, candidatos podem agrupar
segmentos específicos, como paulistanos defensores de
armas ou soteropolitanas a favor da descriminalização do
aborto. (MAGENTA; GRAGNANI; SOUZA, 2018, s/p.)
Semelhante às estratégias de psicometria política traçadas por Steve
Bannon e a Cambridge Analytica, outras trapaças foram descobertas, como
o uso de chips internacionais para burlar o limite de compartilhamentos de
conteúdo.
O que se sabe é que, em 2018, as campanhas identificaram
a rede social como relevante para convencer eleitores e
investiram nela. Reportagem da BBC News Brasil mostrou
como elas obtiveram softwares capazes de coletar dados de
usuários no Facebook - telefones segmentados por curtidas
em páginas, sexo, idade, região, por exemplo - e enviar
mensagens em massa no WhatsApp, com softwares que
permitiam o disparo para até 300 mil números. Também
criaram grupos na plataforma com esses números e se
utilizaram de outros tipos de bancos de dados (vendidos
ilegalmente, por exemplo). (GRAGNANI, 2018, s/p.)
Reportagens mais graves surgiram em torno do aplicativo, no dia 18.
Faltando uma semana para o segundo turno, reportagem da Folha de S.
Paulo entitulada "Empresários bancam campanha contra o PT pelo
WhatsApp" (MELLO, 2018, s/p.) trazia a denúncia de um esquema de
compra de disparos em massa por parte de empresários contra o PT, o que
além de configurar ilegalidade na publicidade eleitoral, também poderia ser
enquadrado como caixa dois. No mesmo dia, horas após a reportagem,
foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela
campanha do PSL.
Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa
de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma
grande operação na semana anterior ao segundo turno. A
prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por
empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não
declarada. A Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12
milhões e, entre as empresas compradoras, está a Havan.
Os contratos são para disparos de centenas de milhões de
mensagens. Entre as agências prestando esse tipo de
80
serviços estão a Quickmobile, a Yacows, Croc Services e
SMS Mark. (MELLO, 2018, s/p.)
Principal alvo da reportagem, Jair Bolsonaro defendeu-se alegando
que o seu crescimento nos últimos dias que antecederam a eleição no
primeiro turno se deram de forma orgânica. Na prestação de contas do
candidato, na época, constava apenas a AM4 Brasil Inteligência Digital,
como tendo recebido R$114 mil.
A AM4 negou que usasse a ferramenta. Bolsonaro também
negou a utilização e disse na ocasião que não controla o que
fazem "seus apoiadores". Nesta sexta (26), ao UOL, a AM4
admitiu pela primeira vez que usou um serviço desse tipo. A
empresa alega que fez um único envio de mensagem por
meio do serviço da Bulk Services, sistema criado pela
Yacows, diz que a mensagem foi enviada "para 8.000
doadores cadastrados na base própria da empresa" e
versava "sobre mudanças de seu número de contato e
suporte". (REBELLO; COSTA; PRAZERES, 2018, s/p.)
O Partido dos Trabalhadores também foi alvo de denúncia do jornal
por ter trabalhado com a agência de publicidade Yacows. Outra denúncia
envolvendo a agência, também da Folha, bateu na porta do MDB, o
candidato Henrique Meirelles teria tido acesso aos números sigilosos dos
beneficiários do Bolsa Família e se valido dos números para disparos no
WhatsApp.
A campanha de Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da
Fazenda e candidato derrotado à Presidência da República,
fez disparos de mensagem em massa pelo WhatsApp para
números de telefone de beneficiários do programa social
Bolsa Família, do governo federal. Os envios foram feitos
durante o primeiro turno das eleições. A campanha de
Meirelles contratou por R$ 2 milhões a empresa Deep
Marketing para cuidar de parte da campanha na internet
incluindo serviços como a construção e manutenção de um
site, a gestão de redes sociais e o envio de mensagens via
WhatsApp do candidato. A Deep Marketing tem entre seus
sócios o empresário Lindolfo Antônio Alves Neto, que
também é dono da Yacows, empresa que presta o serviço
de envio das mensagens via WhatsApp. (FOLHA, 2018, s/p.)
Ainda de acordo com o professor de direito eleitoral da Universidade
Presbiteriana Mackenzie, Diogo Rais, “É pouco crível pensar que não houve
contratações de pessoas para espalhar 'fake news'” (VENTURINI, 2018,
s/p.), e o motivo seria a quantidade de mensagens semelhantes produzidas
diariamente e divulgada de forma sistematizada. Outro especialista,
81
membros do Conselho Consultivo sobre Internet e Eleições no TSE, Marco
Aurélio Ruediger, criticou a falta de integração na busca pelos rastros dessa
rede de fake news.
Acho que os fatos falam por si. Foi muito abaixo da crítica.
Teve uma profusão de fake news e robôs. O TSE deixou
muito por conta das plataformas [Facebook e Twitter], mas
não articulou bem com elas e esqueceu completamente do
Whatsapp. [...] Essa eleição é basicamente financiada por
recurso público. Uma vez que se tem recurso público, você
tem capacidade de fazer uma auditoria mais profunda até
chegar em quem está produzindo as informações nas redes
que atendem a cada candidato. E isso não foi feito como
poderia. Uma das propostas que nós colocamos era ter uma
rede de forma integrada para ajudar o TSE e que as
campanhas fossem obrigadas a abrir sua API [tradução de
Interface de Programação de Aplicativos] para poder ter
acesso aos dados. E que houvesse auditoria para o uso do
recurso público. Mas essas ideias não foram postas em
prática. Faltou adequação legal, mas principalmente de
processos de integração de todos atores. (VENTURINI,
2018, s/p.)
Depois da publicação da reportagem que apontava o uso do
WhatsApp como meio de propaganda política, o ódio que habitava as redes
sociais foi usado como meio de intimidação. A jornalista da Folha que
publicou a denúncia do esquema do PSL de disparos em massa no
WhatsApp, Patrícia Campos Mello, sofreu um linchamento virtual intenso,
com diversas acusações tentando ligá-la ao petismo, incluindo a viralização
de montagens abraçando o petista Fernando Haddad (POYNTER, 2018,
s/p.). A jornalista também foi difamada em fake news onde o STF
supostamente determinava multa de R$ 200 mil pela matéria contra
Bolsonaro (G1, 2018, s/p.). Após as eleições, a revista TIME homenageou
como pessoas do ano os jornalistas vítimas de perseguição política, entre
eles, Patrícia (FOLHA DE S. PAULO, 2018, s/p.).
Os episódios de ódio contra jornalistas no Brasil era generalizado,
com impactos na vida analógica17, mas o caráter preconceituoso de muitos
alvos tinham preferências de gênero. A Pesquisa “Attacks and Harassment:
The Impact on Female Journalists and Their Reporting” (Ataques e assédio:
o impacto sobre as jornalistas e suas matérias), da International Women’s
17 "O Brasil foi o oitavo país que mais matou jornalistas em 2018" (IG SÃO PAULO, 2018,
s/p.), atrás de Filipinas, Iêmen, Índia, Paquistão, Iraque, Afeganistão, México e Síria.
82
Media Foundation e da TrollBuster apontou que os linchamentos de
jornalistas online tem sido uma infeliz tendência crescente, acompanhada da
ascensão de mulheres no jornalismo: 63% das repórteres já foram
ameaçadas ou assediadas online (MELLO, 2019, s/p.).
No início de 2019, um vídeo editado foi compartilhado no Twitter do
presidente acusando a jornalista do Estadão, Constança Rezende, autora de
reportagens sobre Flávio Bolsonaro e o Coaf, de conspirar para segundo o
presidente, arruinar seu filho e o governo. "A frase, no entanto, não aparece
nas gravações divulgadas pelo próprio site. (...) O presidente conclui:
'Querem derrubar o governo com chantagens, desinformações e
vazamentos'” (O GLOBO, 2019, s,p.).
Jornalistas têm sido crescentemente vítimas de intimidação
nas redes sociais, com uso de estratégias sofisticadas para
amedrontar, espalhar desinformação, desacreditar as
repórteres e a mídia em geral, e prejudicar as carreiras das
profissionais. [...] O ambiente online foi transformado em
arma e usa a velocidade e suas redes para montar ataques
sofisticados que amplificam misoginia, sexismo, racismo,
homofobia e outros discursos de ódio”, diz o relatório.
“Contas falsas e impostores no Twitter semeiam
desinformação. Tanto online como offline, o mundo se tornou
um lugar muito mais perigoso para os jornalistas nos últimos
5 anos. (MELLO, 2019, s/p.)
5.2 A SABOTAGEM DOS BOTS
Os ataques sistematizados à jornalista da Folha por parte de contas
falsas deram exposição a outro problema além do uso do disparo em massa
de fake news: trata-se do uso de contas falsas, chamados de bots, para
divulgar essas mentiras, também com ataques por parte de milícias digitais
(BENTES, 2019, s/p.).
Esses perfis são fabricados e se dividem entre robôs, quando um
algoritmo faz algum serviço pré-definido, como é o exemplo de chats
automatizados. O segundo tipo de conta falsa são os ciborgues, que
simulam ser pessoas reais, há uma estimativa de pelo menos 15% de
ciborgues existentes só no Twitter (GUGELMIN, 2017, s/p.). A grande
quantidade deles auxilia na disseminação de mentiras conformem replicam
mensagens e geram familiaridade, incentivando militantes online. Segundo o
83
estudo do MIT, uma notícia fraudulenta precisa de 10 horas para alcançar
1500 usuários no Twitter, já uma informação verídica, 60 horas. "A equipe
concluiu que o fator humano é mais importante na disseminação de notícias
falsas" (LIMA, 2018, s/p.), apesar do pontapé ser dos bots. Há ainda os
militantes que autorizam o uso de sua conta para curtir e engajar-se
automaticamente com perfis estabelecidos, chamados de robôs políticos.
As últimas classificações são os fakes clássicos, usados por pessoas
para garantir anonimato, e os ativistas em série, "pessoas reais altamente
prolíficas politicamente no Twitter e com postagens sobre eventos políticos
em diferentes partes do mundo" (GRAGNANI, 2017, s/p.). O uso de bots é
oferecido por dezenas de empresas que por meio de robôs e programas de
computador que simulam e criam mídias, se valendo de falsas tendências e
manipulando o debate pelo efeito manada nos comentários de notícias.
Episódio de ataques semelhantes haviam acontecido com a ex-vereadora do
PSOL assassinada em 2018, Marielle Franco.
Boa parte das últimas mídias sintéticas é produzida pelos
avanços em aprendizado de máquina - especificamente,
uma técnica chamada "redes geradoras de adversários".
Basicamente você lança duas redes neurais uma contra a
outra usando os mesmos dados. A tarefa de uma rede é
gerar alguma coisa - por exemplo, imagens convincentes. O
trabalho da outra é distinguir imagens verdadeiras de falsas.
Isso acelera o aprendizado - transformando-o num jogo de
gato e rato contínuo - e torna as redes muito mais eficientes
em gerar falsificações (BERINATTO, 2018, p. 52)
Antes e depois das eleições, reportagens mostraram o uso de contas
fabricadas também para pautar os assuntos em caixas de comentários em
posts de redes sociais, ou para inflacionar um tema no Trending Topics do
Twitter usando tags em outros países, como a Malásia, por exemplo. Jair
Bolsonaro, ao lado do candidato Álvaro Dias (PODEMOS), não apenas
endossaram tweets de contas falsas na campanha, como em seus perfis no
Twitter há uma grande predominância de bots seguindo suas contas, no
caso de Álvaro, 64% são bots (OLIVEIRA, 2018, s/p.), e Jair Bolsonaro
possui mais de um quinto de contas fabricadas seguindo-o (WAKKA, 2018,
s/p.).
84
Estudo inédito da Diretoria de Análise de Políticas Públicas
da Fundação Getulio Vargas (FGV/DAPP) aponta que perfis
automatizados motivaram debates no Twitter em situações
de repercussão política brasileira desde as eleições de 2014.
Na greve geral de abril de 2017, por exemplo, mais de 20%
das interações ocorridas no Twitter entre os usuários a favor
da greve foram provocadas por esse tipo de conta. Durante
as eleições presidenciais de 2014, os robôs também
chegaram a gerar mais de 10% do debate. (FGV/DAPP,
2017, s/p.)
Em uma clara demonstração de manipulação do debate público, o
ciberataque de hackers em um grupo no Facebook, Mulheres Contra
Bolsonaro, deu dimensão do exército de bots e ativistas que o candidato do
PSL dispunha durante a eleição. O grupo começou a angariar sucesso online
passando da marca de 1 milhão de integrantes em poucos dias. A primavera
das mulheres voltava a deixar sua marca na medida que organizaram
grandes manifestações antes do primeiro e segundo turno da eleição contra
o candidato do PSL (SETA, 2018, s/p.).
Em poucos dias depois da divulgação dos grandes números na mídia,
o grupo foi atacado por hackers que trocaram o nome da mobilização para
"Mulheres com Bolsonaro", as integrantes do grupo logo foram ameaçadas
com a possibilidade de vazamento de informações por parte dos hackers que
compunham a milícia digital invasora (ESTADÃO, 2018, s/p.).
Foi então que muitas usuárias saíram do grupo, depois bloqueado
pelo Facebook ao notar as movimentações suspeitas. A intimidação não foi
só online, dias depois, uma das administradoras foi agredida por três homens
na rua (VITORIO, 2018, s/p.). Eduardo Bolsonaro coletou as informações
que valiam a pena para sua narrativa e expôs em seu Twitter um "fato
alternativo" para o episódio, jogando a opinião pública contra um movimento
feminista e até a jornalistas, que ele classificou como "fake news"
(BOLSONARO, 2018, s/p.).
As brigas por narrativas se tornavam cada vez mais radicais às
vésperas do segundo turno. De um lado, os anti-Bolsonaro pregavam um
voto petista, sustentando uma noção de "tudo ou nada", e que quem não
votasse no PT era fascista. Bolsonaro dizia que ia acabar com as
doutrinações ideológicas, ao passo em que atacava a imprensa, as
instituiçõe e a oposição bem como Trump, "a faxina agora será muito mais
85
ampla. Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de
todos nós. Ou vão pra fora ou vão para a cadeia. Esses marginais vermelhos
serão banidos de nossa pátria" (REUTERS, 2018, s/p.).
Não havia exposições de ideias sem agressividade. Tanto nas redes
quanto na campanha, o capitão reformado se valeu de sua vantagem em
relação ao adversário nas pesquisas do Datafolha. Haddad pedia por
debates que fossem para além das máscaras das redes, ato negado por
Bolsonaro na resposta em que apelida o petista de "marmita de corrupto
preso" (O GLOBO, 2018, s/p.). O ódio aqui, não era só incentivado pelo líder
do rebanho ideológico em suas redes sociais, ele era acompanhado do
orgulho de não debater, de não ter que ouvir o outro lado por desprezá-lo ao
ridículo, justamente advindo da noção de se sentir superior ideologicamente.
Em um país onde "a confiança das pessoas em notícias compartilhadas por
amigos e familiares é o dobro da confiança em jornais" (MELLO, 2019, s/p.),
a eleição do 38º presidente da República consolidou o relativismo da pós-
verdade como a nova situação ideológica no país, simbolizado
posteriormente no dia da posse do capitão.
Os apoiadores de Bolsonaro receberam aos gritos de
“comunistas” e “vão falir” os jornalistas, fotógrafos e
cinegrafistas credenciados para a cobertura no local, bem
em frente ao Palácio do Planalto. Alguns deles tentaram
boicotar as entrevistas da imprensa com os bolsonaristas,
mas acabavam ignorados pelos dois lados. (...0 Em apoio à
tática de comunicação direta do presidente com seus
eleitores, pelas redes sociais, os presentes gritavam:
“Facebook”, “WhatsApp”, “Record” e “SBT”. À emissora
Rede Globo foram reservadas expressões negativas: “Globo
lixo” e “Abaixo a Rede Globo”, ambas também usadas com
entusiasmo pelos manifestantes de esquerda. (MARIN, 2019,
s/p.)
86
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS:
No início de janeiro de 2017, o livro "1984", publicado em meados do
século XX pelo jornalista George Orwell, chegou ao primeiro lugar no
catálogo de livros da Amazon. O romance de Orwell narra um futuro
distópico, movido pelo controle do Estado sobre a população pela
instrumentalização da verdade do grande líder, o Big Brother e o Partido. O
motivo do retorno do clássico ao topo das leituras mundiais foi uma resposta
a uma expressão proferida em 2017 para defender uma das narrativas do
republicano Donald Trump: "fatos alternativos".
Na ocasião, a internet espalhou imagens que comparavam a fotografia
tirada no momento do discurso do republicano com imagens da posse do ex-
presidente Barack Obama, em 2009. O resultado foi a exposição de um
apoio menor por parte do eleitorado ao empresário em relação ao
democrata. Foi então que o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, saiu em
defesa de Trump alegando que a cerimônia do presidente tinha a "maior
audiência de sempre a assistir a uma tomada de posse — ponto final —
tanto em pessoa, como por todo o mundo” (HAMEDY, 2017, s/p.).
A mentira foi desmascarada por imagens aéreas e em uma entrevista
à emissora NBC. Na oportunidade, Kellyanne Conway, estrategista e
conselheira de Trump saiu em defesa de Spicer alegando que o porta-voz
apenas apresentou “fatos alternativos” uma vez que não era possível
comprovar a veracidade do que foi dito por ele. As palavras de Kellyanne
foram prontamente corrigidas pelo entrevistador Chuck Todd “então é uma
mentira" (HAINS, 2017, s/p.). Na Alemanha, o termo ganhou o prêmio de
“despalavra do ano”, título dado quando uma formulação não apresenta
nexo.
Após um ano de 2016 repleto de turbulência em discussões políticas
do Brexit, referendo para a saída do Reino Unido da União Europeia, e a
eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a sociedade
ocidental começou a se atentar para o controle da verdade, mas também
para a conveniência que se instalava entre os militantes e eleitores.
87
Na obra 1984, Orwell apresenta a ideia do "duplipensamento": ato de
aceitar simultaneamente duas crenças contraditórias como corretas, em
contextos sociais distintos. O que Orwell já diagnosticava era o antepassado
direto da pós-verdade.
É inegável que a internet revolucionou a comunicação no mundo
globalizado, e seus impactos ainda estão sendo compreendidos, mas é
fundamental que livros como os de George Orwell sejam valorizados. O
jornalista britânico viveu em tempos de grandes transformações mundiais e
seus reflexos que semearam a intolerância e o ódio na Europa. O controle e
monopólio sobre a verdade degrada a memória humana, reduz o saber
crítico e leva a culpabilização em massa que caracterizou o stalinismo e o
nazismo.
Ainda que muito longe do autoritarismo, é perigoso quando o mundo
começa a responder de forma mais aberta a ele, produzindo a falta de
empatia que virou norma em um mundo com fronteiras tão líquidas, com
identidades se dissolvendo e a busca desesperada por reafirmação. A
valorização do direito aos próprios fatos mostra o quão indisposta a
sociedade está em confiar nas relações humanas e seus elos pela verdade.
A liberdade de expressão é um direito, mas não é direito absoluto, a
pergunta "o Estado pode interferir na desinformação?" deveria ser "Como o
Estado pode interferir para evitar a desinformação?", na medida que as fake
news anulam o debate, prejudicam os negócios, colocam a saúde das
pessoas em risco e atacam frontalmente o Estado de Direito e suas
instituições ao banalizar a violência e a intolerância.
O Estado já interfere em questões de liberdade de expressão
justamente para garanti-la, como é o exemplo do sigilo da fonte do jornalista.
O dilema de Karl Popper se faz necessário: ideologias que pregam a
anulação da diferença, a verdade do um como única, devem ser anuladas
justamente pelo seu caráter fascista? Ao silenciar o que grita pelo fim das
instituições e da diferença, e valorizar os que são capazes de debater,
independente do viés ideológico, não seria isso uma forma de resguardar o
direito de liberdade de expressão? De garantir a convivência pública? Quem
pode definir esse limiar de intolerância?
88
O desconhecimento do TSE em relação à indústria de desinformação,
assumido pela própria presidente do tribunal ainda durante o pleito mostra o
quão longe as instituições estão dessas respostas. É urgente a necessidade
das instituições em diferenciar e definir o que é fake news e traçar um plano
estratégico para frear a desinformação com políticas públicas efetivas que
conscientizem a população dos riscos da desinformação e como detectá-las.
O problema da liderança por parte do Estado reside nessa empreitada de
definir o que é verdade ou não é, o que abre a possibilidade da transferência
de monopólio para o braço estatal, fator que pode ser abrandado com um
conselho mais plural, atualizado e participativo do que o conselho consultivo
que esteve ativo durante as eleições de 2018.
O futuro promete um obscurantismo maior, conforme a tecnologia
avança e novas formas de trapaças são descobertas. Nesse ponto,
pesquisas e softwares precisam ser desenvolvidos e voltados para batalhar
com modelos cada vez mais sofisticados de desinformação. Não se deve
confiar tão somente na crença de que a internet vai se curar sozinha e
desenvolver mecanismos automáticos de detecção de desinformação.
Pois é nesse contexto que surgem as fake news que mais exploram o
caráter de credibilidade imagética da sociedade, conhecidas como
Deepfakes: conteúdos feitos em computadores que são capazes de se valer
de inteligência artificial para sintetizar fraudes em vídeo de personalidades
dizendo ou fazendo algo. As Deepfakes representam um grande perigo no
universo de desinformação online pelo seu potencial realista (KLAAS,
2019,s/p.).
Durante a campanha eleitoral, o vídeo que vazou do governador eleito
João Dória quase o colocou no segundo turno, e tratava-se de uma
montagem nível Deepfake para muitos especialistas. Elas são capazes de
imperar o processo democrático e "os métodos mais simples estão
disponíveis na internet com código aberto. Ele não foi pensado para esse
fim, mas a pessoa que baixou pode acabar usando dessa forma" (JORDÃO,
2018, s/p.).
Por questionar tanta mentira, o pensamento crítico é a maior arma
contra a pós-verdade, a possibilidade de manipulação e o estelionato
eleitoral na democracia digital. É urgente a necessidade de incentivos de
89
educadores, políticos, jornalistas e agentes do Estado para reformar as
escolas para além das decorebas do vestibular e polêmicas conspiratórias
vazias. A suposta doutrinação apontada pelos integrantes do Escola Sem
Partido não passa de um movimento conservador ultrapassado e que tenta
se valer do seu slogan para pregar o fim do debate em nome das
conspirações machistas e homofóbicas da ideologia de gênero. De forma tão
autoritária, os deputados da Bancada Evangélica no Rio de Janeiro em 2019
vetaram qualquer menção à palavra gênero, reproduzindo o efeito
tragicômico do veto à palavra "gênero alimentício" (AUTRAN, 2019, s/p.).
Aqui, é impossível não lembrar de outro conceito desenvolvido em
1984 de Orwell, a novafala ou newspeak. O Big Brother tinha como meta a
imposição de uma nova língua para os cidadãos da Oceania, que removia
antônimos, sinônimos e palavras que pudessem remeter à qualquer forma de
subversão, a intenção era não representar pensamentos errados chamadas
"crimideias", ou crimethink, afinal, se não era possível definir algo, seria
como se esse algo não existisse.
O debate conspiratório assume bodes expiatórios, não apresenta
soluções úteis para além de seu delírio e ainda exclui o debate. Para evitá-lo,
é necessário controlar as mídias e os seus efeitos, pelo menos em um ponto
em que elas não passem a nos controlar. Essa é a proposta da alfabetização
digital da população, ou media literacy. Presente em algumas universidades
americanas, a ideia é aliar a dinâmica digital ao aprendizado consciente e
produtivo, abolindo o pensamento copy-paste doutrinador e passando pelo
questionamento e amadurecimento emocional em debates e confrontações
que saíam do ambiente de bolha. A criação de um fundo de pesquisas para
media literacy foi liderada pelo Facebook junto a Universidade Pública de
Nova York (CUNY) com o objetivo de "avançar na alfabetização midiática"
(PORTAL IMPRENSA, 2017, s/p.) e terá investimento de US$ 14 milhões.
Os perigos da desinformação online precisam ser encarados de
forma mais séria, acompanhando e direcionando uma autonomia crítica que
considere construir ao invés da crítica vazia e destrutiva.
Tanto o jornalismo como a ciência precisam se unir para se conectar
ao senso comum e barrar sua ideologização na pós-verdade, para isso é
90
necessário uma mudança de abordagens visando reconhecer a existência do
conspiracionismo como uma relação de causa e efeito.
Acreditar fielmente no academicismo e na ditadura dos números não
produz efeito prático, porque desloca a verdade de um lado para outro em
uma época onde todos ganharam voz e não querem mais se sentir passivos
ou ignorantes, é importante entender que nesse sentido, estimular a
pedagogia freiriana da construção de ideias por debates pode ser um
caminho produtivo.
O pensamento hierárquico apenas aumenta o abismo do cientificismo
com o senso comum, deixando o cenário de debate político suscetível a
preenchimentos de lacunas informacionais com conspirações ideológicas
que se valem de preconceitos para atacar o apreço ao conhecimento, as
críticas necessárias da arte e humor, o ensino de professores e a
manifestação política de movimentos sociais de minorias representadas.
Se exclusão gera mais exclusão, o compromisso com os fatos deve
acompanhar a inclusão adaptada ao seu tempo, com uma valorização da
estética no produto científico, se valendo de uma embalagem mais sedutora
para uma época de espetáculo, sem perder sua característica essencial de
apreço aos fatos.
A busca por critérios mais bem definidos de apuração e parcerias com
as plataformas - tendo em vista que a maioria dos brasileiros se informa em
redes sociais, é um bom caminho. A exemplo do Novo Manual da Folha e o
já citado Trust Project, apresentando e tentando desenvolver um papel mais
transparente de seus atos, sendo inclusivo e menos apelativo. Neste ponto,
outro exemplo importante foi a iniciativa Science Vlogs Brasil, que conta com
48 dos principais canais de divulgação científica no Youtube, e somam juntos
8 milhões de inscritos e 500 milhões de visualizações.
A parceria entre os defensores do método científico e jornalístico de
apuração com as plataformas é fundamental para compartilhar experiências
entre os produtores de conteúdo, organizando um canal mais direto, pessoal
e midiático em comum com o público online, sem perder o rigor do
comprometimento factual. As redes sociais nunca vão deixar de atrair
público. Produzir conteúdo científico nelas, melhorando sua divulgação,
91
apresentação emocional e até mesmo humor são as melhores estratégias
para popularizar o conteúdo muitas vezes visto como massante.
Ainda assim, o uso de dados nessas plataformas também tem se
mostrado um problema que pode ser resolvido com maior rigor e
interferência integrada junto às instituições no que diz respeito à criação de
usuários, detecção e descontinuação de agentes ou conteúdos de ódio, além
de mais parcerias relevantes com os sites e uma autonomia maior do usuário
para controlar o seu conteúdo e os algoritmos que o definem. O Facebook
melhorou, do discurso de classificar como "'loucura' a ideia de que notícias
falsas em sua plataforma poderia ter influenciado a eleição de Donald Trump
como presidente dos EUA", (GRAHAM-HARRISON, 2019, s/p.), passou a
admitir parte de sua responsabilidade, e entre outubro de 2017 e novembro
de 2018 removeu 2,8 bilhões de contas falsas. Mas ainda há um longo
caminho, a plataforma foi incapaz de identificar redes de extrema-direita na
Espanha em 2019, e que alcançaram quase 2 milhões de pessoas, ou no
caso em que manteve noar o vídeo editado com especulações sobre a
saúde da opositora de Trump, Nancy Pelosi.
A Google desenvolveu projetos interessantes em parcerias com
universidades para difundir uma educação digital, mas pecou ao não notar
que em uma de suas doações para grupos com o intuito de ajudar o
jornalismo a prosperar na era digital, mas repassou cerca de 50 mil euros
para uma empresa de mídia húngara ligada a conteúdos de extrema-direita.
Ao todo, o Google concedeu fundos para 103 projetos de mídia de 23 países
(BAYER, 2019, s/p.), muitos especialistas afirmam que as ações das
plataformas ainda permanecem pouco eficazes e mais preocupadas com RP,
(MEDIAPOWERMONITOR, 2019, s/p.), uma vez que o lucro com conteúdo
conspiratório ainda continua garantido.
O Instagram, por exemplo, bloqueou hashtags de movimentos anti-
vacina e para fazer a diferenciação com conteúdo conspiratório, "a
plataforma vai usar informações da Organização Mundial da Saúde e outras
instituições focadas em desmascarar dados cientificamente mentirosos"
(FARINACCIO, 2019, s/p.).
Resta um reforço na ética do fato e o trabalho de apuração
jornalístico, uma cobertura de forma mais aprofundada e respeitando os
92
limites do tempo, com jornalistas que saibam entrar no fato sem
sensacionalismo, promovendo uma visão mais integrada do que imediatista,
querendo informar e ouvir os protagonistas do fato, mais do que tentar
reproduzir a imagem ou estereótipo que não estimula a compreensão dos
acontecimentos. Neste ponto, a iniciativa de jornais como A Folha de S.
Paulo em usar recursos das plataformas de redes sociais, como as threads
do Twitter, para juntar as notícias e formar um contexto conectado e mais
claro entre cada fato é interessante, são abordagens no modelo conhecido
por slow news. Outra iniciativa interessante da Folha foi a ideia de dar
assinatura digital grátis por um ano a professores da rede pública.
Por fim, um entendimento mais aprofundado e pesquisas a respeito da
manipulação emocional, ouvindo o público e de que forma o jornalismo
poderia se reinventar por essa nuance é essencial para criar novos manuais
adequados aos tempos de pós-verdade.
Os próprios personagens de Orwell em 1984 vivem o conflito de uma
sociedade desconfiada, onde o fanatismo cria tantos inimigos imaginários
que as arbitrariedades tiram os direitos de todos, sujeitos a serem
denunciados por crianças ideologizadas e onde ninguém garante a paz de
ninguém. Amadurecer politicamente no ambiente online se faz urgente, uma
vez que ainda somos muito jovens nesse espaço público, ainda tentando
entender as plataformas, o novo jornalismo e as próprias ideologias em
transformação na Era do Imprevisto. O primeiro passo é buscar ver como
interpretamos essa realidade, se ela vale a pena, se essa visão produz algo
ou se só serve para agregar e segregar grupos ou trazer conforto cognitivo.
A pós-verdade também tem muita relação com a ética de seu povo.
Ela permite alucinações coletivas e seletivas, aplaudimos as posturas diante
da corrupção, fato inédito no país, mas somos capazes de ao mesmo tempo
alimentamos a noção de que a falta de ética não é relacionada a nossa
postura diária também, somente existe em um setor, alimenta-se o
pensamento simplista de que corrupção é coisa da política, de um espectro.
Não é, nunca vai ser. Falta a palavra que consagrou as eleições, a tal da
autocrítica. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi outro
personagem da pós-verdade quando seu currículo inflado em Harvard foi
descoberto, mas com a mentira em alta, isso não é exclusividade de
93
políticos, 75% dos currículos enviados aos RHs das empresas em 2018 no
Brasil apresentaram embelezamentos.
O fim do pensamento de anti-política é necessário, na medida que
reforça a desconexão do eleitorado com seus representantes e reproduz
heróis outsiders, que tanto podem estar mal intencionados como mal
preparados para o cargo. O político é representante do povo, não inimigo.
Vê-lo como funcionário se mostra essencial para não só valoriza-lo como
também não tratá-lo de forma incontestável, e sim passível de erros
humanos e com compromissos que precisam ser cumpridos, vemos mais
lados e espectros, menos desinteresse e salvadores da pátria.
No discurso de vitória, Bolsonaro se apresentou ao vivo junto a quatro
livros, a Constituição, a Bíblia, o livro "Memórias da segunda guerra", de
Winston Churchill, e o livro "Tudo o que você precisa saber para não ser um
idiota", do guru Olavo de Carvalho. O escritor viria a ser elogiado e
reconhecido como líder do movimento que o catapultou politicamente e nas
palavras do presidente "teve um papel considerável na exposição das ideias
conservadoras que se contrapuseram à mensagem anacrônica cultuada pela
esquerda e que tanto mal fez ao nosso país" (MAZUI, 2019, s/p.). Olavo
ainda recebeu a condecoração da Ordem de Rio Branco de Jair Bolsonaro.
O escritor foi responsável por indicar o ministro das Relações Exteriores,
Ernesto Araújo, e o Ministro da Educação, Ricardo Vélez, do governo
Bolsonaro.
Jair se elegeu pregando que todas as instituições brasileiras estavam
contaminadas pelo petismo, e que essa seria a justificativa para tanta
ineficiência e corrupção, onde o caráter técnico não era levado a sério, e sim
o alinhamento ideológico. Seu discurso é incoerente com a prática, alinhada
a manter animada as bases em favor da memecracia, ao atacar opositores.
Logo o presidente foi contrariado por um membro da bancada evangélica
que o apoiou, o deputado federal Sóstenes Cavalcanti (DEM-RJ), que se
demonstrou insatisfeito com os primeiros nomes ventilados no MEC após a
eleição, e disse “para nós, o novo governo pode errar em qualquer ministério,
menos no da Educação, que é uma questão ideológica para nós” (FOLHA,
2018, s/p.).
94
Os próprios ministros indicados por Olavo e nomeados por Bolsonaro
não possuíam especificações técnicas relevantes, muito pelo contrário, a
mentira na propaganda política estimulou os ministros a inflarem seus
currículos.
Vélez errou em seu currículo 22 vezes, estimulou o Big Brother
político com professores sendo filmados em sala de aula, a bandeira do
governo se mostrou ideológica e perseguidora de qualquer opositor. Ao
solicitar que crianças fossem gravadas cantando o hino nacional, Vélez não
só estimulou um nacionalismo atrelado a slogan de campanha orwelliano,
ainda deu pouco valor à necessidade de fontes em trabalhos bibliográficos,
sem qualquer apreço à informações checadas. Em um governo de senso
comum ideologizado não são necessárias referências e fontes, a verdade é o
que o líder diz. O resultado foi tudo que ocorreu no MEC desde o começo do
governo serviu como labuta para uma "despetização", esvaziando as funções
de pastas tão importantes, onde em 3 meses 10 funcionários do alto escalão
foram demitidos. Com a pasta parada, a coordenação do ENEM foi
interrompida.
Outra despetização, na Casa Civil, provocou um apagão
administrativo na pasta. A ideologia cega procura significados, desculpas e
explicações bizarras para nossas dissonâncias em teorias rudes que podem
até mesmo causar malefício próprio, feito o humanitismo de Rubião em
Quincas Borba, de Machado de Assis. Essa mentalidade conspiratória está
"afundando" (BARIFOUSE, 2019, s/p.) o presidente, como disse uma
companheira de sigla do presidente, a deputada estadual paulista Janaina
Paschoal.
Nos 3 minutos de ódio contra Emmanuel Goldstein, o opositor do Big
Brother, simula o momento de hate em formato de comentários online contra
PT ou PSL, contra uma corrente ideológica ou outra. Enquanto isso, a
política não se mantém estática, mas seu campo de ação e transformação
reproduzem uma lógica repetitiva de debate, e as violências diárias aos
brasileiros continuam. As tragédias nos fazem lamentar "o fato ocorrido
ontem, a gente parece estar anestesiado ou gostar da anestesia que nos faz
esquecer desse fato, tão logo surge o fato de amanhã que receberá o
95
mesmíssimo tratamento" (BOECHAT, 2019, s/p.), a indignação se transforma
em conveniência e por fim, nos silenciamos com tanta desgraça e mentira.
A narrativa repleta de fake news e seu culto exagerado ao militarismo
norte-americano e à violência institucionaliza as armas enquanto
terceirização das responsabilidades de segurança do Estado, e reproduz um
clima em que as armas são vistas como resposta para tudo, até à falta de
diálogo. Aos poucos, as fuziladas online tomam forma de tiros em caravanas
ou manifestações políticas, em um período onde não há espaço para o
reconhecimento do outro. No meio de depoimentos que pregam execuções
pública que negam a história ou o próprio preconceito racial brasileiro, há a
banalização da violência racista e sua espetacularização, como fez Wilson
Witzel. O governador carioca ganhou um mosaico próprio feito de cartuchos
de bala e filmou uma operação da Polícia Civil, de um helicóptero, atirando
numa tenda de oração em um morro carioca.
Se valendo da narrativa de oposição entre a cidade e as favelas,
Witzel se apoia no papel repressor do Estado nessas regiões para se
legitimar no senso comum "de que os moradores de favelas são, em sua
maioria, participantes do varejo das drogas imposto pelo tráfico na
comunidade, o que não se justifica por nenhuma evidência empírica"
(FRANCO, 2018, p.47). Apesar da falta de comprovação, o impacto do senso
comum manipulado mostra suas faces na vida de milhares de brasileiros. O
Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública de 2016, "produzido com
informações das próprias forças de segurança registrou que 21.892 pessoas
foram mortas pelas polícias entre 2009 e 2016, destas: 76,2% eram negros"
(FÁBIO et al., 2018, s/p.). A bordo do helicóptero do populismo, o discurso de
Witzel supera os fatos em números, como o de que a letalidade policial que
ele tanto estimula em 2019 aumentou no Rio de Janeiro em 18% entre
janeiro e março, na relação com o mesmo período em 2018, ano em que
custou, ao menos, R$ 4,56 bilhões ao país e matou 6,2 vezes mais do que
nos EUA.
O resultado é a completa desinformação como cortina de fumaça
para alimentar a base que continua a aplaudir política pública ineficiente e
sem profundidade por meio de palavra de ordem e selfie. Em praticamente
um século de repressão nas favelas brasileiras com a desculpa de
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segurança pública, a violência nas ruas não diminuiu, pelo contrário,
aumentou. O país possui índices de homicídio 30 vezes maior do que a
Europa e o tráfico se expandiu, profissionalizou e corrompeu instituições
apesar dos gastos bilionários e do genocídio da população negra e pobre
nas favelas do Brasil. Perto do discurso atraente e fácil da repressão, os
investimentos em educação, que tanto poderiam ajudar a sanar o problema
de segurança, são descartados e até cortados. Quando o povo pede mais
armas e menos livros, estamos mais perto de uma jihad do que de uma
Coréia do Sul.
Enquanto os caveirões sobem os morros buscando a trama de uma
cena de Tropa de Elite, agentes e ex-agentes de segurança corruptos,
chamados de milicianos, praticam extorsão e grilagem de terras com a
população carente que Marielle Franco defendia pouco antes de ser
executada. Sob a eterna égide de impunidade e autoridade do poder
repressivo, em abril, a grilagem de milicianos vitimou mais de 20 pessoas na
Muzema, zona oeste do Rio. Na Operação Os Intocáveis, a prisão de líderes
milicianos levou à maior apreensão de fuzis na história da Polícia do Rio de
Janeiro. Na ocasião, 117 fuzis M-16 foram encontrados na casa de um amigo
de um miliciano, em um condomínio de luxo no norte da cidade.
Diante desses fatos, e se valendo de um maniqueísmo relativista, a
pós-verdade cria heróis e vilões eternos que viciam a mente, além de permitir
um estado de leis e exceções paralelas ao Estado. Tudo isso é sustentado
na defesa da política de execuções nas favelas por frases de "bandido bom é
bandido morto", e na prática chega a absurdos como as duas vidas levadas
nos mais de 80 tiros dados por militares em um carro de família negra no Rio
de Janeiro, tudo sendo chamado de acidente.
O Brasil chega ao cúmulo da pós-verdade quando destrói sua
memória, relativiza os horrores da ditadura, e faz pouco caso para a
identidade de seu próprio povo, na sustentação de um pensamento
xenofóbico incompatível com a história de estrangeiros que ajudaram a criar
o país de hoje. Tudo isso foi simbolizado na falta de empatia e crueldade
vista em cenas de barbárie em Roraima onde brasileiros colocaram fogo em
acampamentos de refugiados venezuelanos e compartilharam em redes
sociais como se fosse um evento esportivo.
97
O futuro, assim como em 1984, é distópico, é de uma guerra sem fim
que faz as mesmas elites políticas e econômicas lucrarem, mantendo um
discurso esquizofrênico de revolta violenta e antidemocrática contra as
instituições e a política do espectro opositor, e a conveniência de oligopólio
dogmático tratado com os aliados, tudo sustentado por dinâmicas de
opressão. A história do Brasil é desde sempre o dogmatismo aos aliados e a
violência aos inimigos, explorando o oportunismo sem limites numa classe de
nepotismo político concentrado na oligarquia do atraso e do privilégio, que
prega o direito igual a todos mas que na prática alguns têm mais direitos que
outros. Lemas tão conservadores para uma bandeira que se diz em nome do
progresso.
Isso não significa que a política deve ser extinta ou entregue a um
monarca ou a um grupo nacionalista armado, significa de fato que
precisamos ocupar espaços, se valer das novas conexões que surgiram para
transformar a política num conceito amplo e de inclusão, e não destruí-la.
Como disse Churchill, a democracia é a pior forma de governo, "com
exceção de todas as outras" (SCHWARTSMAN, 2000, s/p.).
A internet pode mudar isso, mas como um microondas, ela pode
funcionar para alimentar as pessoas ou matar um gato, depende da intenção
de quem o usa. É preciso autocrítica para se entender, empatia para
entender o outro e informação factual para entender o país. A questão é: os
brasileiros estão dispostos a usar sua insatisfação para rumar o caminho da
ordem e do progresso por si?
Ao vencedor dessa narrativa, as batatas.
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